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domingo, 26 de fevereiro de 2017

LION – UMA JORNADA PARA CASA (Lion) Austrália / Inglaterra / EUA, 2016 – Direção Garth Davis – elenco: Dev Patel, Nicole Kidman, Rooney Mara, David Wenham, Sunny Pawar, Abhishek Bharate, Priyanka Bose, Khushi Solanki, Shankar Nisode – 118 minutos

   COM TEMÁTICAS PROFUNDAS, CONTA UMA HISTÓRIA PODEROSA DE SUPERAÇÃO


                          BASEADO EM UMA INACREDITÁVEL HISTÓRIA REAL

Este é um dos grandes filmes do ano, com um olhar comovente, que do primeiro ao último minuto prende a atenção do telespectador com uma história singular. É uma contemplação sóbria e, ainda assim, profundamente empolgante sobre temas como a família, as raízes, identidade e lar, em uma abordagem que se eleva durante o curso das duas horas de duração do filme. Uma trama belíssimamente narrada com uma história que inspira coragem e determinação. E também é uma ótima propagada do Google Earth. A jornada de Saroo, o protagonista (Sunny Pawar, nos primeiros 45 minutos e Dev Patel na fase adulta), é uma que tem muito a dizer sobre o que significa pertencer a algum lugar. Fala de família, ligações afetivas e de sangue. Mais do que isso, porém, tem nas figuras dos pais adotivos uma incrível lição sobre o verdadeiro lar em questão. Evitando o melodrama que tantos outros diretores abraçariam, o cineasta Garth Davis encena sem maniqueísmos excessivos e surpreende pelo impacto emocional que revela.
Há que se destacar a performance extremamente afetiva do estreante Sunny Pawar, num papel digno de um prêmio. Há ainda as excelentes interpretações de Dev Patel, que nunca esteve tão bom, o que lhe garantiu uma indicação a Melhor Ator Coadjuvante no Oscar 2017; bem como Nicole Kidman, fazendo a mãe adotiva, num papel de grande poesia e leveza artística, papel este que também lhe deu uma indicação de Atriz Coadjuvante no Oscar 2017. O diretor foi muito feliz no elenco formidável, além dos acima citados, os atores indianos também apresentam uma performance arrebatadora. LION – UMA JORNADA PARA CASA, é um filme complexo, abordando temáticas profundas como o lar e a identidade em duas metades totalmente distintas entre si. Conta uma história poderosa de superação, onde a sua primeira metade merece realmente toda a atenção e sua história universal possui elementos suficientes para emocionar o espectador. Algumas cenas são extremamente comoventes e exploram com muita eficiência toda a emoção que transborda, principalmente nos diálogos entre mãe e filho. O filme é baseado numa inacreditável história real, que foi muito bem explorada com o par dos carismáticos atores: Sunny Pawar e Dev Patel. Recebeu 06 indicações ao Oscar, incluindo Melhor Filme. Uma celebração à vida!!!

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

ATÉ O ÚLTIMO HOMEM (Hacksaw Ridge) Austrália / EUA, 2016 – Direção Mel Gibson – elenco: Andrew Garfield, Richard Pyros, Jacob Warner, Milo Gibson, Darcy Bryce, Roman Guerriero, Hugo Weaving, James Lugton, Teresa Palmer, Kasia Stelmach, Jarin Towney – 139 minutos.

Um filme épico em seu escopo, íntimo em seus detalhes e surreal em suas dimensões

O protagonista – Desmond Doss (Andrew Garfield, em brilhante atuação) - deste grande filme representa uma fusão que parece combinar a estrutura típica do cinema de guerra com o mecanismo tradicional do cinema religioso. Ele é ao mesmo tempo um jovem pacifista, temente a Deus, e um soldado destinado a salvar pessoas no campo de batalha da Segunda Guerra Mundial. Sua única condição: jamais tocar em uma arma, devido a traumas de infância. Como ser um pacifista em meio à guerra? Como lutar contra inimigos armados sem possuir instrumentos de defesa? O drama questiona, portanto, a violência dos “homens de bem”, a incompatibilidade entre amar o próximo como a si mesmo e amar apenas o próximo, mas não o diferente. "Até o Último Homem" é um ótimo exemplo do que acontece quando o material certo cai nas mãos de um realizador sintonizado com seus temas. O filme é um espetáculo grandioso, grandiloquente e enaltecedor. Andrew Garfield vive o protagonista com a doçura necessária para seu papel e Hugo Weaving consegue dar toda a carga dramática necessária para pai dele. O diretor Mel Gibson disse que aqui não é um filme de guerra, mas sim de homens na guerra. Assista aos créditos finais, que trazem cenas reais de Desmond Doss. Embora o filme simplifique a posição do personagem que não quer sequer tocar numa arma, a violência que o cerca o torna uma história fascinante que não tem uma resposta certa sobre significado de ser um não-combatente no meio de um combate. Durante a primeira metade, o cineasta dedica bastante tempo para explicar o tema das implicações religiosas, antes de investir numa segunda metade tão brutal quanto assustadora, mas mesmo assim impressionante.

O grande legado deste filme é o reconhecimento pela admirável certeza das convicções de Desmond Doss e de seus feitos como um homem comum que salvou dezenas de vidas e não tirou nenhuma. "Até o Último Homem" é o trabalho de um diretor possuído pela certeza da realidade da violência como uma verdade profana, porém inevitável. Mel Gibson filma esse caso real de moral exemplar como um diretor de Hollywood faria nos anos 1940, equilibrando ação e emoção em doses calculadas, explorando os tempos dramáticos com precisão e levando sua mensagem a quem desconfia dela. A dor e a violência são uma forma de justificar aquela história e mostrar sua importância, como se diante daquele horror pode ser apresentado uma espécie de iluminação, um milagre divino diante do caos humano. Este grande filme tem, aparentemente, uma justificativa divina para filmar a guerra. Indicado ao Oscar 2017, incluindo Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Ator (Andrew Garfield)  Espetacular e grandioso!!


terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

EU NÃO TENHO MEDO (Io Non Ho Paura / I’m Not Scared) Itália, Espanha, Inglaterra, 2003 - Direção de Gabriele Salvatores – elenco: Giuseppe Cristiano, Mattia Di Pierro, Adriana Conserva, Fabio Tetta, Giulia Matturro, Stefano Biase, Fabio Antonacci, Giorgio Careccia, Dino Abbrescia, Aitana Sánchez-Gijón, Antonella Stefanucci, Riccardo Zinna, Michele Vasca, Susi, Sánchez, Diego Abatantuono – 108 minutos. 

                                        HIPNÓTICO E ASSUSTADOR! 
                    EM QUEM CONFIAR QUANDO TODOS SÃO SUSPEITOS?


Michele, um menino de nove anos, encontra Filippo (Mattia Di Pierro), que tem mais ou menos a sua idade, em um fosso aberto em um milharal. Debilitado e com fome, está acorrentado e mal consegue enxergar. Instigado pelo desconhecido, Michele tenta dialogar com Filippo, que acredita ter encontrado o ‘‘anjo da guarda’’ capaz de tirá-lo daquela condição desumana. Eles se tornam amigos, mas a presença do menino naquele esconderijo pode estar relacionada com um terrível crime que aconteceu no local. Michele descobre que o segredo é tão grave e tão terrível que ele decide não contar a ninguém. Para enfrentá-lo, vai precisar do poder de sua imaginação e da coragem que ele ainda não sabe que tem. Baseado em fatos reais, que se transformaram num best seller – o romance “Io Non Ho Paura”, de Niccolo Ammanti - a mais extraordinária história sobre aventuras, descobertas, amizade e tragédia.


EU NÃO TENHO MEDO narra o encontro de dois garotos de vivências distintas, que conseguem conciliar as diferenças e ajudar um ao outro. Esta relação conduz a mais bela sequência do filme, inclusive pela maneira misteriosa como é filmada. No início, a presença de Fillipo no buraco é sugerida apenas pelo aparecimento dos pés, das mãos e de uma voz que clama por comida e água. O corpo mantém-se escondido sobre um manto. Confinado há vários dias na lama e na sujeira, Filippo começa a imaginar que está morto, já que seus pais não aparecem para salvá-lo. Ambos os garotos mal sabem de tal mistério. O suspense aumenta, mas a solidariedade acaba unindo os dois na busca pela superação do medo. 


Dirigido pelo italiano Gabriele Salvatore, cineasta do bonito MEDITERRÂNEO (ganhador do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de 1992), o filme caminha por dicotomias. O imerso e o submerso, o visível e o invisível, a infância e a maturidade. Os pólos dialogam em forma de fábula. Sem recorrer ao pieguismo, a narrativa é concisa, direta, sem subterfúgios. Por outro lado, sobressai a delicadeza dos personagens principais, auxiliados pela fotografia de Italo Petriccione. Os momentos de tensão e emotividade ganham peso com a trilha sonora de Pepo Scherman e Ezio Bosso. EU NÃO TENHO MEDO concorreu ao Urso de Ouro no Festival de Berlim e à estatueta de melhor filme estrangeiro no Oscar de 2003. É cinema que ultrapassa o discurso e sensibiliza o coração. Um dos filmes mais intrigantes do ano! SURPREENDENTE E DEVASTADOR!!! 

terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

ELIS (Elis) Brasil, 2016 – Direção Hugo Prata – elenco: Andréia Horta, Gustavo Machado, Caco Ciocler, Zécarlos Machado, Lúcio Mauro Filho, Júlio Andrade, Bruce Gomlevsky, Alex Teix – 110 minutos

      UMA VONTADE SINCERA DE HOMENAGEAR UMA GRANDE CANTORA

O filme se inicia com uma canção emblemática: “Como Nossos Pais”, um dos grandes triunfos da carreira grandiosa, porém meteórica, da grande artista. Uma biografia sobre Elis Regina é um projeto de grande responsabilidade, tanto por sua importância na cultura nacional quanto pelo temperamento explosivo e pelo fim trágico da cantora. A decisão de contar a trajetória da adolescência à morte, com uma única atriz no papel principal, adiciona um risco à narrativa. Como dar conta de tantas reviravoltas na carreira musical, na vida amorosa, na relação política com o país? O diretor Hugo Prata faz uma aposta tradicional: destacar os pontos mais importantes de sua carreira. O elenco conta com grandes atores em papéis marcantes. Júlio Andrade está excelente num inspiradíssimo Lennie Dale; Caco Ciocler compõe uma ternura comovente a César Camargo Mariano, Gustavo Machado faz um Ronaldo Bôscoli cínico e perfeito e Lúcio Mauro Filho apresenta um Miéle simples, mas verossímil. A direção de fotografia se destaca com um belo trabalho de Adrian Teijido. ELIS, o filme, possui uma vontade sincera de homenagear a artista. Nota-se um trabalho de pesquisa esmerado por parte de Andréia Horta, que traz trejeitos, sorrisos, risadas e toda a presença física da pequena grande cantora. Não bastou apenas cortar o cabelo parecido e vestir-se igual a ela, a atriz mergulha na personagem e busca a força daquela mulher notável e aparece em cena entregue de corpo e alma. 
Há momentos musicais emocionantes e de grande relevo. Felizmente, em boa parte do roteiro, o melodrama não domina o filme, destacando-se mais o estilo vibrante e “para fora” que caracterizava a cantora que alterou o paradigma inaugurado por João Gilberto e seguido por Nara Leão, dentre outros intérpretes da Bossa Nova. O filme teve alguns pecados que não se pode deixar de mencionar. Em alguns momentos, parecem haver buracos. Como ela chegou daqui até ali? Alguns exemplos: 1. Elis se apresenta num bar pela primeira vez e a plateia aplaude. Na cena seguinte, os produtores do local estão dizendo que “Copacabana é louca por ela”, e que os shows estão esgotados. Como ela cresceu tão rápido? 2. Elis se apresenta com Jair Rodrigues no programa O Fino da Bossa. A plateia está cheia, os aplausos são fartos, mas na cena seguinte o empresário insinua que eles podem ser demitidos pela baixa audiência, por estarem perdendo espaço para a Jovem Guarda do Roberto Carlos. Mas o programa não era um sucesso? 3. A relação entre Elis e César Mariano vai muito bem. Um dia, ele diz que a esposa parece angustiada. Na cena seguinte, acusa-a de beber demais e vai embora. Ora, nós nem víamos a cantora beber. A narrativa também acaba dando ênfase demais no lado pessoal e nos amores da intérprete enquanto ignora fatos importantes como a parceria dela com Tom Jobim, que rendeu o clássico "Águas de Março". Mas apesar de tudo isso, o filme não ficou prejudicado, a transição das fases da vida de Elis Regina foi bem construída e apresenta um espetáculo que merece ser conferido não só pelos fãs, mas por todo aquele que é cinéfilo. 
 

      ANDRÉIA HORTA SE ENTREGA DE CORPO E ALMA NA PERSONAGEM



domingo, 12 de fevereiro de 2017

O ÁLAMO (The Alamo) EUA, 1960 – Direção de John Ford – Elenco: John Wayne, Richard Widmark, Laurence Harvey, Frankie Avalon, Linda Cristal, Richard Boone, Ruben Padilla, Guinn Williams, Chill Wills, Patrick Wayne - 161 minutos.

               UM ESPETÁCULO PODEROSO, UM DIAMANTE BRUTO!!! 


John Wayne produziu, dirigiu e estrelou este relato "impressionante como a própria realidade" (Life Magazine) de um dos acontecimentos mais marcantes da história dos EUA. Em Álamo, uma sofrida Missão, 185 homens especiais fizeram um pacto sagrado: resistir a um exército de 7000 homens e voluntariamente dar suas vidas em defesa da liberdade. Inteiramente filmado no Texas, a apenas alguns quilômetros do local da verdadeira batalha, O ÁLAMO é uma homenagem visualmente fantástica e historicamente precisa à coragem e à honra. Co-estrelado por Richard Widmark, Laurence Harvey e Chill Wills, tendo recebido sete indicações ao Oscar, O ÁLAMO é um "espetáculo verdadeiramente inesquecível" (Leonard Maltin). Na primavera de 1836, o general Santa Anna (Ruben Padilla) e o exército mexicano estão varrendo o Texas. Para poder detê-lo, o general Sam Huston (Richard Boone) precisa de tempo para criar uma resistência. Tentando obter este tempo, ele ordena que o coronel William Travis (Laurence Harvey) defenda uma pequena missão a todo custo na rota dos mexicanos. A pequena tropa de Travis recebe o reforço de grupos que acompanham Jim Bowie (Richard Widmark) e Davy Crockett (John Wayne), mas a situação se torna desesperadora. Travis deixa claro que não haverá vergonha se eles partirem enquanto podem, mas 185 (cento e oitenta e cinco) homens decidem fazer uma resistência heróica no forte Álamo. Durante 13 dias lutaram bravamente contra milhares de soldados.

Ganhou o Oscar de Melhor Som, além de ter sido indicado em outras 6 categorias: Melhor Filme, Melhor Ator Coadjuvante (Chill Wills), Melhor Edição, Melhor Fotografia - A Cores, Melhor Edição e Melhor Canção Original ("The Green Leaves of Summer"). Ganhou o Globo de Ouro de Melhor Trilha Sonora. ÁLAMO é a estréia de John Wayne na direção. Os sets do forte Álamo demoraram dois anos para serem construídos para as filmagens. A queda do cavalo do Tenente Finn não estava prevista no roteiro de ÁLAMO, nem foi intencional. A atriz Lagene Ethridge foi assassinada durante as filmagens por seu namorado. As versões em DVD trazem 26 minutos extras do filme, que foram cortados da versão original ainda antes de sua estréia nos cinemas. Refilmado como O ÁLAMO (2004). É o mais espetacular filme sobre uma das mais famosas e lendárias batalhas da história dos EUA.  Uma feroz guerra por independência e um heróico brado por liberdade!! Grandioso, estupendo e obrigatório!!



sábado, 11 de fevereiro de 2017

MOANA: UM MAR DE AVENTURAS (Moana) EUA, 2016 – Direção Ron Clements e John Musker – Animação – com as vozes de Auli’i Cravalho, Dwayne Johnson, Rachel House, Temuera Morrison, Jemaine Clement, Nicole Scherzinger, Louise Bush, Alan Tudyk – 107 minutos 

COM BELÍSSIMA ESTÉTICA E HISTÓRIA, É UMA DAS MELHORES ANIMAÇÕES DO ANO!! 

                                   
                               ENCANTADOR E INCRIVELMENTE DIVERTIDO
COM PERSONAGENS BEM CONSTRUÍDOS E UMA MENSAGEM TRANSFORMADORA

"Moana" traz uma jornada do herói engraçada, emocionante e muito bem realizada, trazendo o toque da Disney à cultura do sul do Pacífico. Ele é tão inovador quanto "Zootopia", e prova que a fórmula da Disney é flexível e ainda funciona. Há muito a Disney não tinha feito um tributo tão inovador ao espírito humano e com uma personagem que explode empoderamento feminino. Tecnicamente é o desenho mais perfeito já produzido nos cinemas em animação 3D. O momento atual da Walt Disney Pictures é bem interessante. Nos últimos anos ele tem assumido certas ousadias em algumas de suas principais produções, no sentido de combater preconceitos e retratar minorias. Assim foi com FROZEN (2013), ao priorizar o amor fraternal em detrimento de qualquer relacionamento amoroso; com ZOOTOPIA (2016), ao moldar a história central no tema do preconceito e ainda trazer um personagem em animação escancaradamente gay (ainda que não tenha se assumido, verbalmente). Aqui com MOANA, a Disney dá mais um passo neste sentido e de várias formas. Dois pontos fortes na produção são a riqueza visual dos cenários naturais e marinhos e também as músicas.


MOANA se destaca também pela forma como retrata sua história. A cultura polinésia é saudada a todo instante, com diversas citações às suas crenças e modo de vida, de forma a ambientar tal universo para o espectador. Entretanto, o mais importante é a forma como sua personagem principal é retratada: corajosa, decidida, senhora de seu destino. Ela é uma heroína como poucas vezes o cinema ofereceu, no sentido de promover a afirmação do girl power sem que, para tanto, seja necessária a depreciação dos que estão à sua volta. Neste sentido, a Disney não apenas demonstra estar antenada com as carências da sociedade atual como, ainda por cima, entrega ao público feminino de todas as idades um ícone desprovido de preconceitos, no qual possa se espelhar. O universo visual de “Moana” é um dos mais belos já criados pela Disney. As técnicas de animação são surpreendentes, desde os cabelos da protagonista, passando pelas ilhas paradisíacas do Pacífico, tudo é perfeito e chega a parecer real. Esteticamente, o filme é impecável. De todo modo, é curioso notar como até mesmo em seu clímax "Moana" aponta para as mudanças na sensibilidade da Disney, já que, depois de décadas punindo seus vilões com a morte, o estúdio agora parece defender a importância da redenção, do entendimento mútuo e do perdão. Não se trata apenas da jornada de uma corajosa heroína para defender sua terra e sua família. A mensagem é mais ousada, mais ambiciosa e alinhada às demandas atuais da sociedade. É um grande filme!!! 

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

MANCHESTER À BEIRA-MAR (Manchester By The Sea) EUA, 2016 – Direção Kenneth Lonergan – elenco: Casey Affleck, Michelle Williams, Lucas Hedges,  Ben O’Brien (o jovem Patrick), Kyle Chandler,  Liam McNiall, C. J.  Wilson,  Matthew Broderick, Tate Donovan,  Kenneth Lonergan, Susan Pourfar, Robert Sella, Ruibo Qian,  Anna Baryshnikov, Josh Hamilton, Christian Mallen, Oscar Wahlberg, Ellie Teeves, Chloe Dixon, Tom Kemp, Gretchen Mol, Mary Mallen,  Lewis D. Wheeler, Anthony Estrella, Ben Hanson – 137 minutos

        CASEY AFFLECK ENTRA PARA O PANTEÃO DOS GRANDES ATORES


             O FILME QUE NUNCA SENTE A NECESSIDADE DE EXPLICAR DEMAIS!!
            UM PROFUNDO ESTUDO DO SUJEITO E DE SUA MAIOR ANGÚSTIA: A MORTE


O novo trabalho do cineasta Kenneth Lonergan é o tipo de filme que não parece estar caminhando para lugar nenhum durante a maior parte do tempo. E então, quase inesperadamente, ele chega. A eternidade do luto e a esperança de redenção são temas tão antigos quanto a própria dramaturgia, mas eles raramente são apresentados através do turbilhão extraordinário de amor, raiva, ternura e humor seco que é aqui dissecado. Desde o início, procura realizar um profundo mergulho dentro de cada personagem, realizando assim, um estudo do sujeito e de sua maior angústia: a morte. O cineasta evita ao máximo momentos catárticos e cria um ambiente angustiante e de uma tristeza tão reprimida que abala o espectador. Os efeitos da perda e do luto são retratados de maneira ao mesmo tempo muito particular e universal, apoiando-se na excelente atuação do elenco e na espetacular performance de Casey Affleck, que já apresentou grandes interpretações, entre elas o extraordinário “O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford”. Em “Manchester à Beira-Mar” ele é Lee Chandler, um personagem reprimido, traumatizado e pouco expressivo. Mas pouco expressivo na medida em que não se desespera, pois diz muito através de seu olhar. A dinâmica com o sobrinho é brilhante, principalmente pela revelação que é Lucas Hedges. O jovem é bastante carismático e se sai bem nos momentos dramáticos e também nas cenas em que deve agir como adolescente rebelde.
Passado numa cidade litoral, durante um inverno pesado, o filme absorve um clima de frieza e isolamento, e passa para boa parte dos personagens. É uma obra que não grita, mas fala com uma agonia desesperadora, sem deixar de lado aquele bom humor típico de quem tenta aliviar um cenário de dor e perda. A direção de fotografia de Jody Lee Lipes é belíssima e consegue estabelecer uma diferença clara nas sequências do presente e do passado. É interessante como a imagem transmite um cenário mais alegre nos flashbacks, em contrapartida a toda frieza da linha do tempo principal, por mais que seja no passado que aconteça o evento mais traumático. Passa bem a ideia de que a partir daquele ponto, a vida de nenhum dos personagens foi a mesma. É um belo filme sobre perda e recomeço, contando com um roteiro que transborda sensibilidade e humanidade. Trata-se de uma obra extraordinária sobre a vida e seus percalços. Sobre o amor, mas também sobre a dor, que por vezes é tão insuportável que transforma pessoas. Destaque à organicidade do transcorrer análogo ao comportamento do mar, ou seja, alternando agitações e calmarias. Uma direção extremamente atenta, que entrelaça as temporalidades e os gêneros (drama e comédia), com um domínio excepcional tanto do trabalho do roteiro quanto da direção. Só pecou um pouco na longa duração, deixando o filme um pouco arrastado. Mas há outras compensações, entre elas a sequência mais trágica da história, a da sequência do Adágio de Albinoni. O filme é, antes de tudo, o fim do abismo e uma ode à observação. Bonito de se ver!!!

domingo, 5 de fevereiro de 2017

LA LA LAND: CANTANDO ESTAÇÕES (La La Land) EUA, 2016 – Direção Damien Chazelle – elenco: Ryan Gosling, Emma Stone, Rosemarie Dewitt, Trevor Lissauer, Jason Fuchs, Claudine Claudio, J. K. Simmons, Amiée Conn, Terry Walters, Thom Shelton – 128 minutos

        UM BRINDE ÀQUELES QUE SONHAM, AOS CORAÇÕES QUE SOFREM!!

                                           
                                   O FILME MAIS ORIGINAL DO ANO!! 
                 A EXPERIÊNCIA MAIS DESLUMBRANTE DA TEMPORADA!!!

 
Damien Chazelle, um dos mais inventivos diretor da atualidade, depois de comandar o tenso e brilhante “Whiplash – Em Busca da Perfeição” (2015), resolveu investir seus esforços em um gênero considerado quase datado hoje em dia: o musical. Aqui ele usa todos os elementos técnicos do cinema a favor de sua história e redireciona a trama para um lugar mais conflituoso e complementar. Romântico, exagerado, divertido, “La La Land - Cantando Estações” é um filme extraordinário, belíssimo e obrigatório. Emma Stone e Ryan Gosling não existem um sem o outro no filme, ambos estão muito charmosos e representam com uma apaixonante verossimilhança as mais variadas etapas do amor, da provocação quase adolescente (e irresistivelmente deliciosa) do primeiro contato, àquele momento em que, de fato, um não vive sem o outro. Este é um filme que pode muito bem ser visto como uma leve e inconsequente sessão da tarde, mas não se deixe enganar, há muito mais por trás das homenagens aos clássicos de Hollywood ou às referências aos gêneros musicais, cinematográficos, narrativos, visitados. É um musical feito de silêncios, em que as canções quase não aparecem, e, quando a fazem, tudo dizem em poucas estrofes. Tudo está no olhar.
 
"La La Land - Cantando Estações" é um filme feliz e que tem um grande coração - algo que dará às plateias uma verdadeira dose de raio de sol em suas vidas. É uma celebração ao cinema, ao amor e à vida. Um deleite visual e auditivo, que deixa o coração mais alegre e o desejo de cantar e dançar. É um filme extremamente apaixonante, capaz de tocar a todos com sua história sobre a importância de sonhar e nunca desistir de seus objetivos diante das adversidades. Favorito do Oscar 2017, recebeu 14 indicações, recorde até hoje só igualado ao grande clássico A MALVADA (1950) e TITANIC (1997). Foi indicado inclusive para Melhor Filme e deve ganhar merecidamente. É o mais belo filme do ano e um dos melhores nos últimos 10 anos!!! Absolutamente obrigatório!!!

sábado, 4 de fevereiro de 2017

ANIMAIS FANTÁSTICOS E ONDE HABITAM (Fantastic Beasts and Where To Find Them) Inglaterra / EUA, 2016 – Direção David Yates – elenco: Eddie Redmayne, Katherine Waterston, Ezra Miller, Colin Farrell, Sam Redford, Samantha Morton, Dan Fogler – 133 min

                      EXPLORE UMA NOVA ERA DO MUNDO BRUXO 


Esta fantasia cinematográfica não é uma adaptação do livro homônimo, mas sim uma história totalmente original escrita por J. K. Rowling, que debuta maravilhosamente bem como roteirista de longas-metragens e escreverá mais três roteiros (um já está escrito e as filmagens começam em fevereiro de 2017) para uma nova franquia do universo mágico de cinco filmes. Este filme aborda temas como medo do desconhecido, repressão, fanatismo religioso e demonstra uma importante preocupação com representatividade ao colocar uma mulher negra no posto de presidente da comunidade mágica. E isso deve ser ainda mais explorado nos próximos filmes.

Quem espera uma produção repleta de referências a Harry Potter não vai encontrar. Mas a verdade é que é bom que “Animais Fantásticos e Onde Habitam seja uma obra mais fechada em si mesmo. Há citações, é claro, a personagens como Dumbledore, a feitiços conhecidos, a sobrenomes famosos e às relíquias da morte, mas nada que passe de pequenas dicas ou apontamentos do que ainda vem por aí. O resultado é outra bela fantasia de David Yates. Começa meio devagar, com o que parecem efeitos exagerados, e nisso se aproxima de Doutor Estranho, de Scott Derrickson. Mas, logo, as coisas começam a se encaixar. A guerra entre o mundo mágico e o dos otários, a lealdade duvidosa de Percival Graves, diretor de segurança mágica do Macusa, que congrega os mágicos nos EUA. E os animais – Farosutil, Tronquilho, Erumpente, Pelúcio, o que inicia a confusão toda ao escapar da mala, ao chegar a NY. Os efeitos subordinam-se à história, e agora é o afeto, que tanto atrai Yates. 

O mundo que ele pinta é ameaçado pelo radicalismo. Sempre tem gente, nas sombras, pronta para capitalizar a angústia e a insatisfação. “Animais Fantásticos e Onde Habitam” é uma ótima reintrodução ao universo de J.K. Rowling. E, mais que isso, é uma expansão que abre inúmeras possibilidades daqui prá frente. Os próximos filmes devem explorar a figura de Grindelwald, seu conflito com Dumbledore e abranger ainda mais a história de Newt. O filme vai agradar não só os fãs do gênero, mas quem não é também vai se encantar, pois é pura magia. Merece ser visto!!!


quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

A QUALQUER CUSTO (Hell or High Water) EUA, 2016 – Direção David Mackenzie – elenco: Chris Pine, Ben Foster, Jeff Bridges, William Sterchi, Dale Dickey, Buck Taylor, Kristin Berg, Debrianna Mansini, Katy Mixon, Gil Birminghan, Howard Ferguson Jr. – 102 minutos

                                                JUSTIÇA NÃO É CRIME


Este é um filme de visão sociológica e política muito certeira e urgente, além de incrivelmente dirigido. Também possui uma narrativa perfeitamente equilibrada, permeando lacerantes momentos de tensão. O filme de David Mackenzie é uma visão plena de nossos tempos, marcados por uma sociedade que não enxerga a humanização no terceiro e afunda-se cada vez mais em uma instrumentalização da vida em prol da produtividade capitalista, marcada no século XXI por um rentismo selvagem. O enredo parte dos roubos executados pelos irmãos Tanner (Ben Foster) e Toby (Chris Pine) a bancos em diversas cidades no Texas, tendo eles um objetivo desvendado no decorrer da trama (e que envolve sua família). No seu encalço está Marcus Hamilton (Jeff Bridges), delegado “Texas Ranger” prestes a se aposentar, mas determinado a impedir novos roubos e prendê-los antes da aposentadoria. O Texas apresentado no filme é higienista e autoritário, marcado por discursos de ódio aos “mexicanos”, aos “latinos”. É marcado pelo preconceito, pelo ódio que lacera os conflitos sociais de nossos tempos e que, em momento de instabilidade econômica e descrença na democracia (embora não seja a democracia que tenha falhado, mas os que a subverteram em prol dos seus interesses capitalistas), potencializa-se, flertando com o fascismo. É impressionante como “A Qualquer Custa” consegue tratar de tantos temas e refletir criticamente tantos aspectos da contemporaneidade. 
Com um plano-sequência giratório logo no início, a câmera faz um rodopio de pouco mais de 180º, “A Qualquer Custo” revela-se, de cara, um filme muito bem dirigido e com um texto repleto de diálogos inteligentes e mordazes, o que fez dele um favorito na categoria de Melhor Roteiro Original no Oscar 2017, assinado por Taylor Sheridan, o mesmo roteirista do igualmente bem escrito “Sicario: Terra de Ninguém” (2015). No que se refere às personagens, convivem na narrativa duas duplas cuja interação é fascinante. De um lado, Tanner e Toby; de outro, Marcus e Alberto. Os irmãos, cada um à sua maneira, nutrem carinho e se protegem mutuamente (do álcool, das mulheres potencialmente interesseiras, do que for necessário). Ben Foster e Chris Pine encarnam bem as figuras quase opostas (seus tipos físicos também colaboram): Tanner é violento e bastante agressivo, inclusive na linguagem, no uso de palavras de baixo calão de forma banal, sentindo prazer em cometer ilicitudes; já Toby é um pai preocupado, um homem gentil com todos, encarando o crime como um mal necessário. No outro vértice, Marcus e Alberto (Jeff Bridges e Gil Birmingham) também são unidos por um laço de afeto, para além do profissional. Entre diálogos de provocação mútua (especialmente quanto à aposentadoria iminente do primeiro e à descendência indígena do segundo), a dupla diverte o público enquanto persegue os irmãos ladrões. Há certo antagonismo entre os quatro (todos humanizados, isto é, imperfeitos), mas o verdadeiro vilão é revelado durante o filme.

Atravessado por imagens de uma América desolada, decadente, quebrada no longo day after da crise econômica que se iniciou em 2008 e fincando claramente raízes no western, lembrando bastante, no tom e nas paisagens, a obra de Joel e Ethan Cohen, “Onde os Fracos Não Tem Vez” (2007), o filme se interessa não apenas por contar uma história dentro desse gênero, mas também por comentar criticamente as consequências sociais do que aconteceu nos Estados Unidos nos últimos anos. “A Qualquer Custo” está situado em algum ponto entre um filme de estrada e um filme de assalto a bancos, mas ao mesmo tempo completamente engolfado ao gênero western. Ser um faroeste muitas vezes significa comentar de alguma maneira os Estados Unidos da América. Nesse caso, o filme é profundamente carregado de uma mensagem essencialmente anticapitalista - os valores da família e da tradição são postos em espectros opostos aos do progresso e do dinheiro. Recebeu 04 indicações ao Oscar 2017, incluindo Melhor Filme, Melhor Roteiro Original, Melhor Ator Coadjuvante (Jeff Bridges) e Melhor Montagem. Um grande filme que vale a pena ser visto!!!


quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

A CHEGADA (Arrival) EUA, 2016 – Direção Denis Villeneuve – elenco: Amy Adams, Jeremy Renner, Forest Whitaker, Michael Stuhlbarg, Mark O’Brien, Tzi Ma, Abigail Pniowsky, Julia Scarlett Dan, Jadyn Malone, Frank Schorpion, Lucas Chartier-Dessert  - 116 minutos

                                           POR QUE ELES ESTÃO AQUI???


Uma alegoria sobre a importância da aceitação lúcida da finitude no processo de amadurecimento. É a definição mais provável para o novo filme de Denis Villeneuve. É um exercício da visão que mira o longínquo, a fim de entender o íntimo. A CHEGADA (Arrival) é um filme explicitamente sobre a comunicação, sobre entender o próximo para compreender a si mesmo. É a grande adaptação para o cinema de um conto de Ted Chiang, considerado um dos principais nomes da literatura de ficção científica contemporânea, mas lançado no Brasil somente agora, com o sucesso do filme nos Estados Unidos. O conto faz parte da obra “História da Sua Vida e Outros Contos”, de 2002. O diretor trabalha uma dupla perspectiva, tanto no grande evento da chegada das naves alienígenas quanto as dificuldades da protagonista. Essas duas linhas irão se encontrar no final. Até lá, Denis Villeneuve vai colocando seu apuro estético assombroso e sua capacidade de estabelecer uma ação quase minimalista à serviço do suspense e da tensão. Neste filme impactante, ele não produz uma sequência de ação tão minimalista quanto a do engarrafamento em “Sicário – Terra de Ninguém” (2015). Em A CHEGADA, a tensão deriva mais da busca de Louise por entender a linguagem dos ETs e da postura dos militares, do que da ação em si. Com viés pacifista, o filme questiona a intolerância, a falta de comunicação e até a dificuldade de lidarmos com o nosso eu.


A história desenvolve a trajetória da Dra. Louise Banks (Amy Adams), uma linguista convocada pelo governo norte-americano para estabelecer contato com alienígenas de uma das doze naves que pousaram no Planeta Terra. A parte central da narrativa vai transcorrer nas diversas etapas desse processo. Mas, os percalços pelos quais passam a equipe são apenas a superfície da história. Todo o filme é visto pela perspectiva de Louise. Quando ela veste a roupa de proteção, o som fica abafado; quando ela está no helicóptero, só entendemos o que o físico e parceiro de missão Ian Donnelly (Jeremy Renner) fala quando Louise coloca o fone. Todos os elementos do filme trabalham para uma narrativa em primeira pessoa. Assim, ao contrário da maioria dos filmes de invasão, A CHEGADA é um filme sobre a busca pelo contato, em que o estrangeiro alienígena pode não ser uma ameaça. 


Sendo assim, o cineasta constrói um filme em que o mistério ganha contornos muito mais reveladores do que qualquer coisa, como se de fato os personagens estivessem próximos a encontrarem uma iluminação. Isso ocorre através de planos que buscam muito mais um estudo estético das situações do que propriamente narrativos, como os flashbacks extremamente próximos do rosto de Louise e sua filha, ou do constante pássaro engaiolado presente na missão de contato; através da excelente e inspirada trilha musical de Jóhann Jóhannssson, que sugere uma epifania presente; e através da montagem que remete a um fluxo de pensamento constante. Entre paisagens deslumbrantes e uma fotografia de tons pálidos, debates sobre comportamento geopolítico e humano chamam atenção e fazem com que nos questionemos sobre como uma simples frase reverbere diversas interpretações, podendo causar decisões caóticas que talvez levem a uma guerra sem fim. A CHEGADA convida o espectador a pensar, a refletir sobre como lidar com o desconhecido. Será que nossos líderes entrariam em algum acordo ao lidar com uma força desconhecida como uma invasão alienígena? Você aceitaria viver uma vida sabendo o quão duro será o seu futuro? Questionamentos como estes e muitos outros nos levam a conclusão de que A CHEGADA é um filme que transcende e se impõe entre os melhores do ano!!!