OKJA
(Okja) Coreia do Sul / EUA, 2017 – Direção Joon-ho Bong – elenco: Tilda
Swinton, Jake Gyllenhaall, Paul Dano, Sheena Kamal, Michael Mitton, Colm Hill,
Kathryn Kirkpatrick, Jose Carias, Giancarlo Esposito, Seo-Hyun Ahn, Hee-Bong Byun
– 120 minutos
O CINEMA FAZENDO O ESPECTADOR PENSAR
Com um discurso constante de defesa à natureza, OKJA paulatinamente caminha rumo a temas importantes
sem jamais deixar de lado o entretenimento. Tanto que, especialmente no
primeiro terço, o filme investe bastante em cenas de ação e até mesmo em um
humor infantilizado, incluindo questionáveis situações escatológicas. Tudo para
de imediato capturar a atenção do espectador de forma que, mais a frente, possa
desvendar toda a batalha midiática até então oculta. O filme, que nunca para de se movimentar, é denso e repleto de
informação e sentimentos. Pedaços de sátira pipocam e logo são varridos por
ondas de fortes emoções.
Diante de tamanha excelência de roteiro e
execução, deve-se também destacar a qualidade do elenco. Se a jovem Seo-Hyun
Ahn desponta pelo carisma e Tilda Swinton reprisa sua excelência habitual na
criação de versões exóticas, Jake Gyllenhaal e Paul Dano entregam personagens absolutamente deliciosos, seja
pelo linguajar corporal ou pelo idealismo exacerbado. Quem também chama a
atenção é Giancarlo Esposito, não
propriamente pela atuação mas pela escalação de forma que o público
imediatamente remeta seu personagem a Gus Fring, o icônico vilão da série Breaking
Bad, também por ele interpretado. Uma escolha
inteligente de casting, por estender o papel além do que o próprio roteiro lhe
oferece.
Este é um filme de entretenimento incrivelmente
bem realizado, um filme do tipo mais satisfatório, reconfortante e restaurador
que há: com um coração tão grande, o filme até pode trazer bastante reflexão,
mas o espectador pode simplesmente querer se aconchegar e aproveitar a jornada.
Ninguém, mas ninguém mesmo, faz filmes como Bong Joon-ho, um mestre sul coreano
que combina conceitos barrocos, visuais épicos, elencos internacionais e um
senso de humor que pode fazer rir no meio das tramas mais obscuras. O
filme aproveita para condenar a ganância desmedida e a natureza sociopata das
grandes corporações, que, jamais satisfeitas com seus lucros descomunais,
quebram leis e ignoram quaisquer princípios éticos em troca de uns centavos
adicionais. O que torna "Okja" interessante dentro da
cinematografia do coreano é que, mesmo em busca desse discurso universalizante,
Bong não lima as arestas que fazem seu cinema tão particular, principalmente em
relação à variação de tons e gêneros. É uma fábula muito bem construída
no que tange à oposição entre a avareza do capital e a necessidade de preservar
a vida.
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