O DESERTO VERMELHO / DESERTO ROSSO – O DILEMA DE
UMA VIDA (Il Deserto Rosso) Itália / França, 1964 – Direção Michelangelo
Antonioni – elenco: Monica Vitti, Richard Harris, Carlo Chionetti, Xenia
Valderi, Rita Renoir, Lili Rheims, Aldo Grotti, Valerio Bartoleschi, Emanuela
Pala Carboni, Giuliano Missirini, Bruno Borghi, Beppe Conti, Giulio Cotignoli,
Hiram Mino Madonia – 113 minutos
QUAL
É O LUGAR DO SER HUMANO NUMA SOCIEDADE OCUPADA CADA VEZ MAIS PELA IDEOLOGIA
UTILITARISTA REINANTE??
Como
em tantos outros filmes de Michelangelo Antonioni, o enredo de O DESERTO VERMELHO
é profundo e ao mesmo tempo simples. Numa zona industrial do norte da Itália -,
chuva, neblina, frio e poluição assolam a cidade industrial de Ravenna -,
Giuliana (Monica Vitti) é uma mulher mentalmente perturbada, com dificuldades
terríveis de se encaixar na chamada "vida normal", tão festejada por
seu marido, o engenheiro Ugo, (Carlo Chionetti), gerente de uma usina local. A
chegada de um colega do marido, o também engenheiro Corrado Zeller (Richard
Harris), que eles conhecem numa viagem à Patagônia, arranca-a por um momento de
sua condição de sonâmbula, mas arrisca precipitá-la ainda mais fundo no abismo
da incomunicabilidade.
Em
torno dessa situação, típica do "cinema da angústia" de Antonioni, o
diretor construiu um de seus filmes mais belos, cujo sentido mais profundo não
está nos diálogos ou no drama particular dos personagens, mas na rigorosa
poesia de suas imagens. Em sua primeira experiência com a cor, Antonioni chegou
ao requinte de mandar pintar gramados e árvores para atingir os tons exatos de determinados
estados de espírito que desejava comunicar. A fotografia de Carlo Di Palma
contrapõe primorosamente planos que ressaltam a cor e a textura de cada
superfície (madeira, pedra, terra) a outros - em geral planos gerais das
fábricas, estaleiros e descampados - em que uma bruma difusa torna indefinidos
todos os contornos, compondo uma paisagem de aridez e melancolia. Não por
acaso, Fritz Lang considerava a fotografia de O DESERTO VERMELHO a mais bela de
toda a história do cinema. Para Antonioni, a degradação da vida na sociedade
industrial é também uma degradação de imagem e da própria capacidade de ver.
Seu cinema é difícil não por um suposto hermetismo de seus símbolos e
referências, mas porque exige do espectador contemporâneo, bombardeado diariamente
pelas imagens aviltadas da TV e da publicidade, um esforço de reeducação do
olhar. Antonioni nos ensina a ver.
Um
dos grandes trabalhos de Monica Vitti, atriz com quem Antonioni foi casado. Ela
faz a dona de casa angustiada, que não sabe direito de onde lhe vem tanto mal
estar diante do mundo. A trilha sonora inusual, a fotografia em cores de Carlo
Di Palma, valem ao filme uma ambientação muito marcante. É mais uma tentativa
de retratar a vida alienada na sociedade contemporânea. Monica não sabe a razão
da sua infelicidade. E essa é a tese de Antonioni: ignoramos o porquê, ele está
oculto e faz parte da própria alienação. Vencedor do Leão de Ouro de Melhor
Filme no Festival de Veneza, O DESERTO VERMELHO é uma das obras máximas
do diretor. Em O DESERTO VERMELHO, Antonioni, no auge de sua forma,
aborda os temas centrais de sua filmografia: a incomunicabilidade e a solidão
do homem contemporâneo.
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