CINEMA NOVO – Brasil, 2016 – Direção Eryk Rocha – documentário –
Depoimentos de Nelson Pereira dos Santos, Cacá Diegues, Joaquim Pedro de
Andrade, Glauber Rocha, Leon Hirszman, Ruy Guerra – 90 minutos
O CINEMA NOVO A PARTIR DO PRÓPRIO CINEMA NOVO
Uma
ótima oportunidade para se conhecer a história do Cinema Novo, movimento
nacional e cultural cinematográfico que revolucionou toda uma geração de
cineastas inovadores. O Cinema Novo foi um grande movimento cinematográfico
brasileiro, influenciado pelo Neorrealismo Italiano e a Nouvelle Vague
francesa, com reputação internacional. É um panorama exato de um cinema
engajado, que confrontou o público com os espaços abertos, a luz natural e as
imagens catárticas, urgentes e, ocasionalmente, messiânicas de um Brasil real e
repleto de geografias contrastantes. O documentário
de Eryk Rocha brilha ao mostrar o porquê do esvaziamento desse movimento, a
partir do golpe militar. Chega a ser de uma ironia cínica o fato de, no mesmo
ano em que o golpe tenha ocorrido, dois filmes nacionais terem sido
selecionados para a mostra competitiva do Festival de Cannes – “Deus e o Diabo na Terra do Sol” e “Vidas
Secas” -, outro para
a Semana da Crítica (“Ganga Zumba”) e mais um para o Festival de Berlim (“Os
Fuzis”). Foi ao mesmo tempo o ápice do movimento e também o início de seu
esvaziamento, graças ao boicote interno promovido pelo governo de forma a
separar (ou ao menos dificultar) o trabalho daquele grupo de cineastas tão
unido e participativo.
Com
as pontas amarradas em uma rima elegante que traz uma montagem com vários
personagens de diversos filmes correndo em diversas cenas, este excelente
documentário parece estar ressaltando para o espectador como o país e seu
Cinema seguem disparados mesmo diante de todos os problemas. E com tantos
momentos históricos na década de 1960, como o golpe e o miolo da revolta
artística, os diretores se esforçaram em trazer arte e vida ao período. Como
disse o crítico e cineasta Eric Rohmer “Todo filme é um documento de sua
época”, o que casa perfeitamente bem com a motivação dos cineastas. Para
aqueles que não estavam lá na época do Cinema Novo para ter a experiência por
si próprios, "Cinema Novo" é o filme certo. Todos os registros sobre
importantes capítulos da história do cinema poderiam ser evocativos como esse
filme. Um belo documentário poético com edição caprichada e que não deixa de
ser "um filme do cinema novo" brasileiro. O aspecto utópico,
“militante” e “revolucionário” talvez colaborasse para que o povo não quisesse
se ver de modo conflituado na tela, resultando mais no pessimismo.
O uso de cenas de filmes e entrevistas de época lhe traz uma
riqueza impressionante, não apenas pelo aspecto técnico mas pela própria
realidade retratada. Eryk
Rocha resolveu fazer algo diferente, mostrar o que foi o Cinema Novo a partir
do próprio Cinema Novo. A partir dos seus filmes constrói um relato denso e
poético se valendo da memória cinematográfica de quem os assiste. Os trechos
das obras, muito bem editadas nos enxutos 90 minutos de projeção, não são
identificados com legendas e deixam o público livre para uma experiência quase
sensorial e impactante. Montador e diretor, trabalhando em parceria, buscaram,
mais do que uma organização temporal ou didática, dar um sentido à escolha de
cenas entre 500 horas de material, incluindo os filmes dessa geração iluminada.
Por todos estes motivos, “Cinema Novo” é um belo filme que não só explica o que foi
o movimento, como lhe dá corpo, voz e coração.
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