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quinta-feira, 21 de setembro de 2017

O ECLIPSE (L’Eclisse) Itália / França, 1962 – Direção Michelangelo Antonioni – elenco: Alain Delon, Monica Vitti, Francisco Rabal, Lilla Brignone, Rossana Rory, Mirella Ricciardi, Louis Seigner, Cyrus Elias – 125 minutos

ANTONIONI DISCUTE BRILHANTEMENTE A ALIENAÇÃO DO HOMEM MODERNO EM MEIO A UMA SOCIEDADE MATERIALISTA


Para evitar os problemas financeiros e experimentar uma forma de vida mais variada, Vittoria, que vem de um meio modesto, passou três anos a viver com Riccardo, um jovem oficial de uma embaixada. No entanto, uma vida sem verdadeiro amor arrasa a jovem mulher que, apesar dos pedidos de Riccardo, ela deixa-o. Um dia, quando se encontra com a mãe, que passa os tempos livres na Bolsa de Valores, Vittoria conhece um jovem corretor, com quem espera aprender a amar de novo. Infelizmente, ele a engana e Vittoria experimenta uma vez mais o sabor amargo da solidão. O ECLIPSE é mais um excelente filme do grande cineasta italiano, Michelangelo Antonioni. Como sempre, Antonioni aborda questões socio-políticas, procurando mostrar o indivíduo esmagado pelas pressões, responsabilidades e complexidades do mundo moderno.  Há uma seqüência em que Vittoria comenta as diferenças entre a vida nas sociedades avançadas e nas menos avançadas.  O cineasta procura, ainda, mostrar a ambição do mundo capitalista, ao retratar tão bem o ambiente caótico na Bolsa de Valores de Roma e a obsessão pelo jogo vivida pela mãe de Vittoria. Além do magnífico trabalho de Antonioni, o filme é maravilhosamente fotografado pelas lentes de Gianni Di Venanzo. Juntamente com A AVENTURA (1960) e A NOITE (1961), O ECLIPSE (1962) forma a Trilogia da Incomunicabilidade, na qual o cineasta procura analisar o tédio e a solidão do homem moderno.  


A atriz italiana Monica Vitti está presente em todos os três filmes.  Ela está perfeita em O ECLIPSE.  Muitas vezes, sem abrir a boca, consegue transmitir toda a carga de emoções exigida de seu personagem.  Talvez este seja seu melhor filme. O filme é repleto de seqüências maravilhosas como aquelas em que nenhuma palavra é pronunciada, ou aquelas passadas no apartamento de Marta, nas quais Vittoria dança alucinadamente, ou ainda as rodadas durante os pregões da Bolsa de Valores. Neste belo filme, a câmera se transforma em um verdadeiro observador externo, a olhar, como um corpo independente e autônomo, a realidade a sua frente. Compõe, através e dentro de suas lentes, o seu próprio mundo, passando, a seu modo, a existir como se fosse um corpo em estado de liberdade em relação a quem o manipula (em seus movimentos, angulações e dimensões). Na última seqüência da obra que, talvez, seja o canto derradeiro de Michelangelo Antonioni sobre a crise dos sentimentos, o que vemos são, matematicamente, cinqüenta e seis planos que, a partir da diversidade de sua geografia física e humana, registram um cruzamento em Roma.


Mas o que temos em “O Eclipse”, em suma, é uma atmosfera presa ao vazio, à solidão e ao tédio nas relações humanas. Componentes da “Trilogia da Incomunicabilidade” que, em sua base, desenvolve a temática primordial de Antonioni: a impossibilidade da relação de um indivíduo com outro, ainda que este outro seja aquele com quem se mantém, ou se manteve, uma relação afetiva. Fundado em uma elipse, o afeto entre Vittoria (Monica Vitti) e Riccardo (Francisco Rabal) fracassa. Assim, não sabemos as motivações do rompimento, a separação iminente, pois, em Antonioni, o que importa é o presente das situações vividas, as marcas presentes em cada ato, enfim, as que existem no que vemos (o abrir a cortina, o afastar-se do outro, o jogar-se no sofá, a recusa de toda e qualquer possibilidade de continuar). Em quase todas as cenas, os planos são longos, o que nos permite enxergar mais o vazio que move/imobiliza os personagens frente à ausência de sentimentos, afeto em relação ao outro, a doença que toma Eros de assalto (Gilles Deleuze). Aliás, não existe nem mesmo ação, uma vez que o diretor por instantes condena seus personagens a um quase eterno presente de indiferença e rejeição. Um dos filmes mais essenciais da década de 1960!!


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