BEN-HUR (Ben-Hur) EUA, 2016 – Direção Timur
Bekmambetov – elenco: Jack Huston, Toby Kebbell, Rodrigo Santoro, Nazanin
Boniadi, Morgan Freeman, Ayelet Zurer, Pilou Asbaek, Sofia Black-D’Elia, Marwan
Kenzari, Moises Arias, James Cosmo, Haluk Bilginer, David Walmsley, Francesco
Scianna, Yasen Atour – 125 minutos
UMA REVISITA HONESTA E UMA
MENSAGEM CONTRA A INTOLERÂNCIA
O grande acerto do novo “Ben-Hur” do diretor Timur Bekmambetov é
justamente a consciência de que não é páreo para o filme de William Wyler - não
por uma questão de resignada humildade, mas pelo simples fato de que os anos
trataram de colocar o filme de 1959 em um pedestal de prestígio inatingível.
Por isso, o cineasta tem a boa sacada de trabalhar num filme paralelo ao
original, jamais competindo, e sim seguindo um caminho diferente. Mais do que
isso, o diretor tem a noção de que atualmente o épico cristão não tem o mesmo
apelo que tinha há quase 60 anos atrás. O cinema comercial norte-americano que
tenta resgatar esse tipo de produção, a exemplo de NOÉ (Noah,
2014) e ÊXODO – DEUSES E REIS (Exodus: Gods and Kings,
2014), perde-se na ingenuidade de tentar uma fórmula antiga num mundo muito
mais plural e dividido. Bekmambetov dribla esse problema e livra seu trabalho
do peso de um épico e o conduz como um filme de ação moderno, de fácil
assimilação e aceitação para o público atual.
Incrivelmente barroco, o diretor aposta todas suas fichas em virtuosas
cenas de combate, lindamente captadas em uma fotografia acertada nas cores
sóbrias e em um entrosamento quase invasivo com os muitos corpos e rostos. Os
momentos da batalha naval são particularmente espetaculares, servindo de escada
para o grand tour de force da corrida de bigas, momento mais ousado e ambicioso
da história e hora para o diretor deixar de lado qualquer resignação para com o
filme original e se jogar de cara em seu talento como cineasta do movimento e
das formas. E nada de recorrer ao CGI dos atuais e medrosos filmes de ação de
Hollywood – toda a sequência foi filmada fisicamente de todos os ângulos
possíveis e impossíveis, e sem o uso de dublês.
Quanto à história em si, Bekmambetov procurou cortar o tom triunfal do
filme original para se ater a um conflito mais comedido entre Judah Ben-Hur e
Messala (vividos pelos excelentes Jack Huston e Toby Kebbell, respectivamente).
Foi criado um laço fraternal entre os personagens, deixando de lado a
insinuação homoafetiva velada do trabalho de Wyler, o que contribui para um
clima um tanto mais sombrio de fratricídio latente. Outra intervenção
pós-moderna está na ambiguidade moral dos personagens, dessa vez não
categorizados como mocinhos e vilões, já que o filme mostra sem julgamentos os
atos de ódio e violência tanto de Judah quanto de Messala numa incômoda e igual
proporção. Isso se reflete numa mensagem muito contundente e válida para o
atual estado de Israel/Palestina e até influencia a participação de um Jesus
menos mártir/símbolo religioso e mais humano, mais real, interpretado com muita
sensibilidade pelo brasileiro Rodrigo Santoro. Ele assumiu a responsabilidade de
interpretar Jesus Cristo e acaba dando um maior peso dramático ao filme. O ator
está muito bem em cena. Por mais que o personagem não seja protagonista na
narrativa principal, acaba sendo o responsável por transmitir uma maior carga
emocional à produção. Um grande filme!!! Vale o ingresso
Nenhum comentário:
Postar um comentário