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quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

CORPO E ALMA (Teströl és Lélekröl) Hungria, 2017 – Direção Ildikó Enyedi – elenco: Géza Morcsányi, Alexandra Borbély, Zoltán Schneider, Ervin Nagy, Tamás Jordán, Zsuzsa Járó, Réka Tenki, Júlia Nyakó, Itala Békés, Attila Fritz – 116 minutos

QUANDO É CHEGADA A HORA DE SE ENCONTRAREM DE VERDADE, A SITUAÇÃO SE MOSTRA AINDA MAIS COMPLEXA


Mária (Alexandra Borbély) e Endre (Géza Morcsányi) são dois funcionários de um abatedouro de gado. Ele é o diretor financeiro, ela acaba de ocupar o cargo de inspetora de qualidade. Em comum, têm a profunda inadequação social: o chefe quase não possui muitos amigos, e carrega traumas como antigas histórias de amor e um braço paralisado. Mária não conversa com ninguém, recusa-se a tocar outras pessoas ou tratá-las com familiaridade, e manifesta traços obsessivos-compulsivos. Não é muito difícil ao espectador entender que o relacionamento entre os dois não será, à primeira vista, muito fácil. A virada no roteiro de “Corpo e Alma”, contudo, ocorre quando descobrimos que essas duas pessoas solitárias partilham todas as noites de um mesmo sonho: um casal de cervos que vivem juntos em uma floresta. Conectados por este cenário lírico, mas incapazes de qualquer comunicação na realidade, aos poucos um sentimento incomum aproxima estes protagonistas e eles decidem se aprofundar nesta história inusitada.

A roteirista e diretora Ildikó Enyedi parte, então, para uma investigação entre o metafísico e o material, entre o corpo e a alma, a crueldade e o sublime. Os animais – tanto aqueles que são abatidos na frente da câmera quanto os cervos gigantes e, ao mesmo tempo, delicados dos sonhos – tornam-se figuras mediadoras dessas transições – às vezes, um tanto óbvias, mas sempre muito bem pautadas nas intepretações da dupla central. Corpo e Alma” é uma incrível jornada sobre o amor que chega ao espectador de maneira inusitada, ligada por sonhos, onde somos testemunhas, ao longo das quase duas horas de projeção, de uma das histórias mais bonitas que apareceram numa tela de cinema esse ano. O projeto, que demorou mais de dez anos para ficar pronto por conta de uma grave crise no órgão que administra o cinema da Hungria, possui uma riqueza nos detalhes, há um silêncio preponderante em muitas cenas, seja nos olhares distantes dos protagonistas, seja nos reflexos que acompanham as metáforas cotidianas na arte do descobrir. Um trabalho primoroso de direção.


[A diretora] ousa o romantismo poético e também o realismo brutal. Ela celebra a beleza de uma união possível sem esconder as feridas que a acompanham. É isso, o amor. (Frédéric Strauss – Télérama)

O filme se transforma numa metáfora surpreendentemente emocionante sobre a aleatoriedade e a imprevisibilidade do amor, o que se torna parte de seu apelo. Sempre que o resultado corre o risco de ficar emotivo demais, Enyedi fornece momentos de humor negro. (Jessica Kiang – The Playlist)

É de Borbély a performance inteligente e melancolicamente discreta em que Maria permanece simpática mesmo quando se transforma mais em uma condição do que em personagem - e a riqueza das ideias do escritor-diretor se movem e intrigam, mesmo quando são expostas mais artificialmente. (Guy Lodge – Variety)


Construindo sua narrativa em torno de um par de performances impassíveis que produzem traços de humor em meio a um profundo sentimento de saudade humana, Enyedi às vezes pode revelar demais em suas representações da solidão moderna... sem levar o tema muito mais longe. (Jordan Mintzer – The Hollywood Reporter) 



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