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domingo, 30 de julho de 2017

O PODEROSO CHEFINHO (The Boss Baby) EUA, 2017 – Direção Tom McGrath – Animação com as vozes de Alec Baldwin, Steve Buscemi, Tobey Maguire, Jimmy Kimmel, Lisa Kudrow, Miles Bakshi, James McGrath, Conrad Vernon, Edie Mirman, ViviAnn Yee, Eric Bell Jr., David Soren, James Ryan, Walt Dohrn, Jules Winter, Nina Zoe Bakshi, Tom McGrath, Brian Hopkins, Chris Miller, Andrea Montana Knoll, Joseph Izzo, Chloe Albrecht, Lynnanne Zager – 97 minutos  

                      QUANDO SEU BEBÊ É NASCIDO PARA MANDAR 


Palavras como "inventivo" e "inspirado" são raramente utilizados para definir os filmes animados que chegam aos cinemas todos os anos, mas "O Poderoso Chefinho" prova ser uma exceção. O filme é longe de ser infantilizado, ele usa do universo lúdico das crianças em sua estrutura, mas faz da aventura de Francis uma grande homenagem a clássicos do cinema como o próprio " O Poderoso Chefão", "Indiana Jones", "E.T." entre outros filmes incríveis e memoráveis. A animação abusa de algumas ideias complexas e situações inusitadas - como a existência de outras dimensões e críticas sensatas ao consumismo. Quanto ao visual, tudo é muito extravagante, hilário e admirável. Mesmo não almejando a complexidade de um filme da Pixar, ou mesmo a beleza visual de um filme da Laika (“Kubo e as Cordas Mágicas“), esta animação consegue transmitir a sua mensagem com competência e objetividade.


O conflito central de O Poderoso Chefinho” se dá quando o rapazinho ganha um irmão, um bebê que, comum à pouca idade, chega para sequestrar a atenção dos pais de Francis, que, naturalmente, fica enciumado. Incomum, no entanto, “Bebê” não é qualquer recém-nascido. E é aí que entra a “magia” do cinema. Ele usa terno (!), carrega uma maleta (!!), chega de táxi (!!!) e, na surdina, age como se tivesse um grande plano escondido na fralda (!!!!) A sequência de abertura, que explora a ideia “de onde veem os bebês”, mostra que nem todo infante sobe (ou desce, vai saber...) à Terra com o intuito de espalhar fofura – e, exatamente por contrariar essa máxima, é simplesmente hilária. É uma comédia simples, bastante inteligente e visualmente ousada que, ao mesmo tempo, tenta, de certa forma, ser uma espécie de obra-prima à maneira de outro estúdio. Com muita inventividade, o roteiro solta o freio na fantasia e mostra, de forma bem-humorada, de onde “saem” os bebês.


O enredo é muito criativo, e parte de uma premissa ousada e defende argumentos notáveis com a excelência do inovador. Mesmo apresentando, algumas vezes, uma visão conservadora e tradicionalista. Praticamente acima da média, entrega um entretenimento agradável e muito marcante, com muita alma ou potencial suficiente para conquistar outra franquia própria ou algum destaque entre seus filmes irmãos. Redefinidor de um novo conceito e com uma premissa “sui generis”, além de muito interessante, "O Poderoso Chefinho" é uma comédia animada para a família com todos os elementos desejados. Ele aborda de forma impecável a metáfora do conturbado e competitivo relacionamento entre irmãos de uma forma criativa, ressignificando a relação fraternal num ambiente corporativista. 



sábado, 29 de julho de 2017

KHARTOUM (Khartoum) Inglaterra, 1966 – Direção Basil Dearden – elenco: Charlton Heston, Laurence Olivier, Richard Johnson, Ralph Richardson, Alexander Knox, Michael Hordern, Johnny Sekka, Nigel Green, Ralph Michael, Zia Mohyeddin, Marne Maitland, Peter Arne, Hugh Williams, Edward Underdown – 134 minutos

ONDE SE DIVIDE O NILO COMEÇA A GRANDE AVENTURA 


     GORDON DEFENDIA A CIDADE DE KHARTOUM EM NOME DO SEU IMPÉRIO

          O MAHDI SITIOU A CIDADE DE KHARTOUM EM NOME DO SEU DEUS
Um grande épico cinematográfico estrelado por dois grandes vencedores do Oscar, Charlton Heston e Laurence Olivier, que se enfrentam neste emocionante drama sobre dois homens e dois impérios. Filmado em glorioso Cinerama, com fantásticas batalhas no deserto preparadas pelo criador da corrida de bigas de “Ben-Hur” (1959), KHARTOUM é "um espetáculo grandioso com perfis históricos impressionantes" (Boxoffice) e com destaque para a sua fotografia primorosa. Em 1883, o primeiro-ministro britânico Gladstone (Ralph Richardson) envia o General Charles Gordon (Heston), exímio diplomata e um homem adorado pelo povo sudanês, a Khartoum, no Sudão, onde milhares de civis estão sendo ameaçados por um fanático muçulmano, o Mahdi (Olivier) que se auto-proclamou “o Esperado”, e seu exército de seguidores árabes. Gordon consegue obter o respeito do Mahdi, mas não consegue evitar que os homens do Mahdi façam um cerco à cidade. Portanto, com tudo a perder, Gordon enfrenta a batalha de sua vida defendendo a antiga cidade de Khartoum. 

A Inglaterra, então responsável pela segurança desses civis, e já não querendo mais gastar tantos recursos em uma guerra fora de suas fronteiras, decide negociar a transferência oficial do poder ao Mahdi, mas exige que todos os civis egípcios e ingleses possam partir de lá em segurança. Esse episódio é pouco conhecido historicamente. O cerco de Khartoum durou 317 dias, às margens do rio Nilo, no ano de 1884. A sua defesa foi realizada por sudaneses e egípcios liderados por Gordon, o general inglês que resolveu ir até às últimas consequências. O roteiro não esconde os defeitos do General, como sua vaidade, procurando dar uma visão equilibrada dos dois lados. Indicado para o Oscar de Melhor Roteiro, escrito por Robert Ardrey e no British Film Institute, Melhor Ator Coadjuvante para Sir Ralph Richardson e Melhor Direção de Arte. KHARTOUM é um espetáculo surpreendente e primorosamente realizado!! Grandioso, inesquecível e magistralmente poderoso!!

quinta-feira, 27 de julho de 2017

DUNQUERQUE (Dunkirk) Inglaterra / EUA, 1958 – Direção Leslie Norman – elenco: John Mills, Richard Attenborough, Bernard Lee, Robert Urquhart, Ray Jackson, Ronald Hines, Sean Barrett, Roland Curram, Meredith Edwards, Michael Bates, Rodney Diak, Michael Shillo, Eddie Byrne, Lionel Jeffries, Maxine Audley, Victor Maddern, Anthony Nicholls, Barry Foster, Peter Halliday, Nicholas Hannen – 129 minutos 

UM GRANDE ATO DE HUMANISMO EM MEIO À DESUMANIZAÇÃO CAUSADA PELA GUERRA 


Num momento em que é lançado em vários países “Dunkirk” (2017), a mais nova produção sobre o famoso episódio da Segunda Guerra Mundial, quando 400 mil soldados Aliados (entre ingleses e franceses) ficaram encurralados na cidade litorânea de Dunquerque, na região francesa de Nord-de-Pas-de-Calais, situada a 10 km da fronteira com a Bélgica, ameaçados ferozmente pelo exército nazista, merece aqui uma revisão da versão inglesa de 1958. Com uma sensibilidade narrativa e tendo a guerra como ponto de conversão, o filme acompanha duas histórias paralelas - em meio à batalha na França, o cabo "Tubby" Binns (John Mills) encontra-se responsável pelas vidas de seus homens, e sabe que tem que levá-los de volta para a Grã- Bretanha o mais rápido possível. Enquanto isso, os civis britânicos estão sendo arrastados para a guerra com a Operação Dínamo (também chamada de Evacuação de Dunquerque, ou ainda, o Milagre de Dunquerque), o esquema para resgatar as forças francesas e britânicas de volta das praias de Dunquerque. Alguns vêm para frente para ajudar, como o jornalista Charles Foreman (Bernard Lee), mas outros estão menos dispostos, como John Holden (Richard Attenborough), um fabricante militar que usa a guerra para obter lucros. 

Historicamente, a Retirada de Dunquerque é considerado um dos momentos mais difíceis da Segunda Guerra Mundial. Só tem paralelo com a Operação Overlord (também conhecida como “O Dia D”, ou, “O Desembarque na Normandia”, onde foram preparados três milhões e quinhentos mil homens, seis mil navios etc), entre 06 de junho e 26 de agosto de 1944, quando da libertação da França e a “Operação Market Garden, em setembro de 1944. Embora seja um impulso vermos como “milagre” o que ocorreu nas praias de Dunquerque, França, entre 26 de maio e 4 junho de 1940 (bem no começo da guerra, que só se iniciara, de fato, naquele mês de maio, a despeito de a declaração ter sido feita em setembro de 1939), o evento foi um grande desastre para os aliados, sob diversos aspectos.
Como consequência, toda a porção norte e em pouco tempo, todo o oeste do território francês caiu nas mãos dos nazistas, logo na primeira fase da ocupação; pouco mais de 68 mil britânicos mortos ou capturados e estima-se que mais de 200 mil franceses tenham perecido na ocasião; isso sem contar tanques, aeronaves, destróieres e outros veículos de guerra destruídos pelos nazistas. Por parte dos alemães, houve pouco mais de 27 mil mortos e pouco mais 111 mil feridos. O número de soldados que conseguiram ser resgatados pelos aliados foi de 338.226. Os números falam por si mesmos. Mas o que ficou naquele período da guerra, o “Mito de Dunquerque” e o que historicamente se perpetrou foi a ideia de trabalho, união, esperança, sacrifício e gratidão pelos milhares salvos, apesar do recuo militar e da quantidade de mortos, em comparação aos números do inimigo. O trabalho do diretor Leslie Norman funciona muito bem com a captura de grandes paisagens ou de planos compostos. Há sequências, como a dos soldados na casa de campo, à noite; ou em toda a fase da praia de Dunquerque, que mostram um grande esforço do diretor para mostrar os impactos daquele acontecimento, tanto no número de soldados quanto nas perdas e na chegada das forças de resgate. Um trabalho primoroso e obrigatório!!!!

quarta-feira, 26 de julho de 2017

A PAIXÃO DE JOANA D’ARC (La Passion de Jeanne D’arc) França, 1928 – Direção Carl Theodor Dreyer – elenco: Maria Falconetti, Eugene Silvain, André Berley, Maurice Schutz, Antonin Artaud, Michel Simon, Jean d’Yd, Louis Ravet, Armand Lurville, Jacques Arnna, Alexandre Mihalesco, Léon Larive, Paul Delauzac – 110 minutos

                   “EU NÃO SEI SE DEUS AMA OU ODEIA OS INGLESES”


Um dos maiores filmes da História do Cinema e a obra máxima de Carl Theodor Dreyer. Absolutamente extraordinário e o mais importante filme de todos os tempos!! Perfeitamente simétrico, organizado e belissimamente realizado, esta obra-prima é composta quase que inteiramente de closes, com o intuito de elucidar ainda mais a impiedade dos julgadores e o sofrimento daquela que viria a ser canonizada exatamente dez anos antes da produção do filme. Toda a história, o drama humano, o heroísmo e a santidade de Joana D’Arc é contada através das expressões faciais. Acima de tudo é um filme de ator. A atriz Maria Falconetti, em uma das mais impressionantes atuações do cinema, sintetiza muitos discursos através dos seus olhos, e é talvez uma das faces mais marcantes dessa gênese cinematográfica. Essas expressões faciais trazem toda a carga poética do filme e toda genialidade do diretor, que impediu que seus atores usassem maquiagem de maneira que suas expressões faciais se sobressaíssem. O valor histórico deste filme é algo irrevogável. Realizado em 1928, teve suas poucas cópias disponíveis na França queimadas num incêndio. Na Inglaterra o filme foi banido, por mostrar cenas em que Joana é atormentada por soldados ingleses que lembravam graficamente a tortura de Cristo pelos romanos e seu negativo original dado como perdido durante décadas.
O filme detalha as últimas horas de vida de Joana e ocorre após ela ter sido capturada pelos ingleses, cobrindo a prisão, tortura, julgamento e execução dessa grande mulher. É um filme que aborda as questões de poder, a questão da perseverança e da convicção pessoal, já inerentes na biografia de Joana D’Arc. A história detalha tudo o que aconteceu nos momentos finais dessa jovem de 19 anos. Filha de camponeses e analfabeta, ela se vestiu com trajes masculinos e foi lutar com os franceses contra a ocupação britânica. O mais irônico é que os juízes que a interrogaram eram membros da própria Igreja, forçando-a a reconhecer sua heresia. Não é muito difícil reconhecer a genialidade do diretor dinamarquês. Sua proposta era fazer um trabalho em que os atores não estivessem com maquiagens, para acentuar a falha no rosto dos seus intérpretes. Os senhores da Igreja, por exemplo, com seus enormes sulcos faciais, ganham ainda mais obscuridade. Numa  época em que o Expressionismo Alemão e a Vanguarda Francesa dominavam, foi preciso que Carl Dreyer explorasse os palcos teatrais da França para descobrir a atriz ideal e conseguiu. A escolha se imortalizou para sempre e é um dos maiores e mais importantes momentos do cinema mundial. Diante de tudo isso, inquestionavelmente, é um documento histórico, que até hoje é dissecado por estudiosos e grandes entusiastas do cinema.


domingo, 23 de julho de 2017

PARAÍSO (Рай / Ray / Paradise) Rússia / Alemanha, 2016 – Direção Andrey Konchalovskiy – elenco: Yuliya Vysotskaya, Viktor Sukhorukov, Peter Kurth, Philippe Duquesne, Jean Denis Römer, Christian Clauss, Jakob Diehl, Thomas Darchinger,  George Lenz, Irina Demidkina, Ramona Kunze-Libnow, Caroline Piette, Vera Voronkova – 130 minutos

                       TODO OBJETO DESEJADO É O CENTRO DO PARAÍSO 

"Paraíso" apresenta uma vitrine de seres humanos complexos, que foge de maniqueísmos em relação à guerra, às vezes humaniza o opressor para tentar compreender a relação do oprimido e assim buscar um relato muito mais sóbrio e plural. A intenção é articular a história de três pessoas na França invadida pelos nazistas: a condessa Olga (Yuliya Vysotskaya), presa por abrigar judeus em sua casa, o investigador da polícia francesa colaboracionista Jules (Philippe Duquesne) e o oficial nazista Helmut (Christian Clauss). Cada um relata à câmera suas histórias, seus medos, suas paixões. Quando o diretor Andreï Konchalovsky aproxima a sua câmera do rosto de uma criancinha desesperada após ver o pai levar um tiro na cabeça, estamos sem dúvida diante de um cinema redentor, moral (ou moralista), que pretende retratar os horrores da guerra ao mesmo tempo em que perdoa os “homens maus” por suas boas intenções: Jules pretendia estuprar Olga, mas era um bom pai e funcionário dedicado; Helmut não questiona o genocídio, porém ajuda Olga, por quem está apaixonado. Esta compensação oferecida ao longo do filme – mas negada na conclusão involuntariamente cômica – confessa enfim a vocação cristã que o filme tentava evitar ao longo de toda a narrativa.

Simultaneamente, o cineasta russo produz momentos muito bons quando mostra o funcionamento dos escritórios do campo ou mesmo a residência de Helmut. Nessas ocasiões é que mais experimentamos o horror do nazismo (uma prova a mais de que a "reabertura" dos campos pelo cinema, como definiu Godard, é nociva ao conhecimento e só serve para engordar bilheterias). Eles se alternam com momentos estranhos, estapafúrdios. Até então podia-se acreditar que, de algum modo, o cineasta tratava do fim do paraíso europeu, com o conflito iniciado em 1939 detonando todas as utopias. A partir desse momento pode-se pensar que Konchalóvskiy nos fala de maneiras de entrar no paraíso mesmo, o celeste. As entrevistas, unidas das ações de cada indivíduo expostas na tela, possibilitam que o roteiro ofereça complexidade e humanidade aos seus protagonistas, os quais em nenhum momento se tornam unidimensionais. O diretor mantém firme o foco no realismo das condições do campo, bem como das escolhas das pessoas em situações extremas. O “paraíso” de seu título não poderia ser mais grotescamente irônico: refere-se à utopia delirante dos nazistas.


A belíssima fotografia em preto-e-branco de Aleksandr Simonov e a eficiente - e não abusiva - trilha musical de Sergey Shustitskiy são outros pontos positivos. Um filme absorvente e impactante, causando uma certa perplexidade com o seu final atordoante. Foi indicado pela Rússia ao Oscar 2017 de melhor filme estrangeiro, mas "Paraíso"  ficou fora da competição. Nesta obra devastadora, Konchalovskiy consegue retratar a desgraça abatida sobre os judeus através de membros alemães de baixo escalão, mostrando que as injustiças ocorridas na Alemanha Nazista vitimaram até entes periféricos da Guerra. Não é tanto a história que torna o filme especial. É o formato que o cineasta e roteirista russo Andrei Konchalovsky usa para contá-la. O que parece um enredo simples pega o espectador de surpresa ao final. Um filme obrigatório e devastador!!!!

quinta-feira, 20 de julho de 2017

GATOS (Kedi) Turquia, 2016 – Direção Ceyda Torun – Documentário – elenco: Bülent Üstün – 79 minutos

 PELAS RUAS DE ISTAMBUL MORADORES MILENARES DA CIDADE: OS GATOS 


"Gatos" elabora a crônica de uma cidade milenar em torno de animais que representam uma força da natureza resistindo às pressões implacáveis da globalização, que vêm tomando os espaços onde eles exercem, há séculos, a sua peculiar forma de liberdade. Interessante notar a mão da diretora Ceyda Torun na construção da personalidade de cada gato a partir da montagem, acentuando características de forma a torná-los quase caricatos – o que não é ruim, pois faz com que o público consiga se envolver ainda mais com os animais na tela. O filme está repleto de mini-narrativas engenhosamente construídas, incluindo uma guerra de relvado. A composição hipnótica de Kira Fontana, intercalada com o pop turco bem escolhido, é um ponto realmente positivo.
Sob virtuosa direção de fotografia de Charlie Wupperman, talvez a capital turca nunca tenha sido tão deslumbrante, com panorâmicas captadas com drones. Com notável autoconfiança (ou não seriam gatos), bichanos delimitam seus territórios e, não raro, escolhem seus donos. O filme eloqüentemente aproveita a Alegria mútua entre os gatos e seu povo, bem como uma complexidade e resiliência dos animais. E não deixa dúvidas de que um residente de Istambul está falando por muitos quando diz ao cineasta que os gatos da cidade são parte integrante da sua alma. Um documentário mágico esplendidamente gracioso e silencioso sobre a população felina multifacetada de Istambul. A pontuação musical maravilhosa de Kira Fontana oferece o acompanhamento perfeito para o que gradualmente emerge como uma meditação profundamente afetada. Um filme estonteantemente lindo!! Uma obra-prima arrebatadora!!



quarta-feira, 19 de julho de 2017

DESPEDIDA EM GRANDE ESTILO (Going in Style) EUA, 2017 – Direção Zach Braff – elenco: Morgan Freeman, Michael Caine, Alan Arkin, Matt Dillon, Ann-Margret, John Ortiz, Peter Serafinowicz, Joey King, Kenan Thompson, Christopher Lloyd, Josh Pais, Maria Dizzia, Ashley Aufderheide, Siobhan Fallon Hogan, Seth Barrish – 96 minutos

                                NUNCA É TARDE PARA ACERTAR AS CONTAS


Com um roteiro coeso e ágil, “Despedida em Grande Estilo” brinca o tempo todo com as limitações impostas pela idade de seus protagonistas, bem como com o espírito aventureiro e um bocado justiceiro que surge em meio à dificuldade financeira. Aborda com espirituosidade a delicada situação financeira em que muitos idosos se encontram. O diretor Zach Braff pontua com timing perfeito as tiradas ácidas do roteiro de Theodore Melfi, que se tornam ainda mais engraçadas nas ótimas interpretações do trio Michael Caine, Morgan Freeman e Alan Arkin. Melfi manteve ritmo, fez citações inteligentes (como o grupo Rat Pack), conseguiu “quebrar” a impressão de um desfecho previsível – mais de uma vez – e abordou, de maneira leve e inteligente, temas relevantes. O filme se baseia nos dilemas espinhosos dos seus três principais personagens que, ao todo, têm 246 anos de vida na terra (Caine tem 84, Freeman 79 e Arkin 83), mas não é nada além de que um filme agradável sobre a conexão entre diferentes experiências de vida. Como era de se esperar, o trio central brinca em cena o tempo todo. O primeiro, desde a juventude especialista em obras do gênero, é o vovô família que vê “Law & Order” com a neta, usa boina e executa o papel de “cabeça” do bonde. Freeman representa o solitário, que esconde segredos debaixo de seu inseparável chapéu. Responsável mais uma vez pelo humor “peculiar”. Arkin é o rabugento de boné, pessimista e sem meias palavras, que encontra o amor mesmo sem buscar. Em comum o trio tem o machismo da geração, o gosto em rir das próprias dificuldades, algumas ideias claramente ultrapassadas e o desejo de aproveitar os últimos anos com dignidade. É a polícia que é retratada como vilã, abaixo do sistema financeiro, o grande mal. Joe é “vítima de um sistema corrupto que não serve ao povo”, diz um dos personagens.
Entre as trapalhadas do grupo há bons momentos – especialmente numa primeira tentativa de assalto a um pequeno mercado. Matt Dillon comparece numa ponta como um detetive. Mas o que se destaca mesmo é o talento do trio central, embora sem sair da zona de conforto. Apesar do fato de que este filme encantador parecia direcionado a um público da terceira idade, as gerações mais jovens foram assistí-lo - já que o humor e as mensagens profundas presentes nele são verdadeiramente universais. Para quem não sabe, é um remake de “Despedida em Grande Estilo (Going in Style) EUA, 1979 – Direção de Martin Brest – elenco: George Burns, Art Carney, Lee Strasberg.  O filme de 1979 era mais casual e muito mais sombrio sobre as realidades e enfermidades da velhice, e também contou com uma das melhores performances de George Burns. Foi uma experiência engraçada e emocionante, mas também amarga. Há, claro, algumas piadas (jamais de mau gosto) sobre as “dores” da velhice e um ou outro drama pessoal dispensável. Nada disso, contudo, tira o alto-astral de uma história sobre amizade, recomeços (inclusive amorosos) e deliciosas trapaças em nome da justiça social. Essa comédia despretensiosa e divertida tem a capacidade de surpreender e se comunica muito bem com os dias de hoje, tendo como frase crucial a afirmação: “É dever do país cuidar dos idosos”. Vale a pena ser conferido.


terça-feira, 18 de julho de 2017

DE OLHOS VENDADOS (Blindfold) EUA, 1965 – Direção Phillip Dunne – elenco: Rock Hudson, Claudia Cardinale, Jack Warden, Anne Seymour, Guy Stockwell, Brad Dexter, Alejandro Rey, Hari Rhodes, Angela Clarke, Vito Scotti, John Megna – 102 minutos

                        A MAIS PERFEITA ARMADILHA DA GUERRA FRIA!!


Claudia Cardinale e Rock Hudson sensacionalmente juntos numa explosiva aventura de espionagem, onde balas e uma misteriosa mulher jogam uma perigosa cartada. O médico psiquiatra Dr. Bartolomeu Snow (Rock Hudson) é convocado pela a Agência Nacional de Segurança dos EUA, para, sob o comando de George, cognome do General Pratt (Jack Warden), tratar do cientista Arthur Vincenti (Alejandro Rey), vítima de um colapso mental. A Agência Nacional de Segurança teme que Vincenti seja sequestrado por uma rede internacional de comercializa gênios da ciência, e por isso determina que o tratamento seja feito secretamente, na Base X. Dr. Snow, em nome da confidencialidade exigida, tem os olhos vendados, em cada visita feita a Vincenti. A situação se complica quando Vicky Vincenti (Claudia Cardinale), dançarina de boate e irmã de Vincenti, acusa o Dr. Snow de ter sequestrado seu irmão. 
Foi a estreia de Claudia Cardinale não no cinema norte-americano (para o qual já fez “A Pantera Cor-de-Rosa” e “O Mundo do Circo”), mas em Hollywood. Ela brilhou nos cinemas de vários países europeus, em filmes memoráveis como “Os Eternos Desconhecidos” (1958); “O Belo Antonio” (1960); “A Moça Com a Valise” (1961); 8 ½ (Oito e Meio - 1963); “O Leopardo” (1963); “O Magnífico Traído (1964); “Vaga Estrela da Ursa” (1965) etc.  Com muita ação e uma dose de suspense é um thriller bastante movimentado. E pode-se dizer até auto-satítrico. A produção é caprichada, com elementos como o produtor, Robert Arthur; o decorador Alexander Golitzen; o figurinista Jean-Louis; o iluminador Joseph MacDonald etc. Apesar de tratar-se de um gênero bastante explorado, o filme prende a atenção não só pela movimentação mas também pelo par central, Rock Hudson e Claudia Cardinale, que na época estava entre os astros mais requisitados. Boa diversão!!

domingo, 16 de julho de 2017

UM LIMITE ENTRE NÓS (Fences) EUA / Canadá, 2016 – Direção Denzel Washington – elenco: Denzel Washington, Viola Davis, Stephen Henderson, Jovan Adepo, Russell Hornsby, Mykelti Williamson, Saniyya Sidney, Christopher Mele – 139 minutos

        UM TRATADO PROFUNDAMENTE EMOCIONANTE SOBRE CASAMENTO

Uma imersão muito intensa no proletariado afro-americano dos anos 1950.. Troy Maxson é essa encruzilhada de contradições. Sofre o apartheid de classes com acréscimo do racismo; seus valores, no entanto, são os do sucesso e, diríamos hoje, da “meritocracia”. "Um Limite Entre Nós" é muito mais do que teatro filmado. Denzel Washignton, como diretor, sabiamente resistiu à tentação de forçar muitos elementos cinematográficos sobre a peça. O texto é primoroso e os diálogos são intensos. As cenas iniciais são sintomáticas. Denzel Washington e Stephen Henderson, amigos de décadas, conversam sobre o trabalho como catadores de lixo, ressaltando que tal tarefa é sempre entregue aos negros enquanto que, aos brancos, cabe a função de dirigir os caminhões de lixo. Logo em seguida, a imensa bandeira presente no local de pagamento anuncia: esta é a América, terra onde o preconceito racial está profundamente enraizado na sociedade. Preconceito este que é uma das molas propulsoras da peça teatral escrita por August Wilson, adaptada ao cinema pelas mãos do também diretor Denzel Washington.


Com 139 minutos, praticamente nem sentimos esse teatro filmado, com poucos cenários e impactantes diálogos. É uma história forte, muito bem escrita e com atuações espetaculares de dois dos melhores atores norte-americanos em atividade. A alegoria é brilhante, o que justifica o título original, em detrimento do brasileiro. O acerto no desfecho lírico é o encerramento que a fita merece, após uma sessão em que o espectador acompanha um roteiro soberbo interpretado por um excelente elenco. Por mais que não conste na dinâmica habitual envolvendo Troy Maxson (Denzel) e sua família, o preconceito marca presença através do profundo rancor que o personagem nutre, por não ter sido tido a chance de se tornar um jogador profissional de baseball. O filme ressalta, sempre, a falta de oportunidades e o preconceito existente às pessoas de cor, por mais que elas demonstrem capacidade para a vaga em questão. É por sentir tal situação na pele que Troy não quer que o filho siga o caminho do esporte: antevendo a frustração que sentiu, considera tal tentativa uma perda de tempo.

Denzel Washington é sempre excelente interpretando personagens complicados. Embora ele brilhe nos papéis de ação, seus personagens mais memoráveis são aqueles moralmente questionáveis. Mas nada disso funcionaria sem Davis para interagir com ele. Neste duelo sutil entre marido e mulher de longo tempo, arma-se todo um contexto histórico e social das relações entre homens e mulheres naqueles dias, confrontados com um contexto racial e social desfavorável. Entretanto, limitar ao preconceito a peça escrita por August Wilson seria subestimar o próprio texto. Por mais que ele fundamente os relacionamentos vistos em cena, os conflitos apresentados têm muito a ver com a antiquada visão de respeito imposto pelo homem, o senhor da casa a quem todos devem servir. É neste ponto que entra a hábil transformação de Troy: apresentado como um sujeito boa praça, beberrão e espirituoso, ele aos poucos revela seu modo torto de encarar a vida. Mérito do belo trabalho de Denzel Washington, que inicialmente seduz o público para, aos poucos, conquistar sua antipatia. É ele a força motriz do filme e, também, sua maior fraqueza. "Um Limite Entre Nós" é um tratado profundamente emocionante sobre casamento, pobreza e os esforços que os filhos precisam fazer para confrontar as longas sombras dos homens que os trouxeram ao mundo.

sábado, 15 de julho de 2017

LÁGRIMAS DE ESPERANÇA (Sounder) EUA, 1972 – Direção Martin Ritt – elenco: Cicely Tyson, Paul Winfield, Kevin Hooks, Taj Mahal, Janet MacLachlan, Carmen Mathews, James Best, Eric Hooks, Yvonne Jarrell, Sylvia Kuumba Williams, Ted Airhart, Richard Durham, Myrl Sharkey – 105 minutos

    MUITA ALMA E MUITA POESIA NUM FILME ADMIRAVELMENTE REALIZADO!!

Um verdadeiro poema de amor e sacrifício, em cenas magistralmente vividas e dirigidas pelo renomado cineasta Martin Ritt. O diretor tem um talento reconhecido e com a sua impecável maestria tomou em mãos essa história, muito bem adaptada, de “Sounder” (no Brasil “Lágrimas de Esperança”). E com uma interpretação poderosa de Cicely Tyson, que atinge um grau extraordinário tornando-a inesquecível e fazendo jus à merecida indicação ao Oscar de Melhor Atriz. Não haverá quem assista, insensível, também à poderosa interpretação de Paul Winfield. Dois grandes astros que em boa hora foram revelados. Há que se tirar o chapéu também para Kevin Hooks, que faz o filho da Cicely Tyson. Contando ainda com um pugilo de intérpretes brilhantes, todos de inegável valor, fez este belo filme tomar proporções de um super espetáculo (no sentido figurado). Para alguns críticos é uma obra-prima, mas para o espectador é mais ainda. Muita alma, muita poesia e muita grandeza num filme admiravelmente realizado e não é possível resistir à sua beleza e à sua ternura (às vezes amarga, mas bela). De uma história simples foi realizado o mais elaborado e inesquecível retrato de uma geração de trevas. 

Este acontecimento cinematográfico causou sensação quando do seu lançamento, conquistou o beneplácito até mesmo dos mais difíceis críticos e foi aclamado como um dos dez melhores filmes de sua geração. Recebeu quatro indicações ao Oscar, incluindo Melhor Filme do Ano (perdeu para “O Poderoso Chefão”), Melhor Atriz (Cicely Tyson), Melhor Ator (Paul Winfield) e Melhor Roteiro Adaptado. Quando “Sounder” (Lágrimas de Esperança) entrou em produção nos estúdios da 20th Century Fox e nos locais escolhidos, longe dos estúdios, para as filmagens externas, apenas duas pessoas acreditavam que se iniciava então um filme destinado a grande repercussão: seu produtor (Robert B. Radnitz) e o diretor Martin Ritt. Eles acreditavam nessa grande realização, entre outras coisas, pelo seu roteiro que foi feito com grande senso do bom cinema, além do quadro de intérpretes já citado. As previsões não falharam, o filme só conheceu elogios e seu sucesso foi verdadeiramente grande. Embora sua simplicidade, é uma obra de categoria incomum. Foi feito com alma e atingiu o coração de todas as plateias. Com o fulgor das verdadeiras histórias de amor, é uma obra-prima imperdível!!


O que salta logo aos olhos, quando se assiste a este aclamado drama, é a sinceridade de seus intérpretes, o valor de um trabalho transcendente, a riqueza da sensibilidade de quantos vivem seus papéis sob a direção competente do cineasta, que “arrancou” tudo deles. A história, simples, é contada, sobretudo, através da alma, do coração, dos felizes astros que o filme teve. Daí, certamente, o mundo de elogios que “Lágrimas de Esperança” recebeu por onde foi exibido, o que o levou a figurar entre os dez (10) mais importantes e mais destacados filmes de sua época. Uma obra vigorosa e contundente para todos os que têm olhos para ver e coração para sentir e reconhecer a beleza de um poema puro. Sem apelações e sem pieguices. Explode aclamado numa era que ficou conhecida como “novo cinema da nova Hollywood”. Importante e obrigatório!! 


sexta-feira, 14 de julho de 2017

LAERTE-SE – Brasil, 2017 – Direção Lygia Barbosa e Eliane Brum – Documentário – elenco: Laerte Coutinho, Rita Lee – 100 minutos

    UM FILME QUE É UM SOCO ELEGANTE NAS MASCULINIDADES TÓXICAS


Um dos temas mais debatidos (felizmente) ultimamente na sociedade mundial é a transexualidade, visto que ainda é um campo cheio de perguntas e com poucas respostas fáceis de serem compreendidas. LARTE-SE ainda que não trace com precisão quem é o personagem título, é uma ótima ponte de discussão sobre a transexualidade. É o primeiro documentário brasileiro produzido pela Netflix e acompanha a cartunista e chargista paulistana Laerte Coutinho, criadora de icônicos personagens como o super-herói Overman; o onipotente Deus; os Piratas do Tietê; o modernoso e trágico Hugo Baracchini; a menininha Suriá e o crossdresser  Muriel / Hugo. Aos 57 anos de idade (em 2009), Laerte assumiu sua sua transgeneridade, ou algo perto disso, já que ela afirma estar “sob um guarda-chuva que inclui a travesti, o crossdresser, a drag queen, o drag king” e que se sente feliz com isso; em um processo reflexivo que vinha sendo “cozinhado” — inclusive com uma série de dicas e talvez sublimações nada sutis em suas tirinhas — desde 2004. Ela assumiu a sua transexualidade, depois de três casamentos e três filhos como homem cisgénero. O documentário faz uma investigação de todos os desafios que essa nova condição requer de sua pessoa para viver como “mulher”, e a pergunta que ronda a análise é: afinal o que é ser uma mulher? 
O filme não se preocupa em necessariamente formar um manifesto pró-direitos de transexuais, mas sim mostrar o que Laerte é por dentro, discorrer sobre seus sentimentos, perdas e reflexões sobre sua existência, tomando como um dos pontos de partida a morte de seu filho. Além da questão trans, central no filme, diversos outros temas delicados são tocados, sem nenhum peso desnecessário e apelativo: a morte do filho de Laerte, suas relações familiares, corpo, sexualidade, nudez, política. O dinamismo das conversas, a correta exploração do silêncio e a exploração de crises existenciais de Laerte valem todo o filme. O formato escolhido pelas diretoras Lygia Barbosa da Silva e Eliane Brum de um bate papo descontraído com Laerte sobre a vida é muito interessante, já que acaba aproximando o público da história, além disso, o acervo de imagens pessoas e as tirinhas que dizem muito sobre o personagem só reforçam o tom leve e sereno da abordagem. Mas sem dúvida o que o torna o documentário uma obra necessária é a abordagem da transexualidade, pois o fato da cartunista ter vivido tantos anos dentro de uma condição que não era a natural de sua existência, deixou traumas sentimentais que a fazem ser em determinados momentos desconfiada de seus verdadeiros talentos e posição, por isso, a produção acaba sendo uma forma de mostrar que ser transexual não é um erro ou pecado e sim algo inerente ao desejo. Um destaque que merece menção é a montagem do documentário, que faz o paralelo da reforma na casa da Laerte com o seu desejo de ter seios, para assim se sentir plena como mulher, ora em diálogos, ora através das tirinhas, dessa forma o ritmo da narrativa é sempre continuo e agradável de se ver.

Para além da estética, o filme é um soco elegante nas masculinidades tóxicas, na transfobia, na insensibilidade do feminismo radical para com as mulheres trans e no próprio movimento transgênero. Laerte chega a contar, notadamente à vontade na presença de Eliane Brum, a respeito de seu incômodo com certos posicionamentos fascistas dentro do movimento trans, como por exemplo a escolha pela não mudança de sexo vista como fator de exclusão. Laerte, que, sem aparente falsa modéstia, não se considera uma mulher corajosa, teve coragem suficiente para abrir o seu mundo para que dele nascesse um filme lindo e necessário. LARTE-SE traz um convite para algo que mais do que nunca precisamos nesta era carente de tolerância. Traz o convite para o diálogo, para a revisão de papéis e conceitos formais, por meio de provocações ou reflexões do Laerte, mas que é a extensão de nossas próprias indagações retraídas. Obrigatório e Transcendente!!

quarta-feira, 12 de julho de 2017

PARIS PODE ESPERAR (Bonjour Anne / Paris Can Wait) EUA, 2016 – Direção Eleanor Coppola – elenco: Diane Lane, Alec Baldwin, Arnaud Viard, Elise Tielrooy, Linda Gegusch, Élodie Navarre, Cédric Monnet – 92 minutos

   UMA BELÍSSIMA E BASTANTE REFLEXIVA VISÃO SOBRE OS RELACIONAMENTOS AMOROSOS


A família Coppola é uma das principais dinastias de Hollywood. Nenhuma outra família gerou tantos importantes nomes envolvidos na produção audiovisual. Tudo começando, é claro, com Francis Ford Coppola, diretor da clássica trilogia “O Poderoso Chefão”, além de inúmeros longas inesquecíveis. Os filhos Sofia Coppola e Roman Coppola, a irmã Talia Shire, os sobrinhos Nicolas Cage e Jason Schwartzman. Todos conseguiram, em menor ou maior escala, um grande destaque no cinema americano. Agora é a vez da esposa, a documentarista Eleanor Coppola, que faz sua estreia no cinema com esta deliciosa comédia “Paris Pode Esperar”.


Para seu primeiro filme de ficção, Eleanor escolheu um universo que lhe é muito familiar. O filme começa retratando um casal que está em Cannes e se prepara para deixar a cidade logo após o fim do festival. Anne (Diane Lane) é uma fotógrafa amadora que é casada com um badalado produtor de cinema (Alec Baldwin). Ela sonha em seguir sua viagem até Paris, onde o casal passaria um tempo de férias. Ele, no entanto, precisa supervisionar uma produção internacional em Budapeste. Decepcionada, ela aceita uma carona até a capital da França com Jacques (Arnaud Viard), sócio francês de seu marido que está a caminho de Paris. O que era para ser uma simples viagem de sete horas, se torna uma verdadeira maratona, uma vez que Jacques insiste em parar em toda cidadezinha pelo caminho para aproveitar as peculiaridades gastronômicas de cada lugar.

Poderia se dizer que este é apenas um delicioso road movie romântico pelo interior da França, mas ele é muito mais do que isso. Que bom termos sido convidados a embarcar juntos nessa viagem. "Paris Pode Esperar" é praticamente uma fantasia que isola do lado de fora questões mais urgentes do presente. O cenário é uma França de sonho, com campos floridos, bons vinhos e queijos. Enfrentando toda essa artilharia de lugares-comuns, Eleanor consegue se defender bem, com alguns expedientes simples e eficazes. O primeiro deles é o cenário escolhido, o interior da França que, para quem conhece, é um paraíso na Terra. Paisagens belíssimas, história, arte, arquitetura, as melhores comidas e os melhores vinhos ampliados na tela. Com uma fotografia que se sobrepõe à trama, o filme fisga o espectador pelo olhar e pelo estômago. A documentarista Eleanor Coppola insere lembranças pessoais nesta comédia romântica atraente e memoravelmente realizada. Quanto à luminosa interpretação de Diane Lane, só há elogios. Aos 80 anos, a diretora traz uma visão crítica e bastante reflexiva sobre os relacionamentos amorosos num filme cheio de prazeres, como comer, beber e viajar. Inegavelmente delicioso, um filme memorável!!

terça-feira, 11 de julho de 2017

TERRA DE MINAS (Under Sandet) Dinamarca / Alemanha, 2015 – Direção Martin Zandvliet – elenco: Roland Moller, Louis Hofmann, Joel Basman, Mikkel Boe Folsgaard, Laura Bro, Karl Alexander Seidel, Maximilian Beck, August Carter, Tim Bülow – 100 minutos

UMA REFLEXÃO PARA LEMBRAR QUE HÁ VÍTIMAS EM TODOS OS LADOS DE UMA GUERRA


Após a rendição da Alemanha na Segunda Guerra Mundial, alguns países atribuíram missões perigosas aos prisioneiros nazistas capturados. Um dos casos que agora vem à luz é o a Dinamarca, em 1945, que engajou dois mil militares — boa parte deles em torno dos 16 anos de idade, em campo já há meses, graças a ordens cada vez mais insanas de Hitler e seu alto escalão no semestre final da Guerra — em uma missão para “limpar a costa oeste da Dinamarca” das cerca de dois milhões de minas colocadas ali pelos nazistas. Indicado a Melhor Filme Estrangeiro no OSCAR 2017, este filme singular trata do assunto Segunda Guerra Mundial. Guerras propiciam histórias das mais diversas. E aqui temos um bom exemplo de uma história interessante de um ponto de vista não tão comum assim. Em poucos minutos, o espectador já está comprometido com o filme, e nos momentos em que os garotos começam a desarmar as minas, transfere a agonia dos personagens para o espectador.
Esse efeito só é possível graças ao espetacular trabalho de edição e mixagem de som. Nas cenas onde os jovens estão desarmando tais explosivos, a trilha sonora some, criando já uma tensão pelo silêncio. Depois passamos a ouvir a respiração carregada de medo dos garotos. O silêncio é tão perturbador que também ouvimos com muita clareza (mixagem de som) os sons das minas sendo desarmadas, como sons de parafusos girando, metais se chocando levemente, mas muito levemente mesmo pois um choque maior geraria uma enorme explosão, barulhos de ferro em contato com a areia (edição de som). Tudo isso de forma lenta, e utilizando-se de planos detalhes que deixa tudo ainda mais tenso e após a primeira explosão, passamos a ter a sensação que qualquer outra mina pode explodir a qualquer momento. Outro ponto forte desse filme está no elenco juvenil. Alguns jovens se destacam como Oskar Bökelmann que é quase que um líder entre a garotada. Espontâneo, contestador e pró-ativo, ele é o que mais tem espaço em tela e aproveita bem essa liberdade. Outro garoto (no caso são dois – gêmeos) que se destaca é dupla Ernst e Werner Lessner. Os garotos dão um show de carisma e logo de cara passamos a gostar deles.

A fotógrafa Camilla Hjelm cria uma interessante dinâmica de observação e acompanhamento dos personagens, mudando a nossa perspectiva dos momentos de desarmamento de bombas para planos mais abertos e fotografados com mais luz ao mostrar a interação ente os jovens e os delicados momentos em que o ambiente natural, apesar de ameaçador — e apesar de a morte fazer parte da vida desses garotos o tempo inteiro — oferece algum nível de acolhimento. Curioso é que quase na mesma medida, vemos contrastes de comportamento na interação entre os soldados e também deles com o ambiente ao redor. Para esses momentos cruéis existem alguns detalhes fotográficos presentes, normalmente identificados por um leve filtro, sombra ou maior contraste de cor nas cenas. TERRA DE MINAS é um bom drama que abre e fecha com honestidade e simplicidade. Obras desse tipo são importantes não só como registro de acontecimentos históricos desconhecidos do grande público, mas também para nos lembrar que há vítimas em todos os lados de uma guerra. Um grande filme!!