A FONTE DA DONZELA (Jungfrukällan) Suécia, 1960 – Direção Ingmar
Bergman – elenco: Max von Sydow, Birgitta Valberg, Gunnel Lindblom, Birgitta
Pettersson, Axel Düberg, Gudrun Brost, Axel Slangus, Tor Isedal, Allan Idewall,
Ove Porath – 86 min
COM UMA DIREÇÃO IMPECÁVEL, BERGMAN VOLTA A EXPLORAR O IMAGINÁRIO
MEDIEVAL NUM FILME ABSOLUTAMENTE FASCINANTE!!
Com um cinema do qual uma série de diretores é
tributário declarado, não há como se manter impassível ante os seus retratos
contundentes das vicissitudes moldando o ser humano. Em "A Fonte da
Donzela", Ingmar Bergman se debruça novamente sobre a temática da Idade
Medieval, que poucos anos antes ele já havia realizado uma obra-prima "O
Sétimo Selo" (1957). Realizado em 1960, o filme gira em torno de uma
família tipicamente medieval, com sua crença na vontade soberana de Deus para
explicar todos os fenômenos da natureza. Nesse contexto, já é possível
vislumbrar que Bergman se propõe, mais uma vez, a tratar de um tema que é
recorrente em sua filmografia: a crise da fé. Controverso
à época que estreou e certamente perturbador, “A Fonte da Donzela”
garante ao espectador um vislumbre da temática que o diretor trabalharia
posteriormente em sua “Trilogia do Silêncio” (composta por Através de um Espelho – 1961;, Luz de Inverno
- 1962 e O Silêncio - 1963). Adaptado de uma balada
sueca do século XIII, a obra trabalha em cima de temáticas como a religião – o
conflito entre o chamado paganismo e o cristianismo -, inocência, moralidade e,
é claro, o pecado. Vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de 1961, temos
aqui um filme que não merece ser visto uma só vez, mas consecutivas a fim de
experimentar todas as suas facetas.
“A Fonte da Donzela” é um filme de transição do mestre
sueco. A partir dali seus filmes estarão muito mais desacreditados na figura
humana. Töre, ao descobrir que sua filha foi barbaramente atacada, não abre
espaço para o perdão pregado na sua crença. Parte para um ritual pagão e comete
um ato atroz. Seria ele tão bárbaro quanto os assassinos de Karin? Até onde o
livre-arbítrio está para a religião e os homens? E o quão remediável é a culpa
do homem cristão? A condução da narrativa é feita de forma
gradual, deixando o espectador se ambientar e familiarizar não só com o local,
mas também com a personalidade de cada um, o que irá provocar o grande choque
na metade do filme, quando Karin, em sua inocência, é abordada por dois homens
e um garoto que afirmam ser pastores. Ela oferece comida para eles que, em
retribuição, são violentos e abusam dela sexualmente. Uma cena crua, que causa
angústia.
O diretor
apresenta uma espécie de fábula, densa e violenta, sobre a relação do homem com
a fé e sua natureza multidimensional. O filme acaba tendo uma narrativa muito
mais simbólica e cheia de metáforas dentro de questões religiosas. Divididos
entre o lado cristão e pagão, os personagens frequentam igrejas e levam velas
para Maria enquanto outros fazem promessas para o deus Odin. Assim como outros
filmes do Bergman, a narrativa é bastante lenta. E neste contexto o espectador
acompanha o destino violento de Karin e principalmente a transformação do seu
pai. Ao final, a questão religiosa volta a ser apresentada em uma das
sequências mais icônicas criadas pelo cineasta. As provações da fé, a alma corrupta do ser
humano e a perda da inocência, temáticas tão caras ao cineasta sueco que
permeiam boa parte de sua filmografia, estão mais do que presentes no filme.
Absolutamente fascinante e imortal!! Um dos filmes mais impressionantes da
filmografia sueca!!
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