OS
MENINOS QUE ENGANAVAM NAZISTAS (Un Sac de Billes) França / Canadá / República
Tcheca, 2017 – Direção Christian Duguay – elenco: Dorian Le Clech, Batyste
Fleurial, Patrick Bruel, Elsa Zylbersrein, Bernard Campan, Kev Adams, Christian
Clavier, César Domboy, Ilian Bergala, Emile Berling, Jocelyne Desverchère,
Coline Leclère, Holger Daemgen – 100 minutos
DURANTE
O PERÍODO DE OCUPAÇÃO NAZISTA NA FRANÇA...
Com um
enredo encantador, é um filme sensível e modesto – prova disso é o plano aberto
do trem à noite. Comovente em
diversos momentos e com um enredo fascinante, é uma belíssima jornada de
amadurecimento. Baseado no livro autobiográfico de Joseph Joffo lançado em 1973, “Os Meninos Que Enganavam Nazistas”
(no original, Un Sac de Billes
ou Um Saco de Bolinhas de Gude,
brinquedo que assumirá o símbolo de resistência da criança judia) mostra a Segunda Guerra Mundial pelos
olhos de dois irmãos que precisam ir de Paris até a Zona Livre da França, onde
deveriam encontrar-se com seus pais e irmãos mais velhos. Dirigido por Christian Duguay, o filme
traz claras referências à primeira adaptação desta história para o cinema, em
1975, mas em outros aspectos, flerta com a visão que o diretor Louis Malle
trouxe para a França ocupada em “Adeus, Meninos” (1987), tendo, igualmente, a
perspectiva de crianças judias sobre o conflito. O caráter de road movie bélico e a
inevitável dualidade desse olhar infantil — mesmo diante do momento
histórico há oportunas e excelentes cenas de humor — tornam os personagens
muito cativantes e próximos de nós, de modo que é impossível não se apegar à
história e não se emocionar quando os irmãos ou família sofrem e são separados
mais outra vez.
Há dois eixos
condutores no filme: de um lado, o afeto entre os dois irmãos e, de outro, a
guerra e suas consequências. Jo e Maurice nutrem com pureza ímpar o amor
fraterno: brincam e tiram sarro um do outro, mas também se protegem mutuamente
no momento mais difícil de suas vidas. São crianças, agem como crianças,
desconhecendo algumas expressões adultas e demonstrando bastante inocência (o
caçula em especial) em diversos momentos – Jo, por exemplo, trata um
desconhecido com simpatia, ignorando o período hostil. Entretanto, os dois
precisam amadurecer rapidamente: é uma necessidade que a guerra trouxe. É
justamente a proteção mútua que permite que amadureçam, algo que apenas uma
narrativa tão rica poderia contar. Consciente, o diretor não tem a
pretensão de inovar, apenas contenta-se em executar de maneira correta a
transposição da saga dos Joffo para o cinema em forma de aventura infantil que
substitui os perigos da natureza selvagem pelos alemães. Os nazistas,
introduzidos desde o início como antagonistas, são em geral hostis – em
oposição aos amigáveis fascistas italianos –, mas seus notórios atos cruéis
mal chegam à tela. A opção é pela suavização e simplificadora personificação do
mal num vilão caricato, oficial desconfiado e impiedoso interpretado por Holger
Daemgen.
Algumas
cenas são tensas e emocionantes. Quando o pai é obrigado a bater em Joseph para
ele "esquecer" que é judeu, para protegê-lo, Patrick Bruel revela-se
inesperadamente comovente como figura paterna. Com um roteiro bem amarrado que
permite a fluidez narrativa, apesar de conter alguns momentos de
superficialidade, é uma obra que prima por sua direção de arte, fotografia,
montagem e figurino. O diretor sabe da força do material e não exagera no
sentimentalismo – embora a trilha sonora seja quase onipresente e excessiva – e
confia especialmente no olhar infantil diante das atrocidades. As lembranças
são embaladas por perigosas aventuras e suspense, e por certa leveza por causa
da atuação dos ótimos atores mirins. O peso da guerra e a caça aos judeus,
porém, perseguem os protagonistas como um fantasma sempre à espreita. Com muita
ternura e humor o registro da epopeia dos irmãos e de sua família por esse
período conturbado faz uma bela reflexão sobre os horrores da guerra ao colocar
a narrativa sob o olhar de uma criança. É um filme importante para termos outras visões
sobre um dos momentos mais importantes da história do mundo.
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