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quarta-feira, 6 de setembro de 2017

O SILÊNCIO (Tystnaden) Suécia, 1963 – Direção Ingmar Bergman – elenco: Ingrid Thulin, Gunnel Lindblom, Birger Malmsten, Hakan Jahnberg, Jörgen Lindström, Kristina Olausson, Lissi Alandh, Karl-Arne Bergman, Birger Lensander, Eskil Kalling – 96 minutos

                      BERGMAN TENTA DIZER ALGO AO ESPECTADOR
                            E CADA UM DEVE DESCOBRIR SOZINHO


Ingmar Bergman, um dos mais aclamados diretores do cinema mundial, apresenta aqui outro dos seus filmes mais surpreendentes. Este forte drama é uma visão íntima e fascinante de um mundo onde as pessoas procuram se comunicar através da cruel satisfação de seu apetite sexual. Estrelando, num brilhante retrato da delicada e complexa intimidade do amor lesbiano, Ingrid Thulin. E como sua irmã, uma linda e arrogante criatura da carne vivendo somente para a luxúria e o prazer, Gunnel Lindblom. Duas mulheres viajando por uma terra estranha. Uma existência estranha, onde encontram solidão e uma paixão avassaladora. Indiscutivelmente o filme mais forte do diretor sueco!!


Uma franqueza sexual que marca um novo caminho. Excelente, maravilhoso e com atuações esplêndidas. Estranha amálgama de vários estados de solidão e luxúria. Bergman tenta dizer algo ao espectador que cada um deve descobrir sozinho. O filme é inadequado para pessoas puritanas, pois exige maturidade e sofisticação do público, e contém a mais aberta sexualidade já vista no cinema.  Foi em “O Silêncio” que o cineasta esbanjou tudo o que havia proposto em sua carreira até então, e foi neste filme que o frenesi erótico, a histeria, a sensibilidade, a inocência e “a vida como espetáculo” mostrou-se pela primeira vez de forma completa em uma obra sua. O filme nasceu das explosões e do sufoco de um Concerto para Orquestra de Béla Bartók. Quem conhece a obra do compositor entende o clima claustrofóbico que se vê no início de “O Silêncio”, quando três protagonistas estão em um trem, visivelmente sufocados pelo calor. O que se segue é a (não)-relação entre as irmãs Anna e Esther, e a ambiguidade do relacionamento entre Anna e seu filho Johan. 


Nesta grande obra-prima, é impossível saber qual das irmãs é projeção da outra, qual seria a verdadeira ou quem é o ego liberado da primeira, se a reprimida intelectual ou a liberada fútil. No duelo verbal, confrontadas, ambas se aniquilam. Cada uma quer ser uma parte da outra, têm inveja, mas não suportam as limitações. “O Silêncio” foi eleito o oitavo melhor filme do ano. Ingmar Bergman estava no auge do prestígio, já havia ganhado Cannes e o Oscar (esse, duas vezes), gozava de fama internacional (os cinéfilos brasileiros devoravam seus filmes com fervor quase religioso, um paradoxo) e garantido seu nome na história. Falar deste filme é, portanto, falar de um tempo mítico em que o cinema não era uma diversão, mas a legítima representação artística do que pensava, ansiava e esperava toda uma geração. Obrigatório!! 


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