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quinta-feira, 17 de agosto de 2017

CINEMA NOVO – Brasil, 2016 – Direção Eryk Rocha – documentário – Depoimentos de Nelson Pereira dos Santos, Cacá Diegues, Joaquim Pedro de Andrade, Glauber Rocha, Leon Hirszman, Ruy Guerra – 90 minutos

                   O CINEMA NOVO A PARTIR DO PRÓPRIO CINEMA NOVO

Uma ótima oportunidade para se conhecer a história do Cinema Novo, movimento nacional e cultural cinematográfico que revolucionou toda uma geração de cineastas inovadores. O Cinema Novo foi um grande movimento cinematográfico brasileiro, influenciado pelo Neorrealismo Italiano e a Nouvelle Vague francesa, com reputação internacional. É um panorama exato de um cinema engajado, que confrontou o público com os espaços abertos, a luz natural e as imagens catárticas, urgentes e, ocasionalmente, messiânicas de um Brasil real e repleto de geografias contrastantes. O documentário de Eryk Rocha brilha ao mostrar o porquê do esvaziamento desse movimento, a partir do golpe militar. Chega a ser de uma ironia cínica o fato de, no mesmo ano em que o golpe tenha ocorrido, dois filmes nacionais terem sido selecionados para a mostra competitiva do Festival de Cannes – “Deus e o Diabo na Terra do Sol” e “Vidas Secas” -, outro para a Semana da Crítica (“Ganga Zumba”) e mais um para o Festival de Berlim (“Os Fuzis”). Foi ao mesmo tempo o ápice do movimento e também o início de seu esvaziamento, graças ao boicote interno promovido pelo governo de forma a separar (ou ao menos dificultar) o trabalho daquele grupo de cineastas tão unido e participativo.


Com as pontas amarradas em uma rima elegante que traz uma montagem com vários personagens de diversos filmes correndo em diversas cenas, este excelente documentário parece estar ressaltando para o espectador como o país e seu Cinema seguem disparados mesmo diante de todos os problemas. E com tantos momentos históricos na década de 1960, como o golpe e o miolo da revolta artística, os diretores se esforçaram em trazer arte e vida ao período. Como disse o crítico e cineasta Eric Rohmer “Todo filme é um documento de sua época”, o que casa perfeitamente bem com a motivação dos cineastas. Para aqueles que não estavam lá na época do Cinema Novo para ter a experiência por si próprios, "Cinema Novo" é o filme certo. Todos os registros sobre importantes capítulos da história do cinema poderiam ser evocativos como esse filme. Um belo documentário poético com edição caprichada e que não deixa de ser "um filme do cinema novo" brasileiro. O aspecto utópico, “militante” e “revolucionário” talvez colaborasse para que o povo não quisesse se ver de modo conflituado na tela, resultando mais no pessimismo.

O uso de cenas de filmes e entrevistas de época lhe traz uma riqueza impressionante, não apenas pelo aspecto técnico mas pela própria realidade retratada. Eryk Rocha resolveu fazer algo diferente, mostrar o que foi o Cinema Novo a partir do próprio Cinema Novo. A partir dos seus filmes constrói um relato denso e poético se valendo da memória cinematográfica de quem os assiste. Os trechos das obras, muito bem editadas nos enxutos 90 minutos de projeção, não são identificados com legendas e deixam o público livre para uma experiência quase sensorial e impactante. Montador e diretor, trabalhando em parceria, buscaram, mais do que uma organização temporal ou didática, dar um sentido à escolha de cenas entre 500 horas de material, incluindo os filmes dessa geração iluminada. Por todos estes motivos, “Cinema Novo” é um belo filme que não só explica o que foi o movimento, como lhe dá corpo, voz e coração.



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