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quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

DE CANÇÃO EM CANÇÃO (Song To Song) EUA, 2017 – Direção Terrence Malick – elenco: Michael Fassbender, Ryan Gosling, Rooney Mara, Natalie Portman, Cate Blanchett, Holly Hunter, Bérénice Marlohe, Val Kilmer, Lykke Li, Tom Sturridge, Olivia Grace Applegate, Dana Falconberry, Iggy Pop, Patti Smith, John Lydon, Florence Welch, Alan Palomo, Tegan Quin, Chad Smith – 129 minutos

UMA INQUIETANTE HISTÓRIA DE OBSESSÃO SEXUAL E TRAIÇÃO EM MEIO À CENA MUSICAL EM AUSTIN, NO ESTADO AMERICANO DO TEXAS 


Desde que retornou com “A Árvore da Vida”, em 2011, o cineasta Terrence Malick rompeu de vez com seu cinema narrativo de outrora e se voltou para algo mais experimental e contemplativo. Desde então, seus filmes têm seguido à risca a fórmula descrita no primeiro parágrafo deste texto, que pode ser também a descrição de alguma passagem de seu novo trabalho, “De Canção em Canção”. Claro que se trata de uma mudança em sua forma, mas não em seu conteúdo: no fundo, ele ainda está interessado por histórias de amor e por casais errantes tentando se acertar, mas que invariavelmente acabam engolidos pelas situações ao redor. Mas se em seus últimos trabalhos esse tema e modus operandi não passaram de variações anêmicas do que foi tão bem desenvolvido em “A Árvore da Vida”, aqui neste novo trabalho temos o plus de um fundo musical que faz a ideia valer a pena. 


O filme se passa em Austin, Texas, em meio a todo cenário musical da cidade. Austin é conhecida como a “a capital da música ao vivo”, devido ao enorme número de festivais que lá ocorrem. Ele narra um quadrado amoroso protagonizado por Cook (Michael Fassbender), um ricaço empresário da indústria musical, Rhonda (Natalie Portman), uma garçonete em situação financeira indesejada que é seduzida por Cook, BV (Ryan Gosling), um compositor em ascensão no mercado da música, amigo de BV e em um relacionamento com Faye (Rooney Mara), cantora em início de carreira – esperando por seu momento. O filme começa com Cook, Faye e BV como fortes amigos, uma irmandade inseparável. Contudo, mesmo cercados de amigos, a impressão que sentem é que são sozinhos. É muito interessante como a trama é muito bem explicável pelo conceito de “modernidade líquida”, do sociólogo polonês Zygmunt Bauman (1925-2017).  “De Canção em Canção” é extremamente lírico e, muitas vezes e até mesmo graças a forma como o diretor usa justamente dos recursos técnicos e estéticos, leva a tal imersão nos sentimentos e motivações dos personagens – sabendo-o fazer de forma empática, sobretudo – que provoca realmente uma experiência comovente. 


Em acordo com o ambiente, o filme é recheado de participações inusitadas de artistas da música. Dos integrantes do Red Hot Chilli Peppers a Iggy Pop; de Florence Welch a Patti Smith; de Lykke Li a John Lydon (do Sex Pistols), entre muitos (e muitos) outros. É curioso vê-los em cena (com especial destaque para Smith). Eles participam como atores, não somente nas tomadas que o diretor faz dos festivais em Austin. Patti Smith é a mais notória delas e faz uma participação quase espiritual, guiando Faye em seus caminhos e a orientando quanto aos obstáculos de se conciliar a carreira e a vida amorosa. Para além dessas intervenções, Malick se faz presente com seu cinema voyeurístico, mais voltado para imagens do que para diálogos, através de recortes rápidos e frenéticos de momentos isolados na vida de cada personagem, pulando tempos e espaços e depois recuperando eles no ar sem muitos avisos prévios. Com uma narrativa fragmentada, uma fotografia exuberante que penetra e invade a câmera inquieta do diretor de fotografia Emmanuel Lubezki, e no meio disso tudo, a eterna busca pelo divino tendo como pontapé inicial, o amor, “De Canção em Canção”, apesar de muito lento, é um filme obrigatório para os fãs do diretor e cinéfilos antenados. 



Um comentário:

  1. Perspectiva interessante! Terrence Malick é um daqueles diretores que ou se ama ou se odeia. Sua estética apurada, de linguagem rebuscada e muito existencialismo conquista o público com a mesma intensidade que o afasta, e um exemplo dessa relação de amor e ódio é seu novo trabalho DE CANÇÃO EM CANÇÃO, que novamente traz um elenco estelar com Michael Fassbender, Ronney Mara, Ryan Gosling (Do óptimo Novo Filme Blade Runner 2049 ), Natalie Portman e ainda conta com várias outras participações mais do que especiais, que falaremos mais a frente. DE CANÇÃO EM CANÇÃO é a prova de que o talento contemplativo e filosófico de Malick pode abordar vários temas e tomar várias formas, afinal, não importa o que façamos ou como vivamos – a reflexão sempre será necessária. Nossa existência depende disso, pois assim como disse o filósofo francês René Descartes no livro O Discurso do Método de 1637: “Desde que eu duvide, eu penso; porque eu penso, eu existo”.
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