O ECLIPSE (L’Eclisse) Itália / França, 1962 –
Direção Michelangelo Antonioni – elenco: Alain Delon, Monica Vitti, Francisco
Rabal, Lilla Brignone, Rossana Rory, Mirella Ricciardi, Louis Seigner, Cyrus
Elias – 125 minutos
ANTONIONI DISCUTE BRILHANTEMENTE A ALIENAÇÃO DO
HOMEM MODERNO EM MEIO A UMA SOCIEDADE MATERIALISTA
Para evitar os problemas financeiros e
experimentar uma forma de vida mais variada, Vittoria, que vem de um meio
modesto, passou três anos a viver com Riccardo, um jovem oficial de uma
embaixada. No entanto, uma vida sem verdadeiro amor arrasa a jovem mulher que,
apesar dos pedidos de Riccardo, ela deixa-o. Um dia, quando se encontra com a
mãe, que passa os tempos livres na Bolsa de Valores, Vittoria conhece um jovem
corretor, com quem espera aprender a amar de novo. Infelizmente, ele a engana e
Vittoria experimenta uma vez mais o sabor amargo da solidão. O ECLIPSE é mais um excelente
filme do grande cineasta italiano, Michelangelo Antonioni. Como sempre,
Antonioni aborda questões socio-políticas, procurando mostrar o indivíduo
esmagado pelas pressões, responsabilidades e complexidades do mundo
moderno. Há uma seqüência em que Vittoria comenta as diferenças entre a
vida nas sociedades avançadas e nas menos avançadas. O cineasta procura,
ainda, mostrar a ambição do mundo capitalista, ao retratar tão bem o ambiente
caótico na Bolsa de Valores de Roma e a obsessão pelo jogo vivida pela mãe de
Vittoria. Além do magnífico
trabalho de Antonioni, o filme é maravilhosamente fotografado pelas lentes de
Gianni Di Venanzo. Juntamente
com A AVENTURA (1960) e A NOITE (1961), O ECLIPSE (1962) forma a Trilogia da
Incomunicabilidade, na qual o cineasta procura analisar o tédio e a solidão do
homem moderno.
A atriz
italiana Monica Vitti está presente em todos os três filmes. Ela está
perfeita em O ECLIPSE. Muitas vezes, sem abrir a boca, consegue
transmitir toda a carga de emoções exigida de seu personagem. Talvez este
seja seu melhor filme. O filme é repleto de
seqüências maravilhosas como aquelas em que nenhuma palavra é pronunciada, ou
aquelas passadas no apartamento de Marta, nas quais Vittoria dança
alucinadamente, ou ainda as rodadas durante os pregões da Bolsa de Valores. Neste belo filme, a
câmera se transforma em um verdadeiro observador externo, a olhar, como um
corpo independente e autônomo, a realidade a sua frente. Compõe, através e
dentro de suas lentes, o seu próprio mundo, passando, a seu modo, a existir
como se fosse um corpo em estado de liberdade em relação a quem o manipula (em
seus movimentos, angulações e dimensões). Na última seqüência da obra que,
talvez, seja o canto derradeiro de Michelangelo Antonioni sobre a crise dos
sentimentos, o que vemos são, matematicamente, cinqüenta e seis planos que, a
partir da diversidade de sua geografia física e humana, registram um cruzamento
em Roma.
Mas
o que temos em “O Eclipse”, em suma, é uma atmosfera presa ao vazio, à
solidão e ao tédio nas relações humanas. Componentes da “Trilogia da
Incomunicabilidade” que, em sua base, desenvolve a temática primordial de
Antonioni: a impossibilidade da relação de um indivíduo com outro, ainda que
este outro seja aquele com quem se mantém, ou se manteve, uma relação afetiva.
Fundado em uma elipse, o afeto entre Vittoria (Monica Vitti) e Riccardo
(Francisco Rabal) fracassa. Assim, não sabemos as motivações do rompimento, a
separação iminente, pois, em Antonioni, o que importa é o presente das
situações vividas, as marcas presentes em cada ato, enfim, as que existem no
que vemos (o abrir a cortina, o afastar-se do outro, o jogar-se no sofá, a recusa
de toda e qualquer possibilidade de continuar). Em quase todas as cenas, os
planos são longos, o que nos permite enxergar mais o vazio que move/imobiliza
os personagens frente à ausência de sentimentos, afeto em relação ao
outro, a doença que toma Eros de assalto (Gilles Deleuze). Aliás, não existe
nem mesmo ação, uma vez que o diretor por instantes condena seus personagens a
um quase eterno presente de indiferença e rejeição. Um dos filmes mais
essenciais da década de 1960!!
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