UM HOMEM CHAMADO OVE (En Man
Som Heter Ove) Suécia, 2016 – Direção Hannes Holm – elenco: Rolf Lassgard,
Bahar Pars, Filip Berg, Ida Engvoll, Tobias Almborg, Klas Wiljergard, Chatarina
Larsson, Börje Lundberg, Stefan Gödicke, Johan Widerberg, Anna-Lena Brundin, Nelly
Jamarani, Zozan Akgün, Viktor Baagoe, Simon Edenroth, Lasse Carlsson – 116
minutos
UMA BELA FÁBULA EM MEIO A
UMA SUÉCIA MULTIRRACIAL!!
"Um
Homem Chamado Ove" apresenta temas tocantes e simples em meio a uma Suécia
multirracial, aberta aos imigrantes e às novas culturas, e ajuda o espectador a
relembrar que a gentileza, o amor e a felicidade podem ser encontrados nos
lugares mais inesperados. Embora a trilha sonora sobrecarregue os momentos
tristes, o diretor desenvolve uma comicidade que evita da história cair num
melodrama. A indicação ao Oscar 2017 de Melhor Filme Estrangeiro indica um
certo apreço da Academia por filmes com cargas sentimentais altas. A trama bem
alinhada com um humor sarcástico torna o filme uma obra memorável, ao contar a
história de Ove (Rolf
Lassgard), um sujeito ranzinza que passa os seus dias xingando os
vizinhos, maltratando os colegas de trabalho, importunando os amigos de
antigamente. Ele odeia a tudo e todos. Mesmo assim, as pessoas ao redor são
sistematicamente gentis com ele: o novo casal que mora em frente sorri diante
dos seus gritos; um adolescente o convida para almoçar depois de ser xingado
por ele; uma vizinha idosa elogia seus conhecimentos depois de ser enxotada da
porta de sua casa.
Esta pequena obra revela-se uma bela e nostálgica fábula. Nenhum personagem é
realista: ou temos seres execráveis, ou amigáveis em excesso, ou são heróis de
grande coração (a vizinha grávida), ou vilões dignos de desenhos infantis (o
funcionário da prefeitura). A intenção é mostrar que o protagonista, um homem
originalmente correto e amigável, se tornou um sujeito amargo após uma série de
tragédias em sua vida. Mas qualquer um, mesmo Ove, pode voltar a ser feliz. A narrativa é movida essencialmente por nascimentos e mortes. O
pequeno vilarejo onde se passa a maior parte da história é filmado com os tons
constantemente ensolarados de um cenário artificial, enquanto a música
(fanfarra nas horas engraçadas, as cordas de uma orquestra nas horas tristes)
se encarrega de duplicar o sentido de cada cena. A proposta de uma Suécia
multirracial, aberta aos imigrantes e às novas culturas, merece um grande
destaque. Lassgard está ótimo no papel de Ove, conseguindo tornar os momentos
mais desesperadores um tanto burlescos. A direção é impecável e competente,
embora tenha optado pelo otimismo excessivo na estética e no discurso.
Desde Ingmar Bergman (1918-2007) associados a
um cinema pesado, densamente reflexivo e filosófico, a comédia de Holm é um
sopro de vitalidade à visão sobre o cinema produzido naquela região e apresenta
novas possibilidades àqueles realizadores. O cineasta Hannes Holm usa toda a
delicadeza do mundo para mesclar passado e presente e fazer aflorar a ternura
escondida embaixo da rígida carapaça do filme. Há uma cena em que Ove chora sem
conseguir parar perante a magnitude de sua solidão e talvez traga lágrimas aos
olhos de quem já sofreu uma perda. De todo modo, a narrativa se nutre da
inusitada amizade entre Ove e Parveneh, que de quebra dá um toque sutil sobre
as possibilidades de trocas entre culturas diferentes. "Um Homem Chamado
Ove" nada mais é do que um filme cordial que aborda um tema muito comum,
utilizando-se de recursos simples mas que funciona perfeitamente. De certa
forma, é o tipo do filme-mensagem para aquela parte do público que gosta de um
conforto cinematográfico. Vale ressaltar, mais uma vez, que o filme propõe uma
abertura a imigrantes e às novas culturas na Suécia. Isso é um grande triunfo!!
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