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domingo, 30 de outubro de 2016

O QUARTO DE JACK (Room) Irlanda / Canadá / Inglaterra / EUA, 2015 – Direção Lenny Abrahamson – elenco: Brie Larson, Jacob Tremblay, Sean Bridgers, Joan Allen, William H. Macy, Justin Mader, Wendy Crewson, Sandy McMaster, Matt Gordon, Zarrin Darnell-Martin, Joe Pingue – 118 minutos 

UM DOS MELHORES FILMES DO ANO!!!!

Uma verdadeira aula de como o amor familiar pode vencer as barreiras mais difíceis que a vida coloca em nossa direção. Com essa frase pode-se definir a grandeza de “O Quarto de Jack”, um dos filmes mais emblemáticos e contundentes dos últimos dez anos. Com impressionante interpretação dos protagonistas – a esplêndida dupla Brie Larson e Jacob Tremblay – é uma experiência única e impactante. Possui uma carga forte com uma mistura ímpar de sentimentos, como a raiva, o medo, a dor e a angústia, surpreendendo como a co-produção independente do mais alto nível do moderno cinema irlandês / canadense / inglês e  norte-americano. A primeira parte do filme possui um contexto brilhante sobre a vida cotidiana dos personagens, que deve servir como exemplo nas escolas de cinema, especialmente as que voltam seus cursos para o campo independente de baixo custo.


Este poderoso drama baseado no excelente livro “Room”, escrito por Emma Donoghue, discorre sobre a história de Jack (Jacob Tremblay), um menino que acaba de completar 05 anos e mora com a mãe em um quarto de 10 metros quadrados. A rotina dele é ver televisão, ler e sonhar. Conforme a curiosidade, sobre o mundo fora do quarto, a vida da criança começa a ficar mais tensa, a mãe chamada de Ma, depois de Joy, embarca em uma jornada de explicações sobre a situação que vivem e o que realmente existe fora daquele quarto. Até que um dia, mãe e filho bolam um plano de fuga para conseguir sair do lugar onde vivem. A experiência e imersão completa do filme está justamente na tensão proporcionada, a partir daí grandes surpresas e momentos de muita tensão explodem. O cineasta Lenny Abrahamson consegue criar dois momentos que se correspondem a partir de divergências. Um universo de possibilidades foi criado na convivência solitária no “quarto”, enquanto o “mundo lá fora” sufoca, gera grandes proporções a explosões emocionais que surgem com o trauma e a dificuldade de readaptação. O tipo de crime abordado na história infelizmente tem aumentado muito o número de casos nos EUA. 


O filme se inicia de forma incrível e magnífica, com uma fotografia que deixa o quarto grande para mostrar que para o menino, aquele é o tamanho do seu mundo. O diretor decide se apegar aos detalhes do cotidiano dos dois, e constrói a história de forma inquietante fazendo com que realmente o espectador se importe pelos personagens. A sutileza em como o minúsculo cenário do quarto é explorado, bem como os personagens que ele habita, já sugere o que é preciso saber sem que isso precise ser claramente verbalizado. Entre tantos méritos, merece destacar o brilhantismo das interpretações dos atores centrais. O pequeno Jacob Tremblay é quem realmente move “O Quarto de Jack”. Ele vira gente grande, domina com uma força descomunal as consequências, e com uma atuação impressionante.  A sua vulnerabilidade, a princípio preservada com o colo materno, os óculos escuros e as máscaras, aos poucos dá lugar para aquela curiosidade de quem está assimilando novos códigos e as novas figuras que o rondarão. Brie Larson, que faz o papel da mãe, em uma incrível interpretação,  vencedora do Oscar 2016, na categoria de Melhor Atriz do ano, alterna bem entre a maturidade que sua personagem ganha com a péssima experiência e a dor dos anos perdidos. Saindo muito bem em suas “grandes cenas”, onde grita e chora de maneira muito convincente, a atriz surpreende principalmente nas “pequenas cenas”, como trocas de olhares para Jack, afeições de carinhos maternais e principalmente em um momento que ela responde a uma pergunta com “mas ele tinha a mim”, mostrando com apenas um olhar como o seu filho passou a ser a maior razão de sua sobrevivência. O QUARTO DE JACK é um filme soberbo e grandioso em sua temática, com um perfeito toque da história e dois protagonistas que se completam. Foi indicado ao Oscar 2016, na categoria Melhor Filme do Ano e perdeu injustamente para “Spotlight – Segredos Revelados”. Foi vencedor do Festival de Toronto 2015. Obrigatório, belo e absolutamente extraordinário, é o melhor filme do ano!!!!


sábado, 29 de outubro de 2016

UM LUGAR AO SOL (A Place in the Sun) EUA, 1951 – Direção George Stevens – Elenco: Montgomery Clift, Elizabeth Taylor, Shelley Winters, Anne Revere, Keefe Brasselle, Herbert Heyes, Raymond Burr, Shepperd Strudwick – 122 minutos.

                HOMENAGEM - 50 ANOS SEM MONTGOMERY CLIFT 

          UM DOS MAIS BELOS FILMES DA HISTÓRIA DO CINEMA!!!! 

George Eastman (Montgomery Clift), um jovem ambicioso, vai trabalhar na fábrica de um rico tio. Ele acredita que esta oportunidade pode levá-lo a um futuro melhor, mas apesar de ter sido avisado para não se envolver com nenhuma funcionária, ele começa a se encontrar com Alice Tripp (Shelley Winters), uma humilde moça que trabalha na linha de montagem. Ele é finalmente introduzido na alta sociedade e se apaixona por Angela Vickers (Elizabeth Taylor), uma rica, bela e sofisticada jovem e é correspondido. Assim, decide se distanciar de Alice, mas a pobre funcionária não aceita esta situação com passividade, principalmente quando descobre que está grávida. Ele se conscientiza que a operária pode frustrar seus planos de ascensão social e assim surge a idéia de matá-la. Ganhou 6 Oscars, nas seguintes categorias: Melhor Diretor (George Stevens), Melhor Fotografia - Preto e Branco, Melhor Figurino - Preto e Branco, Melhor Edição, Melhor Trilha Sonora e Melhor Roteiro. Recebeu ainda três indicações, nas seguintes categorias: Melhor Filme (perdeu injustamente para SINFONIA DE PARIS), Melhor Ator (Montgomery Clift, perdeu para William Holden, também uma injustiça grave) e Melhor Atriz (Shelley Winters). Ganhou o Globo de Ouro de Melhor Filme - Drama. 


Esta é a segunda adaptação cinematográfica de “An American Tragedy”, de Theodore Dreiser. Em 1931, Josef Von Sternberg já havia adaptado o romance para a tela. Nessa história de um triângulo amoroso, cujas pontas são George (Montgomery Clift), Alice (Shelley Winters) e Angela (Elizabeth Taylor), temos a chance de flagrar um dos momentos mais memoráveis do cinema norte-americano, com interpretações soberbas do trio central. Não por acaso, era o filme preferido de Charles Chaplin. Foi um daqueles anos em que o Oscar de Melhor Filme não coincidiu com o de melhor diretor: SINFONIA DE  PARIS, de Vincente Minnelli, levou a estatueta máxima; mas foi George Stevens, com UM LUGAR AO SOL, o eleito na categoria de realização. Através da paixão dramática (trágica, como diz o título de Dreiser) do par ElizabethTaylor / Montgomery Clift, Stevens filmava a teia simbólica de uma América interior em que a verdade do amor se confronta com o aparato das aparências sociais e morais. Genuíno exemplo do mais puro classicismo de Hollywood, UM  LUGAR AO SOL rapidamente entrou na galeria dos filmes capazes de refletir as convulsões do imaginário coletivo. A história de um operário com sonhos de ascensão social, que engravida uma colega de trabalho e depois se apaixona por uma jovem rica, que também se apaixona por ele e a antiga namorada ameaça atrapalhar esse romance e por isso ele pensa em assassiná-la, resultou em um filme belíssimo e extraordinário. Temos a oportunidade de ver um Montgomery Clift no seu apogeu. É um dos mais importantes e maiores filmes da história do cinema!!!! Obrigatório e inesquecível!!!! Extraordinário e belo!!!!


sexta-feira, 28 de outubro de 2016

DE REPENTE, NO ÚLTIMO VERÃO (Suddenly, Last Summer) EUA, 1959 – Direção de Joseph L. Mankiewicz – elenco: Montgomery Clift, Katherine Hepburn, Elizabeth Taylor, Mercedes McCambridge, Gary Raymond, Albert Dekker, Mavis Villiers, Patricia Marmont, Joan Young, David Cameron – 114 min

                     HOMENAGEM - 50 ANOS SEM MONTGOMERY CLIFT 



John Cukrowicz (Montgomery Cliff, ator que dispensa comentários), um conceituado neurocirurgião interessado em conseguir recursos para o hospital onde trabalha, conhece Violet Venable (Katherine Hepburn, confirmando porque foi considerada uma das dez maiores estrelas do cinema mundial), uma rica senhora da aristocracia que quer mandar fazer uma lobotomia (tirar um pedaço do cérebro) em Catherine Holly (Elizabeth Taylor, demonstrando a sua genialidade como atriz), uma sobrinha supostamente acometida de crises de loucura. Na verdade Violet  teme que Catherine revele a homossexualidade de Sebastian, o filho poeta de Violet, que morreu de forma violenta e misteriosa na Espanha. Há uma versão "oficial" do acidente, mas Catherine viu o que realmente aconteceu e assim sua tia tenta silenciá-la. É um dos grandes momentos desse trio de ouro: Liz (Elizabeth) Taylor, Kate (Katherine) Hepburn e Monty (Montgomery) Clift, atores de primeira grandeza, com interpretações marcantes. O elenco é notável nesse filme muito curioso e interessante. 



A história (um devaneio psicótico brilhante), uma adaptação da peça de Tennessee Williams (escritor notável de vários sucessos como “Gata em Teto de Zinco Quente” e “Um Bonde Chamado Desejo”), se desenrola em ritmo de suspense crescente e de uma forma claustrofóbica e tensa, culminando com um final contundente. O cineasta Joseph L. Manckiewicz, famoso por ter dirigido “A Malvada” (All About Eve – 1950), com Bette Davis (uma das grandes malvadas do cinema, mas que aqui, ironicamente, é a mocinha) – e também por ter quase destruído a FOX depois do estrondoso fracasso  do esplendoroso CLÉOPATRA (1963), realizou aqui um filme soberbo, com uma história absurda, mas aceitável. Por causa da censura da época, todas as referências ao homossexualismo são apresentadas de forma extremamente velada. Gore Vidal e Tennessee Williams, roteiristas do filme, acharam por bem fazer assim. Um absurdo esse tipo de coisa, mas a mentalidade retrógrada da época fazia essas aberrações. Recebeu três indicações ao Oscar 1960, nas seguintes categorias: Melhor Atriz (Katharine Hepburn), Melhor Atriz (Elizabeth Taylor) e Melhor Direção de Arte – Preto e Branco. Montgomery Clift e Elizabeth Taylor ainda atuaram juntos em outros dois filmes: “Um Lugar ao Sol” (1951) e “A Árvore da Vida” (1957). Um filme fascinante e envolvente, prendendo muito a atenção até o seu final!!


quinta-feira, 27 de outubro de 2016

PERDIDOS NA TORMENTA (The Search) EUA, 1948 – Direção Fred Zinnemann – elenco: Montgomery Clift, Aline MacMahon, Jarmila Novotna, Ivan Jandl, Jerry Fisher, Wendell Corey – 103 minutos.

         HOMENAGEM - 50 ANOS SEM MONTGOMERY CLIFT 


Esta grande obra-prima dirigida pelo renomado cineasta Fred Zinnemann nos brinda com a belíssima atuação de Montgomery Clift, um dos mais importantes e mais belos atores da história do cinema mundial. O filme também é importante porque marca a estreia do ator no cinema norte-americano, tendo a oportunidade de mostrar por que se tornou um dos maiores atores do cinema internacional. O seu desempenho se mostrou à altura do desafio. Foi indicado a quatro Oscar, incluindo Melhor Diretor (Fred Zinnemann), Melhor Ator (Montgomery Clift), Melhor Roteiro e Melhor História (ganhando nesta última categoria). Ivan Jandl também recebeu um Oscar Juvenil por sua brilhante atuação. No BAFTA, recebeu o Prêmio Nações Unidas. No Globo de Ouro, prêmio de Melhor filme a promover a paz entre os povos; prêmio de Melhor Roteiro e prêmio Especial para o menino Ivan Jandl. 


A sinopse conta a história de um garoto judeu de nove anos de idade, sobrevivente de Auschwitz, que consegue chegar a um campo de refugiados e é descoberto por um soldado norte-americano. Enquanto isso, a mãe do menino, única sobrevivente da família, procura incansavelmente pelo filho. Tempo, distância e um grande número de campos de refugiados colaboram para a demora do tão esperado encontro entre mãe e filho.   


Foi uma aposta arriscada fazer um filme sobre a Segunda Guerra Mundial num período em que o público parecia estar enjoado do tema no cinema. Mas a história era intensa, e tinha mais detalhes sórdidos sobre o Holocausto, descoberto apenas após o fim do conflito. A cena emocionante que mostra o soldado norte-americano, Steve Stevenson (Montgomery Clift) tentando fazer o menino, interpretado por Ivan Jandl, falar NÃO, tornou-se clássica e é uma das mais lembradas do filme. UM DRAMA EMOCIONAL, ABSORVENTE E GRATIFICANTE!! ABSOLUTAMENTE INESQUECÍVEL E BELO!! 


quarta-feira, 26 de outubro de 2016

ILUSÃO PERDIDA (The Big Lift) EUA, 1950 – Direção de George Seaton – elenco: Montgomery Clift, Paul Douglas, Cornell Borchers, Bruni Löbel, O. E. Hasse, Dante V. Morel, John R. Mason, Gail R. Plush, Mack Blevins, William A. Stewart – 120 min.

                   HOMENAGEM - 50 ANOS SEM MONTGOMERY CLIFT  



Este filme notável foi filmado na Alemanha ocupada, no mesmo local descrito na História, incluindo acontecimentos em setores americano, francês, britânico e russo em Berlim. Com exceção de Montgomery Clift, Paul Douglas e Cornell Borchers, a jovem fraulein, todos os atores deste filme são militares americanos servindo na Alemanha e pessoas comuns, que não precisaram mudar de nome.



No Quartel General em Berlim Ocidental a Guerra Fria deu início a uma nova crise. Os russos recolheram a bandeira vermelha retirando-se do Comando dos Quatro Poderes que governa Berlim desde o fim da guerra. Mostrando  querer os Aliados ocidentais fora de Berlim, os comunistas iniciaram um bloqueio da cidade. Trilhos foram retirados e os trens foram parados por “motivos técnicos”. Barcaças com mantimentos e carvão não conseguem chegar. Rodovias estão bloqueadas e desertas. Mas o plano russo de desabastecer a cidade saiu pela culatra.



 ILUSÃO PERDIDA é um dos grandes filmes desconhecidos da década de 1950 e nasceu da vontade do diretor George Seaton (o realizador de AEROPORTO, em 1970) em capturar o ambiente da Alemanha logo após o fim da Segunda Guerra Mundial. Com técnicas cinematográficas herdadas do documentário, o diretor acompanha o personagem de Montgomery Clift, um jovem soldado americano que se apaixona por uma garota alemã durante o período da reconstrução de Berlim. George Seaton, além de dirigir, também escreveu o roteiro desse filme que resultou num dos mais brilhantes registros pictóricos do pós-guerra. Mais uma vez Montgomery Clift brilha e dispensa comentários. Um filme histórico e importante!!


terça-feira, 25 de outubro de 2016

RIO VERMELHO (Red River) EUA, 1948 – Direção Howard Hawks – elenco: John Wayne, Montgomery Clift, Joanne Dru, Walter Brennan, Harry Carey, Coleen Gray, John Ireland, Harry Carey Jr., Hank Worden, Paul Fix – 133 minutos.

                       HOMENAGEM - 50 ANOS SEM MONTGOMERY CLIFT 


Um dos grandes filmes da História do Cinema, e uma fantástica atuação de Montgomery Clift!! É um dos poucos filmes a retratar os verdadeiros cowboys, tropeiros quase sempre jovens que levavam gado para Kansas City antes da consolidação das estradas de ferro. Originalmente lançado em preto e branco, este grande clássico possui uma ambientação impressionante e traz uma atmosfera incrível do velho oeste norte americano, ainda no tempo das diligências, quando os primeiros grandes criadores de gado estavam trabalhando duro para fortalecer a economia do Sul dos Estados Unidos. Há um sentimento maravilhoso de liberdade ecoando por todo o filme, ainda que a jornada de seus personagens seja violenta, hostil e difícil. A direção impecável de Howard Hawks faz com que esta obra se torne uma verdadeira e inesquecível aventura. Os conflitos entre os personagens são muito mais interessantes que as cenas de ação, e é aí que o filme se destaca entre dezenas, talvez centenas, de westerns existentes. O estouro da boiada,  é considerada a grande e cena clássica, com muita emoção e suspense. As interpretações são incríveis. John Wayne, que muitas vezes não fazia exatamente o papel de “mocinho simpático”, possui outro de seus personagens ambíguos, que pode ser visto como sendo o mocinho ou o bandido. E Montgomery Clift, no auge de sua beleza e em grande forma é um dos pontos altos da interpretação masculina de sua época. Ele faz uma espécie de filho adotivo de Wayne dentro do filme, mesmo sendo ainda bastante jovem, encara com grande qualidade as várias cenas difíceis que o filme possui. 


RIO VERMELHO (Red River), para o diretor Howard Hawks, inicia uma trilogia que se segue mais de dez anos depois com RIO BRAVO – ONDE COMEÇA O INFERNO (1959),  um dos grandes westerns do cinema,  e, depois, RIO LOBO, já em 1970, nos estertores hawkisianos. Há, porém, ELDORADO (1967), filme respeitável, mas que é uma refilmagem disfarçada de RIO BRAVO.  Se existe um clássico perfeito para caracterizar o western, o cinema norte-americano por excelência na definição de André Bazin, RIO VERMELHO é o exemplar mais autêntico e paradigma de outros filmes do gênero. É verdade que NO TEMPO DAS DILIGÊNCIAS (Stagecoah, 1939), do mestre John Ford, lança as bases do arquétipico westerniano, mas a fita de Hawks representa, nove anos depois, uma espécie de cristalização e amadurecimento do western na sua mais pura tradução e pureza antes que o gênero seja contaminado pelo psicologismo. Obra-prima incontestável, RIO VERMELHO faz parte de um quarteto junto com  RIO BRAVO (1959),  ELDORADO (1967),  e,  por fim, RIO LOBO (1970),  realizado já no ocaso de carreira desse genial diretor, que, aqui, despede-se do cinema.


O mais importante em RIO VERMELHO é que este filme funciona como um excepcional documento da vida dos cowboys, seus costumes, seu folclore, o ambiente e a paisagem daquele período da colonização norte-americana. E mais ainda: o sentido perfeito de cinema de Hawks, o alento épico, a paisagem, a simplicidade e força das personalidades individuais.  RIO VERMELHO é também a história de uma amizade - um dos temas fundamentais da obra de Hawks. Montgomery Clift, órfão, depois que seus pais são mortos pelos índios, é recolhido por Wayne que, na travessia de Rio Rojo a Abilene, se desentende com aquele que é quase um filho. O western mais telúrico de Hawks, ainda que RIO BRAVO seja mais cortejado, RIO VERMELHO apresenta o eterno conflito de seus personagens, resolvido através de um itinerário físico, que é captado pela câmera com a força do imediatismo. A música de Dimitri Tiokim permanece nos ouvidos. Como RIO VERMELHO é uma espécie de épico do velho oeste, o número de cenas difíceis realmente é grandioso. Aclamado como um dos melhores westerns de todos os tempos, ficou também famoso por sua ambientação e espírito livre, em uma história de grandes proporções e adjetivos. Um filme recomendado para público de qualquer gênero!! Absolutamente extraordinário, inesquecível e obrigatório!!


domingo, 23 de outubro de 2016

O SEGREDO DE SANTA VITÓRIA (The Secret of Santa Vittoria) EUA, Itália, 1969 - Direção de Stanley Kramer – elenco: Anthony Quinn, Virna Lisi, Anna Magnani, Giancarlo Giannini, Hardy Krüger, Sergio Franchi, Leopoldo Trieste – 139 minutos


A história do bêbado, tolo e bufão, que se transforma em herói de uma cidade.



Inesquecível filme feito para o estilo que deu a Anthony Quinn a popularidade que ele desfrutou na época e até a sua morte, em 2001. A ação se passa na cidadezinha italiana de Santa Vittoria, cuja maior fonte de renda era o vinho e que, num belo dia de 1945, vê-se ameaçada de invasão e confisco pelas tropas nazistas. O elenco é brilhante, reunindo um grupo da melhor qualidade, na época. Naturalmente Anthony Quinn encarna o geralmente embriagado e bufão comerciante de vinhos, que por interesses puramente pessoais entra na luta contra os SS. Ele é Bombolini, um bêbado, honesto e desprezado, mas boa pessoa. Um dia chega a notícia de que o governo fascista se rendeu; aí, Bombolini sobe numa caixa d’água e chora pela bandeira. Logo, uma multidão cerca o local e grita o nome dele. Com apenas esse gesto a vida de Bombolini vai mudar para sempre. Ele acaba se tornando prefeito da cidade e as coisas não serão mais as mesmas.  Quando descobre que os alemães estão planejando ocupar Santa Vittoria e apoderar-se das milhares de garrafas de vinho, ele precisa achar uma maneira de escondê-las e não deixar que as levem. 


Anna Magnani faz a sua também explosiva esposa, enquanto Virna Lisi é uma bela viúva recém-chegada e que chama a atenção de todos. Giancarlo Giannini, muito jovem, faz o papel de Fábio, o encantador personagem da cidade que sempre trazia as boas e também as más notícias. Temos, ainda, Hardy Kruger, como o comandante alemão, que veio para confiscar os vinhos. Um filme que vive principalmente do pitoresco de sua reconstituição de locais e de época, qualidade que se conciliou com a direção, sempre impecável, de Stanley Kramer. É um grande filme, e também uma obra memorável. Recebeu apenas duas indicações ao Oscar, nas categorias de Melhor Trilha Sonora Original – Para Filme não Musical e Melhor Edição. Uma produção ambiciosa, pelo menos no sentido de espetáculo e diversão. Uma verdadeira obra-prima! Uma pérola do cinema que merece ser redescoberta! 


sábado, 22 de outubro de 2016

PERSONA (Persona) Suécia, 1966 – Direção Ingmar Bergman elenco: Bibi Andersson, Liv Ullmann, Gunnar Björnstrand, Margaretha Krook – 83 min.

O RECONHECIMENTO DA NOSSA TERRÍVEL SOLIDÃO!!!! UMA CONFISSÃO DE NOSSOS MEDOS!!!! UMA VITÓRIA SOBRE O SILÊNCIO!!!! 


50 ANOS DE “PERSONA” – Após cinco décadas, continua como o filme mais emblemático, mais admirado, mais exaustivamente analisado e mais fascinante de todos os tempos!!!! Importante e obrigatório, merece mais do que uma simples revisão. Aqui em São Paulo, na 40ª Mostra de Cinema Internacional de São Paulo, além da exibição do filme com direito a palestra com gente que entende, ocorre a exposição “Por Trás da Máscara – 50 Anos de PERSONA”. Esse meio século de distância serve apenas para reforçar o quanto o filme foi uma espécie de objeto cinematográfico não identificado, à época de seu lançamento. E o quanto continua a nos dizer coisas novas a cada vez que nos dedicamos a ele. 


Um dos temas recorrentes à obra de Ingmar Bergman, o conceito do pecado e principalmente da culpa a ele associada é o que se pode extrair, de início, dessa obra enigmática e importante. Começa de forma inesquecível (e original na época), mostrando o processo de projeção de um filme com um velho cartão queimando, o fotograma, o desenho animado, o filme antigo e mudo, a morte da ovelha (meio Buñuel), a mão pregada na cruz como Cristo. Deixando claro que é cinema. É um dos grandes filmes do cineasta, notável em vários aspectos, inclusive por ter sido o primeiro trabalho com sua então nova mulher, a atriz Liv Ullmann. A história gira em torno de Elisabeth Vogler (Liv Ullmann), atriz que após uma de suas apresentações no teatro sorrateiramente deixa de falar. Sua psiquiatra, Lakaren (Margaretha Krook), a deixa sob os cuidados de Alma (Bibi Andersson), uma dedicada enfermeira. Após meses de tratamento sem nenhum resultado, Lakaren decide levar as duas a uma isolada casa de praia. Isoladas, as duas mulheres desenvolvem uma relação de forte intensidade emocional. 


Considerado a maior obra-prima de Ingmar Bergman e uma das maiores da história do cinema, foi com esse filme que o diretor ganhou o mundo e a fama de ser o melhor cineasta a filmar o rosto humano. Até hoje idolatrado por cinéfilos no mundo todo, que se debruçaram durante décadas sobre as imagens de dor, prazer e morte construídas pela sua câmera impassível, PERSONA possui uma margem incrível de interpretações, aliado à experiência única que faz desse filme algo Extraordinário. Aclamado entre as melhores realizações da história do cinema, o filme vai além do simples deleite: ele desperta a reflexão e questionamentos sobre o cinema, seu papel, a representação, o teatro e o próprio homem. PERSONA  não apresenta apenas uma história, instiga o espectador a decifrar suas imagens e seus significados implícitos. Mais do que um filme que trabalha a metalinguagem, é um questionamento sobre o ser humano e sua psiquê. PERSONA é o reconhecimento da nossa terrível solidão, nossa singularidade, nossa inabilidade de se comunicar com os outros. É uma confissão de nossos medos, do homem, do fracasso, da morte. É o drama do desespero, o terror indescritível da vida em todos os aspectos. PERSONA é uma ilusão estilhaçada, uma vitória sobre o silêncio.


quinta-feira, 20 de outubro de 2016

NOSSO FIEL TRAIDOR (Our Kind of Traitor) Inglaterra / França, 2016 – Direção Susanna White – elenco: Ewan McGregor, Stellan Skarsgard, Damian Lewis, Naomie Harris, Carlos Acosta, Radivoje Bukvic, Grigoriy Dobrigyn, Velibor Topic, Pawel Szajda, Marek Oravec, Dolya Gavanski, Mariya Fomina, Alec Utgoff, Mihhail Sibul, Jana Perez, Tony Tennant – 108 minutos

UM SEGREDO MORTAL!! 
UMA ESCOLHA IMPOSSÍVEL!! 
UM SUSPENSE ATRAENTE!!


Estreou nos cinemas de São Paulo em 06 de outubro de 2016, este empolgante thriller de suspense, com uma notável atuação de Ewan McGregor. Por mais de cinco décadas, o nome do escritor inglês John Le Carré é considerado sinônimo de romances de espionagem. Parte desse reconhecimento junto ao público se deve às inúmeras adaptações cinematográficas de suas obras. NOSSO FIEL TRAIDOR é a mais recente transposição de um livro do autor para o cinema, trazendo a história do professor universitário Perry (Ewan McGregor) e de sua esposa, a advogada Gail (Naomie Harris), envolvidos por acaso com o alto escalão da máfia russa e da espionagem britânica, mais precisamente o personagem de Stellan Skarsgard (Dima). Eles ganham várias oportunidades de saírem do caso perigoso, que não lhes diz respeito, mas continuam arriscando as suas vidas por uma família de desconhecidos russos porque, como diz um personagem, Perry é um homem bom, e Gail é uma mulher honesta. É isso que pessoas boas fazem: elas salvam outras em perigo. Se este enredo não tem tanto tempero quanto “O Espião Que Sabia Demais”, que rendeu um excepcional filme em 2011, também não faz feio no quesito entretenimento. O ritmo começa meio lento na parte inicial, mas a adrenalina sobe muito a partir da sequência seguinte em Paris, já colocando em funcionamento a negociação dos segredos de Dima, da qual Perry e Gail terão que participar à sua revelia.  


A essência da literatura de John Le Carré permanece intacta, com o apreço pelas intrigas de bastidores, e a tensão que estas emanam, em detrimento da ação grandiloquente. Estão lá as conversas secretas em carros, becos e salas fechadas, bem como os inimigos internos, os traidores etc. A diretora filma esses momentos com requinte visual, mesmo que sem a elegância austera de um “O Espião Que Sabia Demais” (2011). Alguns dos simbolismos do filme pecam pela literalidade – Perry e Gail subindo escadas rolantes separadas ressaltando o distanciamento na relação – mas, de modo geral, a direção do filme é correta.  A cineasta também simplifica o acesso do espectador às imagens. “O Espião Que Sabia Demais” (2011) e “O Homem Mais Procurado” impressionavam pela frieza implacável de sua estética, pela elegância no retrato da elite. Susanna White opta por um caminho radicalmente diferente. Ela usa o widescreen para filmar de perto os rostos, criando uma sensação de claustrofobia. Com uma fotografia contrastada e saturada, mergulha os personagens no escuro, cobrindo-os de flares, reflexos e filtros brilhosos. O mundo da espionagem é filmado com a estética de um cassino ou cabaré, algo inovador, embora não necessariamente coerente com a proposta. Vale o ingresso. 


quarta-feira, 19 de outubro de 2016

O SEGREDO INTIMO DE LOLA (Model Shop) França, 1969 – Direção Jacques Démy – elenco: Anouk Aimée, Gary Lockwood, Alexandra Hay, Tom Holland, Craig Littler, Severn Darden, Neil Elliot – 95 minutos.


O SEGREDO ÍNTIMO DE LOLA é uma sequência de LOLA, A FLOR PROIBIDA (1960), do mesmo diretor, Jacques Démy, e retoma a personagem de Anouk Aimée, a jovem e atraente Lola. Aqui ela interpreta uma “pin-up” francesa, modelo de fotografias eróticas que vai para Los Angeles (EUA) e se envolve com um arquiteto desempregado, Gary Lockwood (recém saído da nave Discovery, de Stanley Kubrick, em 2001 – UMA ODISSÉIA NO ESPAÇO). Emblemático e intrigante na carreira do diretor, O SEGREDO INTIMO DE LOLA, é um filme misterioso, mas cheio de charme, que apresenta uma visão desencantada de Los Angeles, a mitológica capital do cinema. Nele, o diretor também se mostra sensível às inquietações de sua época – contracultura, movimento hippie e Guerra do Vietnã. Jacques Démy é aclamado como um dos maiores nomes da cinematografia francesa, pertenceu à geração de diretores da Nouvelle Vague e com estes estabeleceu um intenso diálogo formal no início de sua carreira, mas acabou afastando-se de seus contemporâneos ao manter-se fiel aos temas que o motivaram a fazer cinema. 


Suas principais influências cinematográficas são o filme musical hollywoodiano e o cinema fantástico de Jean Cocteau e dos surrealistas. Aparentemente cheios de alegria, cores, música e romance, seus filmes, na verdade, são parábolas sofisticadas e carregadas de pessimismo. Suas obras mais conhecidas OS GUARDA-CHUVAS DO AMOR (1964), com o qual ganhou a Palma de Ouro no Festival de Cannes; DUAS GAROTAS ROMÂNTICAS (1966);  A BAÍA DOS ANJOS (1962), narra a história de um tortuoso relacionamento entre um casal de viciados em jogo; PELE DE ASNO (1970), que evoca o cinema de Jean Cocteau; A LENDA DA FLAUTA MÁGICA (1971), investe novamente no imaginário dos contos de fadas. O filme conta com a participação de um ícone da música folk, o cantor Donovan, no papel do flautista que tenta salvar uma cidadezinha infestada pela Peste Negra; UM HOMEM EM ESTADO INTERESSANTE (1973), é uma insólita comédia com Catherine Deneuve e Marcello Mastroianni no papel de um instrutor de auto-escola que descobre estar esperando um bebê. O SEGREDO ÍNTIMO DE LOLA é um filme raríssimo, que merece ser descoberto!!



terça-feira, 18 de outubro de 2016

RESSURREIÇÃO (Risen) EUA, 2016 – Direção Kevin Reynolds – elenco: Joseph Fiennes, Tom Felton, Peter Firth, Cliff Curtis, Maria Botto, Luis Callejo, Antonio Gil, Andy Gathergood, Stewart Scudamore, Stephen Hagan, Joe Manjón, Richard Atwill, Mish Boyko, Jan Cornet, Pepe Lorente, Stephen Greif, Frida Cauchi – 107 minutos

A HISTÓRIA QUE MUDOU O MUNDO, DO PONTO DE VISTA DE UM INCRÉDULO!!



A história de Jesus Cristo já foi levada às telas inúmeras vezes, das mais variadas formas, alguns polêmicos, outros emblemáticos, basta lembrar “A Última Tentação de Cristo” (1988), de Martin Scorsese; “A Paixão de Cristo” (2004), de Mel Gibson; “Jesus Cristo Superstar” (1973); “Godspell – A Esperança” (1972); “Jesus de Nazaré” (1977), de Franco Zeffirelli; “O Rei dos Reis” (1961), de Nicholas Ray; “O Filho de Deus” (2014) etc. Agora o cineasta Kevin Reynolds resolve contar a história de um ângulo um pouco diferente com RESSURREIÇÃO (2016). Não entra nos detalhes do nascimento, pregações, crescimento, milagres e encontros com os apóstolos. A proposta aqui é contar a história do tribuno encarregado de desmentir a natureza divina de Jesus Cristo. Joseph Fiennes, conhecido pelos trabalhos em ELIZABETH (1998); “Shakespeare Apaixonado” (1998); LUTERO (2003); “Círculo de Fogo” (2001); HÉRCULES (2014), entre outros, realiza uma performance competente. Ele é Clavius, o tribuno, braço direito de Pôncio Pilatos (Peter Firth), governador da Judéia, escalado para supervisionar as ações romanas em torno de um certo nazareno que acabara de ser crucificado. Sua missão é a de fazer com que as profecias de Yeshua (Jesus Cristo), interpretado pelo neozelandês Cliff Curtis, não se cumpram (ou pelo menos não sejam divulgadas), como suas últimas palavras na cruz ou até mesmo sua ressurreição. É interessante a opção do filme por um ator com o tipo diferente do que geralmente Jesus é retratado, mas próximo do que seria na verdade. Nessa missão, o tribuno terá como principal ajudante o jovem legionário Lucius (Tom Felton, o Draco Malfoy de “Harry Potter”). Tentando afastar os boatos de que Cristo iria ressuscitar em três dias, os romanos decidem vigiar seu corpo, para provar que não tem nada de especial. No entanto, o corpo de Jesus acaba desaparecendo. 


O roteiro é simples, mas cheio de altos e baixos. Apesar de não haver espaço para grandes surpresas (nem poderia, por se tratar de uma história que já é explorada há mais de dois mil anos), o texto de Paul Aiello e do diretor traz formas criativas para relatar os eventos em torno da crucificação de Cristo, tanto que só ouvimos pela primeira vez seu nome com quase uma hora de projeção. A fotografia de Lorenzo Senatore traz uma visível inspiração no trabalho de Caleb Deschanel, no filme “A Paixão de Cristo”, de Mel Gibson. Realizando um bonito contraste entre tons mais vívidos quando está em planos abertos e cores mais sombrias em planos fechados, especialmente os que envolvem os soldados romanos na caça dos discípulos de Yeshua. Só de contar a história de um jeito diferente já faz de RESSURREIÇÃO uma experiência bastante satisfatória. Tem uma história universal, já muito explorada, mas o seu diretor se propôs a desenvolvê-la cinematograficamente destacando que sempre é possível recontar com criatividade, ainda que seja pouca. A diferença é que o filme faz uma releitura moderna sobre a história do retorno de Jesus e proporciona uma visão interessante da vida dos apóstolos pós-crucificação.


domingo, 16 de outubro de 2016

O LAR DAS CRIANÇAS PECULIARES (Miss Peregrine's Home for Peculiar Children) EUA, 2015 - Direção: Tim Burton - Elenco: Eva Green, Asa Butterfield, Samuel L. Jackson, Judi Dench, Rupert Everett, Terence Stamp, Allison Janney, Chris O’Dowd, Ella Purnell, Milo Parker, Finlay MacMillan, Hayden Keeler-Stone - 127 min


O novo filme de Tim Burton conta a história de um jovem de vida tediosa que é convidado a adentrar em um mundo fantástico, onde o diretor tem a chance de dar vazão à sua veia criativa em um ambiente sombrio e, ao mesmo tempo, bastante atraente. Fascinado por uma abordagem mais sombria, ele sempre buscou mesclá-la à fantasia não propriamente para assustar, mas de forma a criar universos onde o bem e o mal não sejam tão estereotipados assim. E nesta nova aventura não poderia ser diferente. Além do requinte visual que é a marca registrada do diretor, ele adapta um livro muito interessante que proporciona um roteiro engenhoso, sem os lapsos de ação que às vezes caracterizam sua obra. 


A trama do filme se concentra no herói adolescente Jake, interpretado por Asa Butterfield (em ótima atuação), o garoto de “A Invenção de Hugo Cabret” (2011), de Martin Scorsese. O jovem é muito apegado ao avô, que morre em circunstâncias misteriosas. Após, ele parte com o pai para Cairnholm, uma ilha do País de Gales, onde durante a Segunda Guerra Mundial o avô morou num orfanato. Lá ele encontra uma mansão abandonada, que abriga uma fenda temporal comandada pela srta. Peregrine (Eva Green), cuja missão é justamente cuidar das crianças peculiares do título. A srta. Peregrine é uma Ymbryne, que pode se transformar em ave e criar fendas temporais, paralisando o tempo numa data específica, no caso, 03 de setembro de 1943, dia em que uma bomba nazista explodiu o orfanato na calada da noite em plena Segunda Guerra Mundial. As crianças parecem um mostruário de tipos estranhos como Tim Burton gosta de inserir em sua ficção. Há a garota de cinco anos, fofinha, que é forte o bastante para levantar um carro; outra garota é tão leve que usa botas com chumbo para não sair flutuando; há ainda outra que coloca fogo em tudo que toca; um rapaz capaz de dar vida a bonecos e seres inanimados; uma menina de aparência adorável que esconde na nuca, por baixo dos cachos dourados, uma bocarra faminta; o garoto invisível é simplesmente notável; bem construído também são os gêmeos misteriosos que ocultam seu poder, que só é revelado em uma cena crucial. 


 “O Lar das Crianças Peculiares” não é o melhor filme do diretor, mas funciona muito bem a partir do momento em que o jovem entra na fenda. O espectador é então convidado a adentrar neste universo mágico e um tanto quanto estranho, onde o apuro na direção de arte, figurino e maquiagem saltam aos olhos da plateia. Tudo é bem aproveitado, explorando de forma convincente a profundidade do local filmado. Desde o início, o filme lembra muito o estilo de outras obras do diretor, como a sobriedade de “Edward Mãos de Tesoura” (1990), aliada ao humor debochado de “Os Fantasmas se Divertem” (1988) e o toque de heroísmo e fantasia de “Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas” (2003). Também há que se mencionar duas referências importantes: dos X-MEN vêm os dons de cada personagem, que serão fundamentais na hora de lutar contra o vilão e salvar todo mundo; e, de Harry Potter, vem o lado lúdico, um quê de literatura infanto-juvenil e vilania ligada à mágica. 


Quanto ao elenco ele seria perfeito se não tivesse dois deslizes: Samuel L. Jackson interpreta a si mesmo como o vilão Barron, que chama mais atenção pela cafonice de suas falas do que pelo seu grau de maldade; e o desperdício da Judi Dench (uma das grandes estrelas do cinema) vivendo um papel extremamente insignificante. O restante do elenco se apresenta bastante eficiente. A história rende idas e vindas no tempo e ganha um ritmo de ação quase alucinante no final. O confronto entre as crianças e os monstros é cheio de sacadas muito boas. O diretor constrói um conto de fadas permeado pelo macabro, em que principalmente os púberes se arriscam para garantir a integridade do direito de ser diferente, de sentir-se confortável com sua unicidade, e centraliza a atenção no garoto construindo um fascinante universo de fábula, onde os acontecimentos podem ser entendidos, numa chave metafórica, como alusão às agruras da Segunda Guerra Mundial e às suas marcas.  

sábado, 15 de outubro de 2016

MELODY – QUANDO BROTA O AMOR (Melody) Inglaterra, 1971 – Direção Waris Hussein – elenco: Mark Lester, Jack Wild, Tracy Hyde, Roy Kinnear, Kate Williams, Ken Jones, Colin Barrie, Billy Franks, Ashley Knight, Craig Marriott, William Vanderpuye – 103 minutos.


               UMA HISTÓRIA DE AMOR ENCANTADORA!!!!


               UMA FÁBULA DE AMOR IMPROVÁVEL!!!!


Uma fantasia romântica retratada sob o ponto de vista das crianças da história, onde os adultos são apenas personagens secundários. Daniel Lattimer (Mark Lester), de 12 anos, é amigo do problemático Ornshaw (Jack Wild). Certo dia, Daniel se apaixona por Melody Perkins (Tracy Hyde), também 12 anos, e anuncia a seus pais que quer casar, mas não no futuro, e sim no momento presente. Os pais e professores tentam dissuadi-lo, e Ornshaw também não aprova a idéia, pois sente que Melody o está distanciando do amigo. Posteriormente, porém, Ornshaw e os colegas de classe se determinam a ajudar o jovem casal. Eles se reúnem em um local distante, para casá-los, mas os pais os seguem e tentam impedi-los. As crianças distraem os pais, enquanto Melody e Daniel fogem em um carro-de-mão sobre os trilhos, com a ajuda de Ornshaw.


Produzido por David Puttnam (o produtor de “Carruagens de Fogo”) e o ator David Hemmings, de “Blow-Up – Depois Daquele Beijo”; “Barbarella”; “A Carga da Brigada Ligeira” (1968), o filme foi a estreia no cinema de Alan Parker, que escreveu o roteiro simples e tocante e depois se tornaria um bem sucedido diretor de cinema, dirigindo obras memoráveis como “O Expresso da Meia-Noite” (1978); “Pink Floyd - The Wall”; FAMA (1980); “Mississipi em Chamas” (1988) etc. Na época do seu lançamento nos cinemas foi um enorme sucesso, não só pela presença de Mark Lester, que já tinha encantado o mundo com o belíssímo OLIVER!, produção magnífica de 1968, que ganhou o Oscar de Melhor Filme do Ano, mas também pela extraordinária trilha sonora composta pelo grupo britânico Bee Gees, que estavam no auge, e contou ainda com uma colaboração da banda norte-americana Crosby, Stills, Nash & Young. Uma das mais cultuadas histórias de amor da década de 1970!!!! Um filme belo e inesquecível!!!! 




sexta-feira, 14 de outubro de 2016

A OVELHA NEGRA (Hrútar) Islândia, 2015 – Direção Grímur Hákonarson – elenco: Sìgurdur Sìgurjónsson, Theodór Júlíusson, Charlotte Boving, Jón Benónýsson, Gunnar Jónsson, Porleifur Einarsson, Sveinn Ólafur Gunnarsson, Ólafur Ólafsson – 93 min

UM INTERESSANTE E DELICADO ESTUDO SOBRE PERDA E SOBRE A QUAL UMA CIDADE SE SUSTENTA NA ISLÂNDIA  


Com imagens visualmente impressionantes e um elenco coeso no endurecimento necessário aos personagens, esta obra-prima do cinema islandês (raro de se ver aqui no Brasil) é um filme bastante curioso que prende a atenção não apenas pela realidade bem específica que apresenta, mas também pelos próprios elementos dramatúrgicos que entrega ao espectador em uma história difícil, mas de certa forma singela e tocante. A OVELHA NEGRA ganhou o prêmio principal da mostra Un Certain Regard do Festival de Cannes 2015 e foi o candidato da Islândia na corrida ao Oscar 2016 na categoria de Melhor Filme Estrangeiro, mas injustamente ficou de fora dos pré-selecionados. O filme foi exibido na 39ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. É um trabalho minimalista tanto no realismo quanto no absurdo da história inspirada em fatos reais de pastores locais, e demonstra um precioso equilíbrio entre melancolia e humor, rigor estético e singelo apelo emocional. 


Na Islândia, as ovelhas possuem um papel econômico e cultural de extrema importância para o seu povo. Lá existem mais ovelhas do que seres humanos e os animais são adorados pelos seus donos. O cineasta faz questão de situar o espectador neste contexto logo nos primeiros minutos do filme, apresentando-as como figuras quase divinas e, por este motivo, passíveis de um sentimento de devoção. Concursos do melhor cordeiro são realizados todo ano, causando imensa expectativa entre os fazendeiros. Após um destes torneios, um dos derrotados decide “investigar” o animal ganhador e logo desconfia que ele possui scrapie, uma perigosa e contagiosa doença que ataca o cérebro e a medula espinhal – uma espécie de “vaca louca das ovelhas”. A notícia logo se espalha, o alerta é dado e, com a doença confirmada, nada mais resta a não ser iniciar a quarentena do local. O que significa matar centenas de ovelhas, das mais diversas fazendas, para evitar que a contaminação se alastre. A rotina de todo o vilarejo é modificada. É neste cenário que vivem os irmãos Gummi (Sìgurdur Sìgurjónsson) e Kiddi (Theodór Júliússon), dois dos criadores mais experientes e respeitados do país e que, mesmo morando em fazendas vizinhas na mesma propriedade, não se falam há mais de quarenta anos. Ambos, cada qual a sua maneira, tentam salvar suas criações do sacrifício decretado pelas autoridades. O diretor usa sua experiência como documentarista para retratar o cotidiano dos criadores e seus rebanhos de ovelhas, enquanto mescla o registro com um tom de fábula. 


Através de longos planos, geralmente estáticos, de zooms que se aproximam lentamente para revelar detalhes de objetos ou das expressões de seus personagens, e de enquadramentos perfeitamente simétricos, Grímur Hákonarson – que cita o russo Andrei Tarkovsky e o finlandês Aki Kaurismäki como influências estéticas – capta este conflito fraterno, bem como as belíssimas paisagens nevadas da Islândia, mantendo também uma constante atmosfera cômica. O humor negro da trama, por vezes beirando o absurdo, se intensifica aos poucos, gerando momentos genuinamente divertidos, como as cenas com o cachorro que entrega os recados enviados entre os irmãos ou a sequência envolvendo a embriaguez de Kiddi e uma escavadeira. O diretor faz, então, com que seu foco na relação com os animais evolua para o da relação entre os seres humanos, transformando os elementos do universo particular de sua história em temas de apelo muito mais abrangentes: a mágoa, o arrependimento, a família, a fraternidade e a redenção. Pois se existe um momento em que estas características da humanidade afloram é no momento de união em torno de um interesse comum. Para Gummi e Kiddi, mais do que a atividade que os sustenta, perder suas ovelhas significa perder sua identidade, perder o único elo com sua história, seu passado. E acertar as contas com esse passado soa como algo inevitável. À medida que a trama caminha para seu desfecho, e os segredos congelados de outrora voltam à tona, os irmãos parecem regredir para tempos mais afetivos em suas memórias, culminando em uma simbólica volta ao útero, apresentada num dos mais belos planos do filme. Um filme universal que merece ser conferido!!!!

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

ESTA RUA É NOSSA (The Boys of Paul Street – título inglês / A Pál-utcai Fiúk – título húngaro) Hungria/Inglaterra, 1969 – Direção de Zoltán Fábri – elenco: Anthony Kemp, William Burleigh, John Moulder-Brown, Robert Efford, Mark Colleano, Mari Töröcsik, Sándor Pécsi, László Kozák, Gary O’Brien, Paul Bartleft, Earl Younger, Julien Holdaway, Péter Delmár, György Vizi, Nyika Jancsó, Miklos Jancsó – 105 minutos.

                  
                UM FILME QUE TOCA FUNDO AOS CORAÇÕES!!!! 


Refilmagem clássica da mesma obra do húngaro Ferenc Molnár que, em 1934, forneceu a Frank Borzage a oportunidade de apresentar mais um dos filmes que ficaram antológicos na história do cinema de Hollywood: “No Greater Glory (HOMENS DE AMANHÃ). Esta nova versão foi produzida por húngaros, em 1969, como o co-produtor e co-roteirista Endre Bohem que durante vinte anos trabalhou e atuou em Hollywood, em colaboração com elementos do cinema inglês. A história passada em 1902, gira em torno de dois grupos de meninos das ruas de Budapeste que, em disputa pela “posse” de um terreno baldio, resolvem brincar de guerra, mas esta, mesmo simulada – e embora em proporções menores – tem o mesmo triste resultado de todas as guerras. A direção competente pertence ao mesmo famoso e engajado, mas civilizado e inteligente, Zoltán Fábri que realizou O CARROSSEL DO AMOR. E no elenco, no papel do jovem pastor, pela primeira vez vemos como ator aquele que possivelmente foi o maior cineasta da Hungria: Miklos Jancsó. Foi lançado nos cinemas daqui de São Paulo na longínqua data de 21 de fevereiro de 1970, um sábado, no extinto Cine República. As crianças adoraram e os adultos reviveram os melhores anos de suas vidas.



O filme foi lançado em DVD, sendo resgatado o seu título original: OS MENINOS DA RUA PAULO. Um filme que toca fundo aos corações!!!! Um filme que marcou época e toda uma geração!!!! Uma história simplesmente fantástica!!!! Merece ser redescoberto!!!! RECOMENDADO!!!!