SETE
HOMENS E UM DESTINO (The Magnificent Seven) EUA, 2016 – Direção Antoine Fuqua –
elenco: Denzel Washington, Chris Pratt, Ethan Hawke, Vincent D’Onofrio,
Byung-hun Lee, Manuel Garcia-Rulfo, Martin Sensmeier, Haley Bennett, Peter
Sarsgaard, Luke Grimes, Matt Borner, Jonathan Joss – 130 minutos
UMA
CAPRICHADA RELEITURA DO GRANDE CLÁSSICO
DO WESTERN
Em tempos de "inclusão" e "diversidade", o
novo filme de Antoine Fuqua (em impecável direção) traz quatro tipos (numericamente superiores)
não-caucasianos entre os sete do título, sendo um oriental (Byung-hun Lee), um descendente de indígenas (Martin Sensmeier) e um latino (Manuel Garcia-Rulfo), todos sob a tutela de um negro, Sam Chisolm (Denzel Washington). Lançado em
1960, Sete Homens e um Destino (The Magnificent Seven)
transportou para o Velho Oeste a essência da trama do grande clássico japonês Os
Sete Samurais (1954), dirigido por Akira Kurosawa. A nova versão é baseada
em ambos os clássicos, que também já ganharam uma releitura infantil em 1998
com a animação Vida de Inseto. Trata-se basicamente da história de uma
vila de camponeses que solicita a ajuda de um grupo de forasteiros para lutar
contra a opressão de invasores. Diferente do clássico
dos anos 1960, dessa vez, não são os mexicanos que sofrem com os ataques do
vilão ganancioso (papel assumido aqui por Peter Sarsgaard), mas americanos natos. E quem tem coragem de fazer algo e dar
início ao recrutamento da trupe para defender a vila é uma mulher, a personagem
de Haley Bennett, que, diferente das donzelas do gênero, põe a mão na massa, ou
melhor, nas armas.
O
filme é uma releitura caprichada do já citado faroeste clássico homônimo dos
anos 1960. No lugar de Yul Brynner, Denzel Washington, no de Steve McQueen, o
carismático Chris Pratt, no de Charles Bronson, Ethan Hawke. Nesta nova versão
saem os mexicanos malvados e entra um barão corporativo americano capitalista
até a medula (Peter Sarsgaard). Ele oprime os mineiros da cidadezinha de Rose
Creek. O filme original fantasiava a realidade, criando um universo mítico. Uma
terra de Marlboro, onde até os proscritos tinham lá suas virtudes. As atuações
soberbas, o vigor do diretor John Sturges para construir as cenas de ação e a
trilha de Elmer Bernstein eram as razões que tornaram o filme um clássico. Os roteiristas Nick Pizzolatto e Richard Wenk
optam por uma abordagem pé no chão. Ninguém em cena é inocente. O caçador de
recompensas vivido por Denzel Washington, organiza a resistência não porque
ficou sensibilizado com o drama dos mineiros, mas porque é conveniente: ele já
estava atrás do barão. Na versão antiga, os sete homens se interessavam pelo
dinheiro, mas gradualmente a recompensa se revelava fútil, e eles acabam
aderindo à causa. Não há ideologia no novo filme. Estamos num mundo de
individualistas e cada um tem seu propósito pessoal para se juntar ao grupo.
É
um filme brilhante e tem como um de seus maiores trunfos o fato de respeitar a
essência dos faroestes produzidos no período clássico, porém com um
diferencial: a utilização de doses exatas de humor como artifício para
aproximar a plateia atual, que não tem como hábito o consumo de filmes deste
gênero. E parte deste alívio cômico em meio a tanta violência vem do personagem
de Chris Pratt, bastante à vontade como o anti-herói Josh Faraday. Na verdade,
Pratt não é o único ator a demonstrar conforto em cena, pois todo o elenco
oferece ótimos desempenhos, deixando nítido ao espectador seu total
entrosamento. Contudo, os grandes destaques são Denzel Washington e Ethan Hawke
(Goodnight Robicheaux), que já trabalharam com o diretor em “Dia de
Treinamento” (Training Day – 2001). Enquanto Washington se destaca como um cawbói
clássico, o anti-herói sério e destemido, Hawke equilibra fragilidade e
insanidade com precisão. É formidável a forma
como é composta a movimentação dos atores criando um jogo cênico, que explora
muito bem a profundidade de campo e o extracampo. E eis uma raridade: um filme
de ação, em que a palavra nunca é menosprezada. Sente-se a densidade dos
diálogos e as construções subitamente acidentadas que revelam verdades mais
complexas. Os diferenciais da produção de 2016 são uma ênfase na diversidade
étnica e uma mensagem anticapitalista, além de um número de tiros por minuto
bem acima da média geral. Baseado em um material consagrado e ambientado no
século 19, “Sete Homens e Um Destino” não arrisca ousadias, não força a
barra para ser moderno e mantém-se como um filme heroico, essencialmente
tradicional, sem ostentação, por exemplo, nos efeitos especiais digitais. Apesar
da violência, o filme busca a elegância e não se rende à influência de nada e
nem de ninguém. A marcante música-tema do original de 1960 é resgatada nos
créditos finais. Espetacular e eletrizante, merece ser visto e revisto nos
cinemas!!! Diversão de primeira!!!
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