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quarta-feira, 5 de outubro de 2016

CAROL (Carol) Inglaterra / EUA / França / Austrália, 2015 – Direção Todd Haynes – elenco: Cate Blanchett, Rooney Mara, Sarah Paulson, Kyle Chandler, Jack Lacy, John Magaro, Cory Michel Smith – 118 minutos


UM GRANDE HINO AO AMOR EM UMA ÉPOCA PERSONIFICADA PELO PRECONCEITO


Forte e contundente, e, ao mesmo tempo, leve, sutil e atemporal, CAROL, do cineasta norte-americano Todd Haynes, conta uma belíssima história de paixão proibida. É baseado no romance (um livro de carga pessoal) de Patrícia Highsmith, autora conhecida por thrillers psicológicos, que preferiu assinar um pseudônimo (Claire Morgan), em 1952, devido ao tema polêmico para a época, como forma de desabafar seus sentimentos, compartilhar a solidão do seu desejo e extravasar a frustração de viver em  um mundo regido por leis masculinas. Com extraordinárias interpretações de Cate Blanchett (Carol Aird) e Rooney Mara (Therese Belivet), elas são duas mulheres apaixonadas lutando contra uma sociedade extremamente fechada, nos anos 1950. Além de uma sensível história de amor, o filme apresenta discussões que ainda são contemporâneas sobre a liberdade da mulher e direitos dos homossexuais, questões que ainda precisam ser muito analisadas e discutidas por nossa sociedade atrasada. Na verdade, é redutor afirmar que a história de Carol e Therese fala apenas sobre homossexualidade. Trata-se de um romance de costumes que confronta, de maneira mais ampla, as idiossincrasias de seu tempo – a persistência de uma retrógrada moral religiosa e familiar, acima de tudo. 


De forma impecável e brilhante, o filme acompanha o envolvimento dessas duas mulheres, que se conhecem por acaso em uma loja de departamentos, com um detalhe extra: a história é situada na Nova York dos anos 1950, com todos os preconceitos e ignorâncias da época em relação ao universo homossexual. Ou seja, um período onde sair do armário era considerado uma imoralidade absoluta, ainda mais se você tem uma filha, como é o caso da Carol. Em uma realidade tão difícil de ser quem você realmente é, o único meio de se proteger da fúria alheia é camuflar os sentimentos, de forma que apenas os mais perspicazes possam realmente decifrá-los. É este o mundo em que Carol vive, é este o mundo para o qual Therese é atraída. De forma delicada e envolvente, as duas atrizes brilham. Cate Blanchett impressiona, fazendo de Carol uma mulher brilhante, capaz de levar sua vida de forma independente enfrentando as adversidades de frente, mas ainda com força o suficiente para mudar quando sente que é preciso. Rooney Mara faz de Therese a personagem em desenvolvimento, que procura seu caminho ao longo do filme, mas é capaz de perceber o que quer e criar sua própria história. Graças em grande parte à forma como ela conduz a sua personagem, a cena final, sem diálogo algum, é algo de imenso impacto e valor. 


A partir de códigos visuais, o diretor, contempla a reciprocidade da relação. Therese usa roupas de cores fortes, que contrastam com os tons pastel dos cenários criados por Jesse Rosenthal e fotografados por Edward Lachman. É um forma de indicar que, para Carol, a jovem também representa novidade, revigoração e vida. Os figurinos de CAROL traz referências de looks reais dos anos 1950. A montagem é igualmente competente, sobretudo pelas transições entre ambientes diferentes – as imagens dos trens, logo no início, são exemplares nesse sentido. O roteiro de Phyllis Nagy se destaca pelo uso de elipses, principalmente no último ato, quando tudo se acelera rumo ao desfecho – os saltos na trama atendem ao desejo de quem, àquela altura, já está ansioso para saber como termina a história.  CAROL é um tapa na cara de quem ainda vê algo imoral na relação entre duas pessoas que se amam, não importa sexo, origem, etnia etc. Inteligentemente adaptado e com interpretações marcantes esse é um filme notável, que não só conta uma bela história de forma incrível, mas também levanta questões sociais cada vez mais relevantes. A narrativa é envolvente a ponto de enredar até quem já conhece o romance – seu final é célebre, apontado como um sopro de otimismo em meio ao conservadorismo vigente.

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