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quarta-feira, 30 de novembro de 2016

A BRUXA (The Witch: A New-England Folktale) EUA / Canadá / Inglaterra, 2015 – Direção Robert Eggers – elenco: Anya Taylor-Joy, Ralph Ineson, Kate Dickie, Harvey Scrimshaw, Ellie Grainger, Lucas Dawson, Julian Richings, Bathsheba Garnett, Sarah Stephens, Wahab Chaudhry, Axtun Henry Dube, Athan Conrad Dube, Viv Moore, Brandy Leary – 92 minutos

     UMA HISTÓRIA PERTURBADORA DE TOCAR O LADO SOMBRIO DA ALMA


Na primeira imagem de A BRUXA, a família principal é apresentada de costas. Um tribunal acusa-os de heresia, expulsando pai, mãe e cinco crianças da comunidade. Estamos em pleno século XVII, na Nova Inglaterra, onde qualquer desvio da religiosidade padrão é interpretado como grave ameaça ao funcionamento social. Ou seja, a bruxa do título pode ser tanto a figura concreta da feiticeira quanto a metáfora do elemento dissonante, perseguido pela comunidade, como se diz na expressão “caça às bruxas”. A exclusão do núcleo familiar desencadeia os eventos assustadores do filme. O diretor e roteirista estreante Robert Eggers faz um ótimo trabalho ao associar religiosidade e misticismo, cristianismo e natureza. Por um lado, esta família de moral rígida acredita nas forças malignas que vivem na floresta, por outro lado, carrega em si a culpa típica da moral cristã: se a colheita de milho não dá certo, julgam-se punidos por algum pecado; se alguém desaparece, acreditam num castigo divino etc. Um dos fatores mais interessantes da narrativa é sua plausibilidade, já que a paranoia não provém de sustos ou sombras à noite, e sim de um fator essencial, a culpabilidade que os personagens carregam consigo desde o nascimento.


A BRUXA é um manifesto político de afirmação do Feminino;  é uma alegoria uterina capaz de expressar, em sua viagem pelo pântano da fantasia, todos os traumas da submissão das mulheres. Atuações primorosas, sobretudo a de Anya Taylor-Joy, alternam espaço com um personagem para entrar na História das Trevas: Black Phillip, sobre o qual não se pode falar muito. Porém, o que mais rende solidez ao filme é a reflexão nas entrelinhas sobre a opressão das mulheres, ao longo dos séculos, caracterizada a partir de uma Nova Inglaterra (de cores lavadas) de excomunhões, paganismos e de feitiçarias do século XVII. O diretor caminha na referência de dois pensadores cinematográficos da Fé e do ardor das fêmeas – o Ingmar Bergman de A FONTE DA DONZELA (1960) e o Carl Theodor Dreyer de A PALAVRA (1955) – para fazer uma metafísica da culpa e do revanchismo.


Há inspirações nos contos dos Irmãos Grimm, como Chapeuzinho Vermelho, João e Maria, até uma Branca de Neve bem sutil. Além dos Grimm, há referências a lobisomem ou mesmo Adão e Eva e a maçã do pecado original que separou o homem das grandes verdades do conhecimento da natureza, como o mistério acerca dos animais, há de exemplo os corvos e o bode ‘Black Philip’. Outra analogia muito interessante é com os sete pecados capitais, parecendo que em determinado momento cada membro da família isolada é testado por algum dos pecados, que se volta contra eles mesmos e uns contra os outros, como uma grande crítica à fé cega amparada numa religião castradora em cima do pecado e da culpa, muito bem representado na ótima empostação vocal do patriarca interpretado por Ralph Ineson. E é neste sentido que o feminismo da personagem central da filha mais velha, pelos olhos da qual tudo se passa, começa a se fazer valer como um ponto de virada, e as suspeitas e acusações faz com que cada um mostre suas verdadeiras faces num grande pesadelo: Por esses elementos, o filme traz referências de três filmes extraordinários: AS BRUXAS DE SALEM, de Nicholas Hytner (1996), mas molda sua estrutura bebendo também de A FITA BRANCA, de Michael Haneke (2009) e O ILUMINADO, de Stanley Kubrick (1980). A BRUXA é um filme de terror menos preocupado com sustos do que com a ideia de explorar a escuridão dos indivíduos que habitam seu mundo. Durante a maior parte da projeção, o “terror” que define o gênero surge não em forma de espíritos malignos, zumbis devoradores de cérebro ou mesmo de bruxas literais, mas de dentro de seus personagens, manifestando-se na forma de estupidez, superstições e fundamentalismo religioso.UM FILME OBRIGATÓRIO, ASSUSTADOR E QUE MEXE COM O LADO SOMBRIO DA ALMA!!!!


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