O CONTADOR (The Accountant)
EUA, 2016 – Direção Gavin O’Connor – elenco: Ben Affleck, Anna Kendrick, J. K.
Simmons, Jon Bernthal, Jeffrey Tambor, John Lithgow, Alison Wright, Cynthia
Addai-Robinson, Jean Smart, Andy Umberger, Jason Davis, Robert C. Treveiler,
Mary Kraft, Seth Lee, Jake Presley – 125 minutos
CALCULE
SUAS ESCOLHAS
Está entre os melhores trabalhos
de Ben Affleck como ator. "O Contador" dá conta de tudo e, no limite,
é o que o diferencia de outros thrillers aparentemente mais focados, mas que,
na realidade, são só mais calcados num conceito de ação e reação para que a
história ande. O início do filme logo
apresenta ao espectador uma criança autista, que enfrenta dificuldades com
ruídos altos e sensibilidade aguçada. Por mais que seus pais recebam a oferta
de enviá-lo a uma escola especial, eles optam por mantê-lo em casa sob a
justificativa de que "o mundo não é um lugar sensorial amistoso, logo ele
precisa aprender a lidar com isto". Dá certo. O menino cresce, torna-se
Ben Affleck e se estabelece como um excelente contador, tanto que logo é
requisitado para trabalhar com algumas das maiores organizações criminosas do
mundo. Tal contraste move boa parte da narrativa, ao menos na
primeira metade do filme, de forma a estabelecer no espectador a dúvida sobre
como aquele garoto repleto de problemas se tornou este homem. Só que há mais
detalhes: Christian Wolff é um exímio atirador, capaz de acertar o alvo a uma
distância de 1,5 km, e também especialista em lutas - e, assim como Murdoch,
possui questões familiares mal resolvidas e um certo questionamento ético sobre
os métodos por ele adotados. A loucura transborda em
"O Contador" em um suspense repleto de ação, um filme intenso,
intrincado e com humor negro que nem sempre faz sentido, mas quem se importa? É
muito divertido.
Ainda que peque por alguns
excessos e repetições, Gavin O’Connor faz uma direção segura, com uma atmosfera
setentista e de mistério. E, de quebra, retoma um tema que lhe é muito caro:
como as relações familiares se dão em meio à violência. A construção do
ambiente é empolgante. A premissa é interessante e peculiar. A ação prende
muito a atenção. O personagem principal impõe aos poucos a aura de um ser
complexo, perfeito para a atividade que desempenha. E Ben Affleck está muito
bem. “O Contador” não é nada senão um enigma - não exatamente um
quebra-cabeça mas um filme que provoca o cérebro em três dimensões e que fica
mais profundo e estranho a cada reviravolta. Existem certos filmes que
podem ser considerados esquizofrênicos. São filmes com problemas de
personalidade, que não sabem muito bem o que são ou desejam ser. Este “O
Contador”, apesar dos muitos elogios acima, recai exatamente no quesito, não se
decidindo se será um thriller, um filme de ação, uma comédia. Mas encaixa bem
como um meio estudo de personagem e meio romance non-sense de aeroporto. Muitos gêneros num só roteiro ameaçam
desandar uma trama de arrancada provocante.
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