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sábado, 8 de julho de 2017

A TARTARUGA VERMELHA (La Tortue Rouge) França / Bélgica, 2016 – Direção Michael Dudok dev Wit – Animação com as vozes de Emmanuel Garijo (o pai), Tom Hudson (o filho adulto), Baptiste Goy (o filho criança), Axel Devillers (o filho bebê), Barbara Beretta (a mãe) – 80 minutos

                           UMA ALEGORIA EXISTENCIAL DE RARA BELEZA!!


Merecidamente indicado ao Oscar 2017 de Melhor Animação, o filme mantém o tom poético e fabular típico das histórias trazidas pelo estúdio Ghibli, assim como uma animação visualmente deslumbrante, especialmente ao assumir seu lado paisagístico. Completamente sem diálogos, o filme acompanha os esforços de um náufrago pela sobrevivência em uma ilha deserta. Não demora muito para que este protótipo de Robinson Crusoé tente deixar o local, construindo uma jangada. Só que, sempre que se afasta do litoral, uma imensa tartaruga vermelha destrói a embarcação. A dinâmica entre homem e natureza é importantíssima dentro desta narrativa silenciosa, não apenas quando os expoentes da história se encontram. Mesmo antes é possível notar o respeito existente por parte do náufrago, que apenas se alimenta do que encontra e consegue colher na própria ilha. Diante desta postura, torna-se ainda mais impactante a reação brutal vista no esperado encontro, realçada pelo tom avermelhado que a animação assume naquele instante.

Encantando o espectador com sua história de amor e emocionando-o com a trajetória temporal de seus amantes, essa obra provoca lágrimas com sua doçura e com o profundo afeto que evoca. A passagem do tempo, o poder e a indiferença da natureza e os desafios da sobrevivência são temas belamente incorporados. Simplesmente é a animação em movimento no seu auge. É muito mais do que uma trama ecológica qualquer. Ele incorpora a beleza dos elementos, tanto vivos quanto minerais, com a força das grandes narrativas mitológicas. Com traços minimalistas e um distanciamento às vezes quase clínico dos personagens, "A Tartaruga Vermelha" é um triunfo da animação por conta de sua beleza visual e força narrativa. No seu ritmo poético e lírico propõe a incompletude, coloca em cena imagens não para o agora, mas que proporcionam uma viagem por caminhos em busca de significado. Comprova como pode ser gratificante ficar à deriva diante de uma experiência fílmica.


Com um roteiro que à primeira vista parece simples, o filme é uma daquelas obras que se constrói nos detalhes e lentamente. Ela usa o que há de mais sutil e essencial na existência humana para contar sua história. Essa aventura, emoldurada por traços muito simples e cores vivas, além da bela música de Laurent Perez del Mar, tem como centro a saudade de uma vida que foi deixada para trás. Extremamente delicado e poético, brilha pela qualidade da animação, pela dinâmica do silêncio empregada e por tão bem retratar o ciclo da vida inerente a todos. Contemplativo sem jamais cansar, trata-se de um libelo ao amor e à natureza, contado a partir da história de uma vida. Um estudo de silêncio, solidão e beleza impressionante, É um retorno aos princípios. É poesia em forma de cinema, uma alegoria existencial de rara beleza, que diz tudo que precisa sem ter que falar absolutamente nada.


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