VERÃO
1993 (Estiu 1993) Espanha, 2017 – Direção Carla Simón – elenco: Laia Artigas, Paula
Robles, David Verdaguer, Bruna Cusí, Fermí Reixach, Montse Sanz, Isabel
Rocatti, Berta Pipó, Etna Campillo, Paula Blanco, Quimet Pla – 97 minutos
UM
FILME BELO QUE ENTRA NO ENIGMA DO UNIVERSO INFANTIL COM HABILIDADE E DELICADEZA
O primeiro filme da cineasta espanhola Carla Simón é delicado e
emocionante, sobre infância, ausência e família, e tem causado sensação por
onde passa, ao levar, por exemplo, os prêmios para “melhor primeiro filme” na
Berlinale, na Alemanha, ou no Golden Biznaga em Málaga. O filme evoca um ano determinado e de início pode parecer
uma pastoral por seu bucolismo. Mas nada tem de datado e muito menos de lírico.
“Verão 1993”, trata de tema bem mais árduo – um difícil processo de adaptação,
ainda que em aparência bastante favorável. É
uma crônica da orfandade, da dureza da infância, de um processo de crescimento
que foi acelerado drasticamente por um corte abrupto e também das etapas de
assimilação de uma nova vida, tanto por parte de Frida quanto de seus novos
guardiães e mesmo da pequena Ana, que deixa de ser filha única.
Um dos grandes acertos da
diretora é manter o ponto de vista nas crianças. Frida é a protagonista e,
portanto, estamos sempre com ela, enxergando aquela situação sob sua ótica.
Quando vemos seus pais adotivos discutirem sobre ela, por exemplo, estamos
cientes disso por ela estar escutando a conversa. Tudo que passa pelas nossas
vistas foi observado pela expressiva atriz mirim Laia Artigas, nos colocando em
seu lugar de forma ímpar. De modo muito singelo, Simón não passa a mão na
cabeça da menina (ou dela mesma, já que estamos vendo uma dramatização de sua
vida). Portanto, acompanhamos Frida sendo malcriada, invejosa e indecisa sobre
o que realmente deseja em sua nova vida. Da mesma forma, a cineasta não desenha
seus pais adotivos como pessoas detestáveis. Muito pelo contrário. O que Marga
vive, por exemplo, é muito identificável. Uma mulher que é colocada em uma
situação para a qual não estava preparada, tentando fazer o melhor possível
para criar uma criança que se apresenta como um verdadeiro desafio. O fato de
Esteve não ajudar muito no quesito disciplina a incomoda profundamente. Algo
que terá de superar ou resolver junto do marido.
Indicado ao Oscar 2018
na categoria Melhor Filme Estrangeiro pela Espanha, “Verão 1993”, com elogiadas
passagens no já citado Festival de Berlim e no Festival do Rio, é um filme que
fala sobre a visão do luto pelos olhos de uma criança que não consegue se
sentir aceita. Muito bem dirigido, o filme, com um ritmo bastante lento, navega
no campo do descobrimento sobre as coisas no olhar detalhista da jovem
protagonista. O maior trunfo de “Verão 1993” é a
impressão de intimidade e realismo. A câmera consegue estar muito perto dos
personagens e parecer ao mesmo tempo invisível, como se não interviesse naquele
meio. A belíssima fotografia, com seus enquadramentos móveis e luzes naturais,
faz o espectador se sentir como um novo membro da família, acompanhando
atentivamente as metáforas mais simples. A atenção aos detalhes é primorosa: as
cenas singelas de goteiras pingando, de couves colhidas na horta e do encontro
com a joaninha funcionam para construir os personagens, explicar sua
personalidade e seus conflitos internos. Uma obra-prima sensível e bela!!
Obrigatório
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