TEMPESTADE
DE AREIA (Sufat Chol / Sand Storm) Israel / Alemanha, 2016 – Direção Elite
Zexer – elenco: Lamis Ammar, Ruba Blal, Hitham Omari, Khadija Al Akel, Jalal
Masrwa, Shaden Kanboura, Omar El Nasasreh – 87 minutos
UM FILME SOBRE O CONFRONTO
ENTRE VONTADES INDIVIDUAIS E REGRAS TRIBAIS
Aclamado como o grande filme estrangeiro no
Festival de Sundance 2016, “Tempestade de Areia” é um interessante mosaico
etnográfico sobre culturas rígidas no sul de uma Israel beduína menos
cosmopolita ou menos evoluída do que a imagem que se tem para o resto do mundo.
Toda família já deve ter
atravessado algum momento em que a moral aplicada à sociedade não vale para as
regras domésticas: são aqueles casos nos quais tal atitude pode ser tolerada no
bairro, “mas não com a minha filha”, e tal prática sexual é desejada, “mas
jamais com a minha esposa”. E esse filme israelense sobre uma comunidade árabe,
trata deste tipo de flexibilidade hipócrita das regras morais. Ele leva-nos a uma
tribo de beduínos muçulmanos no sul de Israel para contar a história de Jalila,
que prepara o casamento do marido com uma segunda mulher muito mais nova que
ela, enquanto descobre o envolvimento da filha mais velha, Layla, com um colega
de Universidade, uma relação que a família não aceitaria. “Tempestade de Areia” foi selecionado para
representar Israel na competição pelo Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em
2017. A diretora Elite Zexer levou vários anos a concluir a premissa da obra,
empenhada em transmitir com fidelidade uma cultura diferente da sua.
As personagens do filme não se dividem em maus e
bons. É um filme sobre as mulheres e as condições em que vivem, em particular
numa comunidade de tradições patriarcais, como a beduína. Segundo a diretora,
“a história mostra-nos uma fase decisiva da passagem de Layla (a personagem
principal) à maturidade. Depois de ter crescido como uma menina que é muito
próxima do pai, Layla descobre que afinal o pai não vai poder ajudá-la em tudo,
que o pai está confrontado a limitações, que se não for ela a lutar pelo que
quer não vai aparecer um pai milagroso para resolver os problemas”. As imagens do
filme justificam o título “Tempestade de Areia” não apenas como metáfora para a
puberdade e a rebeldia dos jovens contra as gerações anteriores em um típico
rito de passagem, mas também significa que o imenso deserto bege e opressor,
cuja areia cobre tudo e todos, e entra em todas as frestas, são a mesma coisa
que o fardo cultural imposto ali. É uma obra de profunda reflexão e análise
interior levando o espectador a um mergulho no âmago dos seus próprios
questionamentos. Quando
a subversão das regras aparece como única possibilidade de felicidade, toda
decisão se transforma num dilema moral.
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