PARAÍSO
(Рай /
Ray / Paradise) Rússia / Alemanha, 2016 – Direção Andrey Konchalovskiy –
elenco: Yuliya Vysotskaya, Viktor Sukhorukov, Peter Kurth, Philippe Duquesne,
Jean Denis Römer, Christian Clauss, Jakob Diehl, Thomas Darchinger, George Lenz, Irina Demidkina, Ramona
Kunze-Libnow, Caroline Piette, Vera Voronkova – 130 minutos
"Paraíso"
apresenta uma vitrine de seres humanos complexos, que foge de maniqueísmos em
relação à guerra, às vezes humaniza o opressor para tentar compreender a
relação do oprimido e assim buscar um relato muito mais sóbrio e plural. A intenção
é articular a história de três pessoas na França invadida pelos nazistas: a
condessa Olga (Yuliya Vysotskaya), presa por
abrigar judeus em sua casa, o investigador da polícia francesa colaboracionista
Jules (Philippe Duquesne) e o oficial
nazista Helmut (Christian Clauss). Cada
um relata à câmera suas histórias, seus medos, suas paixões. Quando o
diretor Andreï Konchalovsky aproxima a sua câmera do rosto de uma criancinha
desesperada após ver o pai levar um tiro na cabeça, estamos sem dúvida diante
de um cinema redentor, moral (ou moralista), que pretende retratar os horrores
da guerra ao mesmo tempo em que perdoa os “homens maus” por suas boas
intenções: Jules pretendia estuprar Olga, mas era um bom pai e funcionário
dedicado; Helmut não questiona o genocídio, porém ajuda Olga, por quem está
apaixonado. Esta compensação oferecida ao longo do filme – mas negada na
conclusão involuntariamente cômica – confessa enfim a vocação cristã que o
filme tentava evitar ao longo de toda a narrativa.
Simultaneamente, o cineasta russo
produz momentos muito bons quando mostra o funcionamento dos escritórios do
campo ou mesmo a residência de Helmut. Nessas ocasiões é que mais
experimentamos o horror do nazismo (uma prova a mais de que a
"reabertura" dos campos pelo cinema, como definiu Godard, é nociva ao
conhecimento e só serve para engordar bilheterias). Eles se alternam com
momentos estranhos, estapafúrdios. Até então podia-se acreditar que, de algum
modo, o cineasta tratava do fim do paraíso europeu, com o conflito iniciado em
1939 detonando todas as utopias. A partir desse momento pode-se pensar que
Konchalóvskiy nos fala de maneiras de entrar no paraíso mesmo, o celeste. As entrevistas, unidas das ações de cada indivíduo
expostas na tela, possibilitam que o roteiro ofereça complexidade e humanidade
aos seus protagonistas, os quais em nenhum momento se tornam unidimensionais.
O diretor mantém firme o foco no realismo das condições do campo, bem como das
escolhas das pessoas em situações extremas. O “paraíso” de seu título não
poderia ser mais grotescamente irônico: refere-se à utopia delirante dos
nazistas.
A belíssima fotografia em
preto-e-branco de Aleksandr Simonov e a eficiente - e não abusiva - trilha
musical de Sergey Shustitskiy são outros pontos positivos. Um filme absorvente
e impactante, causando uma certa perplexidade com o seu final atordoante. Foi indicado
pela Rússia ao Oscar 2017 de melhor filme estrangeiro, mas "Paraíso" ficou fora da competição. Nesta obra
devastadora, Konchalovskiy consegue retratar a desgraça abatida sobre os judeus
através de membros alemães de baixo escalão, mostrando que as injustiças
ocorridas na Alemanha Nazista vitimaram até entes periféricos da Guerra.
Não é tanto a história que torna o filme especial. É o formato que o cineasta e
roteirista russo Andrei Konchalovsky usa para contá-la. O que parece um enredo
simples pega o espectador de surpresa ao final. Um filme obrigatório e
devastador!!!!
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