A GRANDE
APOSTA (The Big Short) EUA, 2015 – Direção Adam McKay – elenco: Christian Bale,
Steve Carell, Ryan Gosling, Brad Pitt, John Magaro, Melissa Leo, Marisa Tomei,
Hamish Linklater, Jeremy Strong – 130 minutos
Este grande filme faz com que o espectador passe a admirar muito
três pessoas: A primeira é Michael Lewis, que lançou em 2010 o livro homônimo
que originou o filme. O escritor tem a capacidade invejável de pegar um assunto
complexo como a bolha de crédito no mercado imobiliário norte-americano que
provocou a crise de 2008 e transformá-lo num relato empolgante. A segunda é
Adam McKay, o diretor que conseguiu quebrar a complexidade do tema introduzindo
sacadas engraçadas, ancorado no recurso de fazer os personagens às vezes
falarem ao espectador, olhando para a câmera. McKay demonstra imensa habilidade
ao transformar a sopa de letrinhas do mercado imobiliário em um verdadeiro
turbilhão de referências e críticas à cultura pop e ao american way of life, como poucas vezes se viu no cinema
norte-americano nas últimas décadas. O diretor consegue fazer uso de um humor
ácido, quase satírico, explorado com bastante dinamismo e irreverência, para
tratar de um assunto muito sério, porém sem nunca ser enfadonho ou gratuito. A terceira é Steve Carell, que interpreta o
agente financeiro Mark Baum, um dos que apostam contra a estabilidade do
mercado para tentar se dar bem na crise. O ator compõe um personagem histérico,
“pilhado” e inesquecível. É o profissional com anos de trabalho cuja
experiência não conseguiu lhe preparar para uma realidade como esta que se anuncia.
O elenco é magnífico. Além de Carell, destaque para Christian
Bale que está soberbo como o gênio matemático esquisitão e incompreendido
Michael Burry, no qual ninguém acredita, mas o primeiro a prever o colapso,
consegue ver antes de todos o amanhã nebuloso que se aproxima. Passa os dias
trancado em sua sala, analisando números enquanto escuta heavy metal no volume
máximo. Ryan Gosling é o yuppie que segue a onda, indo de um lado a outro
conforme a maré. Quase como um mestre de cerimônias, ele é a figura central que
guia o olhar da audiência pelos meandros da discussão. Brad Pitt brilha como
Ben Rickert, um investidor recluso e cheio de manias tirado de uma
aposentadoria precoce por dois jovens corretores que esbarram na chance de
apostar na bolha das hipotecas. Ele é o desiludido que entende melhor do que
qualquer outro as engrenagens em ação, mas nem por isso parece inclinado a
entrar no jogo. Brad Pitt é o coadjuvante de luxo do filme. Destaque para a trilha sonora rock e
nostálgica com Gorillaz, Led Zeppelin e Nirvana.
O grande pulo do gato de “A Grande Aposta” (The Big Short) é
que, à medida que a situação como um todo cresce, o diretor passa a investir
mais, e mais, em piadas e gags particulares, extremamente debochadas. Muitas
delas são hilárias, como as participações de celebridades para explicar algum
termo técnico demais que surge durante a trama – as de Margot Robbie e Selena
Gomes são ótimas. É neste ponto que a verve cômica do cineasta vem à tona,
usando o sarcasmo não apenas para ajudar a própria narrativa, mas também para
cutucar o próprio modelo retratado. Não é à toa que, já na reta final, McKay,
espalha o sutil som de risadas em determinadas cenas, como se o próprio
contexto risse da armadilha criada para o cidadão comum – e, por que não?, para
o próprio espectador. Contundente e incisivo, “A Grande Aposta” (The Big Short)
é uma grande radiografia que investiga as razões – petulância, arrogância e
desrespeito total ao mercado entre elas – que levaram ao cenário caótico
revelado há mais de uma década. É um grande filme que tão bem retrata o modo de
pensar do capitalismo selvagem. Ao mesmo tempo, é uma roda-gigante de citações
pop nos sentidos mais diversos, muitas vezes usadas como mero deboche, até
mesmo às próprias citações. Indiscutivelmente, um dos filmes mais
revolucionários e provocadores da atualidade!!!! OBRIGATÓRIO
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