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domingo, 23 de julho de 2017

PARAÍSO (Рай / Ray / Paradise) Rússia / Alemanha, 2016 – Direção Andrey Konchalovskiy – elenco: Yuliya Vysotskaya, Viktor Sukhorukov, Peter Kurth, Philippe Duquesne, Jean Denis Römer, Christian Clauss, Jakob Diehl, Thomas Darchinger,  George Lenz, Irina Demidkina, Ramona Kunze-Libnow, Caroline Piette, Vera Voronkova – 130 minutos

                       TODO OBJETO DESEJADO É O CENTRO DO PARAÍSO 

"Paraíso" apresenta uma vitrine de seres humanos complexos, que foge de maniqueísmos em relação à guerra, às vezes humaniza o opressor para tentar compreender a relação do oprimido e assim buscar um relato muito mais sóbrio e plural. A intenção é articular a história de três pessoas na França invadida pelos nazistas: a condessa Olga (Yuliya Vysotskaya), presa por abrigar judeus em sua casa, o investigador da polícia francesa colaboracionista Jules (Philippe Duquesne) e o oficial nazista Helmut (Christian Clauss). Cada um relata à câmera suas histórias, seus medos, suas paixões. Quando o diretor Andreï Konchalovsky aproxima a sua câmera do rosto de uma criancinha desesperada após ver o pai levar um tiro na cabeça, estamos sem dúvida diante de um cinema redentor, moral (ou moralista), que pretende retratar os horrores da guerra ao mesmo tempo em que perdoa os “homens maus” por suas boas intenções: Jules pretendia estuprar Olga, mas era um bom pai e funcionário dedicado; Helmut não questiona o genocídio, porém ajuda Olga, por quem está apaixonado. Esta compensação oferecida ao longo do filme – mas negada na conclusão involuntariamente cômica – confessa enfim a vocação cristã que o filme tentava evitar ao longo de toda a narrativa.

Simultaneamente, o cineasta russo produz momentos muito bons quando mostra o funcionamento dos escritórios do campo ou mesmo a residência de Helmut. Nessas ocasiões é que mais experimentamos o horror do nazismo (uma prova a mais de que a "reabertura" dos campos pelo cinema, como definiu Godard, é nociva ao conhecimento e só serve para engordar bilheterias). Eles se alternam com momentos estranhos, estapafúrdios. Até então podia-se acreditar que, de algum modo, o cineasta tratava do fim do paraíso europeu, com o conflito iniciado em 1939 detonando todas as utopias. A partir desse momento pode-se pensar que Konchalóvskiy nos fala de maneiras de entrar no paraíso mesmo, o celeste. As entrevistas, unidas das ações de cada indivíduo expostas na tela, possibilitam que o roteiro ofereça complexidade e humanidade aos seus protagonistas, os quais em nenhum momento se tornam unidimensionais. O diretor mantém firme o foco no realismo das condições do campo, bem como das escolhas das pessoas em situações extremas. O “paraíso” de seu título não poderia ser mais grotescamente irônico: refere-se à utopia delirante dos nazistas.


A belíssima fotografia em preto-e-branco de Aleksandr Simonov e a eficiente - e não abusiva - trilha musical de Sergey Shustitskiy são outros pontos positivos. Um filme absorvente e impactante, causando uma certa perplexidade com o seu final atordoante. Foi indicado pela Rússia ao Oscar 2017 de melhor filme estrangeiro, mas "Paraíso"  ficou fora da competição. Nesta obra devastadora, Konchalovskiy consegue retratar a desgraça abatida sobre os judeus através de membros alemães de baixo escalão, mostrando que as injustiças ocorridas na Alemanha Nazista vitimaram até entes periféricos da Guerra. Não é tanto a história que torna o filme especial. É o formato que o cineasta e roteirista russo Andrei Konchalovsky usa para contá-la. O que parece um enredo simples pega o espectador de surpresa ao final. Um filme obrigatório e devastador!!!!

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