Content on this page requires a newer version of Adobe Flash Player.

Get Adobe Flash player

quarta-feira, 7 de junho de 2017

TRINTA – Brasil, 2014 – Direção Paulo Machline – elenco: Matheus Nachtergaele, Paolla Oliveira, Mariana Nunes, Milhem Cortaz, Fabrício Boliveira, Augusto Madeira, Marco Ricca, Tato Gabus Mendes, Paulo Tiefenthaler, Ernani Moraes, Gustavo Novaes, Lea Garcia – 92 minutos

                 A HISTÓRIA DO HOMEM QUE REINVENTOU O CARNAVAL 

Essa obra quase documental mostra a interessante e divertida jornada de um artista em busca da afirmação da sua arte popular e coletiva e os percalços que ele inevitavelmente encontra no caminho. Uma homenagem mais do que merecida, e muito bem-vinda em uma época onde o politicamente correto dita as regras. E ser politicamente correto era uma coisa que Joãosinho Trinta (João Clemente Jorge Trinta), definitivamente, não era. Ainda bem. Bem conduzida pelo diretor Paulo Machline, a produção é valorizada por uma trilha sonora deliciosa e figurinos caprichados. Como se pode notar, “TRINTA” reúne qualidades que justificam a ida ao cinema. O filme cresce quando mostra o retrato do homem genial, de sua solidão no trabalho diário, a dedicação exagerada ao processo de criação. Em seu melhor momento, Joãosinho Trinta desenvolve o enredo enquanto lembra das histórias que lhe eram contadas pela avó. O diretor aprofunda na ficção a mística do personagem que o fascinou, imortalizado pela frase certeira: “O povo gosta de luxo, quem gosta de lixo é intelectual”. Ele não se deixa levar pelo brilho dos desfiles das Escolas de Samba do Rio. Faz um filme em que a mola é a simplicidade e leva a pensar se a intenção não foi realmente emparelhar-se à produção brasileira do período em que Joãosinho sagrou-se campeão pelo Salgueiro. Diferente de cinebiografias extensas que tencionam traçar o retrato de uma personalidade do (quase) nascimento à (quase) morte e acabam por dispersar o espectador, TRINTA toma a parte pelo todo.


A ambição do filme é de outra ordem: mostrar quem é Joãosinho Trinta (a imagem que temos do carnavalesco) a partir de quem foi Joãosinho Trinta (o homem antes do mito). E esse é um dos grandes méritos do filme. A produção acompanha o protagonista dos anos 1960, quando se muda do Maranhão para o Rio de Janeiro a fim de se tornar bailarino do Theatro Municipal (fato que poucas pessoas conhecem, aliás) até 1974, ano em que ele assume o posto de carnavalesco da Acadêmicos do Salgueiro, tradicional escola de samba do carnaval carioca. O filme exclui a apresentação da agremiação Beija-Flor de 1989, a mais famosa do carnavalesco (vencedor daquele ano com o enredo “Ratos e Urubus, Larguem a Minha Fantasia” – com a imagem do Cristo como mendigo censurada pela Igreja Católica). O que chama a atenção, além da atuação monumental de Matheus Naschtergaele, é a capacidade de suscitar discussões de trinta anos atrás com uma naturalidade estranhamente comum aos dias de hoje. Nachtergaele carrega a bandeira. Como disse Machline em entrevistas, o papel foi feito para ele. E a escolha não poderia ter sido melhor. Irreverente, o ator incorpora o jeito engraçado, contido e amistoso que marcou Joãosinho até sua morte. O roteiro acerta ao orbitar a trama em torno da luta de Joãosinho para fazer valer sua concepção no inovador desfile “O Rei da França na Ilha da Assombração”, conduzindo a narrativa com segurança – ainda que de maneira um tanto convencional – até o apoteótico final. Além de qualquer talento em particular, "TRINTA" é um conjunto que se revela superior do que a soma de suas partes individuais. Tem-se aqui um filme envolvente, que vai além do reduto dos fãs de Carnaval, comprovando que uma boa história é mesmo universal.


Nenhum comentário:

Postar um comentário