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terça-feira, 6 de dezembro de 2016

INDIGNAÇÃO (Indignation) EUA / China, 2016 – Direção James Schamus – elenco: Logan Lerman, Sarah Gadon, Tracy Letts, Linda Emond, Ben Rosenfield, Noah Robbins, Bryan Burton, Pico Alexander, Philip Ettinger, Joanne Baron – 110 min

    UM PONTO DE VIRADA IMPORTANTE NA CARREIRA DE LOGAN LERMAN


O estreante diretor James Schamus, famoso roteirista de algumas grandes obras-primas de Ang Lee, faz nessa estreia mais do que traçar o retrato de uma época, mas também o reflexo da nossa época. INDIGNAÇÃO é um ponto de virada muito importante na carreira do jovem ator Logan Lerman, astro de alguns grandes filmes da atualidade, como CORAÇÕES DE FERRO (2014); AS VANTAGENS DE SER INVISÍVEL (2012); O PATRIOTA (2000); OS INDOMÁVEIS (2007); OS TRÊS MOSQUETEIROS (2011), entre outros. É o típico filme de amadurecimento, mas que se “gradua” na veracidade dos diálogos. Há um tanto de conservadorismo e hipocrisia a se discutir a partir dos conflitos religiosos e sexuais que a produção apresenta, de maneira convincente e comedida, evitando o clichê do histrionismo tão comum a esse tipo de enredo. Lançado em 2008, “Indignação” é um romance de Philip Roth que deve muito a um de seus grandes sucessos, O Complexo de Portnoy, de 1969. Marcus (o protagonista de INDIGNAÇÃO) é, porém, um retrato pálido de Portnoy – e isso certamente tem a ver com o momento de escrita de cada um dos dois livros. O primeiro foi produzido na era das contestações, dos questionamentos e da possibilidade de revoluções. O mais recente encontra um cenário no qual o conservadorismo ganha força e, curiosamente, deveria ser o mais forte, contestador, ultrajante, mas não é o caso, pois deixa-se contaminar pela época de sua produção.

“Indignação”, portanto, torna-se um estudo de comportamento social. E usar um personagem como Marcus para evidenciar isso é brilhante, e o diretor não esconde isso. Tudo começa de modo muito disperso com alguns elementos escassos de propriedade. Mas uma única cena é capaz de transformar o contexto, aproveitando todo seu potencial expositivo. Pensamentos sob raciocínios, perguntas em respostas, e a conversa entre Marcus e o reitor Dean Caudwell sobre assuntos tão inquietantes se constrói como um diálogo imenso e incansável de força impressionante – se o filme fosse somente isso já valeria a pena. Neste sentido, o clímax do filme fica sendo esse longo diálogo entre o Diretor da Universidade com o personagem central que é aluno do estabelecimento; o mérito se deve à transcrição quase fiel do que Philip Roth escreveu com extrema habilidade ao estabelecer um gradual “crescendo” no cerceamento do Diretor ao jovem, instigando suas respostas inteligentes que, aos poucos, vão se tornando irritadiças e agressivas. A longa cena é defendida brilhantemente pelos desempenhos de Tracy Letts no papel do Deão - e de Logan Lerman como o universitário em crise com os pais judeus super-protetores, temeroso de ser convocado para a Guerra da Coreia (a ação transcorre em 1951), tenso com sua pouca experiência sexual sob a pressão dos 18, 19 anos hormonais, agora questionado por ser mais ateu do que religiosamente judeu, por não querer pertencer a nenhuma das “fraternidades” típicas das Universidades dos EUA e por ter trocado uma habitação com mais colegas por outra, a pior do campus, onde ficou sozinho. Ainda sobre essa cena gigante, é um diálogo que transita entre o patético e o cômico, abarcando todas as variações entre as duas pontas, ele cria um embate entre gerações e entre visões de mundo. 


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