Content on this page requires a newer version of Adobe Flash Player.

Get Adobe Flash player

domingo, 16 de outubro de 2016

O LAR DAS CRIANÇAS PECULIARES (Miss Peregrine's Home for Peculiar Children) EUA, 2015 - Direção: Tim Burton - Elenco: Eva Green, Asa Butterfield, Samuel L. Jackson, Judi Dench, Rupert Everett, Terence Stamp, Allison Janney, Chris O’Dowd, Ella Purnell, Milo Parker, Finlay MacMillan, Hayden Keeler-Stone - 127 min


O novo filme de Tim Burton conta a história de um jovem de vida tediosa que é convidado a adentrar em um mundo fantástico, onde o diretor tem a chance de dar vazão à sua veia criativa em um ambiente sombrio e, ao mesmo tempo, bastante atraente. Fascinado por uma abordagem mais sombria, ele sempre buscou mesclá-la à fantasia não propriamente para assustar, mas de forma a criar universos onde o bem e o mal não sejam tão estereotipados assim. E nesta nova aventura não poderia ser diferente. Além do requinte visual que é a marca registrada do diretor, ele adapta um livro muito interessante que proporciona um roteiro engenhoso, sem os lapsos de ação que às vezes caracterizam sua obra. 


A trama do filme se concentra no herói adolescente Jake, interpretado por Asa Butterfield (em ótima atuação), o garoto de “A Invenção de Hugo Cabret” (2011), de Martin Scorsese. O jovem é muito apegado ao avô, que morre em circunstâncias misteriosas. Após, ele parte com o pai para Cairnholm, uma ilha do País de Gales, onde durante a Segunda Guerra Mundial o avô morou num orfanato. Lá ele encontra uma mansão abandonada, que abriga uma fenda temporal comandada pela srta. Peregrine (Eva Green), cuja missão é justamente cuidar das crianças peculiares do título. A srta. Peregrine é uma Ymbryne, que pode se transformar em ave e criar fendas temporais, paralisando o tempo numa data específica, no caso, 03 de setembro de 1943, dia em que uma bomba nazista explodiu o orfanato na calada da noite em plena Segunda Guerra Mundial. As crianças parecem um mostruário de tipos estranhos como Tim Burton gosta de inserir em sua ficção. Há a garota de cinco anos, fofinha, que é forte o bastante para levantar um carro; outra garota é tão leve que usa botas com chumbo para não sair flutuando; há ainda outra que coloca fogo em tudo que toca; um rapaz capaz de dar vida a bonecos e seres inanimados; uma menina de aparência adorável que esconde na nuca, por baixo dos cachos dourados, uma bocarra faminta; o garoto invisível é simplesmente notável; bem construído também são os gêmeos misteriosos que ocultam seu poder, que só é revelado em uma cena crucial. 


 “O Lar das Crianças Peculiares” não é o melhor filme do diretor, mas funciona muito bem a partir do momento em que o jovem entra na fenda. O espectador é então convidado a adentrar neste universo mágico e um tanto quanto estranho, onde o apuro na direção de arte, figurino e maquiagem saltam aos olhos da plateia. Tudo é bem aproveitado, explorando de forma convincente a profundidade do local filmado. Desde o início, o filme lembra muito o estilo de outras obras do diretor, como a sobriedade de “Edward Mãos de Tesoura” (1990), aliada ao humor debochado de “Os Fantasmas se Divertem” (1988) e o toque de heroísmo e fantasia de “Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas” (2003). Também há que se mencionar duas referências importantes: dos X-MEN vêm os dons de cada personagem, que serão fundamentais na hora de lutar contra o vilão e salvar todo mundo; e, de Harry Potter, vem o lado lúdico, um quê de literatura infanto-juvenil e vilania ligada à mágica. 


Quanto ao elenco ele seria perfeito se não tivesse dois deslizes: Samuel L. Jackson interpreta a si mesmo como o vilão Barron, que chama mais atenção pela cafonice de suas falas do que pelo seu grau de maldade; e o desperdício da Judi Dench (uma das grandes estrelas do cinema) vivendo um papel extremamente insignificante. O restante do elenco se apresenta bastante eficiente. A história rende idas e vindas no tempo e ganha um ritmo de ação quase alucinante no final. O confronto entre as crianças e os monstros é cheio de sacadas muito boas. O diretor constrói um conto de fadas permeado pelo macabro, em que principalmente os púberes se arriscam para garantir a integridade do direito de ser diferente, de sentir-se confortável com sua unicidade, e centraliza a atenção no garoto construindo um fascinante universo de fábula, onde os acontecimentos podem ser entendidos, numa chave metafórica, como alusão às agruras da Segunda Guerra Mundial e às suas marcas.  

Nenhum comentário:

Postar um comentário