O
SILÊNCIO (Tystnaden) Suécia, 1963 – Direção Ingmar Bergman – elenco: Ingrid
Thulin, Gunnel Lindblom, Birger Malmsten, Hakan Jahnberg, Jörgen Lindström,
Kristina Olausson, Lissi Alandh, Karl-Arne Bergman, Birger Lensander, Eskil
Kalling – 96 minutos
BERGMAN TENTA DIZER ALGO AO ESPECTADOR
E CADA UM DEVE DESCOBRIR SOZINHO
Ingmar
Bergman, um dos mais aclamados diretores do cinema mundial, apresenta aqui
outro dos seus filmes mais surpreendentes. Este forte drama é uma visão íntima
e fascinante de um mundo onde as pessoas procuram se comunicar através da cruel
satisfação de seu apetite sexual. Estrelando, num brilhante retrato da delicada
e complexa intimidade do amor lesbiano, Ingrid Thulin. E como sua irmã, uma
linda e arrogante criatura da carne vivendo somente para a luxúria e o prazer,
Gunnel Lindblom. Duas mulheres viajando por uma terra estranha. Uma existência
estranha, onde encontram solidão e uma paixão avassaladora. Indiscutivelmente o
filme mais forte do diretor sueco!!
Uma
franqueza sexual que marca um novo caminho. Excelente, maravilhoso e com
atuações esplêndidas. Estranha amálgama de vários estados de solidão e luxúria.
Bergman tenta dizer algo ao espectador que cada um deve descobrir sozinho. O
filme é inadequado para pessoas puritanas, pois exige maturidade e sofisticação
do público, e contém a mais aberta sexualidade já vista no cinema. Foi em “O Silêncio” que o cineasta
esbanjou tudo o que havia proposto em sua carreira até então, e foi neste
filme que o frenesi erótico, a histeria, a sensibilidade, a inocência e “a vida
como espetáculo” mostrou-se pela primeira vez de forma completa em uma
obra sua. O filme nasceu das explosões e do sufoco de um Concerto para
Orquestra de Béla Bartók. Quem conhece a obra do compositor entende o clima
claustrofóbico que se vê no início de “O
Silêncio”, quando três protagonistas estão em um trem,
visivelmente sufocados pelo calor. O que se segue é a (não)-relação entre as
irmãs Anna e Esther, e a ambiguidade do relacionamento entre Anna
e seu filho Johan.
Nesta grande obra-prima, é impossível saber qual das irmãs é
projeção da outra, qual seria a verdadeira ou quem é o ego liberado da
primeira, se a reprimida intelectual ou a liberada fútil. No duelo verbal,
confrontadas, ambas se aniquilam. Cada uma quer ser uma parte da outra, têm
inveja, mas não suportam as limitações. “O Silêncio” foi eleito o oitavo melhor
filme do ano. Ingmar Bergman estava no auge do prestígio, já havia ganhado
Cannes e o Oscar (esse, duas vezes), gozava de fama internacional (os cinéfilos
brasileiros devoravam seus filmes com fervor quase religioso, um paradoxo) e
garantido seu nome na história. Falar deste filme é, portanto, falar de um
tempo mítico em que o cinema não era uma diversão, mas a legítima representação
artística do que pensava, ansiava e esperava toda uma geração. Obrigatório!!
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