A PAIXÃO DE ANA (En Passion) Suécia, 1970 –
Direção Ingmar Bergman – Elenco: Max von Sydow, Andreas Winkelman, Liv
Ullmann, Bibi Andersson, Erland Josephson, Erik Hell, Sigge Fürst, Svea Holst,
Annicka Kronberg, Hjördis Petterson, Lars-Owe Carlberg, Brian Wikström, Barbro
Hiort af Ornas, Malin Ek, Britta Brunius, Brita Öberg, Marianne Karlbeck – 101 minutos
2018 - 100 ANOS DE INGMAR BERGMAN
Um retrato penetrante das relações amorosas, a
partir de um complexo estudo psicológico de suas personagens.
Andreas Winkelmann, um homem lutando contra o
recente fim de seu casamento e o momento emocional que está enfrentando,
isola-se em uma ilha no Mar Báltico. Lá, conhece Anna Fromm, que está de luto
pela recente morte de seu filho e de seu marido, cujo nome também era Andreas.
Ela parece crente em sua fé inabalável e na busca da verdade, mas aos poucos
passa a conviver com uma série de delírios. Andreas e Anna tornam-se amantes,
mas ele não é capaz de superar seus sentimentos de profunda humilhação e
permanece incapaz de se relacionar. Entretanto, a comunidade da ilha passa a
conviver com um maníaco que comete atos cruéis contra animais.
Este filme de Bergman em particular não abusa
de seu simbolismo costumeiro, como o diretor sueco apresentou em clássicos como
“O Sétimo Selo” (1957) ou mesmo em sua “Trilogia do Silêncio”,
porém analisa de forma esmiuçada toda a psiquê humana envolta na necessidade de
afeto, como o diretor aponta em diversos momentos de sua trama. Deixando de
lado suas indagações religiosas, Bergman tece um drama mais humano, porém não
deixa de lado questionamentos comuns a seus filmes, como o lugar de cada um,
seja na sociedade, seja dentro da própria família. De forma sutil, mas bastante
inteligente, Bergman utiliza a morte sacrificada de alguns animais em sua
história como metáfora para o ressentimento de seus personagens por casos do
passado.
Interrompendo a trama em um total de quatro
vezes, o diretor utiliza-se de um artifício pouco usual no cinema, quando
inclui o que nomeia de ‘interlúdios’, onde cada um dos quatro atores
principais, um por vez, analisa seu personagem em um pequeno momento. Essas
cenas não acrescentam muito à narrativa do filme, mas, por serem relatos
verdadeiros, instigam o espectador a prestar maior atenção aos detalhes
analisados pelo elenco, uma vez que os atores imersos em seus papéis conhecem a
fundo seus personagens e as intenções dos mesmos. Tais cenas também,
curiosamente, não quebram o ritmo do filme ou o tornam desinteressante.
Três grandes nomes consagrados por filmes do
diretor estão presentes em “A Paixão de Anna”: Max von Sydow, Liv Ullmann e Bibi
Andersson. O primeiro, como Andreas, desenvolve seu personagem inicialmente
como um homem triste e sofrido, consciente de sua solidão, que muda aos poucos
quando encontra em Anna uma parceira. Liv Ullmann, com seu olhar incrivelmente
expressivo, destaca-se facilmente por tecer em Anna uma persona maleável,
caracterizada por sua fragilidade. E por fim Bibi Andersson, que coadjuva como
Eva, encanta com a força de sua atuação mesmo nos pequenos momentos do filme em
que aparece. Esta obra-prima importante figura entre os filmes menos otimistas
de Bergman, em sua jornada para retratar a alma humana no cinema. O diretor não
deixa esperança para os personagens que criou e o pouco que se pode esperar
para os mesmos se esvai ao longo do filme, até seu final, que não poderia ser
mais amargo e pessimista. Um filme intrigante, belo e obrigatório!!
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