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quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

VERÃO 1993 (Estiu 1993) Espanha, 2017 – Direção Carla Simón – elenco: Laia Artigas, Paula Robles, David Verdaguer, Bruna Cusí, Fermí Reixach, Montse Sanz, Isabel Rocatti, Berta Pipó, Etna Campillo, Paula Blanco, Quimet Pla – 97 minutos

UM FILME BELO QUE ENTRA NO ENIGMA DO UNIVERSO INFANTIL COM HABILIDADE E DELICADEZA


O primeiro filme da cineasta espanhola Carla Simón é delicado e emocionante, sobre infância, ausência e família, e tem causado sensação por onde passa, ao levar, por exemplo, os prêmios para “melhor primeiro filme” na Berlinale, na Alemanha, ou no Golden Biznaga em Málaga. O filme evoca um ano determinado e de início pode parecer uma pastoral por seu bucolismo. Mas nada tem de datado e muito menos de lírico. “Verão 1993”, trata de tema bem mais árduo – um difícil processo de adaptação, ainda que em aparência bastante favorável. É uma crônica da orfandade, da dureza da infância, de um processo de crescimento que foi acelerado drasticamente por um corte abrupto e também das etapas de assimilação de uma nova vida, tanto por parte de Frida quanto de seus novos guardiães e mesmo da pequena Ana, que deixa de ser filha única.


Um dos grandes acertos da diretora é manter o ponto de vista nas crianças. Frida é a protagonista e, portanto, estamos sempre com ela, enxergando aquela situação sob sua ótica. Quando vemos seus pais adotivos discutirem sobre ela, por exemplo, estamos cientes disso por ela estar escutando a conversa. Tudo que passa pelas nossas vistas foi observado pela expressiva atriz mirim Laia Artigas, nos colocando em seu lugar de forma ímpar. De modo muito singelo, Simón não passa a mão na cabeça da menina (ou dela mesma, já que estamos vendo uma dramatização de sua vida). Portanto, acompanhamos Frida sendo malcriada, invejosa e indecisa sobre o que realmente deseja em sua nova vida. Da mesma forma, a cineasta não desenha seus pais adotivos como pessoas detestáveis. Muito pelo contrário. O que Marga vive, por exemplo, é muito identificável. Uma mulher que é colocada em uma situação para a qual não estava preparada, tentando fazer o melhor possível para criar uma criança que se apresenta como um verdadeiro desafio. O fato de Esteve não ajudar muito no quesito disciplina a incomoda profundamente. Algo que terá de superar ou resolver junto do marido.


Indicado ao Oscar 2018 na categoria Melhor Filme Estrangeiro pela Espanha, “Verão 1993”, com elogiadas passagens no já citado Festival de Berlim e no Festival do Rio, é um filme que fala sobre a visão do luto pelos olhos de uma criança que não consegue se sentir aceita. Muito bem dirigido, o filme, com um ritmo bastante lento, navega no campo do descobrimento sobre as coisas no olhar detalhista da jovem protagonista. O maior trunfo de “Verão 1993” é a impressão de intimidade e realismo. A câmera consegue estar muito perto dos personagens e parecer ao mesmo tempo invisível, como se não interviesse naquele meio. A belíssima fotografia, com seus enquadramentos móveis e luzes naturais, faz o espectador se sentir como um novo membro da família, acompanhando atentivamente as metáforas mais simples. A atenção aos detalhes é primorosa: as cenas singelas de goteiras pingando, de couves colhidas na horta e do encontro com a joaninha funcionam para construir os personagens, explicar sua personalidade e seus conflitos internos. Uma obra-prima sensível e bela!! Obrigatório 

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