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domingo, 22 de outubro de 2017

QUELÉ DO PAJEÚ -Brasil, 1970 – Direção Anselmo Duarte – elenco: Tarcísio Meira, Rossana Ghessa, Jece Valadão, Sérgio Hingst, Elizangela, Guy Loup, Luiz Alberto Meirelles, Jorge Karam, Anita Esbano, Simplício, Ravina, Maurício Gracco, Nhô Juca, Regina D. Paris, Reginaldo Vieira, Geraldo Vandré – 115 minutos 

Apoiado num esquema de produção de categoria internacional, a narrativa caminha em linha reta num trabalho artesanal seguro e atraente. (Jornal do Brasil) 

Um excelente filme, com grande atuação do protagonista Quelé (interpretado por Tarcísio Meira) e de todo o elenco, em especial do antagonista Cecílio (caracterização de Jece Valadão). Essa obra produzida em 1970 mostra, além do "caminho do herói" Quelé, todo um contexto do sertão brasileiro da primeira metade do século XX. A trama é bastante movimentada e interessante - prende a atenção do espectador, e o deixa motivado a saber o desfecho da trajetória do herói. Mostra também o clima do sertão nordestino, a aridez, o sofrimento da vida do sertanejo, a pobreza e as mazelas sociais pelas quais sofrem desde os tempos mais antigos. Quelé tem uma trajetória tensa, tortuosa, cheia de desatinos e infelicidades. Ele se depara com todo tipo de figura em sua jornada para fazer justiça após a maldade desonrosa cometida por Cecílio contra sua Irmã caçula: Marizolina. Ele se vê envolvido com bandidos, miseráveis, policiais, cangaceiros etc. No elenco a presença marcante de Rossana Ghessa, que faz Maria do Carmo, o amor da vida de Quelé. O final tem um caráter épico com o protagonista encerrando a sua "jornada do Herói" lutando contra tudo e todos de maneira emblemática. E propõe que o caminho do protagonista seja não apenas um caminho individual, mas um caminho de insurreição coletiva.


Lima Barreto, o cineasta, era também escritor e um de seus livros foi exatamente “Quelé do Pajeú”, que ele tencionou levar ao cinema. Excêntrico e de temperamento difícil, o que se refletiu em dificuldades de produção em todos seus projetos inclusive no bem sucedido artística e comercialmente “O Cangaceiro” (1953), Lima Barreto viu fracassar a tentativa de transformar “Quelé do Pajeú” em filme. Escreveu o roteiro e com ele debaixo do braço saiu em busca de financiamento, mas aos 63 anos de idade e cada vez mais irascível, viu todas as portas se fecharem. O roteiro de Lima Barreto chegou às mãos de Anselmo Duarte que leu e imediatamente se interessou em filmá-lo, impondo a condição de fazer algumas alterações na história, com o que a princípio Lima concordou. O terceiro filme de Anselmo Duarte, “Veredas da Salvação” (1965) não havia repetido o êxito comercial de “O Pagador de Promessas” (1962), mas mesmo assim Anselmo conseguiu apoio financeiro de pessoas físicas e jurídicas. Além do Instituto Nacional do Cinema (INC), nada menos que sete bancos decidiram investir no projeto, assim como gente conhecida como o colunista social Ibrahim Sued e o crítico carioca Carlos Fonseca. Com um bilhão de cruzeiros para seu novo projeto, Anselmo Duarte não teve dificuldades em contratar Tarcísio Meira, já então o mais famoso galã da televisão e a atriz Izabel Cristina (que mudou o nome para Guy Loup) igualmente conhecida, além de Jece Valadão e Rossana Ghessa para os principais papéis. Lima Barreto pretendia filmar “Quelé do Pajeú” no sertão pernambucano buscando maior autenticidade, mas Anselmo levou a equipe para a sua cidade natal, Salto de Itú, uma espécie de Alabama Hills cabocla, onde o filme foi quase inteiramente rodado. 


O filme estava considerado irremediavelmente perdido. Até que uma cópia foi encontrada na Itália. Rever o filme quase 50 anos depois de sua realização, permite ao espectador preencher mais uma peça do enorme quebra-cabeça que é o cinema brasileiro, e permite também reavaliar a produção de cinema dos anos 1960, esse turbilhão, especialmente na relação entre o “cinema novo” e um cinema de matiz mais comercial. Anselmo Duarte, o diretor, por muito tempo permaneceu entre “a cruz e a espada” no cinema brasileiro, entre “o céu e o inferno” e entre “Deus e o Diabo”, desde que filmou “O Pagador de Promessas” (1962). Todos esses termos são usados como analogia não apenas à posição do Anselmo na trajetória do cinema brasileiro, mas aos temas colocados por alguns de seus próprios filmes. 


Aclamado como uma obra surpreendente, misteriosa e atemporal, “Quelé do Pajeú” é um filme comparado a alguns westerns de Anthony Mann e Sergio Corbucci. O espaço é o amplo sertão nordestino, a peregrinação é um deslocamento físico entre inclusive diversos estados, entre Alagoas e Pernambuco. Um dos conflitos na história é entre o verde e a seca: a vegetação é um dos mais formidáveis elementos de “mise en scene” desse notável filme, que usa a base do cinema clássico, com uma enorme produção em termos financeiros, finalizada em 70 mm. Usa a base do cinema de gênero (o western, o “filme de cangaço”), e claramente dialoga com o cinema italiano (o western italiano), semelhança aumentada pela coincidência do destino de a cópia recuperada ser legendada em italiano.  É um filme absolutamente importante sob muitos aspectos. A “historiografia clássica” do cinema brasileiro está sendo redescoberta e reavaliada por toda uma geração nos últimos anos e “Quelé do Pajeú” certamente é uma dessas obras valiosas. 


Uma aventura narrada em linguagem simples e universal, capaz de prender o espectador na poltrona da primeira à última cena. (Jornal Última Hora) 


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