O FILME DE GUERRA MAIS INTENSO E IMERSIVO DA
HISTÓRIA
"Dunkirk"
é um "tour de force" de arte e técnica cinematográfica, com uma
grandeza ímpar e pouco vista no cinema. Baseado num evento histórico que
consistiu na evacuação de soldados britânicos e franceses de Dunquerque, região
no norte da França, conhecida como a Operação
Dínamo, o filme é um eletrizante
retrato de um dos mais cruciais momentos da Segunda Guerra Mundial. O
diretor coloca uma lupa nesse evento da guerra e trabalha com uma verdade pouco
vista nos filmes épicos. Normalmente
vemos os filmes de guerra com personagens fortes, heroicos e com uma
profundidade dramática muito grande, em vista daquele terror inacreditável que
estão vivendo. Em “Dunkirk”, isso é completamente diferente, pois não apenas os
personagens são totalmente anônimos, mas também mostra uma face da peleja muito
cruel – o desespero. Os soldados da cidade de Dunquerque estavam sendo
encurralados pelos inimigos, e as tropas europeias estavam tentando evacuar o
local, porém as armadas germânicas estavam implacáveis, bombardeando os locais
em que os soldados estavam concentrados.
Há três pontos de vista
diferentes. Um aviador (Tom Hardy), um civil que é convocado para resgatar os
soldados daquele local e um soldado que busca voltar prá casa, após ter
escapado do cerco da cidade. Nessas três variantes, o espectador acompanha um
pouco do terror e das consequências que a guerra pode trazer. A maneira
singular que o diretor faz a transição entre os mesmos acontecimentos, dos
diferentes pontos de vista (terra, céu e mar), parece trazer o sentimento
diferenciado que cada um mostra.
Num filme
com essa proporção, os efeitos sonoros trazem uma imersão bem importante para o
espectador, mas o que se vê supera tudo o que já se viu nesse quesito. Em
ambientes fechados, em ambientes abertos, os estampidos das armas de fogo são
impressionantes e fazem crer que aquilo está realmente acontecendo. Há um medo
coletivo, mas ele é solitário. A luta é entre países, mas a luta interna é
muito mais cruel. Alguns filmes do gênero mostram o lado cruel e sombrio da
guerra, mas poucos trabalham a vontade de continuar respirando, como “Dunkirk”.
O filme mostra o lado visceral e a linha tênue entre covardia e desespero. O
heroísmo não tem lugar, quando a sua vida está na mesa e muitas vezes, acabamos
agindo por puro instinto, deixando de lado o certo e o errado. A lupa que o
diretor coloca na vida das três pessoas, revela outro sentimento interessante –
o ser humano mostra o seu melhor, nos momentos de maior dificuldade. Há autoralidade fílmica, pois como
sempre há em cena os dois elementos que guiam a dramaturgia cinematográfica do
diretor Christopher Nolan: culpa e necessidade de controle. Há uma mistura
covalente de ambos no combustível afetivo que alimenta a fúria visual de
"Dunkirk". Tenso, emocionante, profundamente envolvente e
inesquecível, pode ser classificado entre os melhores filmes de guerra da
década.
O
diretor sempre está em busca de inovar a linguagem, ao mesmo tempo em que
estimula o debate sobre questões cruciais. Em “Dunkirk”, Christopher Nolan diz
claramente que ainda acredita na humanidade. É curioso, no entanto, ver uma
produção de guerra “limpa”, sem sangue em demasia ou mutilações, obter forte
impacto. Parte disso se deve à capacidade do roteiro de botar o espectador ali,
junto, nesse episódio singular da Humanidade, que poderia ter outro destino. É
um filme poderoso e maravilhosamente criado com uma história a contar, evitando
pornografia de guerra em favor de algo desolado e apocalíptico. Talvez o melhor
filme de Nolan até agora. Pode-se dizer que é uma obra-prima impressionista. É
um filme de guerra como poucos, um dos que pode ser pintado sobre uma tela
grande e expansiva, mas que transmite o todo através de momentos isolados,
brilhantemente realizados e muitas vezes privados. A história é econômica e
segura. Não existe um único momento desperdiçado, nem um detalhe desnecessário.
Tudo é empolgante e necessário para a narrativa. Depois de “Amnésia” (2000);
“Batman – O Cavaleiro das Trevas” (2008) e “A Origem” (2010) o diretor
Christopher Nolan continua surpreendendo com um cinema de fantasia.
"Dunkirk", sem sombra de dúvida, é o melhor trabalho do cineasta. Sai
a ficção e entra um espetáculo audiovisual realista como raras vezes o cinema
produziu nos últimos anos. Espetacular e belo !!
INDICADO AO OSCAR 2018 PARA MELHOR FILME DO ANO
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