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sexta-feira, 9 de junho de 2017

O CONTADOR (The Accountant) EUA, 2016 – Direção Gavin O’Connor – elenco: Ben Affleck, Anna Kendrick, J. K. Simmons, Jon Bernthal, Jeffrey Tambor, John Lithgow, Alison Wright, Cynthia Addai-Robinson, Jean Smart, Andy Umberger, Jason Davis, Robert C. Treveiler, Mary Kraft, Seth Lee, Jake Presley – 125 minutos

                                        CALCULE SUAS ESCOLHAS 

Está entre os melhores trabalhos de Ben Affleck como ator. "O Contador" dá conta de tudo e, no limite, é o que o diferencia de outros thrillers aparentemente mais focados, mas que, na realidade, são só mais calcados num conceito de ação e reação para que a história ande. O início do filme logo apresenta ao espectador uma criança autista, que enfrenta dificuldades com ruídos altos e sensibilidade aguçada. Por mais que seus pais recebam a oferta de enviá-lo a uma escola especial, eles optam por mantê-lo em casa sob a justificativa de que "o mundo não é um lugar sensorial amistoso, logo ele precisa aprender a lidar com isto". Dá certo. O menino cresce, torna-se Ben Affleck e se estabelece como um excelente contador, tanto que logo é requisitado para trabalhar com algumas das maiores organizações criminosas do mundo. Tal contraste move boa parte da narrativa, ao menos na primeira metade do filme, de forma a estabelecer no espectador a dúvida sobre como aquele garoto repleto de problemas se tornou este homem. Só que há mais detalhes: Christian Wolff é um exímio atirador, capaz de acertar o alvo a uma distância de 1,5 km, e também especialista em lutas - e, assim como Murdoch, possui questões familiares mal resolvidas e um certo questionamento ético sobre os métodos por ele adotados. A loucura transborda em "O Contador" em um suspense repleto de ação, um filme intenso, intrincado e com humor negro que nem sempre faz sentido, mas quem se importa? É muito divertido.

Ainda que peque por alguns excessos e repetições, Gavin O’Connor faz uma direção segura, com uma atmosfera setentista e de mistério. E, de quebra, retoma um tema que lhe é muito caro: como as relações familiares se dão em meio à violência. A construção do ambiente é empolgante. A premissa é interessante e peculiar. A ação prende muito a atenção. O personagem principal impõe aos poucos a aura de um ser complexo, perfeito para a atividade que desempenha. E Ben Affleck está muito bem. “O Contador” não é nada senão um enigma - não exatamente um quebra-cabeça mas um filme que provoca o cérebro em três dimensões e que fica mais profundo e estranho a cada reviravolta. Existem certos filmes que podem ser considerados esquizofrênicos. São filmes com problemas de personalidade, que não sabem muito bem o que são ou desejam ser. Este “O Contador”, apesar dos muitos elogios acima, recai exatamente no quesito, não se decidindo se será um thriller, um filme de ação, uma comédia. Mas encaixa bem como um meio estudo de personagem e meio romance non-sense de aeroporto.  Muitos gêneros num só roteiro ameaçam desandar uma trama de arrancada provocante. 


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