Content on this page requires a newer version of Adobe Flash Player.

Get Adobe Flash player

quinta-feira, 19 de julho de 2018

DEIXE A LUZ DO SOL ENTRAR (Un Beau Soleil Intérieur) França / Bélgica, 2017 – Direção Claire Denis – elenco: Juliette Binoche, Xavier Beauvois, Philippe Katerine, Josiane Balasko, Sandrine Dumas, Nicolas Duvauchelle, Alex Descas, Laurent Grévill, Bruno Podalydès, Paul Blain, Valeria Bruni Tedeschi, Gérard Depardieu – 94 min.

Engraçado e incrivelmente perceptivo sobre as vidas e os relacionamentos muito complicados que levamos, principalmente quando envolvem membros do sexo oposto.


O novo filme de Claire Denis acompanha a história de Isabelle (Juliette Binoche), uma bem sucedida artista plástica francesa e mãe solteira de meia-idade, em busca do amor. Ela está cansada de ser tratada como um objeto sexual e de ser a mulher que os homens querem por diversão e não para ter um relacionamento sério. Uma jornada de autoconhecimento com uma das personagens mais intrigantes do cinema da atualidade. Repleto de mise en scènes, com close-ups em detalhes bastante expressivos para a cineasta, como um rosto, o movimento de uma mão e o modo de andar, e com poucas imagens externas, o filme aborda a temática da mulher em busca do verdadeiro amor com bastante sensibilidade. 

Essa artista plástica, divorciada, mãe de uma garota de 10 anos, é um poço de contradições. Ela viaja ao sabor do momento, em paixões por homens tão disparatados como um banqueiro (Xavier Beauvois), um ator (Nicolas Duvauchelle), um tipo rude (Paul Blain) e um empresário mais velho (Alex Descas) – fora um eterno caso com o ex-marido (Laurent Grévill). É o retrato de uma mulher madura; mãe, mas não definida por isso – a filha só aparece em uma cena –; profissional; sexualmente ativa desde a primeira sequência; inserida num contexto social; que é desejada e deseja; humilha e é humilhada; chora e goza; revela; mente; busca amar. Não é todo dia que uma personagem assim assume o protagonismo e nesse sentido o filme evoca excelente trabalho pouco lembrado de Claire Denis em que o querer feminino é igualmente evidenciado. 


Como se poderia esperar de uma diretora habituada à acidez, não se doura a pílula para um final feliz arrebatador, como um filme americano. O que salta à flor da pele é uma mulher entregue ao próprio desejo, por mais que ele conduza a tantas decepções. Importante é que ela não desiste de procurar. Uma sequência particularmente criativa é a final, que acompanha, em tempo real, a consulta de Isabelle a um vidente (Gérard Depardieu), que discorre sobre as chances que ela terá com cada um dos homens que naquele momento frequentam sua vida. Apoiado em diálogos sólidos e uma câmera que acompanha magnificamente o estado de sua personagem, o filme tem a beleza de explorar conscientemente a ingenuidade dos sentimentos de Isabelle sem menosprezá-los. Claire Denis, uma das mais talentosas cineastas francesas, consegue produzir uma sensação inédita no que diz respeito a um único e antigo tema: a busca pelo amor. E ela acredita na supremacia da forma sobre todo o resto.


O filme é uma sucessão de conversas permeadas por esperanças, afetos e desafetos, que caminham muitas vezes entre a trivialidade e o existencialismo.


Nenhum comentário:

Postar um comentário