ANIMAIS NOTURNOS (Nocturnal
Animals) EUA, 2016 – Direção Tom Ford – elenco: Amy Adams, Jake Gyllenhaal,
Michael Shannon, Aaron Taylor-Johnson, Isla Fisher, Ellie Bamber, Armie Hammer,
Karl Glusman, Robert Aramayo, Laura Linney, Andrea Riseborough, India Menuez,
Michael Sheen, Imogen Waterhouse, Franco Vega – 114 minutos
QUANDO VOCÊ AMA ALGUÉM, NÃO DEVE POR TUDO A PERDER
Este é um filme sobre artistas e aspirantes a
desistências e arrependimentos; sobre amores passados que, vistos sob a luz de
dores no presente, começam a soar como oportunidades perdidas ou como boias
salva-vidas quando, na realidade, provavelmente gerariam sua própria parcela de
problemas caso resgatados. Assim, quando Susan Morrow (Amy Adams), uma dona de
galeria casada com um sujeito bonito e bem-sucedido (Armie Hammer), começa a
questionar o vazio que a cerca, é apenas natural que se sinta balançada ao
receber um manuscrito enviado pelo ex-marido Edward (Jake Gyllenhaal), que,
como se não bastasse, dedica o livro a ela. Enquanto lida com os problemas de
seu cotidiano, Susan lê a história concebida pelo ex, que gira em torno de uma
família (Gyllenhaal, Isla Fisher e Ellie Bamber) confrontada numa estrada
deserta, à noite, por três jovens violentos (Aaron Taylor-Johnson, Karl Glusman
e Robert Aramayo).
Já nas primeiras cenas, o espectador é
colocado diante de um impacto que prosseguirá entrelaçando diferentes sensações
no decorrer da trama. Mulheres morbidamente obesas dançam como go-go girls de
um bizarro show de horrores. O aparentemente grotesco, porém, surpreende o
olhar transformando-se em belo. Isso é o poder da arte. Esse é o cinema de Tom
Ford, que já tem
uma carreira estabilizada no mundo da moda e em 2009 se aventurou também nas
telonas com “Direito de Amar”, drama LGBT que gira em torno de um
professor que decide tirar a própria vida após a trágica morte de seu
companheiro. A estreia do diretor foi bastante aclamada pela crítica e rendeu a Colin
Firth sua
primeira indicação ao Oscar. Agora,
ele retorna ao posto de diretor com este tenso suspense psicológico “Animais Noturnos”. O roteiro
adaptado da obra “Tony and Susan”, de Austin Wright, por Tom Ford é um
exercício muito complexo e inteligente sobre perdas e traumas que alimentam
nossa mente mesmo muito tempo depois de acontecidos. E ainda uma clara crítica
à burguesia norte-americana que respira o capitalismo mesmo quando o assunto é
o sentimento.
A direção de Tom Ford é
excelente, pela elegância em que conduz a trama e pelo uso da estética a favor
da narrativa, mas principalmente por conseguir hipnotizar o espectador para a
história contada, rapidamente você é tomado (a) pela narrativa e isso vai até o
fim, sem nunca perder o ritmo. A montagem (incrível) teve papel fundamental
para tal resultado, ainda mais por se tratar de um filme que se passa em 3
camadas. A história dentro da história faz do filme algo
muito envolvente. Um thriller psicológico construído com um convincente clima
de tensão. Para completar, o segmento ainda conta com uma boa performance de
Aaron Taylor-Johnson, um excelente trabalho de Michael Shannon, a genial atuação de
Laura Linney como a mãe de Susan e uma performance extraordinária de Jake
Gyllenhaal, digna de uma indicação ao Oscar 2017. É
uma história de vingança - revenge, como no quadro pendurado na parede da
galeria de Susan. Mas é a vingança de Jake Gyllenhaal como o marido da ficção ou
o ex de Amy na realidade?
São personagens que arrastam pelas sombras da infelicidade
o peso de decisões que, por pressão, impulso, medo ou a corajosa autoconfiança
da juventude, mostram-se irreversíveis a horas tantas da vida. Tentar retomar o
passo pode abrir a esperança de redenção da culpa ou o alçapão para mergulhar
no precipício. Tom Ford carrega o espectador junto numa densa imersão em que
drama, violência e suspense são costurados com incomum habilidade. É justa sua
dupla indicação ao Globo de Ouro, em janeiro, como melhor diretor e roteirista
— Aaron Taylor-Johnson concorre como ator coadjuvante. É um filme denso,
melancólico, perturbador, mas de uma beleza estética e assombrosa reflexão!!
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