ZABRISKIE POINT (Zabriskie Point) EUA, 1970 –
Direção Michelangelo Antonioni – elenco: Mark Frechette, Daria Halprin, Paul
Fix, G. D. Spradlin, Rod Taylor, Bill Garaway, Kathleen Cleaver, Harrison Ford,
Tom Steele – 113 minutos
A devastadora inércia burguesa conduz ao
deserto e ao abismo, e enquanto isso, o cinema e todas as artes seguem
traduzindo as nossas pequenas inssurreições.
O nome do filme é uma homenagem à região árida
localizada no oeste dos Estados Unidos, no Vale da Morte. Também árido é o tema
principal abordado pelo filme: o movimento da Contracultura, que teve seu auge
na década de 1960. E só tem uma palavra que pode definir a maneira como filme
foi recebido pela crítica e pelo público da época: aridez. “Zabriskie Point”, do grande cineasta italiano
Michelangelo Antonioni, é marcado pelo encontro de dois jovens. Ela, Daria,
viaja de carro até Phoenix para encontrar seu chefe, um empresário que planeja
construir um condomínio de luxo na Califórnia. Ele, Mark, jovem que está
insatisfeito com o falatório das reuniões estudantis e decide que, muito mais
do que discussão e reflexão, precisa de ação. Por isso, quando os protestos na
universidade tornam-se violentos com a chegada da polícia, ele decide comprar
um revolver e tomar atitudes práticas. No conflito entre estudantes do Campus e
policiais, alguns alunos são atingidos por gás lacrimogêneo e um estudante é
baleado. Neste momento, Mark saca a arma e aparece a cena de um policial sendo
morto. O autor do tiro não é claramente definido, mas a atitude de Mark é
fugir. Para isso, ele rouba um pequeno avião. No meio do deserto, os dois se
encontram e a atração é imediata.
“Zabriskie Point” não é considerado o melhor
trabalho do cineasta italiano Michelangelo Antonioni. O filme é o segundo de um
contrato fechado por Antonioni para realizar três filmes em inglês, tendo
feito “Blow Up” em1966
e “O Passageiro - Profissão: Repórter”
em
1975. O filme sofreu problemas com os produtores, até
porque é bastante complicado tratar de temas polêmicos como o combate ao
capitalismo, justamente dentro dos Estados Unidos. Por isso, foi duramente
ressaltada a arrogância de um estrangeiro de vir criticar tão enfaticamente o
país. Outra crítica feita foi em relação à atuação de Mark Frechette e Daria
Halprin, que, inclusive, emprestaram seus nomes aos personagens. A escolha de
atores amadores, no entanto, tem o mérito de filmar rostos novos e pessoas
menos presas a “técnicas” de atuação pré-definidas. À época
de seu lançamento, foi um fracasso de crítica e público: o filme aborda a
contracultura dos anos 1960 e critica o capitalismo de forma um tanto forte –
nos EUA do início dos anos 1970, tais temas se mostravam saturados ou incômodos
demais, sobretudo quando emergiam sob o olhar de um forasteiro. Entretanto, o
filme tem sido reavaliado depois de décadas, alcançando um status diferenciado
quando recolocado fora do seu contexto de lançamento, releitura que pode ser
sintetizada pela fala de David Fricke, editor da revista Rolling Stone: “Zabriskie Point foi um dos
desastres mais extraordinários da história do cinema moderno”.
As viagens inusitadas das duas personagens e as vastidões das
paisagens capturadas pela câmera aludem ao desejo de liberdade dos jovens, que
se conhecem e fazem amor, em uma longa cena onde mais casais arrastam-se pelas
areias do deserto em uma clara referência ao amor livre. Na hora de retornar, o
avião de Mark é pintado ao estilo “flower power”, e ambos se despedem para
nunca mais se ver, após conversas sobre a sociedade e o movimento estudantil,
opiniões sobre a vida, drogas e ideologia. Mas os diálogos estão longe de serem
o ponto onde o filme se foca. É nas imagens, com suas cores, planos e ângulos,
que o diretor constrói suas ideias, a principal delas sendo um ataque ao
capitalismo norte-americano através das citações aos outdoores e produtos do
consumismo. “Zabriskie Point” foi alvo de censura, mas nenhuma maior que a
interna. Muitas cenas foram cortadas pelo estúdio e, inclusive, a conclusão foi
modificada. Um filme original e diferente principalmente em se tratando de uma
obra do mestre da incomunicabilidade: Michelangelo Antonioni.
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