INDIGNAÇÃO (Indignation) EUA / China, 2016
– Direção James Schamus – elenco: Logan Lerman, Sarah Gadon, Tracy Letts, Linda
Emond, Ben Rosenfield, Noah Robbins, Bryan Burton, Pico Alexander, Philip
Ettinger, Joanne Baron – 110 min
UM PONTO DE VIRADA IMPORTANTE NA CARREIRA
DE LOGAN LERMAN
O
estreante diretor James Schamus, famoso roteirista de algumas grandes
obras-primas de Ang Lee, faz nessa estreia mais do que traçar o retrato de uma
época, mas também o reflexo da nossa época. INDIGNAÇÃO é um ponto de virada
muito importante na carreira do jovem ator Logan Lerman, astro de alguns
grandes filmes da atualidade, como CORAÇÕES DE FERRO (2014); AS VANTAGENS DE
SER INVISÍVEL (2012); O PATRIOTA (2000); OS INDOMÁVEIS (2007); OS TRÊS
MOSQUETEIROS (2011), entre outros. É o típico filme de amadurecimento, mas que se “gradua” na
veracidade dos diálogos. Há um tanto de conservadorismo e hipocrisia a se
discutir a partir dos conflitos religiosos e sexuais que a produção apresenta,
de maneira convincente e comedida, evitando o clichê do histrionismo tão comum
a esse tipo de enredo. Lançado
em 2008, “Indignação” é um romance de
Philip Roth que deve muito a um de seus grandes sucessos, O Complexo de
Portnoy, de 1969. Marcus (o protagonista de INDIGNAÇÃO) é, porém, um
retrato pálido de Portnoy – e isso certamente tem a ver com o momento de
escrita de cada um dos dois livros. O primeiro foi produzido na era das
contestações, dos questionamentos e da possibilidade de revoluções. O mais
recente encontra um cenário no qual o conservadorismo ganha força e,
curiosamente, deveria ser o mais forte, contestador, ultrajante, mas não é o
caso, pois deixa-se contaminar pela época de sua produção.
“Indignação”,
portanto, torna-se um estudo de comportamento social. E usar um personagem como
Marcus para evidenciar isso é brilhante, e o diretor não esconde isso. Tudo começa de modo muito
disperso com alguns elementos escassos de propriedade. Mas uma única cena é
capaz de transformar o contexto, aproveitando todo seu potencial expositivo.
Pensamentos sob raciocínios, perguntas em respostas, e a conversa entre Marcus
e o reitor Dean Caudwell sobre assuntos tão inquietantes se constrói como um
diálogo imenso e incansável de força impressionante – se o filme fosse somente
isso já valeria a pena. Neste
sentido, o clímax do filme fica sendo esse longo diálogo entre o Diretor da
Universidade com o personagem central que é aluno do estabelecimento; o mérito
se deve à transcrição quase fiel do que Philip Roth escreveu com extrema
habilidade ao estabelecer um gradual “crescendo” no cerceamento do Diretor ao
jovem, instigando suas respostas inteligentes que, aos poucos, vão se tornando
irritadiças e agressivas. A
longa cena é defendida brilhantemente pelos desempenhos de Tracy Letts no papel
do Deão - e de Logan Lerman como o universitário em crise com os pais judeus
super-protetores, temeroso de ser convocado para a Guerra da Coreia (a ação
transcorre em 1951), tenso com sua pouca experiência sexual sob a pressão dos
18, 19 anos hormonais, agora questionado por ser mais ateu do que
religiosamente judeu, por não querer pertencer a nenhuma das “fraternidades”
típicas das Universidades dos EUA e por ter trocado uma habitação com mais
colegas por outra, a pior do campus, onde ficou sozinho. Ainda sobre essa cena
gigante, é um diálogo que transita entre o patético e o cômico, abarcando todas
as variações entre as duas pontas, ele cria um embate entre gerações e entre
visões de mundo.
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