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domingo, 16 de julho de 2017

UM LIMITE ENTRE NÓS (Fences) EUA / Canadá, 2016 – Direção Denzel Washington – elenco: Denzel Washington, Viola Davis, Stephen Henderson, Jovan Adepo, Russell Hornsby, Mykelti Williamson, Saniyya Sidney, Christopher Mele – 139 minutos

        UM TRATADO PROFUNDAMENTE EMOCIONANTE SOBRE CASAMENTO

Uma imersão muito intensa no proletariado afro-americano dos anos 1950.. Troy Maxson é essa encruzilhada de contradições. Sofre o apartheid de classes com acréscimo do racismo; seus valores, no entanto, são os do sucesso e, diríamos hoje, da “meritocracia”. "Um Limite Entre Nós" é muito mais do que teatro filmado. Denzel Washignton, como diretor, sabiamente resistiu à tentação de forçar muitos elementos cinematográficos sobre a peça. O texto é primoroso e os diálogos são intensos. As cenas iniciais são sintomáticas. Denzel Washington e Stephen Henderson, amigos de décadas, conversam sobre o trabalho como catadores de lixo, ressaltando que tal tarefa é sempre entregue aos negros enquanto que, aos brancos, cabe a função de dirigir os caminhões de lixo. Logo em seguida, a imensa bandeira presente no local de pagamento anuncia: esta é a América, terra onde o preconceito racial está profundamente enraizado na sociedade. Preconceito este que é uma das molas propulsoras da peça teatral escrita por August Wilson, adaptada ao cinema pelas mãos do também diretor Denzel Washington.


Com 139 minutos, praticamente nem sentimos esse teatro filmado, com poucos cenários e impactantes diálogos. É uma história forte, muito bem escrita e com atuações espetaculares de dois dos melhores atores norte-americanos em atividade. A alegoria é brilhante, o que justifica o título original, em detrimento do brasileiro. O acerto no desfecho lírico é o encerramento que a fita merece, após uma sessão em que o espectador acompanha um roteiro soberbo interpretado por um excelente elenco. Por mais que não conste na dinâmica habitual envolvendo Troy Maxson (Denzel) e sua família, o preconceito marca presença através do profundo rancor que o personagem nutre, por não ter sido tido a chance de se tornar um jogador profissional de baseball. O filme ressalta, sempre, a falta de oportunidades e o preconceito existente às pessoas de cor, por mais que elas demonstrem capacidade para a vaga em questão. É por sentir tal situação na pele que Troy não quer que o filho siga o caminho do esporte: antevendo a frustração que sentiu, considera tal tentativa uma perda de tempo.

Denzel Washington é sempre excelente interpretando personagens complicados. Embora ele brilhe nos papéis de ação, seus personagens mais memoráveis são aqueles moralmente questionáveis. Mas nada disso funcionaria sem Davis para interagir com ele. Neste duelo sutil entre marido e mulher de longo tempo, arma-se todo um contexto histórico e social das relações entre homens e mulheres naqueles dias, confrontados com um contexto racial e social desfavorável. Entretanto, limitar ao preconceito a peça escrita por August Wilson seria subestimar o próprio texto. Por mais que ele fundamente os relacionamentos vistos em cena, os conflitos apresentados têm muito a ver com a antiquada visão de respeito imposto pelo homem, o senhor da casa a quem todos devem servir. É neste ponto que entra a hábil transformação de Troy: apresentado como um sujeito boa praça, beberrão e espirituoso, ele aos poucos revela seu modo torto de encarar a vida. Mérito do belo trabalho de Denzel Washington, que inicialmente seduz o público para, aos poucos, conquistar sua antipatia. É ele a força motriz do filme e, também, sua maior fraqueza. "Um Limite Entre Nós" é um tratado profundamente emocionante sobre casamento, pobreza e os esforços que os filhos precisam fazer para confrontar as longas sombras dos homens que os trouxeram ao mundo.

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