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sábado, 13 de janeiro de 2018

BLADE RUNNER 2049 (Blade Runner 2049) EUA / Inglaterra / Canadá, 2017 – Direção Denis Villeneuve – elenco: Ryan Gosling, Harrison Ford, Jared Leto, Robin Wright, Ana de Armas, Dave Bautista, Wood Harris, Mark Arnold, David Dastmalchian, Tómas Lemarquis, Sylvia Hoeks, Edward James Olmos, Hiam Abbass, Mackenzie Davis, Vilma Szécsi, Lennie James, Sean Young – 164 minutos 
Visualmente deslumbrante, encontra beleza até mesmo na decadência de seu mundo

Este novo grande filme ultrapassa toda as expectativas, graças à inteligência com que o diretor apropria-se do projeto, com uma ousadia que desmente quem até agora o considerava somente um esteta. Ryan Gosling interpreta o agente K. Ele é um Blade Runner, oficial designado a encontrar e eliminar replicantes infratores, ou seja, seres artificiais que não possuem autorização para fazer ou viver da forma que estão. Logo na cena de abertura, o oficial irá confrontar o personagem do grandalhão Dave Bautista. Nesta única cena em que aparece, Bautista será essencial e dará o primeiro passo do grande enigma a ser desvendado ao longo das quase 3 horas de projeção. Esta é uma obra contemplativa, de ritmo deliberadamente lento, que não faz uso de nenhuma grande cena memorável de ação. “Blade Runner 2049” segue sendo um filme de questões, de mais perguntas do que respostas e de imersão, na qual nos pegaremos pensando dias após o término da exibição.
O filme já impacta em seus primeiros segundos com a densa trilha sonora assinada por Hans Zimmer e Benjamin Wallfisch (ambos envolvidos em Dunkirk e Estrelas Além do Tempo), cheia de intensos sintetizadores, e com o brilhante e belíssimo trabalho do fotógrafo Roger Deakins (colaborador de Villeneuve em outros filmes). A atmosfera evocada é completamente idílica, psicodélica e envolvente; ora cheio de cores neon e uma paleta amarelada, ora com o cinza já característico do noir, o mundo cyberpunk apresentado pelo longa-metragem é de tirar o fôlego, com uma bela direção de arte que evoca tanto o vintage, em seus monitores de tubo, quanto o moderno, com suas cores e sons de sistema operacional eletrônico.


O maior acerto de “Blade Runner 2049” está na manutenção da ambientação que consagrou o filme dirigido por Ridley Scott - que retorna nesta sequência, agora apenas como produtor executivo. Os carros voadores, a chuva (ou neve) constante, os prédios imensos com poucas pessoas nas ruas, os gigantescos painéis em neon etc está tudo lá, apontando um futuro decadente onde o brilho vem apenas do que é falso - não por acaso, a única personagem que demonstra vivacidade é justamente uma acompanhante digital programada com tal finalidade. Trata-se de um mundo seco e sério, de preconceitos arraigados, onde as pessoas pagam para ter um vislumbre de felicidade sem se importar se este é verídico. A sensação, ou a necessidade, é mais importante.

Apesar do destaque dado em peças publicitárias a Jared Leto e Harrison Ford, a participação dos dois aqui é muito pontual, apesar de bastante efetiva. O Deckard de Ford demora a aparecer, mas sua presença é sentida durante toda a projeção. Quando ele finalmente surge em tela, o faz no momento certo, com o seu personagem colocado de forma orgânica dentro da narrativa e mantendo a mesma aura e carisma de 35 anos atrás, embora o antigo Blade Runner se mostre um homem mais amargurado, haja vista tudo que perdeu nas últimas décadas. Assim como o Tyrell de Joe Turkel em 1982, o Wallace de Leto considera-se um criador, dotado de uma aura quase divina. Nisso, diversos panteões são referenciados através do personagem. O Egito antigo é representado pelos opulentos cenários banhados em luz dourada nos quais Wallace surge. Tal referência egípcia reforça uma certa alegoria bíblica, Wallace inclusive cita textualmente outra passagem do Bom Livro para ilustrar um outro paralelo. Já os robôs que servem como olhos do criador remetem aos corvos de Odin na mitologia nórdica. Esteticamente falando, o filme é de encher os olhos de qualquer um. Com a já citada bela fotografia do premiado e experiente Roger Deakins, o resultado final é um filme delirante, estonteantemente belo e obrigatório.  


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