LOVING
(Loving) Inglaterra / EUA, 2016 – Direção Jeff Nichols – elenco: Joel Edgerton,
Ruth Negga, Will Dalton, Alano Miller, Chris Greene, Sharon Blackwood,
Christopher Mann, Andrene Ward-Hammond, Jevin Crochrell, Jordan Williams Jr.,
Georgia Crawford, Nick Kroll, Brenan Young, Dalyn Cleckley, Quinn McPherson,
Jon Bass, Michael Shannon, David Jensen, Marton Csokas, Winter-Lee Holland –
123 min
QUANDO
UM AMOR VERDADEIRO MUDA UMA NAÇÃO
Tendo em mãos uma história real que simplesmente mudou uma questão da
constituição norte-americana por conta de um casamento inter-racial, o diretor
Jeff Nichols seca sua narrativa até o limite, trabalhando quase que
exclusivamente com o olhar. O filme abre com um close de Mildred contando ao
namorado Richard Loving que está grávida. O plano é longo, a representação
transmite dúvida e insegurança e no momento que aprendemos a informação,
conhecemos imageticamente seu outro protagonista. Com uma comunicação que usa o
silêncio como forma de criar atmosfera de delicadeza, o trabalho do diretor
deve ser também muito agradecido pela presença da dupla Joel Edgerton e Ruth
Negga (indicada ao Oscar 2017 na categoria de Melhor Atriz). Num ato de
bravura, essas três pessoas compraram a briga de que um amor tão desbravador
poderia sim ser introspectivo e ainda assim lotado de sentimentos. Acompanhamos
então o jogo de absurdos no qual são arremessados Mildred e Richard, que
continuamente passam a ser presos, perseguidos e ameaçados pelas autoridades
por não serem da mesma raça. Toda a revolta, o amor de um pelo outro, a
esperança, são vendidos pelo mais que expressivo olhar de ambos os atores.
Repletos de coadjuvantes ao seu redor, Edgerton e Negga compuseram uma sinfonia
mais que delicada com todos eles, contribuindo todos para o espetacular
emocional demonstrado entre esse casal que se comunica bem pouco através de
verbalização, mas que conseguem compartilhar seu imenso talento e sua química.
Praticando uma misé-en-scene clássica, Jeff Nichols sabe utilizar com
sabedoria as ferramentas estéticas que têm a sua disposição: o filme, apesar de
ser linear em seu conflito e por vezes ter bastante simplificação por parte do
roteiro (os homens da lei - policiais e juízes que os antagonizam - são
francamente e propositadamente unidimensionais) não pretende provocar lágrimas
facilmente, portanto segue um ritmo próprio. Falando em Joel Edgerton e Ruth Negga, eles
estão absolutamente impecáveis em suas interpretações. Negga sempre rouba a
cena em toda produção em que dá as caras, mas aqui, é Edgerton quem se
sobressai, simplesmente desaparecendo no personagem. A mão firme do diretor é
sentida na entrega do elenco, cujas atuações inserem profundidade e textura na
produção, onde também se destacam Marton
Csokas e Nick
Kroll, em papéis menores mas de vital importância no contexto
da história. Ah, e é claro que o sensacional Michael
Shannon também
faz uma pequena participação. Aqui, ele interpreta um fotógrafo da revista
Life, que é contratado pelo advogado do casal para registrar alguns momentos de
sua convivência. A maneira com que Nichols utiliza o personagem em uma pequena
cena no terço final do filme, é de uma delicadeza surreal.
Ambientada em um momento delicadíssimo da história norte-americana, LOVING é extremamente relevante. Principalmente
porque o roteiro é do próprio diretor. Em nenhum momento a produção força o
choro fácil, mesmo com todas as dificuldades enfrentadas pelo casal e
retratadas no filme. Isso também é decorrência da própria força do casal, que
apesar do medo sempre inerente de que algo poderia destruir sua relação, nunca
se entregou e lutou até o fim, cada um à sua maneira, mas sempre, e
inexoravelmente juntos. Foi graças à resiliência e caráter dos Loving, que
finalmente, depois de muito tempo de uma política absurda e covarde inserida na
constituição americana, a proibição do casamento baseado em raça foi abolida. O
tom do filme é algo lindo, gera metáforas fabulosas mas sempre com uma verdade
impressionante. Exibido no Festival de Cannes de 2016, o filme possui alma e
muita verdade também ao falar dos obstáculos que ambos precisam enfrentar por
conta de seu casamento, numa época de muito preconceito em boa parte dos
Estados Unidos. Belíssimo e inesquecível!!! Obrigatório e magnífico!!!
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