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domingo, 26 de março de 2017

SILÊNCIO (Silence) EUA / Taiwan / México, 2016 – Direção Martin Scorsese – elenco: Andrew Garfield, Adam Driver, Liam Neeson, Yôsuke Kubozuka, Tadanobu Asano, Ciarán Hinds, Issei Ogata, Diego Calderón, Shin’ya Tsukamoto, Yoshi Oida – 161 min

INEGAVELMENTE BELO E UM DOS DEZ MELHORES FILMES DO ANO!!!


Um dos filmes mais profundos da carreira de Martin Scorsese. Ele provoca uma sensação que pode ser bastante familiar naqueles que meditam ou rezam, porque SILÊNCIO é o tipo de filme que você respeita a princípio, e depois acaba adorando. Ele fica com você e desperta uma conversa interna inteligente. Uma obra sobre fé, perseverança e perseguição. A trama acompanha dois padres jesuítas portugueses, Sebastião Rodrigues (Andrew Garfield) e Francisco Garupe (Adam Driver), que viajam até o Japão para investigar o paradeiro de outro padre, Ferreira (Liam Neeson), numa época em que o catolicismo foi banido do país e em que os fiéis são perseguidos brutalmente. O diretor não julga ninguém. Ele não condena nem a fraqueza do homem, nem, como poderia fazer um de seus mestres, Ingmar Bergman, a insustentável indiferença de Deus por suas criaturas. Trata-se de um trabalho impactante, com visual deslumbrante e excelentes atuações, especialmente de Andrew Garfield. Será difícil encontrar um ator que se preparou tão fortemente, tanto física quanto emocionalmente, em um só ano como ele. É interessante analisar o quanto Garfield se doa a esta personagem, nos entregando uma de suas mais surpreendentes atuações até então.
A religião sempre foi um tema muito importante pessoalmente e profissionalmente para Martin Scorsese. O cultuado diretor já deu inúmeras entrevistas revelando que pensou seriamente em ser padre na sua juventude. Suas obras, mesmo as mais violentas, geralmente contam com personagens com certa dose de religiosidade e tradição. É claro, ele também foi responsável por produções diretamente religiosas, como “A Última Tentação de Cristo” e “Kundun”. Com mais de duas horas e meia de duração, e sem nenhuma trilha sonora para aliviar a tensão, SILÊNCIO é austero, espartano e rigoroso. Com atuações esplêndidas e que exigiram muito dos atores tanto emocional quanto fisicamente, é um filme que também demanda enorme concentração e esforço por parte do público. Scorsese não toma partido. Não compromete a visão com sentimentalismo ou algum sermão desnecessário. Beleza, horror e fé estão juntos neste que é um dos filmes seminais da temporada. SILÊNCIO é sobre o não dito, sobre a força da ausência e o reconhecer de instintos maiores. Impor vontades por muito pode ter sido a solução, mas é curioso como foi olhando para trás que o diretor buscou esse exemplo de resiliência e resignação, tão apropriado para os dias de agora.


Com ambição e coragem, e ocasionalmente com grande drama, o filme aborda a crise imperial dos evangélicos cristãos com energia, seriedade e força comparáveis às de David Lean. Incrivelmente emocionante, provocador e muito impressionante Scorsese, como cineasta, atingiu o último estágio da maturidade: a do cinema que se define não apenas por seu estilo, mas também pelo modo como ele poderia, humildemente, nos ensinar a viver. Possui discussões interessantes a respeito de choques culturais, supremacia europeia e até os limites da perversidade humana. SILÊNCIO carrega consigo uma extensão política: todo império precisa expandir os limites de sua abrangência para impedir o próprio desaparecimento. Possui direção segura e corresponde plenamente à potência de suas possibilidades. Scorsese faz o seu melhor filme em duas décadas. Embora o filme seja extenso, o retrato da intolerância religiosa, situado quatro séculos atrás, cai bem para os tempos atuais. Inegavelmente belo e um dos melhores filmes do ano!!!


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