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quarta-feira, 7 de junho de 2017

CORRA (Get Out) EUA, 2017 – Direção Jordan Peele – elenco: Daniel Kaluuya, Allison Williams, Catherine Keener, Bradley Whitford, Caleb Landry Jones, Marcus Henderson, Betty Gabriel, Lakeith Stanfield, Stephen Root, LilRel Lowery, Ashley LeConte Campbell, John Wilmot – 104 minutos

    NEM SEMPRE QUE SE É CONVIDADO, SIGNIFICA QUE SE É BEM-VINDO!!
O filme traz uma crítica feroz ao liberalismo branco que se considera empático em relação aos negros, mas com a condição que isso não prejudique o controle dos brancos. O diretor não se dirige a neonazistas nem pessoas que xingariam negros. Essa seria uma causa perdida. Ele realiza a proeza de nos surpreender continuamente com risadas e sustos. Mas não é pelos sustos e pelas reviravoltas que CORRA! marca uma posição tão significativa dentro do cinema norte-americano atual, mas graças ao desmantelamento que o diretor inteligentemente faz. Este é um filme muito assustador, muito divertido e tão impiedoso quanto um bisturi cirúrgico. É uma sátira e é também um exercício magistral de tensão, que não tem medo de revelar uma violência brutal, mas sempre sabe a hora certa de quebrar a ansiedade e o terror com uma piada perfeitamente executada. Criativo, repugnante, ácido, tecnicamente bom, engajante e dolorosamente real. "CORRA!” têm pitadas de drama, terror psicológico, horror e até humor. É muito eficaz na mensagem sem nunca ser engolido por ela. O elenco é muito bem escalado, com destaque especial para o britânico Daniel Kaluuya, que alterna com destreza os intensos momentos pelos quais o protagonista passa (o que inclui os de sofrimento sem igual). Pode-se dizer que é uma trama instigante e bem amarrada que acerta nas doses de suspense e terror, utilizando diálogos inteligentes para criticar a hipocrisia de uma sociedade que não aceita negros, apesar de vender a ideia de que o preconceito racial não é mais uma realidade. É um comentário subversivo e frequentemente hilário sobre etnia e raça.

O filme simples e enxuto não apresenta uma novidade no gênero terror, a cartilha hollywoodiana é seguida à risca, mas por usar o racismo como pano de fundo, acaba criando uma obra única. A estrela do filme é seu diretor e roteirista, o novato Jordan Peele, que criou um trabalho que aborda todos os níveis de racismo, homenageia alguns grandes filmes de terror, cria seu próprio caminho e tem um estilo visual singular. O cineasta realizou um terror muito sagaz, capaz não apenas de assustar, como, especialmente, incomodar – e isso tem mais a ver com a questão social que aborda do que com os sustos que provoca. Há uma construção extremamente eficiente do terror e da tensão narrativa, há um humor ácido, incômodo, mas totalmente funcional e por fim a crítica que permanece na experiência pós-filme vem à tona. O principal destaque do filme, mesmo que se engrandeça pelo passado, é sua contemporaneidade. É como um alerta, um estalo, como já se falou anteriormente, e nem por isso precisa de um discurso combatente; o filme não é denso para ser um manifesto. Perturbadora e hilária, esta fábula faz o que todos os grandes filmes de terror deveriam fazer: transformar ansiedades da vida real em material para pesadelos. Misturando uma sagaz sátira racial com terror para atingir um efeito potente, esta bombástica crítica social prova não ter medo de nada - o que não quer dizer que não dá medo. O que se anuncia como um debate padrão sobre o racismo, se revela uma concepção muito mais engenhosa em relação à raça negra. Não dá para perder.


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