ZOOTOPIA (Zootopia) EUA, 2016 – Direção Byron
Howard, Rich Moore e Jared Bush – elenco: Ginnifer Goodwin, Jason Bateman,
Idris Elba, Jenny Slate, Nate Torrence, Octavia Spencer, Shakira, J. K.
Simmons, Alan Tudyk, Bonnie Hunt, Don Lake, Rich Moore, Byron Howard, Jared
Bush, Raymond S. Persi, Della Saba – 108 min
AO ABRAÇAR PRECONCEITOS CRIA UMA MENSAGEM SOBRE
INTOLERÂNCIA
“Zootopia” é,
sem sombra de dúvida, uma das melhores e mais ambiciosas animações do ano. É,
na verdade, uma metáfora muito bem construída sobre o mito do sonho americano,
onde Juddy, a protagonista coelhinha, tem sede de provar o seu valor e de tornar o
mundo um lugar melhor. Grandes expectativas que logo desmoronam quando ela dá
de cara com a dura realidade de uma tão sonhada Zootopia, um lugar democrático
onde todos podem ser o que quiserem. Existe um contexto de grandes
corporações, violência nas cidades, transporte público superlotado, abusos
éticos da polícia. As pessoas se movem entre a casa e o trabalho, os moradores
do campo migram para as metrópoles, a publicidade está em todos os lugares e os
ícones da música pop se
tornam formadores de opinião. Talvez os animais tenham sido a concessão
necessária para tornar esta história, de fundo amargo, mais engraçada e
palatável ao público infantil. O conflito principal do longa diz respeito ao
retorno de alguns animais ao comportamento selvagem de antigamente. A
bestialidade, a violência e a lei do mais forte são tratados como um passado
aberrante que a civilização tratou de eliminar por meio de leis e da moral. É
admirável que o duelo central do roteiro se dê entre determinismo biológico e
dinamismo cultural, em outras palavras, entre o que se espera de uma pessoa por
sua constituição física, e o que ela é capaz de fazer para além dos moldes da
sociedade.
É
interessante que o filme explica porque as crianças não deveriam ser
preconceituosas, mostrando passo a passo como nascem
os preconceitos, passando pela cultura do medo e pelo fantasma da tradição,
além do “papel biológico” de cada pessoa na sociedade. Estas discussões são
embaladas pelas regras do suspense policial, com direito a uma longa
investigação, sombria e cheia de significados, que rompe com o aspecto
frenético e episódico que tem pautado as histórias infantis. Merece destaque as referências à
cultura pop, as piadas inteligentes e um visual requintado e cuidadoso; evita também padronizar a natureza, explorando todas as
oportunidades criadas pela variedade da sua fauna ao respeitar a escala e os
ambientes de cada animal. “Zootopia” é uma
fantasia liberal que incentiva tanto a inclusão quanto a discussão, mas não se
restringe às questões das políticas raciais, mas também de gênero. Qual a maior
dificuldade que Judy tem de enfrentar: por ser da espécie coelho ou por ser uma
fêmea? Sutilmente também essa problemática é discutida.
“Zootopia” seria o
Eldorado do mundo animal, sede do progresso, oásis do vanguardismo. Mas, como
no mundo real, o fictício também guarda uma distância entre expectativa e
realidade. E quando Judy consegue se formar na Academia de Polícia, enfrenta o
choque de ser designada como guarda de trânsito. Ao topar com Nick, uma raposa
ladina, acaba se envolvendo em uma trama que ameaça levar os animais de volta
aos tempos primitivos, quando as espécies se dividiam entre presas e
predadores.O filme permite vários níveis de leitura. A piada dos ratinhos que
descem de um prédio onde se lê “Lemming Brothers Bank” não passa despercebida
para quem acompanha o noticiário, mas é menos abrangente do que a ideia de um
prefeito leão e de uma vice-prefeita ovelha convivendo no mesmo gabinete.
Aponta-se para uma realidade idealizada, mas alguns preconceitos continuam
valendo, como a ideia de que funcionários públicos são todos bichos-preguiça. O
excelente roteiro é instrumento de uma forte crítica social e discussões
importantes que estão em pauta, como o feminismo, o preconceito, a
segregação e a inclusão. O que se vê na metrópole é uma falsa integração entre
os animais com o fim do predadorismo. O estímulo à reflexão é o grande acerto
do filme, em tempos de tanta intolerância, é importante incitar, tanto os
pequenos como os adultos a necessidade de respeito às diferenças e à empatia.
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