MORANGOS
SILVESTRES (Smultronstället) Suécia, 1957 – Direção Ingmar Bergman – elenco: Victor
Sjöström, Bibi Andersson, Ingrid Thulin, Gunnar Björnstrand, Jullan Kindahl,
Björn Bjelfvenstam, Max von Sydow, Folke Sundquist, Gunnel Broström, Gertrud
Fridh, Sif Ruud, Gunnar Sjöberg – 91 minutos
UM
FILME QUE COSTURA MUITO BEM A REALIDADE COM O DEVANEIO, O FATO COM O SONHO, O
ALCANÇADO COM O DESEJO.
Indicutivelmente é o mais comovente dos filmes de Ingmar Bergman. “Morangos
Silvestres” é possivelmente seu trabalho mais carregado de emoção, é uma viagem
em torno de si, dentro da própria alma. Ao longo de um único dia, o professor
Isak Borg (Victor Sjöström), um velho médico, vai receber uma distinção
acadêmica em Lund por seus cinquentas anos de exercício profissional na
medicina. Na noite que antecede a viagem, tem sonhos estranhos. Ao acordar,
decide ir de carro e não de avião. Leva consigo sua nora, Marianne (Ingrid
Thulin), que está separada do marido. No trajeto, reencontra a casa de verão
onde passou a infância. Dá carona a uma moça e três rapazes. É um Road movie existencial.
Junto com “Umberto D” (1952), de Vittorio De Sica, “Morangos
Silvestres” é, também, um dos grandes filmes sobre a velhice e um dos mais
belos de toda a história do cinema. É um conto que reflete basicamente sobre
finitude, num processo de reminiscência com altas referências de seu amadurecimento
enquanto ser humano. Com profundidade reflexiva, sensibilidade e fotografia
soberba, o filme lida de forma complexa e madura com assuntos densos como a
morte, a inexorabilidade do tempo e os legados que deixamos ao partir.
É uma obra repleta de ideias e reflexões, mas
construída com uma disciplina e um rigor estético invejáveis. Quando Marianne
narra para Isak a conversa que teve com o marido, por exemplo, a montagem salta
entre planos e contraplanos que ocasionalmente substituem o velho médico por
seu filho e vice-versa, indicando como ambos se igualam em seu distanciamento
emocional aos olhos da moça. De maneira similar, todos os parentes vistos na
casa de verão vestem branco e têm sua conversa retratada de forma dinâmica
através dos cortes rápidos, contrapondo-os à presença escura e monótona de
Isak. Para completar, Bergman praticamente resume um dos temas principais de
seu filme através da imagem simples, mas perfeita, de um relógio sem ponteiros
– o que, somado ao som do “tic-tac” que abre a projeção, sintetiza sua
preocupação com o tempo que se esgota à medida que nos aproximamos do fim da
vida. “Morangos Silvestres” é um filme que mexe com a psique não só dos personagens, mas também do
espectador como a grande maioria dos filmes do diretor. É um filme que costura muito bem a realidade com o devaneio, o
fato com o sonho, o alcançado com o desejo. Uma verdadeira obra-prima!!
Absolutamente essencial e obrigatório!!
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