MOONLIGHT:
SOB A LUZ DO LUAR (Moonlight) EUA, 2016 – Direção Barry Jenkins – elenco: Alex
R. Hibbert (Little), Ashton Sanders (Chiron), trevante Rhodes (Black), Jharrel
Jerome (Kevin adolescente), André Holland (Kevin adulto), Mahershala Ali
(Juan), Naomie Harris (Paula), Stephon Bron (Travis), Janelle Monáe, Shariff
Earp – 111 minutos
UM
RETRATO UNIVERSAL DA SOLIDÃO, QUE RECUSA O LUGAR-COMUM
Estupendo, forte, poderoso,
assustador e devastador, todos esses adjetivos são poucos para expressar a
grandeza de um dos melhores filmes do cinema: MOONLIGHT. Eleito o melhor de 2016 por 65 críticos, mais
do que qualquer outro (o segundo lugar, “La La Land: Cantando Estações”, ficou
em #1 na lista de 37 deles). Mesmo com o favoritismo de “La La Land” no Oscar
2017, MOONLIGHT ainda é o filme mais premiado do momento: foram, até agora, 141
prêmios contra 134 do musical de Damien Chazelle. Aclamado como um dos maiores
filmes da História, é uma pérola que precisa ser descoberta por todos que amam
o cinema. A grande sacada desta obra-prima está nas questões de raça e
preferência sexual, que no entanto, ganham contornos ao mesmo tempo simples e
complexos quando transpostas para um universo essencialmente masculino. As mais belas descobertas ocorrem
quando as mesmas coisas são vistas com um novo olhar. O filme foi sensação no
último Festival Internacional de Cinema de Toronto no ano passado e fala sobre
a vida de um garoto de origem humilde que precisa enfrentar os absurdos feitos
pela mãe e acreditar nas suas escolhas num mundo tão insensível em que vivemos.
Escrito e dirigido por Barry Jenkins, a partir de uma ideia de uma peça, o filme é o que, em
cinema, se chama de um verdadeiro estudo de personagem. Apelidado de “Little”
(pequeno), o tímido Chiron (Alex
Hibbert) mora numa comunidade pobre da Miami da explosão do crack dos
anos 1980 e, desde novo, sofre com os colegas de escola. Quando chega na
adolescência (quem assume é Ashton Sanders, numa performance poderosa e poética), a
introspecção aumenta na mesma proporção do bullying. Somam-se mais
dez anos a essa história e vemos Chiron como “Black” (o ex-atleta Trevante
Rhodes, ótimo em sua estreia no
cinema), já líder do tráfico local. O que não muda, ao longo das três fases em
que o filme divide a vida do personagem, é a busca por autoconhecimento – algo
universal, inerente à vida de qualquer um, independente da cor da pele ou de
com quem você se deita. O filme é uma grande crítica social. O preconceito e a violência andam
lado a lado, paradigmas impostos por um planeta repleto de caos vivendo todo
dia com medos aflorando e com cada vez menos luz no final desse túnel. O
protagonista vive grandes conflitos dentro de si e acaba sendo exposto por
conta de toda a dificuldade que possui com sua mãe, que deveria ser seu
primeiro ombro amigo. Na infância, descobre Juan, o traficante que vendia
drogas para sua mãe, um conflito de direções com uma cena emblemática à beira
de uma mesa de jantar. Em sua adolescência, onde o roteiro segue firme em sua
tentativa de fazer um grande raio-x não só do protagonista, mas da sociedade ao
seu redor, a descoberta da sexualidade chega com grande surpresa e uma situação
que tenta entender aos poucos.
Ao longo de sua trajetória narrativa que se divide por tripartição
clássica – infância, adolescência e idade adulta, existe a periculosidade de
uma outra: Chiron é negro, gay e pobre. Ele pode ser centenas de outras coisas,
e de fato o é, mas se constrói primordialmente assim. E é exatamente essa
construção e da forma que é narrada que torna o filme poderoso, emblemático e
pujante. Há que se destacar a belíssima fotografia de James Laxton. Ele
aumenta o contraste da paleta de cores para buscar a justaposição do sol
de Miami com o sofrimento no rosto de Chiron, ressaltando suas expressões
faciais. O filme é triste,
mas, ao mesmo tempo, é uma obra genialmente bela, tocante e verdadeira. A jornada de descoberta de Chiron, durante suas
três fases, faz com que relembremos as nossas próprias jornadas, ainda em
curso. Mahershala Ali e Naomie Harris apresentam interpretações impecáveis o
que os torna os favoritos ao Oscar nas categorias de Coadjuvantes. Há um olhar
brilhante do diretor sobre temas muitas vezes esquecidos no cinema, mas
urgentes, necessários e representativos como o ser gay, o ser negro, o ser
periférico, o que solidifica sua inestimável importância social. MOONLIGHT
possui uma delicadeza devastadora e provocante, o que o torna uma história para
toda a vida. Indicado a 08 Oscar, incluindo Melhor Filme. ABSOLUTAMENTE
MAGNÍFICO E BELO!!! O MELHOR FILME DO ANO!!!
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