LUZ
DE INVERNO (Nattvardsgästerna) Suécia, 1962 – Direção Ingmar Bergman – elenco:
Gunnar Björnstrand, Ingrid Thulin, Max von Sydow, Gunnel Lindblom, Allan
Edwall, Kolbjörn Knudsen, Olof Thunberg, Elsa Ebbesen, Lars-Olof Andersson
(Young boy), Eddie Axberg, Ingmari Hjort, Stefan Larsson, Johan Olafs, Christer
Öhman – 80 minutos
UMA
AMARGA REFLEXÃO SOBRE A EXISTÊNCIA OU NÃO DE DEUS
O
mais aclamado cineasta de todos os tempos realiza o seu primeiro trabalho
depois de ganhar dois Oscar, dois anos seguidos – “A Fonte da Donzela” (1960) e
“Através de um Espelho” (1961). Ingmar Bergman conquista novos feitos na
dramatização ao explorar a vida de um pastor, sua relação com a amante e as
pessoas que o cercam. Gunnar Björnstrand é o pastor que luta para encontrar
Deus e o amor num mundo de inverno; Ingrid Thulin é a amante, que supera tudo
na tentativa de dar seu amor; Max von Sydow, o astro do extraordinário “O
Sétimo Selo” (1957) e “A Fonte da Donzela” faz um pescador atormentado e Gunnel
Lindblom, a professora Märta, sua esposa. Um casal estranho, preso por um medo
compulsivo num mundo que vê somente como hostil. Um filme brilhante
interpretado com rara sensibilidade e expressão. Absolutamente imperdível,
sério, provocativo e comovente!! Um história forte em mais uma obra-prima do
mestre soberano do cinema sueco!!
Dono de uma filmografia praticamente
impecável, Bergman conseguiu aproximar o cinema como arte e influenciar
cineastas por todo mundo. Woody Allen, por exemplo, nunca escondeu que o
admira. Bergman era ateu e em sua filmografia sempre encontramos diversos
filmes que falam sobre vida e morte. Desenvolveu o que chamaram a “Trilogia do
Silêncio”, também conhecida como “Trilogia da Fé”, no qual “Luz de Inverno” faz
parte e termina com “O Silêncio” (1963). Neste filme que, como ele sabia,
dificilmente iria agradar a um grande público aborda o silêncio de Deus perante
a tantas perguntas. Mesmo que seja um tema difícil para muitos, o cineasta
realizou uma obra que resiste ao tempo e envelhece bem. Em comum, os três
dramas abrangem questões como crise existencial, amor, religião e morte.
“Luz de Inverno” fala
da perda da fé. Não só os fiéis sofrem com as hesitações do pároco descrente:
sua amante também é massacrada com a desilusão da autoridade religiosa local,
homem distante, incapaz de amar. Ele se culpa pelo suicídio do humilde
pescador, dilacerado pelo medo da guerra nuclear então em curso no mundo. É difícil dizer o que
mais chama a atenção no filme: a temática – perda de fé –, sempre relevante
principalmente para quem é católico; as personagens – não deveria dizer as personagens,
mas as pessoas, tal a autenticidade que elas passam; os belíssimos e tocantes
diálogos; ou o clima pesado, reforçado pela neve, pelo frio etc. O filme, como outros filmes de Bergman,
aparentam serem lugares distanciados de tudo, do mundo moderno (quem imagina,
por exemplo, que naquele tempo onde a fé cristã está em seu ápice, depois de
voltar das cruzadas, o cavaleiro Antonius, de O Sétimo Selo, teria dúvidas sobre a existência
de Deus). Parece que esse fim do mundo que é o mundo de Bergman é incomunicável
com seu próprio mundo nas quais as pessoas vivem um outro tempo em suas vidas
camponesas. Realizado no apogeu da Guerra Fria, “Luz de Inverno” é uma amarga
reflexão sobre a existência ou não de Deus. Uma obra-prima sobre a crise da fé!!
Um filme notável e obrigatório!!
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