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segunda-feira, 31 de outubro de 2011

42º Lugar - SATYRICON DE FELLINI (Fellini Satyricon) Itália, 1969



OS 100 MELHORES FILMES DE TODOS OS TEMPOS!!

42º Lugar - SATYRICON DE FELLINI (Fellini Satyricon) Itália, 1969 – Direção Federico Fellini – Elenco: Martin Potter, Hiram Keller, Max Born, Salvo Randone, Lucia Bosé, Mario Romagnoli, Magali Noël – 128 minutos.

Esta é a livre adaptação de Fellini do romance homônimo e clássico de Petrônio (Século I, depois de Cristo), que faz uma crônica da vida na Roma antiga. Um mundo cruel, selvagem e bizarro, onde o pecado não existe. Encolpio (Martin Potter) e seu amigo Asciito (Hiram Keller) disputam o afeto do jovem Giton (Max Born). Quando Encolpio é rejeitado, ele começa uma jornada na qual encontra todos os tipos de pessoas e de acontecimentos, num festival de situações extremamente curiosas que vai levar o espectador a uma viagem alucinante e desconcertante. O filme é estruturado em uma narrativa surreal, e é uma reflexão sobre a sexualidade masculina e suas variações. Cada trecho do filme trata de uma delas, como o homossexualismo, a impotência e outras questões delicadas que envolvem o sexo. Apesar de ser baseado na sociedade da Roma antiga, SATYRICON reflete também um momento de caos pelo qual a sociedade da década de 1960 vivia.



Um espetáculo visualmente deslumbrante, com uma direção de fotografia, artística, guarda-roupa impecáveis, um grandioso sentido de encenação e a irreverência e vitalidade habituais da câmera do realizador italiano. Um festival surrealista do inimaginável - pedófilos, homossexuais, sádicos, assassinos, a impotência, terremotos, o Minotauro e um semi-deus Hermafrodita. Tudo isto bebe a sua inspiração na famosa peça de Petrônio. O espectador se delicia com as qualidades geniais do cinema de Fellini, enquanto artista visual e também, delira um pouco com o seu mundo à parte, onde convivem todo o tipo de personagens, cada uma mais extravagante, estranha ou até demente. O filme tem momentos em que se atinge o cume da sátira e do humor negro, bastante certeiro, idiota por vezes, no melhor dos sentidos. Fellini foi um cineasta extremamente genial, um dos melhores do seu tempo, basta lembrarmos alguns dos seus filmes inesquecíveis: NOITES DE CABÍRIA (1957), A ESTRADA DA VIDA (1956), AMARCORD (1974), A DOCE VIDA (1960), OITO E MEIO (1963), ROMA (1972), CIDADE DAS MULHERES (1979), entre tantos outros, mas SATYRICON é uma vigorosa obra-prima que não pára de crescer, talvez pelo simples fato de que em 1969, quando foi feito, estivesse muito adiante de sua época.



O filme é extraordinário como experiência visual. A fotografia de Giuseppe Rotunno e os figurinos são lisérgicos, misturando afrescos romanos de Pompéia, alucinações, técnicas de claro-escuro e o colorido da pop art. Há que se destacar também a direção de arte de Danilo Donati e a música de Nino Rota que são geniais. Mas tudo isso, o brilho dessas contribuições artísticas, está a serviço da imaginação de Fellini. Num filme marcado pela invenção constante, muitos momentos ficam na memória, especialmente o fogo que é retirado do meio das pernas de Donyale Luna e a morte do poeta, que, de alguma forma, retoma e amplia o suicídio de Steiner, em A DOCE VIDA, que já era, em 1960, um SATYRICON dos tempos modernos. Observando atentamente, o filme, se inspirando na Roma Imperial, tem como foco inequívoco o homem contemporâneo. Os protagonistas são estudantes que se entregam às paixões mais ancestrais, aos instintos mais básicos. Em meio a um mundo que mais parece a uma grande Babilônia, encontram morte, desilusão e escarnecem de tudo e de si mesmos, sem a mínima piedade. Sobre todos (enfim), paira a sombra da arte e da poesia, única saída concebível (embora parcial) do beco sujo em que nos metemos. Não é para qualquer público, mas vale muito pela curiosidade de conhecer um lado diferente e heterodoxo do cineasta.


domingo, 30 de outubro de 2011

43º Lugar - O LEÃO NO INVERNO (The Lion in Winter) Inglaterra, 1968



OS 100 MELHORES FILMES DE TODOS OS TEMPOS!!

43º Lugar - O LEÃO NO INVERNO (The Lion in Winter) Inglaterra, 1968 – Direção Anthony Harvey – ELENCO: Peter O’Toole, Katharine Hepburn, Anthony Hopkins, Timothy Dalton, Jane Merrow, John Castle, Nigel Stock, Nigel Terry – 134 minutos.

É um dos mais belos filmes de todos os tempos. Um espetáculo poderoso e soberbo, que mescla drama de ambição selvagem com honra familiar e mistura vinganças pessoais com vitórias políticas. Com interpretações impecáveis de Peter O'Toole - no papel do Rei Henrique II, da Inglaterra - antes ele já havia interpretado esse mesmo papel em BECKET, O FAVORITO DO REI (1964) - e de Katharine Hepburn - a atriz mais completa do cinema - como a Rainha Eleanor da Aquitânia, a repudiada esposa do rei na Inglaterra de 1183, lutando contra o despótico e descontrolado marido, desafiando todas as intrigas palacianas e todos os escusos interesses da época. Fica presa por dez anos num castelo. Katharine Hepburn em todo o seu esplendor, atinge aqui o ápice de suas interpretações memoráveis, num desempenho que é talvez o seu melhor. Mais uma vez ela mostra porque foi considerada uma das maiores atrizes do cinema. A direção competente e magnífica de Anthony Harvey é outro ponto alto do filme. O LEÃO NO INVERNO foi considerado pela crítica de Nova York como o melhor filme do ano de 1968. Ficou famoso também pelo empate histórico e surpreendente no Oscar, na categoria de Melhor Atriz, entre a grande dama do cinema Katharine Hepburn e a estreante Barbra Streisand (no memorável FUNNY GIRL – A GAROTA GENIAL).



No Natal de 1183, o Rei Henrique II da Inglaterra (Peter O'Toole em brilhante atuação) promove uma reunião de família com seus três filhos e até mesmo com a Rainha Eleanor da Aquitânia (Katharine Hepburn), de quem ele está separado há vários anos e a mantém presa em um castelo distante há dez anos, para impedir que ela interfira politicamente no seu reino. A razão deste encontro é para decidir quem o sucederá no trono. Enquanto ele prefere o filho mais novo, a Rainha deseja que o mais velho herde o poder, mas os três filhos não se importam com as preferências de seus pais e cada um planeja ser o próximo rei. Este quadro gera diversas maquinações e alianças dentro da família real, onde o poder é a única coisa, que realmente importa.



Uma história que trata do relacionamento belicoso dos reis, que é dissecado à medida que eles amam, conspiram, enganam, tentam se devorar politicamente e são até muito convincentes. O filme foi indicado a 7 Oscars, mas só ganhou três, o de Melhor Atriz para Katharine Hepburn (seu terceiro Oscar), extremamente merecido; Melhor Roteiro (fabuloso) e Melhor Trilha Sonora (inesquecível). Indicado ainda a Melhor Ator (Peter O'Toole, infelizmente não ganhou, mas era merecedor); Melhor Figurino; Melhor Diretor (Anthony Harvey, perdeu para Carol Reed por OLIVER!) e Melhor Filme (foi um ano difícil, pois havia filmes excelentes e extraordinários - "OLIVER!", que foi o vencedor; "ROMEU E JULIETA", de Franco Zeffirelli; "RACHEL, RACHEL"; "FUNNY GIRL, A GAROTA GENIAL" e "O LEÃO NO INVERNO"). O filme tem ainda no elenco a participação de Anthony Hopkins (Príncipe Richard), que é um desses consagrados astros de Hollywood, que nos encanta com sua memorável interpretação; John Castle (como Príncipe Geoffrey); Timothy Dalton (como o Rei Felipe II, da França), Nigel Terry (Príncipe John), entre outros. "O LEÃO NO INVERNO" é um filme para ver, rever e amar para sempre!! É UM DOS MELHORES FILMES MEDIEVAIS QUE JÁ FOI PRODUZIDO! TEATRO FILMADO DA MELHOR QUALIDADE! É UM DOS MAIS BELOS FILMES DE TODOS OS TEMPOS!!

sábado, 29 de outubro de 2011

44º Lugar - JANELA INDISCRETA (Rear Window) EUA, 1954



OS 100 MELHORES FILMES DE TODOS OS TEMPOS!!

44º Lugar - JANELA INDISCRETA (Rear Window) EUA, 1954 – Direção Alfred Hitchcock – elenco: James Stewart, Grace Kelly, Wendell Corey, Thelma Ritter, Raymond Burr, Judith Evelyn, Ross Bagdasarian, Georgine Darcy, Irene Winston – 112 minutos.

Filmado entre Novembro de 1953 e Janeiro de 1954, a história gira em torno de um jornalista chamado Jeff, interpretado por James Stewart, que está de repouso em sua casa, depois de quebrar a perna arriscando-se na produção de uma matéria. Como não tem nada para fazer durante o dia, ele passa a espiar o cotidiano de seus vizinhos, até que desconfia que um deles tenha matado a própria esposa e tenta provar isso para sua mulher e um amigo detetive. Um enorme cenário foi construído nos estúdios da Paramount, contendo 31 janelas para o filme ser ambientado. Ele começa um pouco devagar justamente para apresentar aos telespectadores essa enorme vizinhança artificial, e isso não cai ao gosto de algumas pessoas, apesar de ser totalmente necessário para o entendimento do que está acontecendo ao redor.

A história de JANELA INDISCRETA é assinada por John Michael Hayes, e apesar de Hitchcock ter passado todo o tempo de produção do roteiro ao lado do escritor, ou seja, influenciando diretamente no resultado final da obra, não teve seu nome incluído nos créditos finais. É baseado em um conto de Cornell Woolrich, mas com os toques geniais que só Hitchcock sabia dar a seus filmes. Vários elementos que aproximaram humanamente a história e as pessoas não haviam no original, como todos os vizinhos que rondam Jeff. Na história de origem, era só ele e a suspeita do assassinato, mas com a inclusão de várias histórias paralelas, como a mulher solitária, o compositor e a bailarina, nos aproximamos ainda mais da idéia que Hitchcock procurou alcançar. Além do roteiro excelente que o filme se vangloria, as atuações de James Stewart, Grace Kelly, Thelma Ritter estão magníficas, contribuindo bastante para o clima proposto. Hitchcock faz sua aparição habitual e discreta (como sempre fez em todos os seus filmes). Aqui ele conserta um relógio em um dos apartamentos. A fotografia, que começa com tomadas calmas e distantes, também evolui para um ponto dramático e com planos fechados, ou seja, tudo está em uma perfeita sincronia para a obra prima final.



Uma presença forte e marcante na tela é, sem sombra de dúvidas, a de Grace Kelly. Linda, maravilhosa, dá o teor romântico (mais uma característica 'Hitchcockiana' básica no filme) à história. Seu primeiro plano, o momento em que ela se aproxima de Jeff a noite, enquanto ele está deitado na sua cama, é clássico e também um dos mais belos planos de uma mulher de todo o cinema. Reza a lenda que era impossível trabalhar em um set com ela e não se apaixonar pela pessoa doce que todos diziam ser. E isso não exclui Hitchcock, que tem como outra lenda uma paixão reclusa pela atriz. Thelma Ritter fecha as características básicas dos filmes do diretor com o humor negro que a história pede, como quando ela fala sobre uma possível mutilação do corpo da vítima enquanto Jeff tenta devorar seu jantar. Resumindo todas essas características, temos um filme que resume tudo o que Hitchcock já havia feito e faria, a partir dali, em seus filmes, de maneira bem básica, mas extremamente eficiente. O que prende o espectador em JANELA INDISCRETA não é a coerência ou clareza da história narrada, nem o significado especial ou uma qualquer observação mais sensível sobre a natureza das pessoas. Não é a história narrada. O que prende mesmo a atenção é a narração, é o fato do filme brincar com a condição do espectador de cinema, brincar com o olhar, com o modo de ver.

Explorando a visão de um fotógrafo que munido de sua teleobjetiva espiona os apartamentos vizinhos, JANELA INDISCRETA trabalha magistralmente com toda a amplidão da tela grande. Situações e personagens desfilam pelos olhos de James Stewart (e pelos nossos) de forma fragmentada e magnética. Não é raro ver um ou outro espectador - no escurinho do cinema - inclinando um pouco o corpo aqui e ali para tentar "enxergar" algum centímetro de cena que a câmera de Hitchcock não mostrou. Puro cinema interativo realizado muitos anos antes do termo sequer ter sido inventado. É o voyerismo fílmico elevado à sua máxima potência!! Um dos maiores e mais importantes filmes do cinema!!

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

45º Lugar - HARRY POTTER E A PEDRA FILOSOFAL (Harry Potter and the Sorcerer Stone) EUA, 2001



OS 100 MELHORES FILMES DE TODOS OS TEMPOS!!

45º Lugar - HARRY POTTER E A PEDRA FILOSOFAL (Harry Potter and the Sorcerer Stone) EUA, 2001 – Direção Chris Columbus – Elenco: Daniel Radcliffe, Rupert Grint, Emma Watson, Richard Harris, Maggie Smith, Alan Rickman, John Cleese, Tom Felton, Ian Hart, Robbie Coltrane, Julie Walters, John Hurt, Fiona Shaw – 152 minutos.

Um dos filmes mais rentáveis da história do cinema atual. Fazendo concorrência com outra produção superpoderosa como O SENHOR DOS ANÉIS (a Trilogia), ele não decepcionou. É o primeiro capítulo de uma série de sete, até o personagem central completar 18 anos. Neste ano de 2011 encerrou com o sétimo da série HARRY POTTER E AS RELÍQUIAS DA MORTE – PARTE DOIS (2010). A direção é correta e competente, Chris Columbus consegue se sair muito bem nesta empreitada, apesar de enfrentar uma tonelada de imposições por parte da autora J.K. Rowling, exigindo total fidelidade ao texto. Ela justificou tal atitude alegando medo de que sua criação caísse na mesma vala das péssimas adaptações literárias que muitas vezes estamos acostumados a ver. Mas esse medo, acredito, dissipou-se quando a produção foi lançada. Entre tantos trunfos, os efeitos especiais merecem especial atenção, o sotaque inglês impecável e os atores (todos, sem exceção) se encaixam perfeitamente nas personagens, sem esquecer dos cenários deslumbrantes e grandiosos, com uma fotografia de arrasar. Destaque para uma seqüência que ficou famosa: o esporte dos bruxos montados em suas vassouras, o quadribol, considerada uma das seqüências mais difíceis de ser realizadas. Na sinopse Harry Potter é um menino que teve os pais mortos quando ainda era bebê, foi criado por uns tios, um casal de almofadinhas que o trata como um lixo e vive num armário vagabundo embaixo das escadas, onde só cabe sua cama e uma lâmpada no teto. Na véspera de completar 11 anos, recebe uma estranha carta, descobre que é filho de um bruxo com uma humana normal (raça conhecida no mundo mágico como “trouxa”) e ganha uma matrícula na Escola de Bruxaria e Magia de Hogwarts. Depois de descobrir suas origens mágicas, ele vai para a referida escola, que diferencia das escolas tradicionais por algumas peculiaridades: é habitada por fantasmas, professores bruxos e os alunos estão lá para aprender magia.



No internato inglês cada aluno é escolhido para defender as cores de uma das quatro grandes casas (como são chamadas as classes unidas): Grifinória, Sonserina, Lufa-Lufa e Cornival., gerando amigos e inimigos durante o ano letivo. Ao pisar em Hogwarts, nosso herói mirim descobre que vai precisar lidar com a fama de ter destruído sem querer o lorde do mal, Valdemort, quando era criança, e com a possível volta desse inimigo, que está à procura da pedra filosofal, que se encontra escondida no colégio. É inegável, o livro foi perfeitamente descrito e muito bem caracterizado por todo o filme. Daniel Radcliffe está impecável no papel de Harry. Até a sua escolha, dezesseis mil garotos entre 10 e 12 anos fizeram testes durante meses. Mas nenhum foi aceito. Radcliffe foi descoberto quando o diretor estava assistindo DAVID COPPERFIELD, uma adaptação da BBC, e gostou do menino. Os pais do mesmo não concordavam que ele atuasse num sucesso arrasa-quarteirão, com medo de que isso prejudicasse os seus estudos. Mas David Heyman, o produtor do filme, conseguiu convencer o pai de Daniel, com algumas condições. O elenco ainda tem atores brilhantes, com destaque também para Rupert Grint, como Rony; Richard Harris (do inesquecível UM HOMEM CHAMADO CAVALO), é Alvo Dumbledore; Maggie Smith (ganhadora do Oscar no extraordinário PRIMAVERA DE UMA SOLTEIRONA), é a professora Minerva; Alan Rickman faz o maldoso Snape; John Cleese está ótimo como o fantasma Nick Quase-Sem-Cabeça; Julie Walters, John Hurt entre outros. O filme recebeu três indicações ao Oscar: Melhor Trilha Sonora, Melhor Figurino e Melhor Direção de Arte, mas num ano com concorrentes do cacife de O SENHOR DOS ANÉIS, ficou difícil ganhar. Como num passe de mágica, sem dúvida alguma, este fenômeno literário, chegou aos cinemas e ao DVD como uma das mais belas aventuras da década. Maravilhoso e inesquecível!!

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

46º Lugar - BATMAN, O CAVALEIRO DAS TREVAS (The Dark Knight) EUA, 2008



OS 100 MELHORES FILMES DE TODOS OS TEMPOS!!

46º Lugar - BATMAN – O CAVALEIRO DAS TREVAS (The Dark Knight) EUA, 2008 – Direção Christopher Nolan – Christian Bale, Michael Caine, Heath Ledger, Maggie Gyllenhaal, Gary Oldman, Aaron Eckhart, Morgan Freeman, Eric Roberts, Anthony Michael Hall, Nestor Carbonell, Melinda McGraw, William Fichtner, Nathan Gamble - 142 minutos.

Batman, o homem-morcego criado pelo desenhista Bob Kane está de volta, numa aventura mais sombria e violenta do que BATMAN BEGINS (2005). Novamente sob a direção de Christopher Nolan, com Christian Bale repetindo o papel principal. A maior novidade do filme é a presença de Heath Ledger no papel de Coringa. Este foi o último filme que o ator australiano completou. Ele morreu aos 28 anos, de overdose acidental de medicamentos, em janeiro de 2008. Fato ou lenda, muito se credita ao estado emocional em que ele ficou após interpretar o vilão. No entanto, o que se vê na tela é uma das melhores performances do ator, que viveu papéis marcantes como o caubói de O SEGREDO DE BROKEBACK MOUNTAIN (2005), pelo qual foi indicado ao Oscar. Nos últimos tempos, Batman (Christian Bale) andou limpando Gotham City, com a ajuda do comissário Jim Gordon (Gary Oldman, perfeito). Porém, um novo inimigo do povo começa a atuar. Trata-se do Coringa, uma figura tão misteriosa quanto mentalmente desequilibrada.

Sempre maquiado, ele pode esconder um passado tenebroso. Seu comportamento mostra pouco respeito pela vida humana, sem deixar de lado muita ironia e humor negro. Bruce Wayne e seu alter ego Batman continuam atormentados. Conflitos internos o consomem em cada uma de suas identidades. Nem sua amada Rachel Dawes (Maggie Gyllenhaal, substituindo Katie Holmes) ou seu amigo e mordomo Alfred (Michael Caine) conseguem ajudá-lo. Para piorar, Rachel trocou-o pelo novo promotor de justiça, Harvey Dent (Aaron Eckhart, de OBRIGADO POR FUMAR).



Enquanto isso, o Coringa vira a cidade de cabeça para baixo, roubando bancos e espalhando o terror. Ele intimida até os mafiosos que dominavam o mundo do crime com métodos novos e surpreendentes. Com o trio Batman, Dent e Coringa, o diretor co-roteirista Christopher Nolan tenta discutir um tema complexo: o que é um herói? É isso que tanto atormenta Batman que, apesar de salvar vidas, sente-se culpado pela onda de crimes e mortes. Já Dent também passará por um complexo processo de transformação, que resultará numa figura de moral tão ambígua quanto o seu rosto, que será deformado. Christopher Nolan sabe, na maior parte do tempo, ir fundo na questão da ambiguidade. Os personagens centrais nunca são completamente bons ou completamente malvados. Eles transitam sobre uma linha tênue, na qual um passo errado pode custar a vida de alguém amado. Esse peso moral que paira sobre BATMAN – O CAVALEIRO DAS TREVAS eleva o filme a um nível não muito comum em se tratando de adaptações de quadrinhos.

Se as cenas de ação de BATMAN BEGINS eram picotadas demais, aqui Nolan não economiza e faz várias sequências envolvendo perseguições e correrias. Se Christian Bale com seu carisma continua a ser uma figura de presença marcante - apesar de todo o figurino e da máscara - é Heath Ledger quem mais se destaca. Num personagem complexo, ele consegue evitar que o Coringa caia na caricatura, dando-lhe densidade e energia. Além disso, consegue manter um bom ritmo cômico, superando até a interpretação de Jack Nicholson para o mesmo personagem, em BATMAN (1989), de Tim Burton. Imperdível e obrigatório!!


quarta-feira, 26 de outubro de 2011

47º Lugar - O ENCOURAÇADO POTEMKIN (Броненосец Потёмкин / Bronenosets Potyomkin) Rússia, 1925



OS 100 MELHORES FILMES DE TODOS OS TEMPOS!!

47º Lugar - O ENCOURAÇADO POTEMKIN (Броненосец Потёмкин / Bronenosets Potyomkin) - Rússia, 1925 - Direção Sergei Eisenstein – Elenco: I. Bobrov, Beatrice Vitoldi, Carriage N. Poltavseva, Julia Eisenstein – 112 minutos..

Para quem quiser entender o cinema atual, do roteiro à montagem, assistir a este filme é OBRIGATÓRIO. Retrata a Revolução de 1905 na Rússia Czarista. País atrasado que iniciava seu desenvolvimento industrial graças aos investimentos estrangeiros, possuía um governo autocrático, com o poder centralizado nas mãos do Czar. Apesar de não possuir uma estrutura imperialista, seu comportamento em nível de política externa se assemelhava ao das grandes potencias, ou seja, procurava conquistar mercados, colonizando-os. A tentativa de ocupar a Manchúria determinou o início da Guerra Russo-japonesa, que representou um desastre para a já combalida economia russa. Nesse contexto é que encontramos as grandes manifestações da época, como o "Domingo Sangrento", a formação dos sovietes e a revolta dos marinheiros no porto de Odessa. O personagem principal de “O Encouraçado Potemkin” não tem nome. Na verdade, não tem nem rosto. Mas não pensem que é abstrato. É apenas coletivo. Eisenstein não contava um drama individual; ele narrava as dores de uma multidão, ou, se quiserem, de um “povo”.



A história que está sendo contada é emocionante: em 1905, marinheiros de um navio do Czar rebelam-se contra a tirania de seus comandantes e assumem o controle do Potemkin. A população de Odessa apóia a revolta. As forças repressoras do regime czarista esmagam o movimento com violência desmedida. A produção artística russa, incluindo o cinema, depois da Revolução de 17 adotou um modelo conhecido como "realismo socialista", foi financiado pelo estado e tinha como objetivo divulgar uma ideologia nova, uma outra forma de ver o mundo, apoiada em estudos teóricos (inacessíveis para o cidadão comum), mas com propostas bem concretas (e radicais) para a economia do País. Ao mesmo tempo vale lembrar que a ditadura stalinista está se iniciando e ainda não existe uma política acabada para a cultura, garantindo certa liberdade a artistas e intelectuais. Em "O Encouraçado Potemkin", a ideologia do realizador está presente em cada fotograma; contudo, não na forma de panfleto sectário, e sim como retrato da intolerância humana, de qualquer origem ou período histórico. Eisenstein era um artista, além de ser um revolucionário. E por isso o filme sobreviveu. Contudo, não dá pra esquecer que sua obra é tão poderosa porque estava impregnada de uma visão de mundo, de uma vontade imensa de falar sobre esse mundo e, mais do que isso transformá-lo.



O ENCOURAÇADO POTEMKIN é a realização mais importante e conhecida do russo Serguei Eisenstein. É considerado um marco na montagem cinematográfica. Filmado em 1925, o filme parte de um fato histórico de 1905 - rebelião de marinheiros de navio de guerra - para criar uma obra universal que fala contra a injustiça e sobre o poder coletivo que há nas revoluções populares. É dividido em cinco partes que se ocupam em provocar uma situação tal de espaço-tempo onde todos os pormenores apresentam um significado a ser apreendido pelo espectador. De forma a transcrever idéias complexas e ideologias profundas, Eisenstein chegou ao uso de técnicas de montagem inspiradas nos ideogramas orientais. Se determinado ideograma significa "telhado" e outro, "esposa", a união dos dois é lida como lar. Desta forma, é o choque entre duas imagens aparentemente díspares que cria o impacto, o sentido a que se quer chegar.

A clássica cena na escadaria de Odessa é a quarta parte do filme. As cenas iniciais banhadas em luz e alegria são substituídas pelas imagens chocantes de repressão violenta pela guarda do Czar. A própria escada já traz, em si, um símbolo da cruel hierárquica social e política, da diferença entre as classes. A cena da mãe assassinada, cujo carrinho de bebê desce degraus abaixo, é sempre citada como uma das mais famosas da história do cinema. Este grande clássico ganhou versão restaurada que inclui, pela primeira vez, cenas censuradas e o discurso de abertura de Leon Trótski, suprimido pelo governo de Josef Stálin. O trabalho de reconstituição levou dois anos e foi conduzido pelo Instituto de Cinema Britânico e entidades russas e alemãs. É um filme de inegável valor e um dos mais poderosos de todos os tempos! Imperdível!!

terça-feira, 25 de outubro de 2011

48º Lugar - LOVE STORY - UMA HISTÓRIA DE AMOR (Love Story) EUA, 1970



OS 100 MELHORES FILMES DE TODOS OS TEMPOS!!

48º Lugar - LOVE STORY – UMA HISTÓRIA DE AMOR (Love Story) – EUA, 1970 – Direção Arthur Hiller – elenco: Ryan O’Neal, Ali MacGraw, Ray Milland, John Marley, Tommy Lee Jones – 100 minutos.

Um dos mais românticos filmes já realizados, e também um dos mais populares do Cinema. É a história de um grande amor que sensibilizou toda uma geração. Foi o filme de maior sucesso da Paramount até aquele ano (1970), recebeu sete indicações ao Oscar, incluindo Melhor Filme e ganhou um pela magnífica trilha sonora de Francis Lai. No decorrer das filmagens, seus realizadores perceberam que faziam algo tão especial que Erich Segal foi simultaneamente escrevendo o famoso romance baseado em seu próprio roteiro. Ryan O'Neal e Ali MacGraw também foram indicados ao Oscar e tornaram-se astros da noite para o dia, por sua comovente interpretação de um casal que quebra barreiras sociais, casa-se e finalmente enfrenta a maior crise possível. O "determinismo mágico" dos filmes hollywoodianos é virado de cabeça para baixo. LOVE STORY é um "determinismo mágico às avessas", não é tão ingênuo quanto parece.



Com a sua mensagem de que “Love means never having to say you’re sorry” (Amar é não ter jamais que pedir perdão), o filme trouxe uma mensagem de esperança nos bons valores de humanidade num período marcado pela guerra e uma extrema violência. O cinema americano é conhecido pelos seus finais felizes, especialmente os filmes românticos. Na narrativa clássica, as pessoas encontram um obstáculo bem definido e o resolvem no final; mas LOVE StORY não é assim, mesmo sendo um grande sucesso de público nos EUA. Tudo segue a fórmula infalível dos filmes românticos, mas desde o começo, o fatalismo é evidente. Todo o filme é um flashback, com Oliver (Ryan O’Neal) sentado na neve pensando em tudo o que aconteceu desde o seu encontro com Jenny (Ali MacGraw). O começo do filme é espetacular. "O que se pode dizer de uma garota que morreu aos 25 anos? Que era talentosa, que tinha um grande futuro pela frente? Que gostava de Bach?". Ou seja, desde então, já sabemos da morte de Jenny.



O final infeliz e a dissolução do núcleo familiar da classe alta norte-americana reflete que LOVE STORY não é tão ingênuo quanto parece. O filme revela uma faceta de decomposição do "american way of life". Claro que é um filme romântico, comercial, à moda dos estúdios norte-americanos, mas apresenta algumas características que nos faz pensar sobre as transformações do modo de vida e das aspirações dos novos adultos americanos. O desencantamento, o ódio e a procura por uma identidade própria que os liberte do domínio dos pais é retratado com muita sensibilidade pelo diretor. Considerado por muitos como o filme mais romântico do cinema, LOVE STORY comoveu multidões durante anos e merece ser recordado. Para ser visto e revisto sempre!! Belo Inesquecível!!

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

49º Lugar - AMOR, SUBLIME AMOR (West Side Story) EUA, 1961



OS 100 MELHORES FILMES DE TODOS OS TEMPOS!!

49ª Lugar - AMOR, SUBLIME AMOR (West Side Story) EUA, 1961 – Direção Jerome Robbins e Robert Wise – elenco: Richard Beymer, Natalie Wood, George Chakiris, Rita Moreno, Russ Tamblyn, Simon Oakland, Ned Glass, William Bramley, Tucker Smith, Tony Mordente, David Winters, Bert Michaels, David Bean, Robert Banas – 155 minutos.

Premiado com 10 Oscars, incluindo Melhor Filme do Ano! Melhor Diretor, Melhor Ator Coadjuvante (George Chakiris), Melhor Atriz Coadjuvante (Rita Moreno), Melhor Direção de Arte, Melhor Fotografia - Colorida, Melhor Figurino - Colorido, Melhor Edição, Melhor Som e Melhor Trilha Sonora. Foi ainda indicado na categoria de Melhor Roteiro Adaptado. Pela 1ª vez na história do Oscar a premiação de melhor direção foi dividida entre dois diretores por um mesmo filme. Esta façanha permanece sendo única até os dias atuais. A trama conta que no lado oeste de Nova York, à sombra dos arranha-céus, ficam os guetos de imigrantes e classes menos favorecidas. Duas gangues, os Sharks, de porto-riquenhos, e os Jets, de brancos de origem anglo-saxônica, disputam a área, seguindo um código próprio de guerra e honra. Tony (Richard Beymer), antigo líder dos Jets, se apaixona por Maria (Natalie Wood), irmã do líder dos Sharks, e tem seu amor correspondido. A paixão dos dois fere princípios em ambos os lados, acirrando ainda mais a disputa. A história é uma versão moderna de ROMEU E JULIETA. O co-diretor Jerome Robbins abandonou cedo o projeto, após coreografar o Prólogo, “América”, “Cool” e “I Feel Pretty”. O acerto original dos produtores com os diretores Jerome Robbins e Robert Wise era que Robbins fosse o responsável por rodar as cenas com canções e dança e Wise rodasse todas as demais cenas do filme. Jerome Robbins tinha a tendência de rodar as cenas diversas vezes, em busca da tomada perfeita. O preciosismo do diretor fez com que o orçamento do filme e a agenda de filmagens fossem ultrapassados.



Quando o filme já estava com 60% de suas cenas já rodadas os produtores decidiram por demitir Robbins e passar para Robert Wise a responsabilidade de concluir o restante do filme. Os direitos de adaptação da peça teatral para o cinema custaram US$ 375 mil aos produtores. A maior parte do elenco da peça teatral da Broadway foi recusado pelos produtores por serem considerados velhos demais para um filme cujos protagonistas eram adolescentes. Como era costume em Hollywood a dublagem de atores quando estes cantavam em cena, vários atores que não sabiam cantar foram testados para os principais personagens do filme. Suzanne Pleshette, Jill St. John, Audrey Hepburn, Anthony Perkins, Warren Beatty, Bobby Darin, Burt Reynolds, Richard Chamberlain, Troy Donahue e Gary Lockwood chegaram a fazer testes para integrar o elenco. Seis atores da peça teatral na Broadway estão também presentes na adaptação cinematográfica: Carole d'Andrea, Tony Mordente, William Bramely, Jay Norman, David Winters e Tommy Abbott. George Chakiris havia interpretado o personagem Riff na montagem da peça teatral em Londres. Já Tony Mordente já havia interpretado o personagem A-Rab, na Broadway.



O diretor Robert Wise, inicialmente, queria que Elvis Presley interpretasse o personagem Tony. A personagem Maria chegou a ser oferecida a Audrey Hepburn, mas ela teve que desistir da personagem por estar grávida na época das filmagens. Natalie Wood foi dublada nas cenas em que canta por Marni Nixon. Richard Beymer foi dublado nas cenas em que canta por Jimmy Bryant. Rita Moreno foi dublada apenas na canção "A Boy Like That", por Betty Wand. Em "America" e "Quintet" é a própria atriz quem canta. Russ Tamblyn foi dublado por Tucker Smith na cena em que canta "The Jet Song". A sequência clássica de dança da abertura do filme foi realizada no local onde atualmente se encontra o Lincoln Center. Na época a área estava condenada e os prédios seriam demolidos mas, como a demolição sofreu atrasos, a cena de abertura pôde ser realizada no local. Os produtores tentaram manter os atores que interpretariam gangues rivais afastados uns dos outros, na intenção de criar antipatia e tensão entre eles. É um dos mais belos musicais e um dos mais aclamados da história do cinema!!!! IMORTAL! EXUBERANTE! E INESQUECÍVEL!!

domingo, 23 de outubro de 2011

50º Lugar - FANNY & ALEXANDER (Fanny och Alexander) Suécia, 1983



OS 100 MELHORES FILMES DE TODOS OS TEMPOS!!

50º Lugar - FANNY E ALEXANDER (Fanny och Alexander) Suécia, 1983 – Direção Ingmar Bergman – elenco: Bertil Guve (Alexander), Pernilla Allwin (Fanny), Ewa Fröling (Emilie), Lena Olin (Rosa), Kristina Adolphson (Siri), Allan Edwall (Oscar Ekdahl), Maria Granlund (Petra), Eva von Hanno (Berta), Pernilla August (Maj), Börje Ahlstedt (Carl Ekdahl), Kristian Almgreen (Putte), Siv Ericks (Alida), Majlis Granlund (Srta. Vega), Sonya Hedenbratt (Tia Emma), Gunn Wällgren (Helena Ekdahl), Jan Malmsjö (Bispo Vergerus), Jarl Kulle (Gustav Ekdahl) – 178 minutos.

Um dos maiores nomes do cinema mundial, o diretor Ingmar Bergman realiza, aqui, uma obra-prima e um dos seus trabalhos mais acabados, ao refletir com delicadeza e perfeccionismo, sobre os terrores e os prazeres da infância. O tom autobiográfico é flagrante no filme: o garoto Alexander é sem dúvida um alter-ego de Bergman, vivendo entre o puritanismo hipócrita (representado pelo bispo Vergerus) e os prazeres mundanos que o garoto encontrou nas fartas refeições, no bom humor e na liberação da casa da avó. O pai do diretor era pastor luterano, tendo várias vezes castigado-o severamente na infância. Com grande sensibilidade para descobrir e dirigir talentos femininos, Bergman descobre uma nova musa: Ewa Froeling, que vive a mãe de Fanny e Alexander, tão bela e fascinante como as estrelas anteriores do diretor: Harriet Andersson, Bibi Andersson, Kabi Laretei e Liv Ullmann. Realizada com capital sueco, francês e alemão, a produção utilizou cerca de 140 atores e mil figurantes, com o cineasta planejando tudo minuciosamente como é do seu estilo, inclusive a reconstituição de uma mansão burguesa do início do século XX. Vários temas e obsessões já presentes nos filmes anteriores de Bergman se entrecruzam com grande magia e humor: a angústia da morte, a neurose familiar, o amor pela arte (em especial pelo teatro), o horror pelo fanatismo religioso e a celebração da sensualidade.



É um dos filmes mais belos da década de 1980. Tudo gira em torno de uma cidade sueca, no começo do Século XX, dominada por sua Catedral. Um rio de curso caudaloso com suas ondas sombrias que corta a cidade. Lá está o tradicional Teatro, a secular Universidade e um bispado poderoso. As únicas mudanças são aquelas que resultam do ritmo invariável das Estações. A vida é próspera, mas sem escândalos, a segurança não tem falhas, e a felicidade é sensível a todos. Nesse cenário vamos conhecer os membros da família Ekdahl e seus empregados durante as faustosas celebrações do Natal. Há também o Mosteiro do Bispo, velho e úmido, que exprime a abnegação puritana de seus ocupantes, exatamente o oposto da casa dos Ekdahl. O garoto Alexander e sua irmã Fanny são membros dessa poderosa família de burgueses suecos no início do Século XX, criado em meio ao rígido puritanismo luterano do padrasto – o bispo Vergerus. Alexander descobre um mundo mágico e surpreendente na casa da avó, uma atriz abastada e sem preconceitos. De indiscutível beleza, um elenco impecável e um roteiro extraordinário, este excelente filme é a quintessência de Bergman e algo diferente de tudo o que ele já fez.



É uma grande crônica familiar, sombria, generosa e bela, que aborda muitos dos temas já explorados em filmes anteriores, ao mesmo tempo que introduz algo que, em Bergman, pode passar como sendo serenidade. A obra se movimenta entre os mundos da realidade e da imaginação com a facilidade característica da grande ficção, enquanto conta a história de uma família maravilhosa, mas mergulhada num mundo sombrio e de severos preconceitos. Apesar da maior parte do filme ser vista através dos olhos de Alexandre, tudo em FANNY E ALEXANDER tem a qualidade de algo lembrado à distância – eventos lembrados ou como foram vivenciados, ou como se imagina que eles tenham acontecido. Desta forma, Ingmar Bergman, consegue misturar fatos e fantasias de forma que jamais negam o que nós, no público, julgamos ser verdade. Foi indicado a 06 Oscar, incluindo Melhor Diretor, Melhor Roteiro Original, ganhando nessas quatro categorias: Melhor Filme Estrangeiro, Melhor Fotografia, Melhor Figurino e Melhor Direção de Arte. Sem dúvida alguma, é um marco na história do cinema, um espetáculo soberbo e magnífico e mais um triunfo fabuloso na carreira de um dos maiores diretores de toda a história do cinema. Imperdível!!!!

sábado, 22 de outubro de 2011

51º Lugar - BEN-HUR (Ben-Hur) EUA, 1959



OS 100 MELHORES FILMES DE TODOS OS TEMPOS!!

51º Lugar - BEN-HUR (Ben-Hur) EUA, 1959 – Direção William Wyler – Elenco: Charlton Heston (Judas Ben-Hur), Stephen Boyd (Messala), Haya Harareet (Esther), Hugh Griffith (Sheik Ilderim), Jack Hawkins (Quintus Arrius), Martha Scott (Miriam), Cathy O’Donnell (Tirzah), Sam Jaffe (Simonides), Finlay Currie (Balthasar), Frank Thring (Pôncio Pilatos), Terence Longdon (Drusus), George Relph (Tiberius), André Morell (Sextus), John Glenn – 219 minutos.

É um dos mais belos filmes de todos os tempos! A epopéia de um mercador judeu que é escravizado por seu amigo de infância e que consegue uma chance única para se vingar. Em Jerusalém no início do século I vive Judah Ben-Hur (Charlton Heston), um rico mercador judeu. Mas, com o retorno de Messala (Stephen Boyd), um amigo da juventude que agora é o chefe das legiões romanas na cidade, um desentendimento devido a visões políticas divergentes faz com que Messala condene Ben-Hur a viver como escravo em uma galé romana, mesmo sabendo da inocência do ex-amigo. Mas o destino vai dar a Ben-Hur uma oportunidade de vingança que ninguém poderia imaginar. BEN-HUR, junto com TITANIC (1997) e O SENHOR DOS ANÉIS – O RETORNO DO REI (2003), são os três únicos filmes recordistas do Oscar, até hoje. Premiado com 11 estatuetas, incluindo Melhor Filme do ano, Melhor Diretor (William Wyler), Melhor Ator (Charlton Heston), Melhor Ator Coadjuvante (Hugh Griffith), Melhor Direção de Arte - A Cores, Melhor Fotografia - A Cores, Melhor Figurino - A Cores, Melhores Efeitos Especiais, Melhor Edição, Melhor Trilha Sonora e Melhor Som. Foi ainda indicado na categoria de Melhor Roteiro Adaptado.



O ator Burt Lancaster recusou o papel de Judah Ben-Hur porque, segundo ele, a história continha morais violentas as quais discordava. Além de Lancaster, Marlon Brando e Rock Hudson também recusaram. A produção foi uma bem-sucedida tentativa da MGM de sair da ameaça de falência. Gore Vidal declarou certa vez que o roteiro original previa um relacionamento homossexual entre Ben-Hur e Messala. Como o diretor William Wyler sabia que Charlton Heston nunca aceitaria interpretar um personagem com nuances homossexuais, Vidal instruiu Wyler a apenas contar a Stephen Boyd, intérprete de Messala, sobre este relacionamento. Este fato pode ser notado no próprio filme pelas diferenças no modo de falar de Ben-Hur e Messala. A MGM, produtora do filme, queria que um autêntico barco romano fosse utilizado nas cenas de batalha. Para tanto, contratou um engenheiro que havia estudado durante toda sua carreira a arquitetura romana. Quando ele apresentou o design do barco aos engenheiros da MGM, estes disseram que ele afundaria, pois era muito pesado. Ainda assim o construíram e, ao ser colocado no oceano, inicialmente flutuou. Porém, logo após, uma pequena onda fez com que o barco afundasse. Deste modo, o estúdio resolveu colocá-lo em um gigantesco tanque onde suas cenas seriam rodadas, com cabos prendendo o barco ao tanque. Após a construção do tanque, um problema enfrentado era conseguir dar à água o tom azul-mediterrâneo necessário para que as cenas ali rodadas parecessem reais. A água inicialmente era marrom e escura e, para conseguir a tonalidade de cor necessária, foi utilizado um composto químico que, apesar de fazer com que a água ficasse azul, fez também com que fosse formada uma crosta em toda a superfície da água, que precisou ser toda retirada do tanque por operários da MGM. Durante as filmagens de uma das cenas de batalha realizadas no tanque, um dos extras caiu na água e lá ficou por muito tempo. Ao sair, este extra estava totalmente azul e teve seu salário pago pela MGM até que a cor saísse de sua pele.



Na época de sua produção, foi considerado o filme mais caro até então; em valores de hoje seria em torno de 230 milhões de dólares. O filme levou dois anos para ser concluído e utilizou pela primeira vez câmeras de 65 mm, técnica mais tarde conhecida como Super Panavision. Uma das seqüências mais famosas e mais espetaculares até hoje realizada pelo cinema, é a da corrida de quadrigas. Ela foi realizada pelo diretor de segunda unidade Andrew Marton e consumiu 94 dias de filmagens. Para a construção da arena, em Cinecittá, foram mobilizados mil operários durante um ano e custou um milhão de dólares. Foram utilizados na seqüência oito mil extras e 78 cavalos. Para a entrada dos corredores, o diretor de fotografia Robert Surtees usou uma grua de mais de 30 metros de altura: o espectador vê as quadrigas desfilando na pista como se estivesse sobrevoando o circo. Esta é a 3ª versão. As anteriores ocorreram em 1907 e em 1926, ambas sendo mudas e também com o mesmo título. O romance “Ben-Hur” foi escrito em 1880 pelo general Lewis Wallace, herói da Guerra de Secessão. O famoso escritor Gore Vidal colaborou com o roteiro, sem ser creditado. BEN-HUR é até hoje insuperável pela sua grandiosidade e pela sua beleza cinematográfica sem precedentes. É o mais espetacular filme épico já realizado pelo cinema!! Majestoso, belo, magnífico e absolutamente obrigatório!!!!

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

52º Lugar - TÁXI DRIVER (Motorista de Táxi) EUA, 1976



OS 100 MELHORES FILMES DE TODOS OS TEMPOS!!

52º Lugar - TÁXI DRIVER – MOTORISTA DE TÁXI (Táxi Driver) EUA, 1976 – Direção Martin Scorsese – elenco: Robert De Niro, Albert Brooks, Harvey Keitel, Cybill Shepherd, Jodie Foster, Leonard Harris, Peter Boyle, Norman Matlock – 114 minutos.

Travis Bickle (Robert DeNiro) é um homem desencantado, perdido numa das maiores cidades do mundo, perturbado pelo ambiente que o rodeia, ainda com muitas feridas por cicatrizar da sua experiência na guerra. Travis é um homem que sonha com o dia em que alguém limpe das ruas de Nova York toda a escumalha, as prostitutas, os chulos, os traficantes de droga... Travis é um homem prisioneiro do seu próprio mundo, mas uma bomba relógio prestes a arrebentar, ansioso por "sair lá para fora e fazer algo com um verdadeiro significado". Em 1976, Martin Scorsese apresentou TAXI DRIVER ao mundo e, conseqüentemente, apresentou um dos melhores filmes já produzidos em toda a história do cinema. Um relato cru, assustador, saído do pior dos pesadelos, que assenta na solidão o epicentro de toda uma espiral de ódios, horrores e crimes. Na sua primeira colaboração com o argumentista Paul Schrader, Scorsese deu-se a conhecer em definitivo ao mundo como um dos melhores cineastas vivos, estatuto que mantém ainda nos dias de hoje, com lugar reservado entre os maiores nomes da realização.



Mas afinal, o que faz TAXI DRIVER merecer especial destaque na filmografia de um homem que tem no seu currículo obras tão marcantes como O TOURO INDOMÁVEL (1980) ou OS BONS COMPANHEIROS (1990)? Acima de tudo, ser um filme que em momento algum tem receio de virar as costas à sua personagem central, que se apresenta como alguém com quem será à partida muito difícil o espectador identificar-se. Mas a câmera de Scorsese nunca abdica de acompanhar Travis, captando o seu mundo degradante, a sua humilhação e o distanciamento deste para com o mundo 'real', seja ele representado por aqueles que passam pelo seu táxi, seja por Betsy (Cybill Shepherd), a 'mulher mais bonita' que alguma vez viu, que trabalha no gabinete de campanha de Charles Palantine, candidato à presidência. Ou por Iris (Jodie Foster), uma prostituta que Travis tenta resgatar da sua vida. À sua volta, Travis é incapaz de ver mais do que o ódio, que se encontra ao virar de cada esquina, ou mesmo refletido no retrovisor do seu táxi.



TAXI DRIVER é um filme que lida de perto com um dos grandes momentos da história norte-americana que, de formas mais ou menos evidentes, se refletiu em todos os cineastas desta geração: a Guerra do Vietnã. As suas feridas estão espalhadas por todo o filme, especialmente na personagem de Travis, que carrega consigo não só as consequências diretas da sua participação no conflito como também surge como uma imagem da própria América, à procura da sua identidade, no interior de todo um turbilhão de conflitos interiores. E não é por acaso que o discurso de Palantine refere em todas as cenas onde aparece, a problemática da guerra e apela à união das massas. Acima de tudo, é um filme que pretende ter lugar nos recantos mais obscuros na mente de um homem perturbado, e não poderia ter sido mais bem sucedido. Tudo, desde a brilhante banda sonora de Bernard Herrmann, ao trabalho de fotografia de Michael Chapman contribui para o sucesso absoluto desta obra-prima. Tudo isto surge acompanhado por um trabalho implacável de Robert DeNiro, que apesar de tudo, nos obriga a conectar com a sua personagem. Porque no fundo, o sucesso do filme está talvez naquilo que reflete em cada um de nós, pois, afinal, todos temos um pouco de Travis Bickle. Um dos mais extraordinários filmes da história do cinema!!

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

53º Lugar - EM BUSCA DO OURO (The Gold Rush) EUA, 1925



OS 100 MELHORES FILMES DE TODOS OS TEMPOS!!

53º Lugar - EM BUSCA DO OURO (The Gold Rush) EUA, 1925 – Direção Charles Chaplin – elenco: Charles Chaplin, Mack Swain, Georgia Hale, Tom Murray, Henry Bergman, Malcolm Waite – 96 minutos.

É um dos mais tocantes filmes do cinema! A genialidade de Charles Chaplin é incontestável! Ao lado de LUZES DA CIDADE (1931), é também a sua grande obra-prima. Carlitos tenta a sorte como garimpeiro no Alasca durante a corrida do ouro em 1889. Sempre à procura de um grande amor e de aventuras, apesar do tipo trapaceiro, é um vagabundo bem-intencionado que se envolve e escapa das confusões com um imbatível ar de triunfo, pois quem leva uma vida errante não espera recompensa. Apesar dos momentos de extrema ironia, EM BUSCA DO OURO tem final feliz, praticamente o único de toda a carreira do diretor. Big Jim recupera a memória e lembra o caminho que antes o fizera achar a maior mina de ouro da região. Ele e Carlitos ficam milionários e partem num navio, onde o vagabundo reencontra Georgia (Georgia Hale), a adorável dançarina de saloon que antes não lhe dava a mínima bola e ainda o usava para provocar ciúmes no homem que amava, o valentão da cidade. Os dois acabam juntos e, até o apagar das luzes, felizes para sempre.



EM BUSCA DO OURO reúne seguramente algumas das cenas antológicas do cinema, como a da famosa dança dos pãezinhos, ou a que mostra o devaneio do bolachudo aventureiro Big Jim (Mack Swain) que, alucinado pela fome, vê Carlitos metamorfoseado em frango. A mais célebre, porém, é a do cozido das botinas de Carlitos. Com ares de gourmet, ele faz dos cordões um delicioso espaguete, das solas um fino e saboroso pássaro de caça e dos pregos seus ossinhos delicados. Carlitos e seu desmemoriado companheiro realmente comeram as botinas, feitas de alcaçuz por um confeiteiro especialmente contratado para a tarefa. Perfeccionista às raias da loucura, Chaplin fez dezenas de tomadas e mais de 20 pares de botinas saírem do forno antes de a cena ser aprovada. A mesma disciplina meticulosa envolveu as filmagens, de início realizadas nas geleiras de Truckee, e depois transferidas para Hollywood. As expressões faciais, reforçadas sempre pelo uso de maquiagem, são tão maravilhosas que fazem com que não se sinta falta das falas. Além da presença de Chaplin, o filme tem, como pontos fortes, a magnífica trilha sonora e as atuações de Mack Swain e da estreante Georgia Hale, na época com 20 anos de idade. Vencedor do Oscar nas categorias de Melhor Trilha Sonora e Melhor Som em 1942, quando foi reeditado o filme. Com uma ironia fina, o filme trata dos conflitos de classe presentes ainda hoje. No fim da vida, Chaplin declarava várias vezes que esse seria o filme pelo qual gostaria de ser lembrado. E é o filme que o público e a crítica mais se lembram. Memorável e inesquecível!!

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

54º Lugar - RASTROS DE ÓDIO (The Searchers) EUA, 1956



OS 100 MELHORES FILMES DE TODOS OS TEMPOS!!

54º Lugar - RASTROS DE ÓDIO (The Searchers) EUA, 1956 – Direção John Ford – elenco: John Wayne, Jeffrey Hunter, Natalie Wood, Vera Miles, Ward Bond, John Qualen, Olive Carey, Henry Brandon, Ken Curtis, Lana Wood, Harry Carey Jr. – 119 minutos.

Há filmes que são maiores do que a vida. RASTROS DE ÓDIO é um deles. Obra-prima de John Ford, o filme marcou uma difícil transição no cinema feito em Hollywood. Em 1956, quando foi produzido, a indústria do cinema vivia uma crise feia, causada pela concorrência com a televisão. Numerosos artifícios técnicos estavam sendo experimentados como reação. O sistema technicolor era um deles. No aspecto técnico, o filme de John Ford se notabilizou como um dos trabalhos mais bem acabados a utilizar as cores vibrantes e explosivas do novo sistema. Portanto, RASTROS DE ÓDIO foi um triunfo de tecnologia, bem ao modo que Hollywood gosta de valorizar. De certa forma, a fase de transição do cinema não era apenas tecnológica, mas sobretudo temática. As fantasias inocentes “sonhadas” pelos cineastas na chamada Era de Ouro de Hollywood, entre os anos 1930 e 1940, já eram. Os filmes mainstream – ou seja, as grandes produções – precisam ser mais realistas. Precisavam renunciar à simplificação, a mostrar um mundo cor-de-rosa demais, e passar a refletir a complexidade do mundo real. Em suma, necessitavam mostrar a dureza e o cinismo da vida em sociedade da época, algo que só aparecia em produções menores, como os policiais do chamado film noir.



E John Ford também atacou nesse campo, produzindo um dos primeiros faroestes realistas. É possível afirmar que o desafio de RASTROS DE ÓDIO tinha que ser enfrentado por alguém do calibre de John Ford. Único cineasta a embolsar três Oscar, inovador por excelência e dono de domínio total da arte cinematográfica, Ford era uma figura emblemática de uma Hollywood à beira da decadência. Ainda por cima, tornara-se especialista em westerns, um gênero que sempre coube muito bem no cinema romântico e nostálgico da Era de Ouro. Um faroeste realista? Só de pensar nisso, muito diretor de prestígio suava frio. Somente mitos como Ford e seu ator preferido, John Wayne, poderiam enfrentar uma parada daquelas. RASTROS DE ÓDIO poderia ser um fracasso definitivo, mas se desse certo, o sucesso também o seria. E o filme deu certo. De forma impressionante, John Ford fez um faroeste a seu modo, e levou o gênero um passo à frente sem abrir mão de nenhuma das características presentes na sua obra. Ford não renunciou sequer a sua locação favorita, o Monument Valley, em Utah (EUA). As montanhas poeirentas em formas de mesa, pontuando longas planícies vermelhas de terra seca, mostraram-se o cenário perfeito para tomadas panorâmicas belíssimas. Filmados no novo sistema technicolor, os picos do deserto norte-americano ganharam uma profundidade e um senso épico inigualáveis. A paisagem emoldura com perfeição absoluta a trajetória de um homem anti-social e solitário, ecoando a solidão e a aspereza do protagonista do filme.



O Monument Valley funciona como uma metáfora visual da alma deserta de Ethan Edwards (John Wayne), um ex-oficial da Guerra Civil que viaja de passagem pela fazenda do irmão. Durante a estadia dele por lá, um ataque indígena mata toda a família. Os cherokees raptam a sobrinha caçula, Debbie (Lana Wood, depois Natalie Wood). É apenas o início de uma perseguição épica, que vai durar vários anos, empreendida por Ethan, junto com o irmão adotivo da menina e mestiço de cherokee, Martin Pawley (Jeffrey Hunter). O rapaz é desprezado e ridicularizado pelo torturado Ethan, um homem que tem um passado traumático – o filme não faz nenhuma menção esclarecedora a esse respeito, mas isso fica bastante evidente – e um futuro sombrio. Cineastas de prestígio, como Steven Spielberg e Martin Scorsese, colocam RASTROS DE ÓDIO no topo das obras-primas produzidas em Hollywood. A fotografia deslumbrante de Winton C. Hoch, junto com o roteiro bem amarrado e cheio de nuanças de Frank Nugent, respondem pela maior parte dos méritos. A complexidade dos personagens é tão profunda que não cabe na tela. Um filme eterno e para sempre!!

terça-feira, 18 de outubro de 2011

55º Lugar - A FILHA DE RYAN (Ryan's Daughter) Inglaterra, 1970



OS 100 MELHORES FILMES DE TODOS OS TEMPOS!!

55º Lugar - A FILHA DE RYAN (Ryan’s Daughter) Inglaterra, 1970 – Direção de David Lean – Elenco: Robert Mitchum, Trevor Howard, Sarah Miles, Christopher Jones, John Mills, Leo McKern, Barry Foster, Arthur O’Sullivan – 206 minutos.

Depois dos sucessos de A PONTE DO RIO KWAI (1957); LAWRENCE DA ARÁBIA (1962) e DOUTOR JIVAGO (1965), David Lean pensou em filmar a vida de Gandhi, mas desistiu do projeto, pedindo um roteiro a seu roteirista habitual Robert Bolt. Inspirado em “Madame Bovary”, de Flaubert, Bolt cria então A FILHA DE RYAN, um drama de costumes que se passa durante a Guerra Civil na Irlanda em 1916, estrelado por um elenco de primeira. Robert Mitchum é Charles Shaughnessy, o pacato professor; Sarah Miles é Rose Ryan, a filha de Ryan; Trevor Howard é o Padre Collins; John Mills é o bobo da aldeia, mas que não podia falar (brilhante interpretação que lhe valeu o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante); Christopher Jones é o Major Randolph Doryan, o oficial britânico pivô de um amor infiel; Leo McKern é Tom Ryan, o delator. Ao lado do diretor de fotografia Freddie Young, o cineasta construiu novamente uma série de imagens grandiosas, de plasticidades tão comoventes como em harmonia com a trama. Em 206 minutos de poesia visual, há inicialmente uma leve comédia, que apresenta os irlandeses como seres excêntricos, bem distantes do típico esnobismo britânico. Aos poucos, os personagens fluem como em um romance do Século XIX, em que o autor se concentra apenas em narrar a trama, e não comentá-la.



Em um primeiro contato, é impossível não imaginar como esse filme pode ter influenciado outro gênio do cinema: Stanley Kubrick, que cinco anos depois faria um filme sob diversos aspectos próximos a esse magnífico A FILHA DE RYAN. Há atores neste filme que iriam figurar em BARRY LYNDON (1975), assim como paisagens rupestres que notavelmente tornariam o filme de Kubrick uma overdose plástica dificilmente recriada. Assim como Kubrick, Lean tem uma forma singular de apresentar a sua história. Desde LAWRENCE DA ARÁBIA, ele compreende que os diálogos em um filme são apenas um elemento secundário, que as imagens e sons de uma narrativa devem conduzir o espectador a um terreno incerto, no entanto, dinâmico, com um certo frescor natural. Munido de uma câmera 65mm da Panavision, Freddie Young cria imagens que simbolizam o estado de espírito de seus personagens. Há vários exemplos disso em todo o filme: as nuvens ligeiras que acompanham Rose na praia; o nascimento de algumas plantas quando Rose conhece o amor; as luzes variáveis que entram em seu quarto na noite de núpcias, etc. Mesmo com todo esse rigor visual, Freddie Young ainda reserva ao espectador uma seqüência mágica, de forte impacto emocional e cinematográfico: a cena da tempestade. Não se sabe ao certo como ele conseguiu extrair tanta autenticidade nessa seqüência, pois o que se vê no filme é um furor da natureza tentando irromper sobre os homens, algo que não pode ser criado artificialmente de forma alguma. Young capta em sua lente uma força natural, tão própria ao mundo como a paixão que envolve os personagens.



Diante de uma praia isolada, com maré altíssima, os poucos habitantes daquele vilarejo ajudam soldados refugiados a encontrar um armamento alemão que se dispersou pelo mar. O impacto visual e emotivo dessa seqüência é tão grandioso que por si só ela já resume o que é o cinema - o momento mágico em que um filme desvela o que é a vida, em que uma câmera capta, mesmo que de forma fragmentada, todas as pulsações orgânicas, metafísicas e dramáticas que podem haver na trajetória de um homem. Com um final trágico, mas com a belíssima trilha sonora de Maurice Jarre, David Lean reduz o espectador a um mero sobrevivente, a uma sensibilidade convalescente quando um grande contador de histórias está se aproximando de seu grande final.

A FILHA DE RYAN é um marco na carreira de Lean e do cinema nos anos 1970. Para aqueles que nunca tiveram a oportunidade de assistí-lo, é uma rara chance de se ter contato com um filme tão belo quanto o cinema de David Lean. Foi lançado em DVD. É um desses filmes imperdíveis que o cinema realizou com paixão, esmero e qualidade. TÃO GRANDIOSO QUANTO A VIDA!!

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

56º Lugar - DERSU UZALA (Dersu Uzala) Japão/Rússia, 1975



OS 100 MELHORES FILMES DE TODOS OS TEMPOS!!

56º Lugar - DERSU UZALA (Dersu Uzala) Japão/Rússia, 1975 – Direção Akira Kurosawa – Elenco: Maksim Munzuk (Dersu Uzala), Yuri Solomin (Capitão Vladimir Arseniev), Svetlana Danilchenko, Dmitri Korshikov, Suimenkul Chokmorov, Vladimir Kremena, Aleksander Pyatkov, Mikhail Bychkov – 141 minutos.

DERSU UZALA é um belíssimo drama contemplativo e pode ser definido como um poema ecológico, uma ode à natureza, um grito em favor da liberdade interior do homem e uma grande lição de humanismo! A profunda beleza do bosque siberiano, a força do vento, a ternura da neve e o mistério da vida também fazem parte da tônica dessa extraordinária história contada pelo olhar sensível de Akira Kurosawa. Delicado e extremamente tocante, não tem como imaginar esse filme com outro diretor. Obra-prima que celebra virtudes como a amizade, a lealdade, o amor e o respeito pela natureza. Baseado nos relatos de um explorador czarista, o Capitão Arseniev, que é resgatado na Sibéria por um caçador mongol. Mesclando uma lição de humanismo e amizade com a natureza, filmada em seu esplendor pela magnífica fotografia de Asakazu Nakai, a atualidade do filme reside na sua mensagem de esperança, de alegria, contra o fatalismo e o desespero expressos na sociedade moderna. Vê-se uma sensível lição de educação quando Arseniev aprende, humilde, sobre a natureza com Dersu, um conhecimento que não agrega valor, mas nos recompõe com a vida.



Produção soviética dirigida por um dos maiores diretores japoneses de todos os tempos, Akira Kurosawa. Melhor filme do Festival de Moscou e Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 1976, Dersu Uzala, dos livros de viagem do explorador russo Vladimir Arseniev, conta uma bela história de amizade entre duas pessoas. Em 1902, numa região selvagem ao longo do rio Ussuri, na divisa entre a Sibéria e a Mandchúria, um simples e solitário caçador mongol (toda a família foi morta por uma epidemia de peste), nômade da taiga siberiana, encontra com a pequena expedição cartográfica do capitão russo Arseniev, com o qual inicia uma profunda amizade. Dersu é convidado pelo russo para servir de guia ao grupo, aceita o convite e se mostra bastante útil, ensinando a todos os segredos na natureza, e até salvando a vida de Arseniev numa noite de intensa tempestade de vento. Depois é o russo que salva a vida de Dersu. Os dois amigos sofrem com a despedida quando termina a expedição, mas voltarão a se encontrar na segunda expedição cartográfica, em 1907, onde o russo descobre que Dersu está ficando cego. Arseniev, temendo pela vida do amigo, convence Dersu a abandonar a floresta e ir morar com ele e sua família na cidade, mas o velho caçador sentirá muita nostalgia da taiga. O músico e ator amador Maksim Munzuk interpreta brilhantemente Dersu, o velho caçador que vive em harmoniosa simbiose com a natureza, fala com o fogo, com as plantas e com os animais. DERSU UZALA é um filme de intensa beleza e poesia, que transmite um enorme respeito pela natureza e pela vida.



Os atores são russos, as locações são russas (na Sibéria literalmente gelada e em Moscou), o filme é falado em russo, mas é dirigido pelo japonês Akira Kurosawa, o mais famoso internacionalmente dos diretores japoneses. O filme também marca o “renascimento” de Kurosawa, porque anos antes ele tentara suicídio. Foi o primeiro filme depois do incidente o qual, por anos, fechou as portas do diretor no Japão. Achou abrigo na Rússia e DERSU UZALA faturou o OSCAR DE MELHOR FILME ESTRANGEIRO em 1976, numa época em que o Oscar ainda era levado a sério. DERSU UZALA é um dos melhores filmes da história do cinema, um dos melhores filmes do cinema russo e um dos melhores filmes do cineasta japonês Akira Kurosawa. Não apenas é uma obra-prima, como também é fascinante tudo que ele representa e o que não é contado no filme.