SNOWDEN
– HERÓI OU TRAIDOR (Snowden) França / Alemanha / EUA, 2016 – Direção Oliver
Stone – elenco: Joseph Gordon-Levitt, Shailene Woodley, Melissa Leo, Zachary
Quinto, Rhys Ifans, Nicolas Cage, Tom Wilkinson, Joely Richardson, Jaymes
Butler – 134 minutos
ALGO
ESTAVA ACONTECENDO DENTRO DO GOVERNO QUE ELE CONSIDERAVA ERRADO, E POR ISSO NÃO
PODIA IGNORAR
Este
novo filme de Oliver Stone se converte num dos filmes mais importantes de 2016 ao escancarar
como as agências de Inteligência norte-americanas há muito deixaram de fazer
uma coleta passiva de dados, construindo uma rede de vigilância tão onipresente
que, em certo ponto, a única forma encontrada pelo herói para se comunicar é
através da linguagem de sinais, num exagero artístico que fortalece a denúncia
nada exagerada do longa.
Esta cinebiografia dialoga de diversas maneiras com o documentário “Citizenfour”, de Laura
Poitras, – e não só porque recria a feitura daquele filme, vencedor do Oscar de
Melhor Documentário em 2015.
Na verdade, este
trabalho de Oliver Stone funciona como um complemento àquele documentário,
retratando, com algumas licenças poéticas, os antecedentes, bastidores e
consequências de um mesmo evento central – a denúncia pública, por Snowden
(Joseph Gordon-Levitt, em uma interpretação absolutamente competente), um
ex-funcionário da CIA e da NSA (Agência Nacional de Segurança dos EUA), de
mecanismos de espionagem em escala planetária ao jornalista Glenn Greenwald
(Zachary Quinto) e à cineasta Laura Poitras (Melissa Leo), num hotel em Hong
Kong.
A atuação do ator consegue captar com riqueza de detalhes os trejeitos e
a voz do protagonista, compondo uma caracterização tão fiel que, mais tarde,
quando o próprio Snowden é mostrado, o espectador não sente qualquer abalo na
imersão, o recurso potencializa o investimento emocional e não soa forçado. É
curioso que seja mostrado em flashback o sofrimento do personagem ao ser
afastado do exército, após um tolo acidente, como forma de estabelecer a
motivação inicial do jovem, alguém que comprou o ilusório sonho americano e que
enxergava os rituais militaristas como a mais digna representação de
patriotismo. Em seu arco narrativo, ele vai de um ingênuo idealista fã da
escritora Ayn Rand que se incomoda quando algum cidadão critica seu próprio
país, até se tornar um pária tido por parte da opinião pública como um traidor
da nação. E o roteiro dedica tempo generoso à relação romântica com a namorada,
vivida por Shailene Woodley, o que pode frustrar quem procura algo mais focado
nas questões políticas.
O filme é também um estudo moral sobre as
motivações de um jovem que tinha todas as razões para permanecer quieto e,
mesmo assim, atirou tudo para o alto a fim de seguir o que a consciência lhe
ditava. Perfeitamente ciente das consequências de seus atos, Edward Snowden
sabia estar abrindo mão de seu país, de sua liberdade e possivelmente de sua
vida. “Snowden – Herói ou Traidor” é uma obra que ostensivamente denuncia como
a ameaça do “terrorismo” é usada como uma desculpa conveniente para permitir
que os governantes usem os serviços de vigilância como forma de controle
econômico, político e social, espionando líderes de outras nações e de grandes
corporações estrangeiras a fim de encontrar espaços que permitam a expansão dos
interesses norte-americanos. Obrigatório e importante!!!!
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