PERDIDO
EM MARTE (The Martian) EUA / Inglaterra, 2015 – Direção Ridley Scott – elenco:
Matt Damon, Jessica Chastain, Kristen Wiig, Jeff Daniels, Michael Peña, Sean
Bean, Kate Mara, Chiwetel Ejiofor, Mackenzie Davis, Sebastian Stan, Donald
Glover, Benedict Wong, Aksel Hennie – 144 minutos
UM BELÍSSIMO QUESTIONAMENTO
POLÍTICO SOBRE SOLIDARIEDADE!!
Ridley Scott - o diretor de
vários clássicos como OS DUELISTAS (1977); ALIEN – O 8º PASSAGEIRO (1979);
BLADE RUNNER – O CAÇADOR DE ANDRÓIDES (1982); THELMA E LOUISE (1991); CRUZADA
(2005); O GÂNGSTER (2007), entre outros - realiza um filme emocionante, relevante e
surpreendentemente divertido, equilibrando drama e o humor de maneira soberba,
encontrando ainda tempo para apresentar uma bela seleção musical. Aqui ele volta à melhor forma em termos de
entretenimento. Sem o tour de force de GRAVIDADE
(2013) ou o papo-cabeça de INTERESTELAR (2014), PERDIDO EM MARTE é bem mais
palpável.
Baseado no romance homônimo do escritor Andy
Weir, a história começa no Planeta Vermelho, onde uma equipe de astronautas
norte-americanos, chefiada por Melissa Lewis (Jessica Chastain),
realiza um trabalho de campo. Até que uma tempestade repentina interrompe as
pesquisas e eles têm de voltar imediatamente para a base. Atingido por uma
antena, o botânico Mark Watney (Matt
Damon, em brilhante atuação) é dado
como morto e deixado para trás. Porém, sobrevive. E, até que o resgate chegue,
vai demorar um intervalo de quatro anos, e ele tem que dar um jeito de se virar
sozinho até lá. Só por não haver qualquer envolvimento romântico
clichê, o texto já merece palmas de pé. É contagiante testemunhar o esforço
criativo do astronauta, numa elegante montagem que, com grande senso de ritmo,
alterna suas aventuras, pequenas grandes conquistas e eventuais frustrações. Se
no livro o escritor consegue manter o leitor interessado pela qualidade do
texto, no filme é Matt Damon quem faz esse papel. Seu Mark Watney nunca é
reduzido à fácil figura do cowboy do espaço e suas reações diante das
dificuldades da missão soam humanas.
O filme reserva uma boa
parcela de surpresas – mais em função da própria abordagem de Scott do que pelo
enredo, que segue por caminhos fáceis de prever. A principal dessas surpresas
talvez seja o tom de leveza com que o roteirista e o diretor encaram o
material. É narrativamente eficiente (por deixar o espectador sempre ligado),
tematicamente interessante (tratando de um gênero tão delicado de forma tão
simplória) e ainda abre margem para discutir um pouco sobre os benefícios da
ciência. A diferença em relação aos outros filmes listados é a forma
bem-humorada como o protagonista lida com as adversidades. O roteiro de Drew
Goddard traduziu com qualidade a máxima que prega extrair graça da desgraça. É
uma competente aventura espacial situada num futuro próximo que também
restabelece a carreira ultimamente abalada de Matt Damon. E é o desempenho dele
que segura o filme até o final. Ele está fantástico. O ator é capaz de alternar
entre estados emocionais extremos, como euforia, depressão, esperança,
desapego, tudo de forma muito convincente. Matt Damon, sozinho durante quase
todo o filme, realiza uma de suas grandes interpretações, trazendo empatia e
humor para uma história clássica: a luta pela sobrevivência em um ambiente
hostil. Ridley Scott faz um filme de aventura que traz em sua essência um
questionamento político sobre solidariedade.
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