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quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

Z: A CIDADE PERDIDA (The Lost City of Z) EUA, 2016 – Direção James Gray – elenco: Charlie Hunnam, Robert Pattinson, Sienna Miller, Tom Holland, Edward Ashley, Angus Macfadyen, Franco Nero, Ian McDiarmid, Clive Francis, Pedro Coello, Johann Myers, Aleksandar Jovanovic, Bobby Smalldridge, Tom Mulheron, Elena Solovey, Matthew Sunderland, Daniel Huttlestone, Nathaniel Bates Fisher, Murray Melvin, Harry Melling, Michael Jenn, Michael Ford-FitzGerald – 141 min.

  DUALIDADE E GLÓRIA EM UM DOS MELHORES FILMES DO ANO DE 2017


A história real de um homem obstinado, que não abriu mão de suas convicções mesmo diante das maiores adversidades, é um belo exercício de cinema de um realizador austero e competente ao extremo.

Este é um filme único, uma produção bastante ambiciosa e, com certeza, na lista dos melhores filmes do ano. Baseado no livro de David Grann, com roteiro adaptado pelo próprio diretor, o filme relata a biografia de Percy Fawcett, condecorado herói militar britânico. O sujeito honrado e exímio profissional se deparou com barreiras devido a sua árvore genealógica e nunca conseguiu adentrar o círculo privado do alto escalão. Mesmo assim, foi selecionado a participar de um projeto, numa sociedade de exploradores, a fim de mapear territórios sul americanos desconhecidos, no Brasil e Bolívia. Está entre os filmes que exploram a ganância e a intolerância dos europeus enquanto estes exploravam as Américas. Contudo, poucos pegam tal situação, que proporcionou a destruição de inúmeras culturas e povos nativos, e criam uma obra otimista, focando em situações pessoais em detrimento de uma análise da situação como um todo. “Z: A Cidade Perdida” faz isso. Baseado em uma história real, o filme acompanha o explorador Percy Fawcett e sua obcecada busca por uma cidade perdida no interior da selva amazônica.

“Z: A Cidade Perdida” consegue ir além de sua narrativa principal e tecer boas críticas à sociedade da época. Aliás, tais críticas são, infelizmente, aplicáveis nas sociedades ocidentais de hoje. A arrogância e prepotência dos europeus que se negam a acreditar na possibilidade de haver uma grande civilização ainda desconhecida, por exemplo, quase impedem a existência de uma expedição que mudou a história das explorações e mapeamentos no nosso continente. Embora os personagens pareçam ser unilaterais, eles também são complexos para que a história se desenvolva. Robert Pattinson, cada vez mais maduro em suas atuações, e Edward Ashley funcionam como parceiros de expedição. Mesmo que não se saiba nada sobre eles, a não ser a dualidade de posicionamento que apresentam, o espectador consegue acompanhar a importância deles na narrativa e torcer pelo progresso das personagens. É elogiável o trabalho de James Gray, como diretor, ao estabelecer o revisionismo de um período em que os europeus são vistos por muitos como heróis, quando, na verdade eram figuras auto-indulgentes e extremamente preconceituosas, tendo quase sabotado suas próprias descobertas. Precisou haver o reconhecimento externo para que, então, compreendessem a importância da exploração não para achar riquezas, mas para conhecer e aprender com novas civilizações. O diretor e roteirista sabe tratar desses assuntos com inteligência e sutileza. 

Com uma fotografia soberba do veterano Darius Khondji, o filme expõe os sacrifícios feitos por Percy ao retratar de maneira quase idílica seus momentos com a família, transformando a floresta amazônica em um paraíso de cores fortes, mas também ameaçador, com quadros fechados que constantemente sugerem a claustrofobia e a desorientação provocadas pelas paredes de verde e que se contrapõem à frieza de boa parte das cenas ambientadas em Londres. Esta experiência em localidades exóticas é que vai, finalmente, propiciar uma virada na vida de Fawcett. Em 1906, ele é convencido pela Real Sociedade Geográfica a usar sua experiência como cartógrafo para mapear a até então desconhecida nascente do rio Verde, na Bolívia. Dessa expedição, nasce a curiosidade pela cultura dos índios locais, cujos restos de antigos artefatos despertam em Fawcett a certeza de que o continente sul-americano abrigara antigas civilizações complexas, ainda desconhecidas (Machu Picchu, por exemplo, seria descoberta apenas em 1912). Um outro acerto no filme é dar suficiente peso na tela à vida familiar do protagonista. Pai de três filhos, dois deles nascidos durante suas longas viagens, ele tem uma mulher independente, culta e desafiadora, Nina (Sienna Miller, ocupando com carisma a tela num papel que só à primeira vista parece coadjuvante). A direção é luxuosa e de fácil identificação, e com o carisma de seus atores, tira totalmente o que poderia ser um filme sonolento do terreno da apatia, lhe garantindo vida o suficiente para nos manter interessados na longa jornada. Belo e reflexivo!!!



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