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quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

A GAROTA DESCONHECIDA (La Fille Inconnue) Bélgica / França, 2016 – Direção Jean-Pierre Dardenne e Luc Dardenne – elenco: Adèle Haenel, Olivier Bonaud, Jérémie Renier, Louka Minnella, Thomas Doret, Christelle Cornil, Olivier Gourmet, Jean-Michel Balthazar, Pierre Sumkay, Yves Larec – 113 minutos

    OS IRMÃOS DARDENNE DISCUTEM A CULPA QUE A PRÓPRIA CULPA TEM 


No novo filme dos irmãos Dardenne, a mulher vai à guerra – novamente. Agora, Jenny Devin (Adèle Haenel, em grande desempenho) é uma médica eficiente e certa de suas ações. É nessa certeza inflexível, porém, que ela perde o tato: o expediente terminou e, ao ouvir a campainha do consultório, Jenny proíbe seu estagiário de ver quem é; o turno acabou e, se fosse algo grave, o paciente insistiria.

Os belgas Luc Dardenne e Jean-Pierre Dardenne são dois dos mais cultuados cineastas europeus da atualidade, sendo dos poucos a terem conquistado por duas vezes a badalada Palma de Ouro do Festival de Cannes (“Rosetta”, em 1999 e “A Criança”, em 2005). O cinema deles é marcado por algumas características, como a câmera na mão que geralmente acompanha poucos protagonistas, quando não só um, de forma muito natural.

O filme consegue conjugar o fatalismo dos irmãos Dardenne com um nível de ternura nunca antes atingido. Um sucesso plenamente encarnado pela composição bruta de Adèle Haenel, jovem demais para o papel, e no entanto perfeitamente moldada. (Louis Blanchot – Chronic’art.com)

Como sempre, os Dardenne estão afinados com o momento político da Europa, sem afastar-se de sua permanente ligação com o que faz a essência da condição humana. Faz bem assistir a um filme assim. (Neusa Barbosa – Cineweb)



A naturalização evidente das atuações e os temas humanistas que levam a diferentes discussões sociais são características do cinema dos cultuados irmãos Luc Dardenne e Jean-Pierre Dardenne. Com este “A Garota Desconhecida”, a dupla discute imigração. Tem uma talentosa protagonista, Adèle Haenel, oriunda do extraordinário L’Apollonide – Os Amores da Casa de Tolerância (L'apollonide - Souvenirs de la maison close, 2011) e um texto que depende da atuação para funcionar. E funciona muito bem quando centrado em sua personagem principal, Jenny. Um filme meticuloso e sensível!!


domingo, 28 de janeiro de 2018

O DESTINO DE UMA NAÇÃO (Darkest Hour) EUA / Inglaterra, 2017 – Direção Joe Wright - elenco: Gary Oldman, Kristin Scott Thomas, Ben Mendelsohn, Lily James, Ronald Pickup, Stephen Dillane, Nicholas Jones, Samuel West, David Schofield, Richard Lamsden, Joe Armstrong, Benjamin Whitrow,- 125 minutos

                        ELE DEFENDIA APENAS UMA COISA: ELE MESMO


UMA VERDADEIRA OBRA-PRIMA!!!

GARY OLDMAN ESTÁ SOBERBO E EXTRAORDINÁRIO COMO WINSTON CHURCHILL, NO MELHOR FILME DO ANO, NO MAIS SOMBRIO EPISÓDIO DO SÉCULO 20

ELE DEFENDEU SUA ILHA A TODO CUSTO, E CONCLAMOU TODA UMA NAÇÃO A LUTAR NAS PRAIAS, NAS ÁREAS DE POUSO, NOS CAMPOS, NAS COLINAS E NAS RUAS. E NÃO SE RENDERAM JAMAIS.


O título “O DESTINO DE UMA NAÇÃO” é totalmente inapropriado, porque o filme não trata do destino da Inglaterra, que em 1940 era o alvo principal de Hitler, depois de derrotar e tomar a França. A questão fundamental era o destino do Mundo, pois era fundamental aniquilar a Alemanha e seu governante, que tinha rompantes de megalomaníaco. Hitler queria dominar toda a Europa e depois os outros Continentes. Mas nenhum país estava preparado para enfrentar esse inimigo tão mortal. O título original “Darkest Hour”, que em tradução para o nosso português significa “A Hora Mais Escura”, tem mais a ver com o episódio narrado no filme. Absolutamente belo, magnífico e extraordinário!!! 


ELE NÃO ERA A PRIMEIRA OPÇÃO, MAS SE TORNOU A ÚLTIMA ESPERANÇA

COM O MUNDO EM GUERRA UM HOMEM TOMOU UMA ATITUDE QUE MUDOU A HISTÓRIA PARA SEMPRE

WINSTON CHURCHILL ACREDITAVA QUE SEM VITÓRIA NÃO HAVERIA SOBREVIVÊNCIA

“O DESTINO DE UMA NAÇÃO” FOI INDICADO AO OSCAR 2018 EM SEIS CATEGORIAS, INCLUINDO MELHOR FILME. INDISCUTIVELMENTE É O MELHOR FILME DO ANO!!! 



sábado, 27 de janeiro de 2018

UMA MULHER FANTÁSTICA (Una Mujer Fantastica) Chile, 2017 – Direção Sebastián Lelio – elenco: Daniela Veja, Francisco Reyes, a cadela Diabla, Luis Gnecco, Aline Küppenheim, Nicolás Saavedra, Amparo Noguera, Trinidad González, Néstor Cantillana, Alejandro Goic, Roberto Farias, Sergio Hernández, Eduardo Paxeco, Cristián Chaparro, Antonia Zegers – 104 minutos

UM FILME QUE NOS LEVA A REFLETIR SOBRE A EMERGÊNCIA DO RESPEITO ÀS DIFERENÇAS. É UM LINDO DRAMA DE QUEM LUTA PARA SER QUEM É


A comovente interpretação de Daniela Veja é a principal força do filme, pilar sobre o qual o cineasta constrói a trama. Tudo acontece em torno da protagonista, dessa mulher que, antes de reivindicar, infelizmente precisa se colocar em certas posições por saber de antemão as ressalvas sociais à sua natureza transexual. (Marcelo Müller – Papo de Cinema)


Um dos momentos mais bonitos é quando a vemos encontrando uma forte ventania, cuja intensidade vai, aos poucos, aumentando. Ela se inclina com força contra a ferocidade dos ventos e consegue se manter em pé. É uma cena linda, triste, uma metáfora perfeita da vida de quem constantemente se vê na posição de lutar pelo direito de ser quem é. (Gabriela Ruic – Revista Exame)


Uma Mulher Fantástica é um recorte realista e intimista, uma exposição de situações pelas quais qualquer mulher trans passa em sua rotina, dos preconceitos velados aos mais violentos, e até a omissão que torna algumas pessoas cúmplices de atos transfóbicos. No centro disso tudo, está Marina Vidal, cantora que, enquanto tenta superar a perda de seu amado Orlando, precisa lidar com o ódio de seus familiares preconceituosos e a insensibilidade das autoridades que cuidam dos desdobramentos legais do falecimento de Orlando. É uma obra de sutilezas, que encontra na força dos olhares e expressões de sua protagonista o impacto dramático necessário para que o público seja conquistado. É um filme capaz de falar por imagens. (Matheus Fiore – Plano Aberto) 

O  filme passa em revista a série em aparência infindável de preconceitos alimentados pela sociedade e por todos nós, que fazemos parte dessa sociedade em seu conjunto. Marina é retratada de maneira discreta, sóbria e com toda a dignidade. (Luiz Fernando zanin Oricchio – Jornal O Estado de São Paulo)
"Uma Mulher Fantástica" presenteia seu público com uma produção de forte teor social, o que por si só já é louvável. Contudo, o filme é o que se pode imaginar do resultado de uma imersão de Hitchcock no tema da transfobia. (Edu Fernandes – Preview)
Pode ser um filme oportuno para seu tempo, mas é a sua intemporalidade, bem como suas profundidades de compaixão, que o qualificam como um  dos grandes. (The Guardian)

INDICADO AO OSCAR 2018 CATEGORIA MELHOR FILME ESTRANGEIRO

quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

Z: A CIDADE PERDIDA (The Lost City of Z) EUA, 2016 – Direção James Gray – elenco: Charlie Hunnam, Robert Pattinson, Sienna Miller, Tom Holland, Edward Ashley, Angus Macfadyen, Franco Nero, Ian McDiarmid, Clive Francis, Pedro Coello, Johann Myers, Aleksandar Jovanovic, Bobby Smalldridge, Tom Mulheron, Elena Solovey, Matthew Sunderland, Daniel Huttlestone, Nathaniel Bates Fisher, Murray Melvin, Harry Melling, Michael Jenn, Michael Ford-FitzGerald – 141 min.

  DUALIDADE E GLÓRIA EM UM DOS MELHORES FILMES DO ANO DE 2017


A história real de um homem obstinado, que não abriu mão de suas convicções mesmo diante das maiores adversidades, é um belo exercício de cinema de um realizador austero e competente ao extremo.

Este é um filme único, uma produção bastante ambiciosa e, com certeza, na lista dos melhores filmes do ano. Baseado no livro de David Grann, com roteiro adaptado pelo próprio diretor, o filme relata a biografia de Percy Fawcett, condecorado herói militar britânico. O sujeito honrado e exímio profissional se deparou com barreiras devido a sua árvore genealógica e nunca conseguiu adentrar o círculo privado do alto escalão. Mesmo assim, foi selecionado a participar de um projeto, numa sociedade de exploradores, a fim de mapear territórios sul americanos desconhecidos, no Brasil e Bolívia. Está entre os filmes que exploram a ganância e a intolerância dos europeus enquanto estes exploravam as Américas. Contudo, poucos pegam tal situação, que proporcionou a destruição de inúmeras culturas e povos nativos, e criam uma obra otimista, focando em situações pessoais em detrimento de uma análise da situação como um todo. “Z: A Cidade Perdida” faz isso. Baseado em uma história real, o filme acompanha o explorador Percy Fawcett e sua obcecada busca por uma cidade perdida no interior da selva amazônica.

“Z: A Cidade Perdida” consegue ir além de sua narrativa principal e tecer boas críticas à sociedade da época. Aliás, tais críticas são, infelizmente, aplicáveis nas sociedades ocidentais de hoje. A arrogância e prepotência dos europeus que se negam a acreditar na possibilidade de haver uma grande civilização ainda desconhecida, por exemplo, quase impedem a existência de uma expedição que mudou a história das explorações e mapeamentos no nosso continente. Embora os personagens pareçam ser unilaterais, eles também são complexos para que a história se desenvolva. Robert Pattinson, cada vez mais maduro em suas atuações, e Edward Ashley funcionam como parceiros de expedição. Mesmo que não se saiba nada sobre eles, a não ser a dualidade de posicionamento que apresentam, o espectador consegue acompanhar a importância deles na narrativa e torcer pelo progresso das personagens. É elogiável o trabalho de James Gray, como diretor, ao estabelecer o revisionismo de um período em que os europeus são vistos por muitos como heróis, quando, na verdade eram figuras auto-indulgentes e extremamente preconceituosas, tendo quase sabotado suas próprias descobertas. Precisou haver o reconhecimento externo para que, então, compreendessem a importância da exploração não para achar riquezas, mas para conhecer e aprender com novas civilizações. O diretor e roteirista sabe tratar desses assuntos com inteligência e sutileza. 

Com uma fotografia soberba do veterano Darius Khondji, o filme expõe os sacrifícios feitos por Percy ao retratar de maneira quase idílica seus momentos com a família, transformando a floresta amazônica em um paraíso de cores fortes, mas também ameaçador, com quadros fechados que constantemente sugerem a claustrofobia e a desorientação provocadas pelas paredes de verde e que se contrapõem à frieza de boa parte das cenas ambientadas em Londres. Esta experiência em localidades exóticas é que vai, finalmente, propiciar uma virada na vida de Fawcett. Em 1906, ele é convencido pela Real Sociedade Geográfica a usar sua experiência como cartógrafo para mapear a até então desconhecida nascente do rio Verde, na Bolívia. Dessa expedição, nasce a curiosidade pela cultura dos índios locais, cujos restos de antigos artefatos despertam em Fawcett a certeza de que o continente sul-americano abrigara antigas civilizações complexas, ainda desconhecidas (Machu Picchu, por exemplo, seria descoberta apenas em 1912). Um outro acerto no filme é dar suficiente peso na tela à vida familiar do protagonista. Pai de três filhos, dois deles nascidos durante suas longas viagens, ele tem uma mulher independente, culta e desafiadora, Nina (Sienna Miller, ocupando com carisma a tela num papel que só à primeira vista parece coadjuvante). A direção é luxuosa e de fácil identificação, e com o carisma de seus atores, tira totalmente o que poderia ser um filme sonolento do terreno da apatia, lhe garantindo vida o suficiente para nos manter interessados na longa jornada. Belo e reflexivo!!!



quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

DE CANÇÃO EM CANÇÃO (Song To Song) EUA, 2017 – Direção Terrence Malick – elenco: Michael Fassbender, Ryan Gosling, Rooney Mara, Natalie Portman, Cate Blanchett, Holly Hunter, Bérénice Marlohe, Val Kilmer, Lykke Li, Tom Sturridge, Olivia Grace Applegate, Dana Falconberry, Iggy Pop, Patti Smith, John Lydon, Florence Welch, Alan Palomo, Tegan Quin, Chad Smith – 129 minutos

UMA INQUIETANTE HISTÓRIA DE OBSESSÃO SEXUAL E TRAIÇÃO EM MEIO À CENA MUSICAL EM AUSTIN, NO ESTADO AMERICANO DO TEXAS 


Desde que retornou com “A Árvore da Vida”, em 2011, o cineasta Terrence Malick rompeu de vez com seu cinema narrativo de outrora e se voltou para algo mais experimental e contemplativo. Desde então, seus filmes têm seguido à risca a fórmula descrita no primeiro parágrafo deste texto, que pode ser também a descrição de alguma passagem de seu novo trabalho, “De Canção em Canção”. Claro que se trata de uma mudança em sua forma, mas não em seu conteúdo: no fundo, ele ainda está interessado por histórias de amor e por casais errantes tentando se acertar, mas que invariavelmente acabam engolidos pelas situações ao redor. Mas se em seus últimos trabalhos esse tema e modus operandi não passaram de variações anêmicas do que foi tão bem desenvolvido em “A Árvore da Vida”, aqui neste novo trabalho temos o plus de um fundo musical que faz a ideia valer a pena. 


O filme se passa em Austin, Texas, em meio a todo cenário musical da cidade. Austin é conhecida como a “a capital da música ao vivo”, devido ao enorme número de festivais que lá ocorrem. Ele narra um quadrado amoroso protagonizado por Cook (Michael Fassbender), um ricaço empresário da indústria musical, Rhonda (Natalie Portman), uma garçonete em situação financeira indesejada que é seduzida por Cook, BV (Ryan Gosling), um compositor em ascensão no mercado da música, amigo de BV e em um relacionamento com Faye (Rooney Mara), cantora em início de carreira – esperando por seu momento. O filme começa com Cook, Faye e BV como fortes amigos, uma irmandade inseparável. Contudo, mesmo cercados de amigos, a impressão que sentem é que são sozinhos. É muito interessante como a trama é muito bem explicável pelo conceito de “modernidade líquida”, do sociólogo polonês Zygmunt Bauman (1925-2017).  “De Canção em Canção” é extremamente lírico e, muitas vezes e até mesmo graças a forma como o diretor usa justamente dos recursos técnicos e estéticos, leva a tal imersão nos sentimentos e motivações dos personagens – sabendo-o fazer de forma empática, sobretudo – que provoca realmente uma experiência comovente. 


Em acordo com o ambiente, o filme é recheado de participações inusitadas de artistas da música. Dos integrantes do Red Hot Chilli Peppers a Iggy Pop; de Florence Welch a Patti Smith; de Lykke Li a John Lydon (do Sex Pistols), entre muitos (e muitos) outros. É curioso vê-los em cena (com especial destaque para Smith). Eles participam como atores, não somente nas tomadas que o diretor faz dos festivais em Austin. Patti Smith é a mais notória delas e faz uma participação quase espiritual, guiando Faye em seus caminhos e a orientando quanto aos obstáculos de se conciliar a carreira e a vida amorosa. Para além dessas intervenções, Malick se faz presente com seu cinema voyeurístico, mais voltado para imagens do que para diálogos, através de recortes rápidos e frenéticos de momentos isolados na vida de cada personagem, pulando tempos e espaços e depois recuperando eles no ar sem muitos avisos prévios. Com uma narrativa fragmentada, uma fotografia exuberante que penetra e invade a câmera inquieta do diretor de fotografia Emmanuel Lubezki, e no meio disso tudo, a eterna busca pelo divino tendo como pontapé inicial, o amor, “De Canção em Canção”, apesar de muito lento, é um filme obrigatório para os fãs do diretor e cinéfilos antenados. 



sábado, 20 de janeiro de 2018

FEITO NA AMERICA (American Made) EUA, 2017 – Direção Doug Liman – elenco: Tom Cruise, Domhnall Gleeson, Sarah Wright, Caleb Landry Jones, Lola Kirke, Jayma Mays,  Jesse Plemons, Marcus Hester, Alejandro Edda, Benito Martinez, E. Roger Mitchell, Maurìcio Mejía, Alberto Ospino, Tony Guerrero, Jayson Warner Smith, Jed Rees, William Mark McCullough, Frank Licari – 115 minutos

COM CERTEZA O PAPEL MAIS DESAFIADOR DE TODO O TRABALHO DO TOM CRUISE EM 35 ANOS DE CARREIRA 


Este filme devastador é um diálogo com a transição entre anos 1970 e 1980. Essa inserção de contexto do personagem que aos poucos se percebe num mundo maior do que pode controlar, como as grandes jornadas de crime, guia um olhar interessante que o cinema americano se especializou em transformar em filme de gênero. A sedução do crime continua um paraíso para as críticas ao consumo, e é justamente por isso que “Feito na América” surpreende. Neste retrato de uma história real, Tom Cruise vive Barry Seal, um piloto da Trans World Airlines, piloto de voos comerciais, pego por indiscrições (contrabando de pequenos produtos) pela CIA – personificada pelo onipresente e grande ator Domhnall Gleeson. No acordo, Seal ganha salário, avião próprio, mas precisa arriscar o pescoço em voos rasantes para tirar fotos de insurgentes na América Central, como só ele, piloto exímio que é, conseguiria. Esse, porém, era só o início da sua inacreditável jornada, que toma contornos que só não são surreais porque são verídicos. 


O filme é, ao mesmo tempo, um relato histórico e uma reflexão sobre a autofagia da ganância. Enquanto relato histórico, tudo começa em 1978, mas fica mais efervescente durante o governo Reagan (que começou em 1981). O serviço solicitado pela CIA é cada vez mais intenso, bem como as atividades paralelas exercidas por Seal. Em 1981, por exemplo, o piloto foi orientado a levar armas para os Contras da Nicarágua: era uma tentativa do governo dos EUA de derrubar o regime sandinista (mais precisamente, o governo da Frente Sandinista de Libertação Nacional), que, evidentemente, lhe era desinteressante. Em síntese, queriam aliados políticos na América Central, o que não poderia acontecer com uma Nicarágua socialista. No que se refere à reflexão sobre a autofagia da ganância, a responsabilidade é de Tom Cruise, que está dedicado e carismático como sempre, mas merece elogios por encarar um papel desafiador depois de muito tempo. “Feito na América” é novidade em seu currículo: Barry é o protagonista, mas está longe daquela figura heroica cuja conduta é o norte a ser seguido. O piloto não é o “bonzinho” de sempre. E o seu desempenho é impecável. É notório seu esforço para fazer um bom trabalho encarnando “o gringo que resolve todas as coisas”, seja com armas, drogas, dinheiro ou qualquer outro serviço clandestino. 


A sequência que mais chama a atenção no trailer do filme é Tom Cruise fugindo coberto de cocaína da cabeça aos pés. É completamente inesperado e bastante curioso ver o astro acostumado a personagens heroicos e insubordinados repletos de razão se colocar em tal posição aos 55 anos, mais de 35 de carreira. Cômico até. E infelizmente é exclusivamente com a finalidade de fazer rir que a cena está no filme. O personagem de Cruise transporta quilos e mais quilos de cocaína entre a Colômbia e os Estados Unidos, vive uma mentira sob intensa pressão, compra bicicletas de crianças cheio de pó na cara, mas não cheira. Entrega armas, mas não atira. É ameaçado diretamente de morte, mas não mata. Infringe inúmeras leis, mas na verdade é a vítima. Seus grandes pecados são enganar, ser ambicioso e confiar num agente da CIA. Seu maior problema se torna ter dinheiro demais. No fim das contas não vemos um Tom Cruise tão transgressor assim. É inegável, no entanto, o caráter arrojado do novo fruto da parceria do ator com o diretor Doug Liman. O filme não assume muitos riscos e se prende a algumas fórmulas comerciais, mas ainda assim acerta em investir no humor didático. Tom Cruise tem a oportunidade de representar o papel mais desafiador de sua carreira nos últimos anos. MUITO BOM E RECOMENDADÍSSIMO!! 


quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

VERÃO 1993 (Estiu 1993) Espanha, 2017 – Direção Carla Simón – elenco: Laia Artigas, Paula Robles, David Verdaguer, Bruna Cusí, Fermí Reixach, Montse Sanz, Isabel Rocatti, Berta Pipó, Etna Campillo, Paula Blanco, Quimet Pla – 97 minutos

UM FILME BELO QUE ENTRA NO ENIGMA DO UNIVERSO INFANTIL COM HABILIDADE E DELICADEZA


O primeiro filme da cineasta espanhola Carla Simón é delicado e emocionante, sobre infância, ausência e família, e tem causado sensação por onde passa, ao levar, por exemplo, os prêmios para “melhor primeiro filme” na Berlinale, na Alemanha, ou no Golden Biznaga em Málaga. O filme evoca um ano determinado e de início pode parecer uma pastoral por seu bucolismo. Mas nada tem de datado e muito menos de lírico. “Verão 1993”, trata de tema bem mais árduo – um difícil processo de adaptação, ainda que em aparência bastante favorável. É uma crônica da orfandade, da dureza da infância, de um processo de crescimento que foi acelerado drasticamente por um corte abrupto e também das etapas de assimilação de uma nova vida, tanto por parte de Frida quanto de seus novos guardiães e mesmo da pequena Ana, que deixa de ser filha única.


Um dos grandes acertos da diretora é manter o ponto de vista nas crianças. Frida é a protagonista e, portanto, estamos sempre com ela, enxergando aquela situação sob sua ótica. Quando vemos seus pais adotivos discutirem sobre ela, por exemplo, estamos cientes disso por ela estar escutando a conversa. Tudo que passa pelas nossas vistas foi observado pela expressiva atriz mirim Laia Artigas, nos colocando em seu lugar de forma ímpar. De modo muito singelo, Simón não passa a mão na cabeça da menina (ou dela mesma, já que estamos vendo uma dramatização de sua vida). Portanto, acompanhamos Frida sendo malcriada, invejosa e indecisa sobre o que realmente deseja em sua nova vida. Da mesma forma, a cineasta não desenha seus pais adotivos como pessoas detestáveis. Muito pelo contrário. O que Marga vive, por exemplo, é muito identificável. Uma mulher que é colocada em uma situação para a qual não estava preparada, tentando fazer o melhor possível para criar uma criança que se apresenta como um verdadeiro desafio. O fato de Esteve não ajudar muito no quesito disciplina a incomoda profundamente. Algo que terá de superar ou resolver junto do marido.


Indicado ao Oscar 2018 na categoria Melhor Filme Estrangeiro pela Espanha, “Verão 1993”, com elogiadas passagens no já citado Festival de Berlim e no Festival do Rio, é um filme que fala sobre a visão do luto pelos olhos de uma criança que não consegue se sentir aceita. Muito bem dirigido, o filme, com um ritmo bastante lento, navega no campo do descobrimento sobre as coisas no olhar detalhista da jovem protagonista. O maior trunfo de “Verão 1993” é a impressão de intimidade e realismo. A câmera consegue estar muito perto dos personagens e parecer ao mesmo tempo invisível, como se não interviesse naquele meio. A belíssima fotografia, com seus enquadramentos móveis e luzes naturais, faz o espectador se sentir como um novo membro da família, acompanhando atentivamente as metáforas mais simples. A atenção aos detalhes é primorosa: as cenas singelas de goteiras pingando, de couves colhidas na horta e do encontro com a joaninha funcionam para construir os personagens, explicar sua personalidade e seus conflitos internos. Uma obra-prima sensível e bela!! Obrigatório 

sábado, 13 de janeiro de 2018

BLADE RUNNER 2049 (Blade Runner 2049) EUA / Inglaterra / Canadá, 2017 – Direção Denis Villeneuve – elenco: Ryan Gosling, Harrison Ford, Jared Leto, Robin Wright, Ana de Armas, Dave Bautista, Wood Harris, Mark Arnold, David Dastmalchian, Tómas Lemarquis, Sylvia Hoeks, Edward James Olmos, Hiam Abbass, Mackenzie Davis, Vilma Szécsi, Lennie James, Sean Young – 164 minutos 
Visualmente deslumbrante, encontra beleza até mesmo na decadência de seu mundo

Este novo grande filme ultrapassa toda as expectativas, graças à inteligência com que o diretor apropria-se do projeto, com uma ousadia que desmente quem até agora o considerava somente um esteta. Ryan Gosling interpreta o agente K. Ele é um Blade Runner, oficial designado a encontrar e eliminar replicantes infratores, ou seja, seres artificiais que não possuem autorização para fazer ou viver da forma que estão. Logo na cena de abertura, o oficial irá confrontar o personagem do grandalhão Dave Bautista. Nesta única cena em que aparece, Bautista será essencial e dará o primeiro passo do grande enigma a ser desvendado ao longo das quase 3 horas de projeção. Esta é uma obra contemplativa, de ritmo deliberadamente lento, que não faz uso de nenhuma grande cena memorável de ação. “Blade Runner 2049” segue sendo um filme de questões, de mais perguntas do que respostas e de imersão, na qual nos pegaremos pensando dias após o término da exibição.
O filme já impacta em seus primeiros segundos com a densa trilha sonora assinada por Hans Zimmer e Benjamin Wallfisch (ambos envolvidos em Dunkirk e Estrelas Além do Tempo), cheia de intensos sintetizadores, e com o brilhante e belíssimo trabalho do fotógrafo Roger Deakins (colaborador de Villeneuve em outros filmes). A atmosfera evocada é completamente idílica, psicodélica e envolvente; ora cheio de cores neon e uma paleta amarelada, ora com o cinza já característico do noir, o mundo cyberpunk apresentado pelo longa-metragem é de tirar o fôlego, com uma bela direção de arte que evoca tanto o vintage, em seus monitores de tubo, quanto o moderno, com suas cores e sons de sistema operacional eletrônico.


O maior acerto de “Blade Runner 2049” está na manutenção da ambientação que consagrou o filme dirigido por Ridley Scott - que retorna nesta sequência, agora apenas como produtor executivo. Os carros voadores, a chuva (ou neve) constante, os prédios imensos com poucas pessoas nas ruas, os gigantescos painéis em neon etc está tudo lá, apontando um futuro decadente onde o brilho vem apenas do que é falso - não por acaso, a única personagem que demonstra vivacidade é justamente uma acompanhante digital programada com tal finalidade. Trata-se de um mundo seco e sério, de preconceitos arraigados, onde as pessoas pagam para ter um vislumbre de felicidade sem se importar se este é verídico. A sensação, ou a necessidade, é mais importante.

Apesar do destaque dado em peças publicitárias a Jared Leto e Harrison Ford, a participação dos dois aqui é muito pontual, apesar de bastante efetiva. O Deckard de Ford demora a aparecer, mas sua presença é sentida durante toda a projeção. Quando ele finalmente surge em tela, o faz no momento certo, com o seu personagem colocado de forma orgânica dentro da narrativa e mantendo a mesma aura e carisma de 35 anos atrás, embora o antigo Blade Runner se mostre um homem mais amargurado, haja vista tudo que perdeu nas últimas décadas. Assim como o Tyrell de Joe Turkel em 1982, o Wallace de Leto considera-se um criador, dotado de uma aura quase divina. Nisso, diversos panteões são referenciados através do personagem. O Egito antigo é representado pelos opulentos cenários banhados em luz dourada nos quais Wallace surge. Tal referência egípcia reforça uma certa alegoria bíblica, Wallace inclusive cita textualmente outra passagem do Bom Livro para ilustrar um outro paralelo. Já os robôs que servem como olhos do criador remetem aos corvos de Odin na mitologia nórdica. Esteticamente falando, o filme é de encher os olhos de qualquer um. Com a já citada bela fotografia do premiado e experiente Roger Deakins, o resultado final é um filme delirante, estonteantemente belo e obrigatório.  


quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

DIÁRIO DE UM BANANA: CAINDO NA ESTRADA (Diary of a Wimpy Kid: The Long Haul) EUA, 2017 – Direção David Bowers – elenco: Jason Drucker, Alicia Silverstone, Tom Everett Scott, Charlie Wright, Owen Asztalos, Dylan Walters, Wyatt Walters, Chris Coppola, Joshua Hoover, Mira Silverman, Carlos Guerrero – 91 minutos

    ENQUANTO CRÔNICA DE UMA GERAÇÃO, O ROTEIRO SE SAI MUITO BEM  


Esse é o quarto filme da franquia, que sempre foi um sucesso absoluto de público. Principalmente por focar num grupo muito específico, a faixa etária dos pré-adolescentes, trabalhando bem os dilemas nessa fase da vida, utilizando um humor que está na barreira entre a inocência infantil e o escracho juvenil. Quando o êxito editorial chegou aos cinemas não foi diferente, e seu público foi ver as aventuras de Greg Heffley agora na tela grande, a franquia ganhou outros dois filmes e agora, com uma reformulação total do elenco, prova mais uma vez que o filme ainda tem o que render.
O personagem principal convence a família a ir para a festa de 90 anos de sua avó de carro, tudo porque Greg quer chegar numa convenção de gamers que acontece perto de lá, e assim conseguir um vídeo com um youtuber famoso e “limpar” a imagem ruim que um meme que viralizou na internet causou a ele. O roteiro do também diretor David Bowers dos dois filmes anteriores, mantém o formato humor pastelão com mensagem família, a diferença dessa obra é que é um road movie, que infelizmente usa todos os clichês possíveis desse formato, ainda assim, consegue ser envolvente e bem engraçado, claro que isso ganha força de acordo com sua idade, já que o filme é totalmente direcionado para o público infanto-juvenil.

Enquanto crônica de uma geração, o roteiro se sai muito bem. Mesmo com a direção hiperbólica, pautando qualquer gesto com um efeito sonoro engraçadinho, o diretor David Bowers sabe criar cenas assustadoras, como o pacote de salgadinhos caindo na jacuzzi e transformando toda a água num pântano alaranjado – algo muito mais potente do que os discursos da mãe contra junk food. Susan e Frank estão longe de serem pais perfeitos, demonstrando cansaço na criação dos filhos, o que transmite uma visão menos idealizada da paternidade. Neste núcleo, quem dá as cartas é a mãe autoritária, uma competente Alicia Silverstone. No elenco o novato Charlie Wright, atuando como um impagável e novo Rodrick, ajuda a compor com hilaridade as sequências da trama. Há bons momentos, como a divertida paródia de “Psicose” (1960), que convivem com cenas divertidas como o ataque dos pássaros (homenagem ao clássico de Alfred Hitchcock “Os Pássaros – 1963). Na tentativa de explorar tudo o que poderia acontecer de errado numa única viagem, o roteiro sai de situações hilárias e comete alguns excessos, mas os excessos fazem parte da comédia e do universo infantil e o filme acaba valendo a pena.


terça-feira, 9 de janeiro de 2018

AO CAIR DA NOITE (It Comes at Night) EUA, 2017 – Direção Trey Edward Shults – elenco: Joel Edgerton, Christopher Abbott, Kelvin Harrison Jr., Carmen Ejogo, Riley Keough, Griffin Robert Faulkner, David Pendleton, o cão Mikey (Stanley), Mick O’Rourke, Chase Joliet – 91 minutos

UM TERROR PSICOLÓGICO ABORDA O MEDO DO COMPORTAMENTO HUMANO


Toda a narrativa deste filme é estabelecida com a sutileza de cenas ambíguas. A alusão à peste bubônica, por exemplo, se faz presente em dois momentos muito sucintos: quando um grande quadro mostrando a Humanidade medieval combatendo caveiras é mostrado por alguns segundos e quando Travis desenha uma floresta ocupada por esqueletos. Unindo essas duas passagens às profissões de Paul e Will, os dois líderes do filme, é fácil compreender o caminho que o longa trilha. Paul, o protagonista, é um ex-professor de história ao passo que Will já exerceu diversos trabalhos de “construção”, como mecânico e assistente de obras; portanto, um conhece a história da Humanidade, e outro, supostamente, pode proteger a casa e elaborar armadilhas/bugigangas/sistemas de defesa. Mesmo com todo esse preparo, porém, os personagens permanecem vulneráveis diante de um inimigo invisível. Da mesma produtora do já cult “A Bruxa, “Ao Cair da Noite) combina texto, fotografia (escura e úmida), trilha (minimalista e discreta), todos os elementos a favor da dramaturgia. E o resultado é uma atmosfera de constante apreensão e medo rural.

A estratégia do diretor é simples e eficaz: sugerir ameaças que, ainda que invisíveis, se fazem presentes e reais. Para alcançar este resultado, Shults e o diretor de fotografia Drew Daniels mantêm a câmera sempre em movimento, investindo em zooms lentos que, fechando o quadro enquanto focam algum ponto do cenário ou da locação, levam o espectador quase a espremer os olhos ao tentar enxergar o que exatamente encontra-se escondido ali – como no instante, por exemplo, em que o cachorro da família late para algo na floresta. Enquanto isso, o ótimo design de produção concebe a casa que abriga aquelas pessoas como um conjunto de espaços escuros e claustrofóbicos que insinuam perigos ocultos nas sombras – e mesmo que a porta vermelha situada ao fim de um corredor seja óbvia em sua cor e simbolismo, isto não a torna menos eficiente como recurso narrativo. O grande protagonista dessa obra tensa é o adolescente Travis, filho de  Paul (Joel Edgerton). Interpretado por Kevin Harrison Jr., Travis é um rapaz introspectivo e solitário que, dividindo o quarto com seu cão, tem o hábito de se esconder no sótão para ouvir as conversas dos pais e, posteriormente, aquelas entre Will e Kim – e quando o vemos rir de uma piada particular do casal, sua solidão se torna ainda mais tocante. Além disso, como alguém atravessando o auge de seu despertar sexual, o jovem não demora a demonstrar certo interesse por Kim, o que resulta numa conversa entre os dois na cozinha, no meio da noite, durante a qual - mesmo nada de comprometedor sendo dito - ambos percebem o subtexto que move o diálogo, sendo admirável o trabalho dos dois intérpretes, já que Harrison evoca o desconforto excitado do garoto enquanto Keough permite que Kim pareça estar se divertindo internamente com a reação do outro.


“Ao Cair da Noite” fala muito mais sobre nossos medos internos e transborda tópicos como paranoia, experimentando a forma como lidamos e convivemos sob circunstâncias extremas. O mal pode existir e estar lá fora, mas permeia todos nós, se mostrando muito mais perigoso e urgente quando é deflagrado de dentro para fora. O filme revela-se, então, muito mais do que um suspense/horror que o marketing pode sugerir, mas uma análise da fragilidade humana diante de forças muito além de nosso controle, como as da natureza. É um verdadeiro estudo de nossa espécie, capaz de mostrar como cedemos ao nosso  lado primitivo a qualquer sinal de desordem.  

sábado, 6 de janeiro de 2018

120 BATIMENTOS POR MINUTO (120 Battements Par Minute) França, 2017 – Direção Robin Campillo – elenco: Nahuel Pérez Biscayart, Arnaud Valois, Adèle Haenel, Antoine Reinartz, Ariel Borenstein, Félix Maritaud, Aloïse Sauvage, Simon Bourgade, Médhi Touré, Simon Guélat, Catherine Vinatier, Théophile Ray, Saadia Bentaïeb, Jean-François Auguste, Yves Heck – 140 minutos

UM FILME QUE REVISITA DISCUSSÕES QUE HOJE VOLTAM A SEREM VISTAS COMO IMORAIS E PROVA COMO ALGUNS SETORES ESTÃO REGREDINDO


Este é um grande filme militante, de luta - mas também de amor -, sobre o começo da aids. O combate aos laboratórios, ao governo do socialista François Mittérrand, que se recusava a encarar a extensão da crise da saúde. “120 Batimentos Por Minuto” se passa na França, início dos anos 1990. O grupo ativista Act Up está intensificando seus esforços para que a sociedade reconheça a importância da prevenção e do tratamento em relação a AIDS, que mata cada vez mais há uma década. Recém-chegado, Nathan (Arnaud Valois em uma interpretação devastadora) logo fica impressionado com a dedicação de Sean (Nahuel Pérez Biscayart, brilhante performance) junto ao grupo, e os dois iniciam um relacionamento sorodiscordante, apesar do estado de saúde delicado de Sean.


Esse filme muito elogiado chegou ao Brasil (lançado nos cinemas na quinta-feira, dia 04) e provavelmente terá muito sucesso nas salas de arte. Não pelo fato de ser um filme francês que conta a história de um relacionamento homoafetivo, mas sim porque o filme traz a questão da militância LGBT que acontecia em Paris há 28 anos e que volta a ser polêmica em um país no qual a onda conservadora volta a tomar força. O diretor Robin Campillo segue no caminho para se tornar um dos mais importantes realizadores LGBT da atualidade com esse filme delicado. É importante perceber, no entanto, que assim como Gus van Sant ou Xavier Dolan, seu cinema está além da orientação sexual daqueles presentes em seus enredos, impondo-se com uma temática pertinente e relevante, que não pode ser ignorada, independente de quem se situa no lado de cá da tela grande. 


Neste mais recente longa, o diretor não perde tempo com distrações ou amenidades, construindo uma bela e emocionante relação amorosa, ao mesmo tempo em que ela está inserida numa passagem crítica da história recente da nossa sociedade. A justaposição de uma trama em meio a outra coloca em evidência não apenas as ligações inegáveis que existem entre ambas, mas também a urgência de se olhar para uma sem esquecer da outra. Somos somas de nossos gestos, e tanto Campillo quanto seus personagens sabem muito bem disso. Premiado no Festival de Cannes com o Grande Prêmio do Júri – chegou a levar o presidente do corpo de jurados de 2017, Pedro Almodóvar, às lágrimas – e com o troféu da crítica, além da Queer Palm como melhor filme de temática LGBT. A direção de Robin Campillo se destaca principalmente nos momentos em que se foge da narrativa e vemos os protagonistas dançando ou durante algum protesto, somos levados para um momento utópico, com todos felizes, se misturando às luzes que piscam, destacando a envolvente trilha sonora do longa e deixando claro que, apesar das diferenças, a luta é uma só. Essa união também é trabalhada nas cenas mais íntimas, com destaque para uma cena de sexo em que o casal conta como teve o primeiro contato com o HIV, vemos parte da história acontecendo, mas em momento algum saímos do cenário escuro em que os personagens se encontram. Um dos filmes mais importantes do ano!! Obrigatório e Emblemático!! 
         O PRIMEIRO GRANDE FILME DO ANO!!  DEVASTADOR E MAGNÍFICO!!