BLADE
RUNNER 2049 (Blade Runner 2049) EUA / Inglaterra / Canadá, 2017 – Direção Denis
Villeneuve – elenco: Ryan Gosling, Harrison Ford, Jared Leto, Robin Wright, Ana
de Armas, Dave Bautista, Wood Harris, Mark Arnold, David Dastmalchian, Tómas
Lemarquis, Sylvia Hoeks, Edward James Olmos, Hiam Abbass, Mackenzie Davis,
Vilma Szécsi, Lennie James, Sean Young – 164 minutos
Visualmente deslumbrante, encontra beleza até mesmo na decadência de seu
mundo
Este novo grande filme ultrapassa
toda as expectativas, graças à inteligência com que o diretor apropria-se do
projeto, com uma ousadia que desmente quem até agora o considerava somente um
esteta. Ryan Gosling interpreta o agente K. Ele
é um Blade Runner,
oficial designado a encontrar e eliminar replicantes infratores, ou seja, seres
artificiais que não possuem autorização para fazer ou viver da forma que estão.
Logo na cena de abertura, o oficial irá confrontar o personagem do
grandalhão Dave
Bautista. Nesta única cena em que aparece, Bautista será
essencial e dará o primeiro passo do grande enigma a ser desvendado ao longo das
quase 3 horas de projeção. Esta é uma obra contemplativa, de ritmo
deliberadamente lento, que não faz uso de nenhuma grande cena memorável de
ação. “Blade
Runner 2049” segue
sendo um filme de questões, de mais perguntas do que respostas e de imersão, na
qual nos pegaremos pensando dias após o término da exibição.
O filme já impacta em seus primeiros segundos com a densa trilha sonora
assinada por Hans Zimmer e Benjamin Wallfisch (ambos
envolvidos em Dunkirk e Estrelas Além do Tempo),
cheia de intensos sintetizadores, e com o brilhante e belíssimo trabalho do
fotógrafo Roger Deakins (colaborador de Villeneuve em outros
filmes). A atmosfera evocada é completamente idílica, psicodélica e envolvente;
ora cheio de cores neon e uma paleta amarelada, ora com o cinza já
característico do noir, o mundo cyberpunk apresentado
pelo longa-metragem é de tirar o fôlego, com uma bela direção de arte que evoca
tanto o vintage, em seus monitores de tubo, quanto o moderno, com
suas cores e sons de sistema operacional eletrônico.
O maior acerto
de “Blade
Runner 2049” está na manutenção
da ambientação que consagrou o filme dirigido por Ridley Scott - que retorna nesta sequência, agora
apenas como produtor executivo. Os carros voadores, a chuva (ou neve)
constante, os prédios imensos com poucas pessoas nas ruas, os gigantescos
painéis em neon etc está tudo lá, apontando um futuro decadente onde o brilho
vem apenas do que é falso - não por acaso, a única personagem que demonstra
vivacidade é justamente uma acompanhante digital programada com tal finalidade.
Trata-se de um mundo seco e sério, de preconceitos arraigados, onde as pessoas
pagam para ter um vislumbre de felicidade sem se importar se este é verídico. A
sensação, ou a necessidade, é mais importante.
Apesar do destaque dado em peças publicitárias a Jared Leto e Harrison
Ford, a participação dos dois aqui é muito pontual, apesar de bastante efetiva.
O Deckard de Ford demora a aparecer, mas sua presença é sentida durante toda a
projeção. Quando ele finalmente surge em tela, o faz no momento certo, com o
seu personagem colocado de forma orgânica dentro da narrativa e mantendo a
mesma aura e carisma de 35 anos atrás, embora o antigo Blade Runner se mostre
um homem mais amargurado, haja vista tudo que perdeu nas últimas décadas. Assim como o Tyrell de Joe Turkel em 1982, o
Wallace de Leto considera-se um criador, dotado de uma aura quase divina.
Nisso, diversos panteões são referenciados através do personagem. O Egito
antigo é representado pelos opulentos cenários banhados em luz dourada nos
quais Wallace surge. Tal referência egípcia reforça uma certa alegoria bíblica,
Wallace inclusive cita textualmente outra passagem do Bom Livro para ilustrar
um outro paralelo. Já os robôs que servem como olhos do criador remetem aos
corvos de Odin na mitologia nórdica. Esteticamente falando, o filme é de encher
os olhos de qualquer um. Com a já citada bela fotografia do premiado e
experiente Roger Deakins, o
resultado final é um filme delirante, estonteantemente belo e obrigatório.
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