A
TARTARUGA VERMELHA (La Tortue Rouge) França / Bélgica, 2016 – Direção Michael
Dudok dev Wit – Animação com as vozes de Emmanuel Garijo (o pai), Tom Hudson (o
filho adulto), Baptiste Goy (o filho criança), Axel Devillers (o filho bebê),
Barbara Beretta (a mãe) – 80 minutos
UMA
ALEGORIA EXISTENCIAL DE RARA BELEZA!!
Merecidamente indicado ao Oscar 2017 de Melhor
Animação, o filme mantém o tom poético e fabular típico das histórias trazidas
pelo estúdio Ghibli, assim como uma animação visualmente deslumbrante,
especialmente ao assumir seu lado paisagístico. Completamente sem diálogos, o
filme acompanha os esforços de um náufrago pela sobrevivência em uma ilha
deserta. Não demora muito para que este protótipo de Robinson Crusoé tente
deixar o local, construindo uma jangada. Só que, sempre que se afasta do
litoral, uma imensa tartaruga vermelha destrói a embarcação. A dinâmica
entre homem e natureza é importantíssima dentro desta narrativa silenciosa, não
apenas quando os expoentes da história se encontram. Mesmo antes é possível
notar o respeito existente por parte do náufrago, que apenas se alimenta do que
encontra e consegue colher na própria ilha. Diante desta postura, torna-se
ainda mais impactante a reação brutal vista no esperado encontro, realçada pelo
tom avermelhado que a animação assume naquele instante.
Encantando o espectador com
sua história de amor e emocionando-o com a trajetória temporal de seus amantes,
essa obra provoca lágrimas com sua doçura e com o profundo afeto que evoca.
A passagem do tempo, o poder e a indiferença da natureza e os desafios da
sobrevivência são temas belamente incorporados. Simplesmente é a animação em
movimento no seu auge. É muito mais do que uma trama ecológica qualquer.
Ele incorpora a beleza dos elementos, tanto vivos quanto minerais, com a força
das grandes narrativas mitológicas. Com traços minimalistas e um
distanciamento às vezes quase clínico dos personagens, "A Tartaruga
Vermelha" é um triunfo da animação por conta de sua beleza visual e força
narrativa. No seu ritmo poético e lírico propõe a incompletude, coloca
em cena imagens não para o agora, mas que proporcionam uma viagem por caminhos
em busca de significado. Comprova como pode ser gratificante ficar à deriva
diante de uma experiência fílmica.
Com um roteiro que à
primeira vista parece simples, o filme é uma daquelas obras que se constrói nos
detalhes e lentamente. Ela usa o que há de mais sutil e essencial na existência
humana para contar sua história. Essa aventura, emoldurada por traços
muito simples e cores vivas, além da bela música de Laurent Perez del Mar, tem
como centro a saudade de uma vida que foi deixada para trás. Extremamente
delicado e poético, brilha pela qualidade da animação, pela dinâmica do
silêncio empregada e por tão bem retratar o ciclo da vida inerente a todos.
Contemplativo sem jamais cansar, trata-se de um libelo ao amor e à natureza,
contado a partir da história de uma vida. Um estudo de silêncio, solidão e
beleza impressionante, É um retorno aos princípios. É poesia em forma de
cinema, uma alegoria existencial de rara beleza, que diz tudo que precisa sem
ter que falar absolutamente nada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário