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sábado, 31 de dezembro de 2016


A RAINHA MARGOT (La Reine Margot) França / Alemanha / Itália, 1994 – Direção Patrice Chéreau – elenco: Isabelle Adjani (Margot) , Vincent Perez (La Môle), Daniel Auteuil (Henrique de Navarra), Virna Lisi (Catarina de Médicis), Jean-Hughes Angladé (Rei Carlos IX), Jean-Claude Brialy (Coligny), Miguel Bosé (Guise), Pascal Greggory (Anjou / Henrique III da França), Dominique Blanc (Henriette de Nevers), Thomas Kreschtmann (Nançay), Claudio Amendola (Coconnas), Asia Argento (Charlotte de Sauve); Julien Rassman (Alençon), Jean-Philippe Écoffrey (Condé) – 154 minutos.

                  ELA ERA A ESPOSA DO REI E A AMANTE DO SOLDADO


Este grande filme, um verdadeiro clássico do cinema francês, baseado na obra imortal de Alexandre Dumas (de 1844), retrata um período histórico marcado pela violência praticada em nome da fé e do amor. Com seu enredo emocionante e sua galeria de personagens memoráveis, A RAINHA MARGOT, é um filme fantástico e um dos mais belos e poderosos dos anos 1990. Causou grande impacto, pelas cenas de violência e de sexo. Lançado em 1994, foi aclamado no Festival de Cannes, dando a Virna Lisi o prêmio de Melhor Atriz por sua performance assombrosa, uma presença maligna e ambiciosa, que rouba todas as cenas do filme. Foi aclamada internacionalmente entre as melhores atuações de toda a história do cinema. Premiado também como Melhor Filme pela imprensa especializada. Ganhou cinco César (o Oscar francês).


A história se passa em 1572, quando as guerras de religião dilaceravam a França. Por conveniência política, uma princesa católica de dezessete anos - bela e culta, considerada a mulher mais fascinante de seu tempo - é obrigada a se casar com o rei protestante de Navarra, um pequeno país ao sul. Ela é Margarida de Valois, ou Margot, simplesmente; ele, o jovem Henrique de Navarra. Ao promover esse casamento sem amor, Catarina de Médicis, mãe da noiva e de Carlos IX, rei da França, espera obter a paz entre católicos e protestantes. Ocorre, porém, o contrário do esperado. Sobrevêm episódios terríveis, como a noite de São Bartolomeu, um dos massacres religiosos mais conhecidos de toda a História. No centro do conflito está Margot, interpretada pela grande musa do cinema francês, Isabelle Adjani, num papel que parece ter sido criado só para ela. Indiscutivelmente, A RAINHA MARGOT é o melhor filme já realizado sobre a histórica “Noite de São Bartolomeu”. Absolutamente belo e deslumbrante, é um filme histórico brilhante, com imagens delirantes e o mais arrebatador do gênero. Não existe na história do cinema, nada mais extraordinário sobre esse episódio sangrento da história. 


O filme mostra os propósitos do casamento, as tentativas da família real francesa de manter o trono em domínio de um rei católico, os amores proibidos da rainha e a perseguição aos protestantes durante a cerimônia do casamento. Este drama histórico poderoso também fala da manipulação dos homens; as tentativas fracassadas de assassinato; palavra em falso do outro que é dito para iludir e enganar; a lealdade a uma promessa de amor; a quebra de uma promessa de honra em nome de salvar a própria vida; o inusitado nascimento de um amor que pode render e salvar, mas que também pode dar a vida pela do outro. Há uma dissecação impecável sobre a vida de um nobre, onde muitas vezes o poder pode ser uma sentença de morte.  Este épico assombroso repleto de suspense e beleza é interpretado por alguns dos melhores atores franceses de sua geração. Ao lado da impressionante caracterização de Virna Lisi e a estonteante atuação de Isabelle Adjani, temos ainda Vincent Perez, no auge da sua beleza, numa impecável composição como o amante da Rainha Margot; o excelente Jean-Hughes Angladé brilha como o fraco Rei Carlos IX; Daniel Auteuil, como Henrique de Navarra dá um show particular; Pascal Greggory, como Anjou / Henrique III da França, dispensa comentários, numa magnífica representação; Miguel Bosé, brilhante como Guise está notável. Fotografado com grande beleza e precisão delirante por Phillipe Rousselot - que amplia a escuridão dos palácios e das ruas de Paris para reiterar as trevas que circundam as personagens – e com uma reconstituição de época impressionante e impecável (com ênfase no figurino indicado ao Oscar de Moidele Bickel), o filme conquista justamente pelos motivos que incomodaram os críticos sem abdicar dos elementos próprios de sua cinematografia (nudez frontal masculina ainda era um tabu em Hollywood) e absorvendo o melhor do cinema norte-americano, ele é um filme que serve tanto como entretenimento quanto como história, ainda que disfarçada de romance. UM DOS MELHORES FILMES DA DÉCADA!!! UM DOS MAIS IMPORTANTES DO CINEMA!!




quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

A PONTE DE REMAGEN (The Bridge at Remagen) EUA, 1969 – Direção de John Guillermin – elenco: George Segal, Robert Vaughn, Ben Gazzara, Bradford Dillman, E. G. Marshall, Peter van Eyck, Sonja Ziemann, Anna Gäel, Joachim Hansen, Hans Christian Blech, Heinz Reincke, Bo Hopkins, Vit Olmer, Robert Logan, Matt Clark – 115 min

UM MOMENTO PODEROSO DE LUTA CONSIDERADO O GOLPE MAIS ESTRATÉGICO DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL!!! 


Um excelente filme de guerra, relatando um episódio já bem no final da Segunda Guerra Mundial. A história é passada em março de 1945. Nos últimos meses do conflito mundial, os exércitos do Terceiro Reich estavam em fuga através do grande fosso que guarda o coração da Alemanha, que é o Rio Reno. A situação se complica ainda mais, pois os Aliados estão fazendo seu avanço final em território alemão e uma única ponte estratégica sobre o Rio Reno permanece nas mãos dos nazistas. Ambos os lados têm muito a ganhar: os alemães, as vidas de 50.000 soldados que estão do lado errado da ponte, e os  Aliados um fim rápido para a guerra com a menor perda de vidas. Apesar de ambos os exércitos terem lutado bravamente, apenas um podia vencer a crucial batalha pela PONTE DE REMAGEN. Um elenco espetacular e de grandes estrelas – incluindo George Segal, Robert Vaughn, Ben Gazzara, E. G. Marshall, Bradford Dillmann, - nos traz toda a glória e agonia da guerra dando vida a este olhar intenso e estimulante, mas ao mesmo tempo extremamente humano, sobre um momento de luta considerado o golpe mais estratégico da Segunda Guerra Mundial. O filme tem excelentes efeitos especiais, uma fotografia de grande beleza e impressionantes cenas de ação. O ritmo frenético da história coloca o público na frente de batalha lado a lado com os corajosos soldados que lutaram em Remagen.  Um filme obrigatório!!!


terça-feira, 27 de dezembro de 2016

A EXECUÇÃO DO SOLDADO SLOVIK (The Execution of Private Slovik) EUA, 1974 – Direção Lamont Johnson – elenco: Martin Sheen, Mariclare Costello, Ned Beatty, Gary Busey, Matt Clark, Ben Hammer, Charles Haid, Paul Lambert – 120 min

  O ÚNICO SOLDADO EXECUTADO POR DESERÇÃO DESDE A GUERRA CIVIL


Ao final da Segunda Guerra Mundial, um soldado norte-americano, filho de imigrantes russos, Eddie Slovik (Edward Donald Slovik), entrou em pânico durante um combate e fugiu. Conseguiu reunir coragem e se apresentou aos superiores, três dias depois. Acusado de alta traição e deserção, foi julgado e condenado à morte. O General Patton (o comandante Aliado mais temido pelos nazistas), pediu a morte do jovem porque “eu nunca mais teria como olhar para os olhos de um soldado corajoso”. Patton ficou famoso, além de ser habilidoso estrategista durante a Segunda Guerra, também por ter esbofeteado um soldado num hospital de campanha, ao saber que ele estava internado por causa dos nervos. Slovik acabou sendo o único soldado dos Estados Unidos morto por seus parceiros durante o conflito, diante de um pelotão de fuzilamento formado por chocados e transtornados companheiros seus. Toda a barbárie e os horrores vividos por Slovik num filme polêmico e soberbo!!!


domingo, 25 de dezembro de 2016

BEN-HUR (Ben-Hur) EUA, 2016 – Direção Timur Bekmambetov – elenco: Jack Huston, Toby Kebbell, Rodrigo Santoro, Nazanin Boniadi, Morgan Freeman, Ayelet Zurer, Pilou Asbaek, Sofia Black-D’Elia, Marwan Kenzari, Moises Arias, James Cosmo, Haluk Bilginer, David Walmsley, Francesco Scianna, Yasen Atour – 125 minutos

   UMA REVISITA HONESTA E UMA MENSAGEM CONTRA A INTOLERÂNCIA 


O grande acerto do novo “Ben-Hur” do diretor Timur Bekmambetov é justamente a consciência de que não é páreo para o filme de William Wyler - não por uma questão de resignada humildade, mas pelo simples fato de que os anos trataram de colocar o filme de 1959 em um pedestal de prestígio inatingível. Por isso, o cineasta tem a boa sacada de trabalhar num filme paralelo ao original, jamais competindo, e sim seguindo um caminho diferente. Mais do que isso, o diretor tem a noção de que atualmente o épico cristão não tem o mesmo apelo que tinha há quase 60 anos atrás. O cinema comercial norte-americano que tenta resgatar esse tipo de produção, a exemplo de NOÉ (Noah, 2014) e ÊXODO – DEUSES E REIS (Exodus: Gods and Kings, 2014), perde-se na ingenuidade de tentar uma fórmula antiga num mundo muito mais plural e dividido. Bekmambetov dribla esse problema e livra seu trabalho do peso de um épico e o conduz como um filme de ação moderno, de fácil assimilação e aceitação para o público atual.


Incrivelmente barroco, o diretor aposta todas suas fichas em virtuosas cenas de combate, lindamente captadas em uma fotografia acertada nas cores sóbrias e em um entrosamento quase invasivo com os muitos corpos e rostos. Os momentos da batalha naval são particularmente espetaculares, servindo de escada para o grand tour de force da corrida de bigas, momento mais ousado e ambicioso da história e hora para o diretor deixar de lado qualquer resignação para com o filme original e se jogar de cara em seu talento como cineasta do movimento e das formas. E nada de recorrer ao CGI dos atuais e medrosos filmes de ação de Hollywood – toda a sequência foi filmada fisicamente de todos os ângulos possíveis e impossíveis, e sem o uso de dublês.


Quanto à história em si, Bekmambetov procurou cortar o tom triunfal do filme original para se ater a um conflito mais comedido entre Judah Ben-Hur e Messala (vividos pelos excelentes Jack Huston e Toby Kebbell, respectivamente). Foi criado um laço fraternal entre os personagens, deixando de lado a insinuação homoafetiva velada do trabalho de Wyler, o que contribui para um clima um tanto mais sombrio de fratricídio latente. Outra intervenção pós-moderna está na ambiguidade moral dos personagens, dessa vez não categorizados como mocinhos e vilões, já que o filme mostra sem julgamentos os atos de ódio e violência tanto de Judah quanto de Messala numa incômoda e igual proporção. Isso se reflete numa mensagem muito contundente e válida para o atual estado de Israel/Palestina e até influencia a participação de um Jesus menos mártir/símbolo religioso e mais humano, mais real, interpretado com muita sensibilidade pelo brasileiro Rodrigo Santoro. Ele assumiu a responsabilidade de interpretar Jesus Cristo e acaba dando um maior peso dramático ao filme. O ator está muito bem em cena. Por mais que o personagem não seja protagonista na narrativa principal, acaba sendo o responsável por transmitir uma maior carga emocional à produção. Um grande filme!!! Vale o ingresso


quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

CEGONHAS – A HISTÓRIA QUE NÃO TE CONTARAM (Storks) EUA, 2016 – Direção Nicholas Stoller e Doug Sweetland – Animação com as vozes de Andy Samberg, Katie Crown, Kelsey Grammer, Jennifer Aniston, Ty Burrell, Anton Starkman, Jordan Peele, Keegan-Michael Key, Danny Rejo – 87 minutos

ILUSTRA COMO O CONCEITO DE FAMÍLIA ESTÁ INFINITAMENTE MAIS LIGADO AO AFETO DO QUE AO GÊNERO DE SEUS INTEGRANTES. 


Essa linda animação tem como ponto de partida a clássica fábula de que as cegonhas são as responsáveis pela entrega de novos bebês. A partir desta premissa, o espectador é levado a um mundo em que as aves não aguentam mais essa responsabilidade, tratada como um trabalho desumano e selvagem. Diante do fato de que existe outras formas de se produzir crianças, as cegonhas abandonam a função e interrompem os trabalhos da fábrica de bebês. Elas passam a investir, então, em entregas de produtos variados, sempre se orgulhando do serviço eficiente e de qualidade.
A produção revela cuidado com seus elementos visuais, que também impressiona, principalmente no final, quando um belo trabalho de animação entrega vários planos abertos das cegonhas no céu, e o trabalho de animação feito pelo recém-inaugurado Warner Animation Group é admirável: os personagens são extremamente expressivos facial e corporalmente, o design de produção cria um universo vívido e interessante e detalhes como o corte militar de Hunter ou os olhos completamente brancos dos pinguins indicam a compreensão dos realizadores sobre como elementos sutis podem fazer toda a diferença. Para completar, o filme sabe que conta com uma arma poderosa para conquistar o público e a emprega muito bem: os bebês, com seus olhos grandes e gritinhos adoráveis. A maior qualidade de CEGONHAS é acertar no humor, que serve tanto para crianças, quanto para adultos. Enquanto os pequenos vão rir das situações absurdas mostradas em tela, os adultos verão referências - como o dia a dia de trabalho em uma grande empresa, as dificuldades da paternidade, etc. - que só eles entendem e que também divertem bastante.
Essa atualidade do filme não acontece só nas piadas. A família que espera pelo bebê mostra muito do estilo de vida moderno: os pais trabalham em casa, que acaba se tornando seu escritório e, por conta disso, trabalham demais, deixando o filho mais velho Nate um pouco de lado. Ele, por conta dessa solidão, deseja a presença de um irmãozinho e deixa isso claro para os pais, que ficam receosos, já que o trabalho está em primeiro plano em suas vidas. Uma história relevante e atual que é tratada com muita leveza dentro da trama. CEGONHAS é um filme muito bom, independente do cenário que o cerca. Com muita sensibilidade e delicadeza, consegue atingir todos os públicos e encantar por sua mensagem pacifista. Vale o ingresso!!!

terça-feira, 20 de dezembro de 2016

BLOW UP – DEPOIS DAQUELE BEIJO (Blow Up) Inglaterra/Itália, 1966 – Direção de Michelangelo Antonioni – elenco: Vanessa Redgrave, David Hemmings, Sarah Miles, John Castle, Jane Birkin, Gillian Hills, Peter Bowles e a manequim Veruschka – 111 minutos

  50 ANOS DO FILME QUE ROMPEU COM A ESTÉTICA CINEMATOGRÁFICA VIGENTE


Alguns consideram esse filme de Antonioni como uma das primeiras obras de um mundo já na trilha da globalização. Inspirado no texto “Las babas del diablo”, do escritor argentino Julio Cortazar, Antonioni rompe com a estética cinematográfica vigente e traz uma narrativa moderna, revitalizando o cinema europeu. O filme mostra uma série de elementos efervescentes da cidade de Londres e da época: a minissaia, as drogas, o amor livre, a psicodelia.  Hoje, talvez tenha perdido o encanto e o impacto que causou em 1966, devido às transformações comportamentais pelas quais passou a sociedade. Mas sua importância estética ainda resiste, pois deixa registrado o estilo cinematográfico audacioso e sofisticado de Michelangelo Antonioni. A trilha sonora foi responsabilidade do músico americano de Jazz Herbie Hancock, e a banda inglesa de Blues The Yardbirds marca presença, tocando em um clube londrino. 


BLOW UP – DEPOIS DAQUELE BEIJO é o primeiro filme em língua inglesa de Michelangelo Antonioni, trazendo ao mundo a primeira cena de nudez frontal feminina (da cantora-atriz Jane Birkin) em um filme não-erótico e dirigido ao grande público. O primeiro grande sucesso de Antonioni foi A AVENTURA (1960), seguido por A NOITE (1961) e O ECLIPSE (1962), que compreendem uma trilogia sobre o tema da alienação. Seu primeiro filme colorido DESERTO VERMELHO (1964), também explora temas modernistas da alienação, e junto com os três filmes anteriores, forma uma tetralogia. A atriz Monica Vitti apareceu nos quatro filmes da tetralogia, atuando em papéis de mulheres desconexas que lutam para se ajustar ao isolamento da modernidade. ZABRISKIE POINT (de 1970), seu primeiro filme rodado nos Estados Unidos da América, teve menos sucesso, mesmo com a inclusão de uma trilha sonora composta de artistas populares como Pink Floyd (que escreveu músicas especialmente para o filme), Gratefull Dead (banda californiana de Rock) e os Rolling Stones.




Em 1995 Antonioni foi premiado com um Oscar pelo conjunto da sua obra. No entanto, ironicamente o prêmio foi roubado de sua casa, em dezembro de 1996. Ingmar Bergman uma vez disse que admirava alguns dos filmes do Antonioni por serem desinteressados e algumas vezes visionários. E isso parece ter sido um elogio! Brian de Palma homenageou BLOW UP no thriller UM TIRO NA NOITE, com muita competência. O título “Blow UP” refere-se ao termo técnico que define grandes ampliações fotográficas. Pode ser entendido também como “estouro” ou “explosão”. BLOW UP é, sem dúvida, um dos filmes mais elogiados do diretor e também um dos mais notáveis. Merece ser visto e revisto.




domingo, 18 de dezembro de 2016

MOGLI – O MENINO LOBO (The Jungle Book) EUA, 2016 – Direção Jon Favreau – elenco: Neel Sethi (Mowgli), Ben Kingsley (Bagheera), Idris Elba (Shere Khan), Bill Murray (Baloo), Lupita Nyong’o (Raksha), Scarlett Johansson (Kaa), Giancarlo Esposito (Akela), Christopher Walken (Rei Louie), Garry Shandling (Ikki), Brighton Rose (Gray), Emjay Anthony, Max Favreau, Asher Blinkoff – 106 minutos

       UMA OBRA REALISTA, DANDO VIDA NOVA A ESSA GRANDE FÁBULA!!!


Em 1967, Walt Disney levou para o cinema o desenho animado “Mogli – O Menino Lobo”, baseado no livro do escritor inglês Rudyard Kipling, cujo título original é “The Jungle Book” (O Livro das Selvas). Contava a história de um menino criado por lobos nos confins das selvas indianas. Praticamente 50 anos depois os estúdios Disney, fazem um remake da mesma história, só que agora em live action (misturando atores e computação gráfica), destacando um impressionante aparato técnico recheado de efeitos de animação gráfica tridimensionais, muito bem elaborados. O novo “Mogli – O Menino Lobo” é uma aventura deslumbrante capaz de encantar não só crianças, mas adultos também. É uma obra realista com uma selva deliberadamente bonita, dando vida nova a essa grande fábula. Traz uma história de elementos sombrios, mas ao mesmo tempo cheia de momentos alegres, destacando a relação entre homens, animais e a importância das leis da sobrevivência.  O belo mundo selvagerm aqui é praticamente todo criado em CGI (uma sigla em inglês para o termo Computer Graphic Imagery, ou seja, imagens geradas por computador, a famosa computação gráfica. Se refere a todas as imagens geradas através de computadores feitas em três dimensões, com a profundidade de campo sendo possível graças apenas à computação. O CGI nada mais é que praticamente todo tipo de efeito ou animações que vemos hoje em dia, seja em filmes, videogames ou mesmo na televisão). 


O filme é lindo, é uma obra que merece ser vista, graças à forma humana e emocionante como esta grande história foi recontada. Apresenta um universo fantástico, onde animais falantes interagem com um menino humano que mora na selva e explora seus perigos e maravilhas. Os efeitos especiais constituem o melhor e mais surpreendente aspecto dessa animação, basta ver o cuidado na criação dos pelos dos animais, dos movimentos e dos olhares incrivelmente expressivos. Os mundos inteiramente criados  costumam chamar a atenção pela artificialidade, mas aqui tudo é muito real e notavelmente belo. O diretor Jon Favreau retrata a floresta digital como se estivesse diante de um cenário real, utilizando principalmente enquadramentos e movimentos naturalistas. A fotografia também foge do imperativo infantil de tons multicoloridos. Pelo contrário, as luzes são sombrias e as cores são dessaturadas, valorizando o tom de realismo. Chega a ser uma bela contradição que o projeto use recursos computadorizados tão sofisticados para atingir a aparência menos computadorizada possível. É um grande e belo filme!!!


“Eu uso o necessário, somente o necessário”. O lema cantado pelo preguiçoso e simpático urso Baloo na animação de 1967 pode ter servido de inspiração para Jon Favreau decidir como conduzir a história aqui. O cineasta utiliza elementos memoráveis do filme anterior, aproximando-se mais do conteúdo original (The Jungle Book – 1894) que inspirou tanto o filme de 1967 como agora em 2016, numa trama que, em si, é a mais convencional possível. Com muitas lições passadas de forma natural durante a narrativa, como a importância do respeito à natureza e às outras pessoas, o filme não se aproveita do seu tema fantasioso para garantir risadas fáceis. Ao invés disso, prefere colocar a perspectiva de cada pessoa no mundo e o impacto de nossas decisões sobre os outros. Com isso, temos a oportunidade de assistir um dos mais bonitos filmes do ano. Emocionante, divertido e contagiante!!!



quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

ZOOTOPIA (Zootopia) EUA, 2016 – Direção Byron Howard, Rich Moore e Jared Bush – elenco: Ginnifer Goodwin, Jason Bateman, Idris Elba, Jenny Slate, Nate Torrence, Octavia Spencer, Shakira, J. K. Simmons, Alan Tudyk, Bonnie Hunt, Don Lake, Rich Moore, Byron Howard, Jared Bush, Raymond S. Persi, Della Saba – 108 min

        AO ABRAÇAR PRECONCEITOS CRIA UMA MENSAGEM SOBRE INTOLERÂNCIA


“Zootopia” é, sem sombra de dúvida, uma das melhores e mais ambiciosas animações do ano. É, na verdade, uma metáfora muito bem construída sobre o mito do sonho americano, onde Juddy, a protagonista coelhinha,  tem sede de provar o seu valor e de tornar o mundo um lugar melhor. Grandes expectativas que logo desmoronam quando ela dá de cara com a dura realidade de uma tão sonhada Zootopia, um lugar democrático onde todos podem ser o que quiserem. Existe um contexto de grandes corporações, violência nas cidades, transporte público superlotado, abusos éticos da polícia. As pessoas se movem entre a casa e o trabalho, os moradores do campo migram para as metrópoles, a publicidade está em todos os lugares e os ícones da música pop se tornam formadores de opinião. Talvez os animais tenham sido a concessão necessária para tornar esta história, de fundo amargo, mais engraçada e palatável ao público infantil. O conflito principal do longa diz respeito ao retorno de alguns animais ao comportamento selvagem de antigamente. A bestialidade, a violência e a lei do mais forte são tratados como um passado aberrante que a civilização tratou de eliminar por meio de leis e da moral. É admirável que o duelo central do roteiro se dê entre determinismo biológico e dinamismo cultural, em outras palavras, entre o que se espera de uma pessoa por sua constituição física, e o que ela é capaz de fazer para além dos moldes da sociedade.


É interessante que o filme explica porque as crianças não deveriam ser preconceituosas, mostrando passo a passo como nascem os preconceitos, passando pela cultura do medo e pelo fantasma da tradição, além do “papel biológico” de cada pessoa na sociedade. Estas discussões são embaladas pelas regras do suspense policial, com direito a uma longa investigação, sombria e cheia de significados, que rompe com o aspecto frenético e episódico que tem pautado as histórias infantis. Merece destaque as referências à cultura pop, as piadas inteligentes e um visual requintado e cuidadoso; evita também padronizar a natureza, explorando todas as oportunidades criadas pela variedade da sua fauna ao respeitar a escala e os ambientes de cada animal. Zootopia é uma fantasia liberal que incentiva tanto a inclusão quanto a discussão, mas não se restringe às questões das políticas raciais, mas também de gênero. Qual a maior dificuldade que Judy tem de enfrentar: por ser da espécie coelho ou por ser uma fêmea? Sutilmente também essa problemática é discutida

 “Zootopia” seria o Eldorado do mundo animal, sede do progresso, oásis do vanguardismo. Mas, como no mundo real, o fictício também guarda uma distância entre expectativa e realidade. E quando Judy consegue se formar na Academia de Polícia, enfrenta o choque de ser designada como guarda de trânsito. Ao topar com Nick, uma raposa ladina, acaba se envolvendo em uma trama que ameaça levar os animais de volta aos tempos primitivos, quando as espécies se dividiam entre presas e predadores.O filme permite vários níveis de leitura. A piada dos ratinhos que descem de um prédio onde se lê “Lemming Brothers Bank” não passa despercebida para quem acompanha o noticiário, mas é menos abrangente do que a ideia de um prefeito leão e de uma vice-prefeita ovelha convivendo no mesmo gabinete. Aponta-se para uma realidade idealizada, mas alguns preconceitos continuam valendo, como a ideia de que funcionários públicos são todos bichos-preguiça. O excelente roteiro é instrumento de uma forte crítica social e discussões importantes que estão em pauta, como o feminismo, o preconceito, a segregação e a inclusão. O que se vê na metrópole é uma falsa integração entre os animais com o fim do predadorismo. O estímulo à reflexão é o grande acerto do filme, em tempos de tanta intolerância, é importante incitar, tanto os pequenos como os adultos a necessidade de respeito às diferenças e à empatia.


terça-feira, 13 de dezembro de 2016

SNOWDEN – HERÓI OU TRAIDOR (Snowden) França / Alemanha / EUA, 2016 – Direção Oliver Stone – elenco: Joseph Gordon-Levitt, Shailene Woodley, Melissa Leo, Zachary Quinto, Rhys Ifans, Nicolas Cage, Tom Wilkinson, Joely Richardson, Jaymes Butler – 134 minutos

ALGO ESTAVA ACONTECENDO DENTRO DO GOVERNO QUE ELE CONSIDERAVA ERRADO, E POR ISSO NÃO PODIA IGNORAR


Este novo filme de Oliver Stone se converte num dos filmes mais importantes de 2016 ao escancarar como as agências de Inteligência norte-americanas há muito deixaram de fazer uma coleta passiva de dados, construindo uma rede de vigilância tão onipresente que, em certo ponto, a única forma encontrada pelo herói para se comunicar é através da linguagem de sinais, num exagero artístico que fortalece a denúncia nada exagerada do longa. Esta cinebiografia dialoga de diversas maneiras com o documentário “Citizenfour”, de Laura Poitras, – e não só porque recria a feitura daquele filme, vencedor do Oscar de Melhor Documentário em 2015. Na verdade, este trabalho de Oliver Stone funciona como um complemento àquele documentário, retratando, com algumas licenças poéticas, os antecedentes, bastidores e consequências de um mesmo evento central – a denúncia pública, por Snowden (Joseph Gordon-Levitt, em uma interpretação absolutamente competente), um ex-funcionário da CIA e da NSA (Agência Nacional de Segurança dos EUA), de mecanismos de espionagem em escala planetária ao jornalista Glenn Greenwald (Zachary Quinto) e à cineasta Laura Poitras (Melissa Leo), num hotel em Hong Kong.


A atuação do ator consegue captar com riqueza de detalhes os trejeitos e a voz do protagonista, compondo uma caracterização tão fiel que, mais tarde, quando o próprio Snowden é mostrado, o espectador não sente qualquer abalo na imersão, o recurso potencializa o investimento emocional e não soa forçado. É curioso que seja mostrado em flashback o sofrimento do personagem ao ser afastado do exército, após um tolo acidente, como forma de estabelecer a motivação inicial do jovem, alguém que comprou o ilusório sonho americano e que enxergava os rituais militaristas como a mais digna representação de patriotismo. Em seu arco narrativo, ele vai de um ingênuo idealista fã da escritora Ayn Rand que se incomoda quando algum cidadão critica seu próprio país, até se tornar um pária tido por parte da opinião pública como um traidor da nação. E o roteiro dedica tempo generoso à relação romântica com a namorada, vivida por Shailene Woodley, o que pode frustrar quem procura algo mais focado nas questões políticas. 


O filme é também um estudo moral sobre as motivações de um jovem que tinha todas as razões para permanecer quieto e, mesmo assim, atirou tudo para o alto a fim de seguir o que a consciência lhe ditava. Perfeitamente ciente das consequências de seus atos, Edward Snowden sabia estar abrindo mão de seu país, de sua liberdade e possivelmente de sua vida. “Snowden – Herói ou Traidor” é uma obra que ostensivamente denuncia como a ameaça do “terrorismo” é usada como uma desculpa conveniente para permitir que os governantes usem os serviços de vigilância como forma de controle econômico, político e social, espionando líderes de outras nações e de grandes corporações estrangeiras a fim de encontrar espaços que permitam a expansão dos interesses norte-americanos. Obrigatório e importante!!!! 

domingo, 11 de dezembro de 2016

O HOMEM QUE NÃO VENDEU SUA ALMA (A Man for All Seasons) Inglaterra, 1966 – Direção Fred Zinnemann – elenco: Paul Scofield, Robert Shaw, Wendy Hiller, Leo McKern, Susannah York, Orson Welles, John Hurt, Corin Redgrave, Nigel Davenport, Vanessa Redgrave – 120 minutos.

    50 ANOS DE UM DOS MAIS PODEROSOS ESPETÁCULOS DO CINEMA!!!!

Através de um personagem irrepreensível e moralmente majestoso, Fred Zinnemann se confirmou como um dos grandes diretores de sua época com esta fascinante obra-prima.


Em 1534, o Chanceler da Inglaterra, Sir Thomas More, é perseguido por Henrique VIII, quando se recusa a prestar juramento em apoio à separação entre o Estado e a Igreja Católica, que o rei tramou para poder se divorciar. Parece extremamente oportuno - nessa época em que os homens públicos têm pouca ou nenhuma preocupação com a verdade, a consciência ou os escrúpulos - rever este premiadíssimo drama histórico baseado na famosa disputa entre Sir Thomas More (ou Morus) e o rei Henrique VIII, da Inglaterra. A trama se baseia justamente na força necessária para se contrapor a um governante déspota ou a um ambiente de interesses que estimula a ambição e a adulação. More (feito pelo grande ator de teatro Paul Scofield), popular e amigo do rei, se recusa a prestar o juramento que daria seu importante apoio à separação entre a Inglaterra e a Igreja Católica. 


Henrique VIII havia tomado essa decisão para poder se divorciar de sua primeira esposa, Catarina de Aragão, devota e inteligente, mas que não lhe deu um filho homem. O objetivo do monarca era se casar com a bela Ana Bolena (uma pequena participação especial de Vanessa Redgrave, pela qual ela não aceitou pagamento). O episódio resultaria no surgimento da Igreja Anglicana. Thomas More luta, então, para sobreviver e proteger sua família do furacão provocado por sua “rebeldia”. É necessário relevar as liberdades tomadas com os acontecimentos históricos e, em especial, o retrato idealizado de More. O filme ignora seu fanatismo religioso, que pregava o ódio aos protestantes, suas reservas em relação ao papado, sua defesa da morte na fogueira para os hereges, sua participação ativa nas intrigas palacianas do dia-a-dia (mesmo assim a Igreja Católica o canonizou). 

No filme, ele é um símbolo de integridade e crença na força da fé e da consciência. Baseado em peça teatral de Robert Bolt, que também fez o roteiro, o filme tem pouca movimentação e se baseia no cuidadoso diálogo, dando oportunidade para as grandes atuações de Paul Scofield (que lhe deu um merecidíssimo Oscar de Melhor Ator do Ano), Wendy Hiller (como a esposa de Thomas More, Alice) e Robert Shaw (como Henrique VIII), ambos indicados na categoria de coadjuvantes, além de John Hurt, Leo McKern, Susannah York e Orson Welles, que aparece rapidamente no começo como o cardeal Wolsey. Na cerimônia do Oscar, ganhou também os prêmios de Melhor Filme do Ano, Melhor Direção, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Fotografia e Melhor Figurino. A direção é do impecável Fred Zinnemann, o mesmo de A UM PASSO DA ETERNIDADE (1953 – ganhador de 8 Oscar, incluindo Melhor Filme); JULIA (1977, com Jane Fonda, indicado a Melhor Filme). Um filme notável e extraordinário que merece ser visto e revisto. É um dos mais belos e um dos mais importantes da História do Cinema! Poderoso!! Arrebatador!! Forte!! Pujante!! Soberbo!!

sábado, 10 de dezembro de 2016

OS AVENTUREIROS DO OURO (Paint Your Wagon) EUA, 1969 – Direção Joshua Logan – elenco: Clint Eastwood, Lee Marvin, Jean Seberg, Harve Presnell, Ray Walston, Tom Ligon, Alan Dexter, William O’Connell, Benny Baker, Alan Baxter, Paula Trueman, Robert Easton, Geoffrey Norman, H. B. Haggerty, Terry Jenkins - 158 minutos.

              OUTRA GRANDE PÉROLA DA CARREIRA DE CLINT EASTWOOD


Todo ambientado em plena época da febre do ouro, Joshua Logan (o cineasta de “Nunca Fui Santa”) conta a história de um triângulo amoroso no entorno do nascimento, esplendor e morte da chamada Cidade Sem Nome. Um moderado, tranqüilo e gentil mineiro (Clint Eastwood) e um briguento, bebedor e solitário aventureiro (Lee Marvin) moram num povoado sem nome, com muito ouro e uma única mulher, a qual decidiram também compartilhar. A sua situação em relação com ela interfere na sua amizade e terão de decidir entre o declínio da cidade e a fortuna adquirida. Com excelentes momentos de comédia, OS AVENTUREIROS DO OURO (Paint Your Wagon) é um clássico do western-musical, em que Clint Eastwood e um veterano Lee Marvin (uma atuação de tirar o chapéu) cantam convenientemente grande parte desta mítica trilha sonora. Quem também ousa cantar é a belíssima Jean Seberg: uma bela balada é a única oportunidade que temos de descobrirmos sua aptidão como cantora, já que nunca voltaria a cantar. Dos momentos entranhavelmente líricos passamos para situações muito engraçadas e para os instantes de melancolia mais belos que o cinema retratara em muito tempo. Em finais dos anos 1960, estavam morrendo os dois gêneros cinematográficos por excelência: o western e o musical. OS AVENTUREIROS DO OURO (Paint Your Wagon) é um daqueles musicais "modernos" que foram adaptados à grande tela na época (junto com peças chave como “Camelot” ou “My Fair Lady – Minha Bela Dama”), uma obra fechada em si mesma que legou para a posteridade pelo menos duas músicas: a inesquecível "Maria" e a não menos impressionante "Wandering Star".



sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

A CURA (The Cure) EUA, 1995 – Direção de Peter Horton – elenco: Joseph Mazzello, Brad Renfro, Aeryk Egan, Annabella Sciorra, Delphine French, Mona Powell, Andrew Broder, Jeremy Howard, Diana Scarwid, David Alan Smith – 97 minutos.

         UM FILME QUE FALA DOS MEDOS PRESENTES NA ALMA HUMANA




Essa é uma grande e emocionante aventura que vale por uma vida inteira. Um drama sensível, tocante, comovente e delicado, que aborda de forma brilhante o tema da Aids. Tudo nessa produção está impecável: a sua trilha sonora simplesmente inesquecível; o roteiro poético e sublime; a fotografia magnífica; atuações dignas de respeito e a direção maravilhosa de Peter Horton. Narra a trajetória de dois meninos que nunca foram grandes amigos, mas seus destinos se cruzam mesclando o poder da amizade e a força da compreensão. Dexter (brilhante atuação de Joseph Mazzello) é um menino de 11 anos que tem Aids, ele foi contaminado durante uma transfusão de sangue. Erik (extraordinária atuação de Brad Renfro) é um menino que vive uma relação difícil com a sua mãe, porque ela é negligente com ele e quase não lhe dá atenção. Juntos eles têm em comum a companhia da solidão, o prazer de consumir muitos e deliciosos chocolates e a verde esperança nas ervas milagrosas. Um dia ficam sabendo que um médico de Nova Orleans descobriu a cura da Aids. Pegam carona num barco, descendo um rio, em busca dessa cura. Longe de casa viverão a maior de todas as aventuras e suas vidas vão mudar para sempre. Um filme que fala dos medos presentes na alma humana e trata com responsabilidade o preconceito que se ergue na vida de tantos e tantos mortais neste mundo ainda envolto em pequenezas. Merece ser conferido e revisto. Um dos dez mais belos filmes da década! Imperdível! Inesquecível! Comovente! Pungente! 



quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

TORA! TORA! TORA! (Tora! Tora! Tora!) EUA/Japão, 1970 – Direção de Richard Fleischer, Kinji Fukasaku e Toshio Masuda – Elenco - Sequência norte-americana: Martin Balsam, Joseph Cotten, Jason Robards, James Whitmore, E. G. Marshall, Keith Andes, Neville Brand, Wesley Addy, Frank Aletter, Leon Ames, Richard Anderson, Edward Andrews, George MaCready, Norman Alden, Rick Cooper, Ron Masak, Jerry Fogel. Sequência japonesa: Tatsuya Mihashi, Eijirô Tôno, Koreya Senda, Soh Yamamura, Takahiro Tamura, Shôgo Shimada, Kazuo Kitamura, Asao Uchida – 144 minutos

               O MAIS ESPETACULAR FILME DE GUERRA JÁ REALIZADO!!!!


                 75 ANOS DO ATAQUE A PEARL HARBOR (07.Dezembro.1945)


Excelente filme de guerra com um trabalho narrativo de exatidão exemplar. Relata com impressionante riqueza o sangrento episódio do ataque a Pearl Harbor feito pelos japoneses aos norte-americanos, em 07 de dezembro de 1941. Com uma caracterização cuidadosa, os japoneses são mostrados num registro que oscila entre a bravura e o patético; enquanto os norte-americanos apresentam um comportamento que vai do prudente ao negligente.  Foi considerado mundialmente como o mais espetacular filme de guerra já realizado e a mais ambiciosa superprodução da Fox dos últimos trinta anos, na época. Ficou conhecido como o filme que causou um grande contratempo na carreira de Akira Kurosawa. Chamado para dirigir a parte japonesa, ele foi dispensado por Darryl F. Zanuck depois que o mercantilíssimo produtor ficou “assustado” com os atrasos e estouros de orçamento. Kurosawa não teve o seu nome incluído nos créditos do filme, mesmo tendo dirigido algumas partes. Cinco anos depois, em 1970, o projeto reapareceu e se concretizou sob a responsabilidade do impessoal Richard Fleischer. A ação gira toda sobre o que houve antes e depois do ataque a Pearl Harbor e da guerra no Pacífico, entre Estados Unidos e Japão. 


O filme retrata os acontecimentos, tanto do ponto de vista japonês como norte-americano, a preparação, os eventos e os erros que possibilitaram essa gravíssima agressão, em 1941, fato que forçou a entrada dos Estados Unidos da América na Segunda Guerra Mundial. O título do filme é o código utilizado em caso de sucesso do ataque japonês, que traduzido para o português significa: "Tigre! Tigre! Tigre!". Com um tom quase documental, a fita obteve excelentes críticas com relação à sua fotografia, principalmente em suas cenas de ação, sendo que algumas passagens foram reutilizadas em outros filmes ambientados na Guerra do Pacífico.  O filme foi realizado por duas produções separadas, uma nos Estados Unidos, dirigido por Richard Fleischer, e outra com base no Japão. A trilha sonora magnífica foi composta pelo renomado Jerry Goldsmith. 


A frase pronunciada no filme pelo almirante Isoroku Yamamoto após o ataque, ""I fear all we have done is to awaken a sleeping giant and fill him with a terrible resolve.", que pode ser traduzido livremente para o português como: "Temo que tudo o que fizemos foi acordar um gigante adormecido e enchê-lo com uma terrível determinação", nunca foi realmente creditada como uma citação fidedigna. Nenhuma fonte pode comprovar que Yamamoto tenha pronunciado tal frase. É bem provável que tal citação tenha sido criada apenas para dar um efeito dramático. Tal frase reapareceu no filme PEARL HARBOR (2001). No entanto, a citação da análise de um ataque aos Estados Unidos: "I can run wild for six months... after that, I have no expectation of success."  é real, tendo sido registrada em conversas de gabinete da época. O capitão-de-mar-e-guerra Minoru Genda, da Marinha Imperial Japonesa e principal planejador tático do ataque a Pearl Harbor em dezembro de 1941, sobreviveu à guerra e participou da produção do filme como consultor técnico. Foi indicado a 9 Oscar, mas recebeu apenas o prêmio de melhores efeitos visuais.


TORA! TORA! TORA! era o grito de guerra japonês para o ataque. O filme recria meticulosamente toda a história desse ataque que foi considerado o “dia da infâmia” para os Estados Unidos e os acontecimentos que o antecederam. As cenas de abertura contrastam as posições norte-americana e japonesa. Os imperialistas japoneses decidem preparar o ataque e o alto escalão norte-americano ignora a possibilidade. Mensagens japonesas interceptadas avisam sobre o ataque iminente, mas nunca chegam à mesa do Presidente Franklin Delano Roosevelt. Alertas de radar são desconsiderados. Até mesmo a apreensão antes do ataque de um submarino japonês em Pearl Harbor fica fora dos relatórios. Por fim, chega o Dia da Infâmia – um espetáculo dilacerante apresentado neste filme cheio de ação. É a reconstituição mais espantosa do dia mais negro da América, e de algumas de suas piores horas. O seu grande lançamento aqui em São Paulo foi em 25 de dezembro de 1970 – Dia de Natal – no extinto Cine Paulistano, na Av. Brig. Luís Antonio com Av. Paulista.


terça-feira, 6 de dezembro de 2016

INDIGNAÇÃO (Indignation) EUA / China, 2016 – Direção James Schamus – elenco: Logan Lerman, Sarah Gadon, Tracy Letts, Linda Emond, Ben Rosenfield, Noah Robbins, Bryan Burton, Pico Alexander, Philip Ettinger, Joanne Baron – 110 min

    UM PONTO DE VIRADA IMPORTANTE NA CARREIRA DE LOGAN LERMAN


O estreante diretor James Schamus, famoso roteirista de algumas grandes obras-primas de Ang Lee, faz nessa estreia mais do que traçar o retrato de uma época, mas também o reflexo da nossa época. INDIGNAÇÃO é um ponto de virada muito importante na carreira do jovem ator Logan Lerman, astro de alguns grandes filmes da atualidade, como CORAÇÕES DE FERRO (2014); AS VANTAGENS DE SER INVISÍVEL (2012); O PATRIOTA (2000); OS INDOMÁVEIS (2007); OS TRÊS MOSQUETEIROS (2011), entre outros. É o típico filme de amadurecimento, mas que se “gradua” na veracidade dos diálogos. Há um tanto de conservadorismo e hipocrisia a se discutir a partir dos conflitos religiosos e sexuais que a produção apresenta, de maneira convincente e comedida, evitando o clichê do histrionismo tão comum a esse tipo de enredo. Lançado em 2008, “Indignação” é um romance de Philip Roth que deve muito a um de seus grandes sucessos, O Complexo de Portnoy, de 1969. Marcus (o protagonista de INDIGNAÇÃO) é, porém, um retrato pálido de Portnoy – e isso certamente tem a ver com o momento de escrita de cada um dos dois livros. O primeiro foi produzido na era das contestações, dos questionamentos e da possibilidade de revoluções. O mais recente encontra um cenário no qual o conservadorismo ganha força e, curiosamente, deveria ser o mais forte, contestador, ultrajante, mas não é o caso, pois deixa-se contaminar pela época de sua produção.

“Indignação”, portanto, torna-se um estudo de comportamento social. E usar um personagem como Marcus para evidenciar isso é brilhante, e o diretor não esconde isso. Tudo começa de modo muito disperso com alguns elementos escassos de propriedade. Mas uma única cena é capaz de transformar o contexto, aproveitando todo seu potencial expositivo. Pensamentos sob raciocínios, perguntas em respostas, e a conversa entre Marcus e o reitor Dean Caudwell sobre assuntos tão inquietantes se constrói como um diálogo imenso e incansável de força impressionante – se o filme fosse somente isso já valeria a pena. Neste sentido, o clímax do filme fica sendo esse longo diálogo entre o Diretor da Universidade com o personagem central que é aluno do estabelecimento; o mérito se deve à transcrição quase fiel do que Philip Roth escreveu com extrema habilidade ao estabelecer um gradual “crescendo” no cerceamento do Diretor ao jovem, instigando suas respostas inteligentes que, aos poucos, vão se tornando irritadiças e agressivas. A longa cena é defendida brilhantemente pelos desempenhos de Tracy Letts no papel do Deão - e de Logan Lerman como o universitário em crise com os pais judeus super-protetores, temeroso de ser convocado para a Guerra da Coreia (a ação transcorre em 1951), tenso com sua pouca experiência sexual sob a pressão dos 18, 19 anos hormonais, agora questionado por ser mais ateu do que religiosamente judeu, por não querer pertencer a nenhuma das “fraternidades” típicas das Universidades dos EUA e por ter trocado uma habitação com mais colegas por outra, a pior do campus, onde ficou sozinho. Ainda sobre essa cena gigante, é um diálogo que transita entre o patético e o cômico, abarcando todas as variações entre as duas pontas, ele cria um embate entre gerações e entre visões de mundo. 


domingo, 4 de dezembro de 2016

DIO, COME TI AMO (Dio, Come Ti Amo) Itália, 1966 – Direção Miguel Iglesias – elenco: Gigliola Cinquetti, Mark Damon, Micaela Cendali, Antonio Mayans, Trini Alonso, Antonella Della Porta, Carlo Croccolo, Félix Fernández – 107 minutos

                    50 ANOS DO FILME QUE  EMOCIONOU GERAÇÕES!!!! 


    A MÚSICA SENSIBILIZOU CORAÇÕES... O FILME CONQUISTOU O PÚBLICO!!!!


Durante as décadas de 1960 e 1970, a música italiana era muito divulgada no Brasil, onde vários cantores da época faziam enorme sucesso, entre eles Sérgio Endrigo, Rita Pavone, Ornella Vanoni, Peppino Di Capri, Emilio Pericoli, Jimmy Fontana, Gianni Morandi e a inesquecível Gigliola Cinquetti, com músicas que marcaram profundamente toda uma geração, entre elas a canção “Dio, Come Ti Amo” (1966), que foi um sucesso estrondoso, saindo vencedora do Festival de San Remo daquele ano. Antes, em 1964, aos 17 anos, Gigliola Cinquetti também ganhou o primeiro lugar com a canção “Non Ho L’etá Per Amarti” no mesmo festival. Quando foi exibido no Brasil, o filme levou multidões às salas de cinema e as canções citadas embalaram o romance e muitos bailinhos de jovens enamorados da época. Melodramático, chamado de "água-com-açúcar", pois o público feminino levava lenço para enxugar as lágrimas, "Dio, Come Ti Amo" foi de fato um fenômeno que emocionava as platéias. A cena final, quando ela canta a música-título no microfone do aeroporto se tornou uma das mais amadas e por seu final apoteótico. Gigliola Cinquetti comoveu com sua beleza e doçura, interpretando uma bela e inocente jovem de família pobre que se apaixona pelo noivo rico de sua melhor amiga. O sucesso do filme foi tanto, que ficou muitos anos sendo exibido pelos cinemas, principalmente no Brasil. E a campanha mais famosa em torno do filme foi da OMO. Bastava levar dois rótulos de algum produto da marca para ganhar um ingresso para uma sessão. Era uma marca séria, além de lavar mais branco, ainda levava suas clientes fiéis ao cinema. Este ano de 2016 comemora-se os 50 anos do filme, que foi lançado na Itália em abril de 1966 e ao longo daquele ano foi sendo exibido em outros países, tornando-se uma das histórias de amor mais cultuadas da década.