sexta-feira, 23 de setembro de 2011
78º Lugar - CIDADE DE DEUS - Brasil, 2002
OS 100 MELHORES FILMES DE TODOS OS TEMPOS!!
78º Lugar - CIDADE DE DEUS – Brasil, 2002 – Direção Fernando Meirelles – elenco: Matheus Nachtergaele, Alexandre Rodrigues, Seu Jorge, Douglas Silva, Leandro Firmino da Hora, Roberta Rodrigues, Phellipe Haagensen, Jonathan Haagensen, Alice Braga, Gero Camilo, Micael Borges, Graziella Moretto, Luís Otávio, Jefechander Suplino, Edson Oliveira, Emerson Gomes, Maurício Marques – 135 minutos.
Esta é mais uma prova da grandeza do cinema brasileiro. É um filme que marcou época na história do cinema atual, pela sua originalidade, pelo seu contexto bastante simples, realista e com muito swing. O filme é capaz de realizar muitas ambições, que não são pequenas. É cinema de primeira e absolutamente devastador. Faz um painel assustador de um mundo sem lei e governado por traficantes. Baseado no romance de Paulo Lins, de 1997, conta um drama urbano sob a ótica de dois meninos (Buscapé e Dadinho), num período que vai do final dos anos 1960 ao início dos anos 1980. Eles fazem parte de um conjunto habitacional de Cidade de Deus, favela criada em Jacarepaguá, que se tornou um dos pontos de maior florescimento de drogas. Buscapé (brilhante interpretação de Alexandre Rodrigues), que é o alter ego de Paulo Lins, tem o sonho de ser fotógrafo e Dadinho (Douglas Silva) se torna um dos maiores traficantes do Rio de Janeiro. Dadinho depois vira Zé Pequeno (destaque para Leandro Firmino da Hora, que está magnífico), que na década de 1980 se depara com um grande rival: o Mane Galinha (Seu Jorge, também magnífico). Este quer vingar o estupro da namorada e a morte do irmão. Assim, começa a maior guerra desse mundo hostil e cruel, e será a grande chance de Buscapé realizar o seu sonho registrando tudo, através de sua câmera profissional que lhe foi presenteada.
Algumas mudanças foram feitas no livro para a transposição no cinema. Só para se ter uma idéia foram cortados 230 personagens e Buscapé, que estava apenas em sessenta páginas, no filme virou narrador. Mas foi preservada a visão intramuros de um mundo ao qual ninguém mais quer ter acesso e também o senso de humor do escritor. A trilha sonora é extraordinária, com talentos como Tim Maia, Wilson Simonal, Cartola e outros. O elenco além dos já citados, vale mencionar Matheus Nachtergaele (como Sandro Cenoura, que é uma escolha certeira, sem dúvida), Luís Otávio (Buscapé criança), Phellipe Haagensen está brilhante (como Bene, o sócio “sangue bom” do bandido), entre outros. Vale mencionar também que muitos dos meninos que fizeram parte do elenco foram escolhidos nas diversas favelas e comunidades lá do Rio, todos sem nunca terem atuado. E eles brilham cada um melhor do que o outro. Este é o segundo longa do diretor, antes ele só havia realizado DOMÉSTICAS – O FILME (2001). Ele faz um trabalho primoroso e com uma competência ímpar, só igualada a diretores consagrados e internacionais. O mérito dele tem destaque, tendo em vista as dificuldades que a equipe de filmagem enfrentou, por causa de uma guerra de quadrilhas, nas três favelas onde foi filmado: Cidade Alta, Nova Sepetiba e a Cidade de Deus.
O desempenho nas bilheterias foi impressionante, atingindo quase quatro milhões de espectadores. Um feito notável, considerando se tratar de violência urbana e sem atores muito famosos como chamariz. Os elogios de críticos e da imprensa foram enormes. O filme chegou a Cannes em 2002 e deu a volta ao mundo, recebendo vários prêmios internacionais e, para surpresa, quatro indicações ao Oscar 2004. Foi uma surpresa, uma vez que em 2003 ele foi inscrito para concorrer como Melhor Filme Estrangeiro, mas a Academia não o indicou. As indicações em 2004 foram as seguintes: Melhor Diretor (Fernando Meirelles), Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Montagem e Melhor Fotografia. Não ganhou nenhum, mas as indicações já são um prêmio, considerando as dificuldades de se atingir esse feito. Todos os adjetivos elogiosos ainda são poucos para um filme verdade e corajoso, que disseca com imparcialidade a transição da miséria ao caos.
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